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NOTIMP - Noticiário da Imprensa - 28/07/2013




Acompanhe aqui o Noticiário relativo ao Comando da Aeronáutica veiculado nos principais órgãos de comunicação do Brasil e até do mundo. O NOTIMP apresenta matérias de interesse do Comando da Aeronáutica, extraídas diretamente dos principais jornais e revistas publicados no país.


 

Decisão impede que passageiros sejam cobrados por tarifa de conexão aérea

Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) suspendeu hoje (26) decisão que permitia a cobrança de taxa de conexão aérea dos passageiros, e não das companhias aéreas, conforme definido em lei. O desembargador federal Souza Prudente acatou argumentos apresentados pela Advocacia-Geral da União para anular entendimento anterior da 8ª Vara Federal do Distrito Federal.
A cobrança da taxa de conexão foi instituída por lei federal aprovada no ano passado. Até então, as companhias aéreas podiam usar a estrutura dos aeroportos sem pagar por isso. A lei foi específica ao informar que o valor deveria ser cobrado das companhias aéreas, mas a medida foi questionada na Justiça pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, que obteve decisão favorável em primeira instância.
Ao questionar esse entendimento, a AGU argumentou que os consumidores não poderiam arcar com o valor porque as companhias optam por conexões como estratégia e interesse comercial. “O passageiro que aceita celebrar um contrato não o faz com o objetivo de se deslocar a um ponto intermediário durante a viagem, mas o aceita, em decorrência da oferta feita pela empresa aérea”, destacou a AGU.
O desembargador Souza Prudente concordou com os argumentos da União. “Voos em conexão, em princípio, servem para atender aos interesses econômicos das empresas, que podem organizar voos livremente, dentro das rotas concedidas. Se é financeiramente conveniente a ela (empresa) utilizar de conexões, é lógico que a ela deve ser dirigida a cobrança da tarifa, pois é quem se beneficia da modalidade”.

Em dia com a psicanálise

Tupiniquins nos States

Regina Teixeira da Costa

Desde julho, com a denúncia do espião Edward Snowden sobre a espionagem dos EUA no Brasil, já se desmentiu, consentiu, explicou, reclamou e nada foi esclarecido até agora. Mas Snowden está foragido, pedindo proteção na Rússia porque falou. Onde há fumaça, há fogo.
A última notícia, interessantíssima por sinal, é de que o governo brasileiro foi convidado para ir aos EUA a fim de receber explicações. Há então o que explicar e, portanto, nos devem uma retratação. Então, que venham dá-las.
Se alguém deve explicações, deve vir até a parte interessada esclarecer a questão, nunca chamar a parte que deve receber esclarecimentos para fazer uma viagem internacional para receber tal explicação.
Sabemos que viajar em comitiva é um programa muito apreciado nos meios políticos brasileiros. Haja vista as comitivas. São tantas! Podemos lembrar uma das últimas, a posse do papa Francisco, em Roma. A comitiva era tão grande que não pôde ficar hospedada nas acomodações da embaixada brasileira. Solidários, optaram por acomodar todos no hotel.
Deve ser nesta ocasião que veio o convite ao papa para visitar o Brasil. Nada contra, é honroso o país receber o novo pontífice, pois somos um país de maioria católica, ainda. Mas precisava mandar o avião da Força Aérea Brasileira buscar o papamóvel? Acho que ele nem queria, saiu de carro simples, numa boa! E que mico no trajeto, que vergonha...
Depois dos protestos e manifestações contra maus gastos do governo, o que vemos é a continuidade do mesmo comportamento. Dá medo de tudo continuar como antes. A poeira baixa, todo mundo se acalma e voltam a ocorrer situações bizarras. Como o ser humano é complacente!
O Brasil, volto ao problema da espionagem, aceitou o convite americano de ir em comitiva receber explicações. Viajefab.com.gov.br seria excelente slogan caso resolvessem comercializar uma companhia de turismo com a finalidade de levar comitivas, transportar o pessoal do Senado.
Seria um sucesso e muito procurada, pois ofereceria o pagamento pelo frete de um avião com o preço das passagens em avião de carreira. Estou seguindo a lógica dos reembolsos realizados por Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Henrique Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara dos Deputados, recentemente. Uma paradinha em Miami para compras, nada mal.
Afinal, tupiniquim não rejeita a oportunidade de aceitar convites os mais estapafúrdios, desde que seja para viajar para os States. É uma grande honra para os povos primitivos receber convites do mais importante país do mundo. Assim é, e se acham os maiores capitalistas do mundo, e isso fica claro quando interferem em todas as questões de outros países, e fazendo guerras, uma atrás da outra, como as do Vietnã, do Iraque, na Faixa de Gaza etc.
Os americanos sempre gostaram de grandiosidade, são megalômanos, política e cinematograficamente falando; foi no cinema americano que Bin Laden aprendeu a fazer aquele espetaculoso ataque de 11 de setembro. E nós temos complexo de inferioridade. Por isso, vamos correndo receber uns minutos de atenção, que não fará senão nos desvalorizar mais.
Depois de tanto barulho com manifestações, se fomos invadidos e nossas instituições também, isso deve ser esclarecido e ser tratado com seriedade. E seria elegante e correto se viessem eles até nós, que não estamos mais querendo jogar dinheiro fora e malgasto com viagens de comitivas no avião da FAB.
Afinal, as manifestações valeram ou não para alguma coisa? Ficarão na história como o Maio de 68 na França? Muito barulho por nada? Espero que não.


FAB lança concurso para médicos

A Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou edital de seleção para médicos da Aeronáutica. As inscrições para o concurso público já estão abertas e podem ser feitas até as 15h (horário de Brasília) do dia 13 de agosto, através do site www.ciaar.com.br. Ao todo, foram divulgadas 80 vagas para médicos de 25 especialidades. A taxa de inscrição custa R$ 80.
Para participar do exame, o candidato deve possuir nível superior em medicina, comprovar - conforme especificado no edital - a formação na especialidade a qual vai concorrer e não completar 36 anos até o dia 31 de dezembro de 2014.
O processo seletivo é composto de provas escritas (língua portuguesa e conhecimentos especializados), inspeção de saúde, exame de aptidão psicológica, teste de avaliação do condicionamento físico, prova prático-oral, análise e conferência dos critérios exigidos (ver edital no site) e da documentação prevista para a matrícula no Curso de Adaptação de Médicos da Aeronáutica.
As provas escritas ocorrerão no dia 29 de setembro. Além do Recife, serão aplicadas provas nas cidades de Belém (PA), Natal (RN), Fortaleza (CE), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Campo Grande (MS), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Brasília (DF), Boa Vista (RR), Manaus (AM) e Porto Velho (RO).
Se aprovados em todas as fases, os candidatos farão o curso no Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (CIAAR), em Belo Horizonte, Minas Gerais, durante 18 semanas. Após a conclusão do curso, se for obtido aproveitamento, os alunos serão nomeados Primeiro-Tenentes e receberão um salário inicial bruto de R$ 7,4 mil.
Entre os assuntos específicos citados no edital destacam-se os de anestesiologia, anatomia patológica, cancerologia, cirurgia cardíaca, cardiologia, cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia torácica, cirurgia geral, clínica médica, cirurgia vascular-periférica, dermatologia, geriatria, ginecologia e obstetrícia, medicina intensiva, mastologia, medicina do trabalho, neurocirurgia, oftalmologia, otorrinolaringologia, ortopedia, pediatria, pneumologia, psiquiatria, radiologia e urologia.
No Recife, os interessados ainda podem entrar em contato para outras informações através do telefone (81) 2129-7092.


Membros da Al-Qaeda morrem em ataque de drones no Iêmen

Pelo menos seis supostos membros da rede terrorista foram mortos. Ataques de drones dos EUA contra a Al-Qaeda tem se intensificado no país.

Agência EFE

Pelo menos seis supostos membros da rede terrorista Al-Qaeda morreram na noite deste sábado (27) após serem atacados de drones americanos (avião não tripulado). O ataque foi feito contra um comboio em uma área remota da província de Abian, no sul do Iêmen.
Fontes de segurança informaram hoje à Agência EFE que o avião disparou dois mísseis contra dois veículos nos quais viajavam homens armados, entre eles combatentes da Al-Qaeda, no vale de Diqa.
Esse vale, situado na região de Al Mahfad, é uma das fortificações da rede terrorista, que escolheu este lugar como refúgio após fugir de várias cidades de Abian em junho de 2012.
A saída das cidades, entre elas a capital regional Zinyibar, que controlaram durante cerca de um ano, aconteceu após uma forte ofensiva militar.
Desde o começo deste ano, os ataques de drones dos Estados Unidos contra Al-Qaeda aumentaram em várias regiões do país, principalmente no sul.
Os EUA participam da luta contra Al-Qaeda no Iêmen mediante este tipo de ataques seletivos, ao considerar que neste país a organização terrorista tem bases e centros de treinamento.
A atividade de Al Qaeda e seus grupos afins se recrudesceu no Iêmen desde que em janeiro de 2011 explodiu a revolta contra o regime do então presidente Ali Abdullah Saleh, cuja saída definitiva do poder aconteceu em fevereiro de 2012.


Espiões da era digital

Documento secreto revela como os Estados Unidos espionaram ao menos oito países – entre eles o Brasil – para aprovar sanções contra o Irã

Leonardo Souza e Raphael Gomide

Evitar que o Irã faça uma bomba atômica tem sido um dos grandes desafios da diplomacia atual. O programa nuclear iraniano foi criado nos anos 1950, cresceu depois da revolução islâmica de 1979 e, nos últimos anos, se tornou uma iniciativa clandestina, promovida à revelia dos organismos internacionais de inspeção. Ninguém hoje sabe quando – ou se – o Irã fará a bomba. Sabe-se, contudo, que a posição iraniana tem se revelado volúvel, imprevisível e, para a maioria dos países, pouco confiável. Em fevereiro de 2010, o então presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, quebrou um acordo verbal e anunciou que enriqueceria urânio em seu território, ao contrário do que estipulava a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), organismo da Organização das Nações Unidas (ONU) que zela pelo uso pacífico do aparato nuclear. Os Estados Unidos pressionaram por uma nova rodada de sanções internacionais – seria a quarta – e decidiram ir ao Conselho de Segurança da ONU. Por iniciativa do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil, numa atitude que misturava ousadia e ingenuidade, apresentou-se como mediador do conflito. Nunca antes o Brasil se colocara, numa querela internacional, entre uma superpotência e um de seus maiores inimigos. Mas nosso presidente era Lula – e ele acreditava que faria diferença.
A sugestão brasileira era que Ahmadinejad se comprometesse a enriquecer urânio fora de suas fronteiras. Mais exatamente na Turquia, país que, como o Brasil, ocupava um assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU. Tal proposta fora aventada outras vezes – e nunca antes na história do Irã fora levada a sério. A situação era tensa, como nunca antes na história recente do Conselho de Segurança. Ele estava dividido. Brasil e Turquia trabalhavam por uma solução negociada e eram contra as sanções. Rússia e China, membros permanentes do Conselho, com poder de veto, emitiam sinais contraditórios. Havia dúvidas também sobre como votariam Bósnia, Gabão, Nigéria, Líbano e Uganda, integrantes rotativos que pouco externavam suas opiniões. Para evitar o risco de uma derrota no Conselho (são necessários nove votos em 15 para aprovar sanções), os americanos recorreram a uma solução tão antiga quanto o Egito dos faraós: a velha espionagem. Desde que veio à tona a prática de monitoramento sistemático de comunicações pelo governo americano, pela primeira vez é possível narrar um caso concreto. Um documento classificado como “TOP SECRET” (ultrassecreto, o mais alto grau de sigilo), a que ÉPOCA teve acesso exclusivo, revela o que aconteceu e deixa claro o papel decisivo desempenhado no caso pela então embaixadora americana na ONU, Susan Rice.
“Velha” talvez não seja o adjetivo mais adequado para uma atividade que se transformou radicalmente na era digital. Em lugar do cenário da Guerra Fria, um mundo bipartido entre Estados Unidos e União Soviética, vivemos a era da diplomacia multilateral. Cada país tem seus interesses, visões e desejos. Em vez dos agentes secretos infiltrados nas nações inimigas, como James Bond – o espião criado por Ian Fleming com suas pistolas munidas de silenciador e licença para matar – ou George Smiley – seu congênere que habitava o universo cheio de bruma, traições, deserções e mensagens secretas criado por John Le Carré –, hoje esse mundo envolve programadores e matemáticos capazes de decifrar códigos intrincados diante de suas telas de computador. No lugar das escutas clandestinas instaladas cirurgicamente, hoje é possível fazer varreduras amplas nas redes de telecomunicações e na internet. No lugar dos folclóricos espiões da CIA, a histórica Agência de Inteligência dos Estados Unidos, surge das sombras a NSA, a Agência Nacional de Segurança, especializada na guerra de informação na era digital.
A sugestão brasileira era que Ahmadinejad se comprometesse a enriquecer urânio fora de suas fronteiras. Mais exatamente na Turquia, país que, como o Brasil, ocupava um assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU. Tal proposta fora aventada outras vezes – e nunca antes na história do Irã fora levada a sério. A situação era tensa, como nunca antes na história recente do Conselho de Segurança. Ele estava dividido. Brasil e Turquia trabalhavam por uma solução negociada e eram contra as sanções. Rússia e China, membros permanentes do Conselho, com poder de veto, emitiam sinais contraditórios. Havia dúvidas também sobre como votariam Bósnia, Gabão, Nigéria, Líbano e Uganda, integrantes rotativos que pouco externavam suas opiniões. Para evitar o risco de uma derrota no Conselho (são necessários nove votos em 15 para aprovar sanções), os americanos recorreram a uma solução tão antiga quanto o Egito dos faraós: a velha espionagem. Desde que veio à tona a prática de monitoramento sistemático de comunicações pelo governo americano, pela primeira vez é possível narrar um caso concreto. Um documento classificado como “TOP SECRET” (ultrassecreto, o mais alto grau de sigilo), a que ÉPOCA teve acesso exclusivo, revela o que aconteceu e deixa claro o papel decisivo desempenhado no caso pela então embaixadora americana na ONU, Susan Rice.
O documento obtido por ÉPOCA revela como os EUA espionaram oito integrantes do Conselho de Segurança, entre os quais ao menos um permanente (França) e três não permanentes (Brasil, Japão e México), durante as negociações. Todos esses países são considerados “aliados”. Pela ação da NSA, os Estados Unidos descobriram como votariam. Isso lhes deu uma posição de vantagem nas discussões com os demais países-membros. O documento, intitulado “Sucesso Silencioso”, celebra o sucesso da empreitada. A previsão era que fosse aberto ao público somente em 2035. Documentos desse tipo são proibidos para estrangeiros (carregam o selo “NOFORN”, ou “no foreigners”).


O Rio não passou no teste

Com erros na segurança, milhares de pessoas sem transporte e muito improviso, o Rio é reprovado em organização de megaeventos. Será preciso melhorar bastante para não fazer feio na Copa e na Olimpíada.

Malu Gaspar e Leslie Leitão

A mesma cena que emocionou o papa Francisco diante dos fiéis que o aguardavam ansiosamente na chegada ao Brasil se transformou, ao longo de sua passagem pelo Rio, no retrato mais expressivo do despreparo da cidade para receber os megaeventos que estão por vir. Apesar de os policiais terem ensaiado nas vésperas o trajeto do Aeroporto do Galeão à Catedral Metropolitana, na hora H deu tudo errado. Os batedores, alguns trazidos de fora do Rio pela Polícia Rodoviária Federal, tiveram um momento de hesitação diante da avenida com duas pistas e frearam as motos. Sem saber que rumo seguir, o motorista italiano do papa tomou uma pista lateral cheia de ônibus estacionados. O carro ficou parado na rua, sem nenhum anteparo contra a aglomeração humana, para o pontífice, foi um momento de júbilo. Para seus guarda-costas, razão para desespero. Aquela foi apenas a primeira de uma série de falhas de segurança, de planejamento e de logística que atrapalharam a vida de 1,5 milhão de pessoas que foram à Jornada Mundial da Juventude. Faltou transporte em várias ocasiões. A missa de encerramento teve de ser transferida na última hora. Policiais infiltrados nos protestos contra o governador Sérgio Cabral engrossaram os grupos de vândalos que faziam baderna a poucas quadras de um evento com o papa.
A missão de garantir a segurança do pontífice foi dividida entre cinco órgãos que passaram boa parte do tempo se estranhando: a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, as polícias militar, civil e federal e o Exército. O fato de não haver um comando único atrapalhou. Há dois meses, por exemplo, uma reunião para estabelecer quem comandaria os postos especiais de patrulhamento a ser instalados na Praia de Copacabana acabou entre gritos e socos na mesa, sem que nada fosse decidido, porque nenhuma Força aceitava receber ordens das outras (os tais postos não saíram do papel). Ao explicar a confusão na chegada do papa, o secretário municipal de Transportes do Rio, Carlos Roberto Osório, expôs o erro da comitiva, quase toda vinculada ao governo federal — o que fez o prefeito Eduardo Paes tomar uma descompostura do secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Paes então vetou novas declarações sobre o episódio, mas os batedores foram trocados por policiais militares do Rio. Mesmo lances em tese positivos se transformaram em fonte de intriga. Diante da descoberta, pela Força Aérea, de uma bomba num banheiro do Santuário de Aparecida, a PF levantou a suspeita de que os militares tivessem plantado o explosivo para faturar politicamente. Os órgãos de segurança tiveram ainda de lidar com a insistência do papa em se misturar com o povo. "Para todas as nossas restrições, a resposta do Vaticano era sempre a mesma: o papa é um chefe de estado e é dele a última palavra", diz um membro da organização.
O improviso e a falta de coordenação também fizeram vítimas no sistema de transporte da cidade. O metrô sofreu duas panes nos primeiros dias da Jornada. Na pior delas, o rompimento do cabo de energia de uma estação interrompeu a circulação de todos os trens por mais de duas horas, deixando centenas de turistas presos em vagões escuros e lotados. Sem metrô, os fiéis sobrecarregaram ônibus e trens. Quem não conseguiu embarcar teve, literalmente, de peregrinar. Nessa madrugada, dezenas de jovens que estavam hospedados em favelas distantes do centro (o que, por si, já foi uma medida temerária) perambularam por algumas horas sem transporte pela Avenida Brasil, via expressa incrustada em uma região violenta, até que dois PMs arregimentassem vans para levá-los para casa. Do outro lado da cidade, os 120.000 visitantes que se alojaram nos arredores de Guaratiba, onde seriam realizadas a vigília e a missa final da JMJ, viram-se, de repente, a 50 quilômetros das celebrações. O local, área particular cedida à Arquidiocese do Rio, vinha sendo preparado fazia meses. Além da drenagem e da terraplenagem, pagas pela Igreja, o lugar recebeu melhorias que custaram à prefeitura 6 milhões de reais. Mesmo assim, não resistiu às chuvas e foi convertido em lamaçal. Só aí se descobriu que a organização não tinha um plano B para o caso de chover. A solução foi transferir os eventos para Copacabana.
A essas agruras somaram-se as manifestações contra o governador Sérgio Cabral, que povoam a vida dos cariocas há quase dois meses e ajudaram a derrubar sua aprovação popular para 12%, o nível mais baixo até hoje. Nas últimas semanas, a polícia passou a infiltrar homens nos protestos, alguns em meio aos vândalos, usando máscaras e adotando uma atitude agressiva. Só nos arredores do Palácio Guanabara, onde o líder da Igreja Católica recebia as boas-vindas da presidente Dilma Rousseff, havia trinta policiais civis e algumas dezenas de PMs infiltrados. A missão era identificar baderneiros, mas, pouco discretos — todos traziam a mesma pulseira preta no pulso direito, por exemplo —, vários acabaram identificados nas redes sociais. Por toda a semana pairou a suspeita de que os policiais disfarçados estivessem atirando pedras e coquetéis molotov para incitar a violência e indispor a opinião pública com os manifestantes. Até a prisão de um funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) num tumulto no Leblon foi apontada como indício dessa tática. Nada, no entanto, ficou provado. De concreto, até agora, só o que se viu foi um inaceitável grau de improvisação onde deveria haver uma recepção impecável ao papa e aos visitantes. Ainda bem que Deus é brasileiro.
Com reportagem de Rodrigo Rangel


Como a vinda do papa revela a facilidade com que o Estado brasileiro viola sua laicidade constitucional

Presidente da Associação de Ateus e Agnósticos fala sobre a vinda do papa

Daniel Sottomaior

Simultaneamente à chegada do papa ao Palácio da Guanabara, na segunda-feira, manifestantes em seis cidades do país exigiram seu direito de não serem tratados como cidadãos de segunda classe do Estado brasileiro. No Brasil, algumas pessoas podem ter seus eventos religiosos promovidos com dinheiro público; outras, não. Alguns têm as viagens dos líderes de suas religiões promovidas com dinheiro público; outros, não.
Podemos até custear a segurança do papa, mas não é de interesse público torrar R$ 850 mil de impostos em sua recepção, ou usar aviões da FAB para trazer os veículos papais ao Brasil. Pelo mesmo motivo não se pode utilizar as Forças Armadas para transportar ícones religiosos, criar feriado municipal em quatro dias, nem transferir para o Estado os gastos em saúde que cabem aos organizadores de qualquer evento, segundo entendimento do próprio Ministério Público do Rio de Janeiro. E esses são apenas alguns exemplos. Levantamentos apontam cerca de R$ 120 milhões em gastos públicos – e o Estado se recusa a dar transparência a esses números, divulgando as cifras exatas.
Apelidamos de "desbatismo" a forma encontrada para protestar contra o uso da coisa pública pela religião. Com o desbatismo, afirmamos que ninguém tem direito de nos impingir uma religião: nem a nós, pessoalmente, nem ao dinheiro dos nossos impostos, nem ao Estado brasileiro. Afinal de contas, o uso de dinheiro público em eventos católicos nos torna, todos, católicos à força. Essa influência é não apenas injusta como também ilegal, pois contraria a laicidade constitucional do Estado brasileiro e nossa liberdade de consciência e crença, excluindo todos aqueles que não são católicos. E, segundo as últimas pesquisas, os eleitores não católicos são 43%.
Com o desbatismo, estamos dizendo: não somos menores, somos iguais. E não queremos que o Estado ceda seu poder ou seu dinheiro a qualquer crença ou descrença. O financiamento público de viagens de chefes de Estado só é justo quando elas se devem a assuntos de Estado, não a fins religiosos. Nenhuma norma ou prática pode contrariar princípio constitucional como a laicidade.
Convém lembrar que nem entre os católicos há muitas pessoas que levam a sério a mensagem da sua igreja. No Brasil, as pessoas se divorciam. Muito. E livremente. Elas usam pílula e camisinha, fazem sexo fora do casamento, fazem ou se beneficiam de pesquisas com células-tronco e reprodução assistida. Brasileiros dão direitos aos homossexuais, fazem aborto de anencéfalos e em caso de estupro. E todas essas coisas podem acontecer aqui, não graças a qualquer deus, mas apesar do catolicismo, apesar do papa, e graças à laicidade do Estado que teimam em violar.
Desde a fundação da República as autoridades tratam a laicidade com descaso. E as violações ocorrem de maneira perversa, porque o Estado já não tem influência nenhuma sobre a religião, mas a religião continua utilizando o Estado para ganhar dinheiro e influência. Isso precisa parar.
A ascensão de Marco Feliciano à presidência da comissão de direitos humanos da Câmara dos Deputados causou uma onda de indignação ao país, e reacendeu discussões sobre a necessidade de manter a laicidade do Estado. Mas ninguém se lembrou de apontar que o pau que bate em Chico, também bate em Francisco – mesmo que ele seja o papa. O TJ gaúcho já fez a sua parte, retirando os crucifixos das salas de audiência, mas no restante do país, as repartições públicas continuam recheadas de símbolos religiosos, assim como nosso dinheiro. Laicidade é para salvaguardar o Estado de todas as religiões, não só da religião alheia. Não é possível trabalhar pela retirada do Estado se o objetivo for tirar só a religião dos outros.
Em outras palavras, o avanço evangélico sobre o Estado brasileiro era uma tragédia anunciada. Um país que não sabe levar sua laicidade a sério, e não se constrange em convidar padres para dar bênçãos em inaugurações de prédios públicos, ou em impor bíblias e sua leitura no ritual do legislativo, não pode reclamar das consequências quando os muitos Felicianos do país tomam as rédeas do poder. O remédio é simples: levar a separação entre Estado e religião a sério. Sempre. Em todos os lugares e instâncias. Só isso fará do Brasil um país justo e igualitário em termos religiosos.
Verdade seja dita: a crucificação de Feliciano (ops...) foi uma enorme injustiça. É verdade, ele é homofóbico de carteirinha, camiseta e diploma, tem posições claramente contrárias aos direitos humanos, deseja interferir nas políticas de saúde pública e quer fazer todos os brasileiros rezarem por sua cartilha religiosa. Quer dizer: é igualzinho ao papa. Feliciano é até mais liberal: apoia o ordenamento de mulheres e o casamento de sacerdotes. A diferença é que ele não torrou centenas de milhões de reais de dinheiro dos contribuintes, nem usa vestido em público.
Por isso, entendam: nenhuma crença ou descrença pode ser privilegiada pelo Estado. Sem exceções. São os fiéis de uma religião que devem sustentar as atividades dela e de seus líderes. Não importa quantos adeptos tenha. A igualdade não está sujeita à maioria e não depende de voto: é um princípio inegociável de uma República democrática e justa.


The Guardian

Neymar goal filmed by Brazilian air force drone – video


Footage released by the Brazilian air force shows Barcelona star Neymar scoring a goal for Brazil against Japan during the Confederations Cup. The unmanned aircraft was flying over the Mane Garrincha stadium during a routine security operation when Neymar scored the opening goal. It monitored the arrival of the teams and the president to the stadium.


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