NOTIMP - Noticiário da Imprensa - 06/05/2013
Acompanhe aqui o Noticiário relativo ao Comando da Aeronáutica veiculado nos principais órgãos de comunicação do Brasil e até do mundo. O NOTIMP apresenta matérias de interesse do Comando da Aeronáutica, extraídas diretamente dos principais jornais e revistas publicados no país.
Troca da Bandeira encerra simulações para a Copa
LUIZ CALCAGNO
O Comando militar do Planalto
presidiu, na manhã de ontem, a troca da bandeira — que ocorre sempre no
primeiro domingo do mês —, na Praça dos Três Poderes. A cerimônia marcou
também o fim dos exercícios e simulações da força para as copas das
Confederações e do Mundo de 2014. Grupamentos do Tocantins, de
Goiás e do Triângulo Mineiro deixaram o Distrito Federal pouco antes do
evento. Além do Hino e dos tradicionais 21 tiros de canhão durante o
hasteamento da Bandeira Nacional, houve desfile das tropas de choque da
Polícia do Exército e do Batalhão da Guarda Presidencial, de
motociclistas batedores e apresentações artísticas dos estudantes do
Colégio militar de Brasília, que cantaram e dançaram para os presentes.
Pelo menos 300 brasilienses enfrentaram o sol quente por quase uma hora
para prestigiar a solenidade.
A cerimônia começou às 9h40, quando
homens da Polícia do Exército entraram marchando na praça com os
estandartes militares da corporação. Em seguida, um coral do CMB cantou a
música Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. Embaixadores de diversos
países acompanharam o rito. “Hoje, demos uma pequena amostra da força
que vai atuar na copa. Simbolicamente, nos despedimos dos militares do
Triângulo Mineiro, de Goiás e do Tocantins, que treinaram conosco na
última semana. Mas o mais importante aqui foi a troca da Bandeira. É um evento prestigiado, cada vez mais, pelos civis”, comentou o comandante militar do Planalto, general Gerson Menandro.
Entre os presentes na cerimônia, estava o
casal Júnior de Castro, 35, e Cinthia Castro, 34. Eles levaram os
filhos, João Miguel, 8, e Maria Luiza, 3, para acompanharem a troca da
Bandeira. “Fazemos passeios cívicos todo domingo. Além do mais, o João
Miguel está aprendendo sobre Brasília na escola, e aproveitamos para
apresentar a cidade para ele”, explicou a mãe. “O que mais gostei foram
dos batedores e dos 21 tiros de canhão”, completou o menino. A ciclista
Soraya Teixeira aproveitou o Eixão do Lazer para fugir do
congestionamento e assistir ao evento. “É muito emocionante. Quando
começaram a hastear a Bandeira e tocar o Hino, chorei”, assumiu.
|
UEA seleciona voluntários para ações na faixa de fronteira do AM
Serão selecionadas 90 estudantes da área da Saúde.
Ação ocorrerá de 18 maio a 5 junho e será conduzida pelas Forças Armadas.
A Universidade do Estado do
Amazonas (UEA) está selecionando 90 alunos, distribuídos nos cursos de
Medicina, Odontologia e Enfermagem para atuarem como voluntários em
municípios situados na faixa da fronteira brasileira. Os estudantes se
juntarão às Forças Armadas e a diversos órgãos e agências governamentais
para promoverem ações de promoção à cidadania e de apoio social no
período de 18 maio a 5 junho. A presidenta Dilma Rousseff e o ministro
da Saúde, Alexandre Padilha devem participar do evento.
Os acadêmicos prestarão serviços nos municípios de Barcelos - distrito de Yauaretê, Tabatinga e Humaitá. De acordo coma UEA, a operação abrangerá todos os estados da região amazônica ao longo de mais de 11 mil quilômetros de sua faixa de fronteira. Segundo a UEA, o Comando Militar da Amazônia planeja reunir meios e recursos humanos para implementar ações sociais com especial atenção à área de saúde. O objetivo é prestar atendimento às necessidades básicas de brasileiros que moram na faixa de fronteira do estado. Os alunos interessados em participar da seleção devem procurar sua respectiva coordenação de curso para efetuar inscrição. O cronograma de viagens compreende o período de 17 a 20 de maio para Barcelos, 27 a 30 de maio para Tabatinga e 31 de maio a 3 de junho para Humaitá. De acordo com a UEA, para cada viagem serão selecionados 10 alunos de Medicina, outros 10 de Odontologia e mais 10 do curso de Enfermagem. O deslocamento será por meio de transporte aéreo, de responsabilidade da Força Aérea Brasileira. Já o alojamento e alimentação serão oferecidos por Organizações Militares do Exército Brasileiro. A Marinha do Brasil participará com navios de Assistência Hospitalar e poderá contar com a participação de universitários em sua prestação de atendimento. Além disso, segundo a UEA, todos os alunos da universidade receberão seguro. De acordo com a UEA, para o dia 29 de maio, em Tabatinga, é esperada a visita da presidenta da República, Dilma Rousseff, e do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. |
A Boeing compartilha inovação
O centro de pesquisa em São Paulo expande a atuação da fabricante de aviões no Pais
Samantha Maia
Ano de 2013 consolida uma nova rota
de expansão da Boeing no Brasil. Além de vender suas aeronaves, a maior
fabricante de aviões e equipamentos aeroespaciais do planeta, com
interesses crescentes em defesa e segurança, abrirá nos próximos meses
seu primeiro laboratório de pesquisas no Brasil, em São José dos Campos
(SP), o principal polo de estudos aplicados na área do País.
Com 174 mil funcionários e lucro global de 1,1 bilhão de dólares no primeiro trimestre, a companhia abrirá seu sexto centro de pesquisas pelo mundo, o que reafirma o interesse pelo mercado brasileiro. Desde o ano passado, a companhia tem selado parcerias com universidades e empresas para pesquisas conjuntas, que agora se concentrarão no novo bureau. A instalação do centro de pesquisas trará 12 especialistas ao Brasil, onde uma equipe de 18 profissionais dedica-se hoje ao suporte técnico para a Gol e a TAM. Uma das idéias é criar opções sustentáveis para um dos itens de maior peso na planilha de custos das companhias aéreas, o querosene de aviação. A pesquisa para a produção de um biocombustível economicamente viável, a partir da cana e do pinhão-manso, as principais linhas de estudo, será realizada em parceria com a Embraer, também de São José dos Campos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A meta é chegar a um combustível menos poluente, que não exija alterações nos motores.
Entre os objetivos está o desenvolvimento de bioquerosene a partir da cana e do pinhão-manso.
Os esforços em P&D são
variados. Com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a
empresa pesquisa sensores remotos para aviões não tripulados. Em
parceria com o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA),
também ligado ao Ministério da Aeronáutica, colabora na revisão dos
currículos dos cursos de engenharia aeroespacial e na capacitação de
gerentes para o tráfego aéreo. Com a Universidade de São Paulo
(USP), estuda a segurança aérea e, em conjunto com a Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), testa a aplicação de biomateriais.
Nos próximos anos, a expectativa é de que os negócios em defesa e segurança, nicho em que a Boeing perde apenas para a Lockheed Martin no ranking mundial, ganhem peso. Como a Embraer, por exemplo, a empresa fechou um acordo de cooperação para o programa KC-390, que desenvolve o maior avião militar a ser- produzido no País. As estimativas da empresa apontam o potencial de vendas de 2,5 mil aeronaves na América Latina em duas décadas, 40% no mercado nativo, ou cerca de mil aviões. Nesse período, estimam consultores, o número de passageiros no País tende a triplicar, no mesmo ritmo de crescimento da última década. Confirmada a projeção, será uma expansão vertiginosa: no Brasil há 80 anos, onde entrou em 1932 por meio da venda de caças ao governo federal, a Boeing comercializou até hoje 180 aeronaves no Pais. As dificuldades financeiras das companhias aéreas brasileiras, que acumulam prejuízos com o aumento de custos, não são vistas com maior preocupação. "O mercado é dinâmico, por isso olhamos esses números como algo normal", diz Ana Paula Ferreira, diretora de comunicação da Boeing no Brasil. De olho no segmento militar, a Boeing aguarda a definição em relação a compra de 36 caças da Força Aérea Brasileira (FAB), que pode ocorrer ainda em 2013, após 13 anos de idas e vindas do poder público. A maior exigência para a escolha das aeronaves na licitação das Forças Aéreas para a transferência de tecnologia, corno explicitou o Planalto, não influenciou os esforços em pesquisa anunciados agora. "São coisas bem separadas. O investimento em tecnologia fica no Brasil, com ou sem a venda dos caças. Não podemos só transferir know-how„ pois o mais importante é desenvolver como Brasil", diz a executiva. A transferência de tecnologia possui o aval do presidente Barack Obama, mas a permissão terá de passar pela aprovação cio Congresso americano. No plano internacional, a Boeing procura reconquistar a confiança do mercado depois dos problemas técnicos com o "superavião" 787 Dreamliners, com capacidade para até 250 passageiros, a maior aposta da empresa nos últimos anos. As aeronaves foram impedidas de voar por três meses pelas autoridades internacionais, atea solução de unia falha que provocou incêndio em duas baterias em janeiro passado. A retomada dos 787 pelas empresas aéreas tem sido gradual, e as entregas de novas aeronaves, projeta a companhia, serão retomadas ainda em maio. A redução de custos, contudo, compensou a ligeira queda nas vendas, e a lucratividade avançou 20% na comparação com o primeiro trimestre de 2012. |
"É viável revitalizar a indústria", diz Coutinho
Denise Neumann e Cristiano Romero
A quase estagnação da economia
brasileira e os sinais de que a indústria local definha são processos
conjunturais. Ambos têm jeito, na avaliação de Luciano Coutinho,
presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). O crescimento, diz, já está a caminho e será reforçado, nos
próximos anos, por uma extensa "fronteira de oportunidades", que vai da
infraestrutura à saúde, entre outras áreas.
Revitalizar a indústria, contudo, é parte
fundamental dessa estratégia, reconhece Coutinho. Integrante ativo das
políticas industriais formuladas nos últimos anos, ele insiste que a
nova agenda mantenha políticas da "velha" agenda, como conteúdo local e
uso do poder de compra do Estado, como fazem outros governos, como o
alemão. Ao mesmo tempo, defende que ela cada vez mais mire a inovação e
incorpore um novo paradigma: para dar certo, é preciso ser competitiva a
ponto de competir internacionalmente.
Confira no texto abaixo a íntegra da
entrevista concedida ao Valor PRO pelo presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Trechos da
entrevista estarão na edição desta segunda-feira do Valor.
Valor: O governo adotou uma série de estímulos monetários e fiscais e a economia não reagiu. Por quê?
Luciano Coutinho: Talvez, a economia já
tenha reagido e isso vai ficar claro no fim do mês, quando o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar os dados. Todos os
indicativos são de que houve um crescimento expressivo no primeiro
trimestre. Eu gostaria de mencionar uma série de processos que
caracterizaram parte de 2011 e de 2012 e que a diferenciam da resposta
rápida da economia em 2009 e 2010, quando houve uma recuperação em forma
de V.
Valor:E agora?
Coutinho: Agora, estamos tendo uma
recuperação em U, muito mais lenta. A crise na zona do euro foi em
"câmera lenta", com a repetição de vários episódios críticos que
mantiveram uma incerteza muito densa por pouco mais de um ano. Mesmo
depois que o Mario Draghi [presidente do Banco Central Europeu] deu a
famosa declaração — "Farei tudo o que for possível para garantir os
sistemas bancários porque cai dentro dos mandatos de um banco central"
—, tivemos o episódio do Chipre.
Valor: Isso afeta o Brasil pelo canal da confiança?
Coutinho: Afeta o canal de expectativas e
o de cautela. Outro fato é que a desaceleração de 2011 começou como um
ato deliberado da política macroeconômica. Foram usados instrumentos
macroprudenciais e uma subida inicial de juros para controlar a
inflação. Sobrepôs-se a isso a crise externa. Além disso, 2011 e 2012
foram marcados por um lento processo de ajuste de estoques na indústria.
E foi um processo, em certo sentido, autoalimentado.
Valor: Por quê?
Coutinho: Como a economia crescia pouco, a
produção também crescia pouco. Houve um processo lento de ajuste de
estoques, problematizado também pelo acirramento da concorrência
internacional, com a retração do comércio em 2011 e crescimento muito
medíocre em 2012. No caso brasileiro, áreas importantes de exportação
industrial ficaram bloqueadas ou submetidas à forte concorrência. O
canal exportação nos foi, em boa medida, obstado. Acresço a esse
processo um terceiro elemento.
Valor: Qual?
Coutinho: O forte crescimento ocorrido
entre 2004 e 2010, com breve interrupção em 2009, alavancou muito o
consumo e o endividamento das famílias, além do endividamento das
pequenas empresas. Esse processo em 2011 e 2012 se revestiu,
diferentemente de 2009, da necessidade de desalavancagem do
endividamento das famílias e das pequenas empresas, o que também travou
uma das molas importantes da recuperação. Em que pese o esforço dos
bancos públicos, a taxa de concessão do crédito com recursos livres
desacelerou em 2011 e 2012. Só agora esse processo de desalavancagem
está sendo concluído.
Valor: Quais são os indícios disso?
Coutinho: Os índices de inadimplência
começaram a ceder, mas demoraram muito. Mas esses processos são longos.
E, finalmente, tivemos um ano ruim para a agricultura em 2012. A questão
relevante é: se o governo não tivesse atuado intensamente no sentido de
reduzir taxa de juros, melhorar a posição relativa da taxa de câmbio em
termos de competitividade, desonerar IPI e depois folha de pagamento, e
se não tivesse motivado uma atuação mais forte dos bancos públicos, é
muito provável que o quadro tivesse sido muito pior. Há, portanto, uma
configuração conjuntural nesse período de 2011 e 2012 que está sendo
extrapolada como se fora estrutural, como se tivéssemos uma perda de
vitalidade da economia brasileira. O que em economês chamam de redução
do PIB potencial, o que não é verdadeiro.
Valor: Por que não é estrutural?
Coutinho: Não é estrutural porque os
grandes problemas brasileiros são também grandes oportunidades. O Brasil
é um país de grandes oportunidades de investimento rentável, capazes de
mobilizar capital e fazer subir a taxa agregada de formação de capital
sobre o PIB, alargando o próprio crescimento potencial. É uma reflexão
puramente estática tomar o passado recente como imutável. É ignorar a
capacidade construtiva, tanto do governo quanto do setor privado. Quero
dar exemplos de fronteiras de crescimento que o Brasil tem. Primeiro, as
imensas oportunidades na área de infraestrutura logística, que
constitui o cerne do programa de investimento lançado pela presidenta no
ano passado, que está em processo de amadurecimento e que representará
uma grande oportunidade de investimento em rodovias, portos, aeroportos,
ferrovias, com duplo efeito, de ativar a construção pesada, de um lado,
gerando empregos; e, de outro lado, de infundir eficiência crescente no
funcionamento da economia. Há efeitos sistêmicos para o aumento da
competitividade e redução de custos. Então, é uma fronteira relevante de
investimentos. Outra fronteira muito relevante, essa já instalada e
clássica, é a energia. O Brasil tem um potencial de energias a ser
explorado, tanto de hidrelétricas quanto de renováveis e de outras, tem
necessidade, e tem um modelo que funciona.
Valor: Esse modelo está funcionando?
Coutinho: O de energia? Perfeitamente. E o
interesse nos leilões é ascendente, e não há razão para que não seja, e
também é ascendente a curva de investimento em energia. Terceiro, temos
uma grande fronteira na área de óleo e gás, onde eu enxergo a abertura
das novas rodadas como uma grande oportunidade de acelerar os
investimentos no setor e, se tivermos a capacidade de desenvolver a
cadeia supridora, tanto melhor. Temos, ainda, a fronteira da construção.
A construção residencial tem ainda um grande potencial. É preciso
terminar o ciclo de desalavancagem familiar, mas há ainda um déficit de
habitação. A combinação de instrumentos de habitação social - Minha
Casa, Minha Vida - com instrumentos de créditos de longo prazo para o
avanço da habitação residencial é outra avenida importante, e ela tem um
efeito de empuxe sobre uma ampla cadeia de materiais, insumos, etc.
Também devo mencionar os agronegócios competitivos, que têm uma
perspectiva na medida que a Ásia, com seus processos de urbanização, é
fonte de demanda e uma grande oportunidade.
Valor: Nem para a indústria houve uma perda estrutural de espaço na economia?
Coutinho: Se eu olhar a composição
setorial do crescimento, verei que, nesse período, a indústria ficou
patinando e até recuou um pouco. Dos grandes setores, foi o que mais
sofreu. Como a indústria é proporcionalmente quem investe mais, o seu
desempenho fraco afetou também a formação de capital. O desempenho da
indústria foi afetado, além dos fatores de demanda que mencionei, pela
deterioração das condições de competitividade, dada por pressões de
custo. É um fenômeno que vinha acontecendo nos últimos anos, mas se
acelerou em 2011 e 2012.
Valor: Que custos aumentaram?
Coutinho: Os custos salariais e de certos
insumos importantes. Várias cadeias reclamam disso. Queria lembrar que o
governo atuou. A desoneração de folha em parte visou aliviar pressão de
custos sobre os salários. A redução da tarifa de energia foi em grande
medida motivada para aliviar os custos de produção da indústria. A
melhora relativa da taxa de câmbio também foi justificada publicamente
pelo governo como um movimento em direção a melhorar a competitividade
da indústria. Temos que olhar as oportunidades que o Brasil tem de
desenvolvimento industrial. É importante mencionar iniciativas como o
plano Brasil Maior e iniciativas como o Inovar-Auto. O governo sinalizou
claramente que a indústria é estratégica a longo prazo para o Brasil.
Vejo que uma reflexão de como revitalizar a indústria é algo que está na
ordem do dia. Tenho uma visão de que é, sim, possível revitalizar a
indústria brasileira, ampliar um pouco o seu espaço na formação da renda
nacional e voltar a ter uma política de competitividade e de exportação
para a indústria.
Valor: De que indústria o senhor está
falando? De toda a indústria? Ou talvez o Brasil tenha que olhar para a
frente e lidar com o fato de que alguns setores vão desaparecer por
causa da concorrência externa?
Coutinho: Como dizia Lavoisier, na
natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Antes de
decretar a morte de um determinado setor ou cadeia industrial, é preciso
compreender qual é a transformação competitiva possível; quais são os
nichos e oportunidades que precisam ser estudados como forma de evoluir e
gerar uma alternativa de sobrevivência competitiva. É evidente que
qualquer política precisa olhar o que está acontecendo na divisão
mundial de trabalho, a organização de cadeias, quem são os concorrentes e
a viabilidade de sustentar uma capacidade de competir no quadro
internacional.
Valor: O senhor diz que a capacidade de
competir no quadro internacional é um critério, mas boa parte das
medidas que o governo vem adotando são no sentido de proteger a
indústria e dar sobrepreço para ela competir com o importado. Além
disso, o governo vem exigindo conteúdo nacional. Isso não é conflituoso?
Coutinho: Não. Discordo de que a política
seja protecionista no sentido clássico. É uma política que tem
incentivos à transformação e à inovação. Em segundo lugar, é falsa a
tese de que a política industrial trabalha com critérios de conteúdo
local desarrazoados e ineficientes. Na verdade, já houve em várias
cadeias importantes um processo de esvaziamento por dentro, o conteúdo
local já diminuiu de forma significativa, principalmente nas cadeias
muito longas.
"É possível revitalizar a indústria brasileira, e voltar a ter uma política de competitividade para o setor"
Valor: O senhor pode citar um exemplo?
Coutinho: Na cadeia da indústria
automotiva. Outro é a da cadeia eletroeletrônica, onde o esvaziamento é
até anterior. Quem se recuperar dentro de critérios de competitividade e
custo e com mais agregação de valor e adensamento de cadeias no país
terá uma política válida. Ela não será factível se quiserem impor
artificialmente às empresas normas incompatíveis com a concorrência
internacional porque as empresas não farão, especialmente as que estão
integradas em cadeias internacionais. Se você olha as pontuações e os
incentivos que estão embutidos no Inovar-Auto...
Valor: Mas esse programa tem (exigência de) conteúdo local.
Coutinho: Tem, mas ele é relativamente
baixo. Os níveis de conteúdo local históricos da indústria
automobilística eram 90%. Hoje, estamos falando de níveis de 60%.
Portanto, há uma grande margem dentro da política para acomodação de
segmentos onde a especialização internacional já consolidou a
necessidade de importar e combinar importação com a produção local. Quem
tem feito a crítica a um certo exagero da política de conteúdo local
são economistas que não conhecem a indústria e que deveriam se informar
primeiro antes de emitir opiniões taxativas a respeito.
Valor: O economista Edmar Bacha propõe o
que chama de "Plano Real para a indústria": uma combinação de forte
redução da carga tributária com eliminação de tarifas de importação,
redução da exigência de conteúdo nacional e flutuação do câmbio. Como o
senhor vê isso?
Coutinho: A preocupação com a
reindustrialização é muito positiva. Porém as políticas industriais são
muito mais complexas. Não se resumem simplesmente a assegurar um câmbio
competitivo, o que seria bom. Mas assegurar uma posição cambial
competitiva duradoura e induzir processos de transição para o
desenvolvimento no país de novas oportunidades industriais que
intensifiquem processos de inovação, que capturem para a produção do
país essas novas oportunidades e deem uma chance a determinadas cadeias
de recuperarem capacidade de competir e de se adensarem, requer agendas
bastante complexas, que vão além de uma simples combinação de tarifas
com um câmbio competitivo. No mundo inteiro, existe um conjunto de
instrumentos que tem sido exercitado de forma cada vez mais intensa.
Valor: De que forma?
Coutinho: Começa com fortes incentivos à
inovação tecnológica, à disseminação de novas técnicas de automação e de
produção, à qualificação e ao desenvolvimento de recursos humanos e de
engenharia e à capacidade de aprendizado em muitos setores
caracterizados pelas chamadas economias dinâmicas de escala. Isto
significa o seguinte: é preciso começar a fazer e a repetir processos
para alcançar padrões de competitividade. Além disso, há outros
instrumentos usados de maneira muito intensa em várias economias.
Valor: Quais?
Coutinho: O uso do poder de compra
público, especialmente em complexos ligados à defesa, a novas energias
renováveis, a todo o complexo de saúde. A realidade nas economias
desenvolvidas e em desenvolvimento hoje é de uma mobilização de
instrumentos sofisticados de fomento ao desenvolvimento industrial. A
tese de que o Brasil precisa revitalizar (a indústria)ou se
reindustrializar,ou desenvolver novas especializações é altamente
meritória e eu quero saudar esse debate, que se aperfeiçoe. Desonerar de
impostos a indústria é algo positivo, pois a indústria é a maior
pagadora de tributos. Ela é mais formalizada que outros setores e
proporcionalmente paga mais que outros. Essa desoneração tributária da
indústria poderia ser pensada imediatamente. Não precisaria esperar uma
queda geral de todos os setores porque a indústria já paga mais. Em um
redesenho da estrutura tributária brasileira, é válida a tese de que,
dado o valor estratégico da indústria, ela não deveria ser tão
penalizada quanto é hoje.
Valor: Isso será suficiente?
Coutinho: Não.É necessária uma estratégia. Se observarmos o que está ocorrendo no mundo, veremos estratégias muito bem afinadas.
Valor: Onde?
Coutinho: A Alemanha tem estratégia. Os
Estados Unidos não investem mais pesadamente porque os republicanos não
deixam, mas eles têm estratégia. O Japão está retomando, desvalorizando o
câmbio e tentando revitalizar a indústria.
Valor: Por que no Brasil há uma dificuldade de se defender uma estratégia para a indústria?
Coutinho: Não vejo tanta dificuldade.
Vejo alguns poucos radicais defendendo a desindustrialização e a
especialização em produtos primários e commodities. À medida que haja
compreensão da importância da indústria, de que um sistema industrial
razoavelmente sofisticado e diversificado é importante para a geração de
empregos de alta qualidade e em serviços, inclusive, porque há os
empregos pré e pós-manufatura dentro das cadeias, não vejo esse como um
debate tão difícil. Mas, claro, existe ainda um pouco de desinformação
de como são de fato complexas as estratégias de desenvolvimento
industrial.
Valor: O governo Lula adotou duas
políticas industriais; o governo Dilma fez duas fases do Brasil Maior.
Se olharmos de 2004 para cá, a participação da indústria na economia
caiu de 19% para 13% do PIB. O que deu errado?
Coutinho: Não houve uma descontinuidade
das políticas. A primeira foi focada em setores intensivos em
tecnologia. Isso foi mantido e se ampliou com a Parceria de
Desenvolvimento Produtivo (PDP). O Brasil Maior é um passo adiante a
partir da PDP, não é uma negação. Até o advento da crise internacional,
em 2008, o crescimento da indústria era satisfatório bem como o aumento
do investimento industrial. Embora algumas tensões competitivas já se
manifestassem sobre a indústria brasileira. Acredito que os problemas
começam a se tornar graves à medida que vem a segunda etapa da crise
internacional.
Valor: Por quê?
Coutinho: Por causa de um acirramento da
concorrência internacional. Segundo, por causa de ciclos de apreciação
do câmbio, finalmente revertidos em parte a partir de 2011 e 2012. Até
2010, foi possível não explicitar tanto as dificuldades. Elas se
tornaram explícitas pelo conjunto de tensões sobre custos, perda de
competitividade, a partir de 2011 e 2012, e ainda constituem desafios de
primeira grandeza.
Valor: Nesse período, o BNDES adotou a política de "campeões nacionais". Essa política foi encerrada?
Coutinho: O potencial de desenvolver
empresas com projeção internacional, e não falo só de empresas que
exportam, mas que tenham bases operacionais, isso tem um valor grande. O
investimento direto traz mais comércio, tem bases operacionais,
consegue agregar mais valor porque se transforma em uma empresa de
escopo internacional. No caso do Brasil, isso estava limitado, de alguma
maneira, aos setores onde o país desenvolveu uma forte capacidade
competitiva. Como seria impossível e insensato querer fabricar
artificialmente empresas com projeção internacional, nós, e o mercado
também e isso é importante lembrar, impulsionamos o desenvolvimento de
companhias em que essas pré-condições existiam. Em larga medida, essa
oportunidades foram endereçadas.
Valor: Mas a política acabou?
Coutinho: Se ainda existirem coisas pelo
mérito de que o país desenvolva empresas de expressão internacional,
elas podem ser examinadas. Quase todas essas operações foram feitas
junto com o mercado de capitais. Em alguns casos, foram soluções a
partir da crise, em que algumas empresas se machucaram em 2008, eram
exportadoras e a solução caminhou naturalmente para consolidações que
terminaram por aumentar a capacidade e a presença internacional dessas
empresas. Todos os países que se desenvolveram historicamente
projetaram, a partir de sua estrutura empresarial, grandes empresas
internacionais.
Valor: Que exemplos o senhor dá?
Coutinho: O grande ciclo de
internacionalização das empresas americanas começa nos anos 20, é
interrompido pela Grande Depressão e ganha um tremendo impulso nos anos
50, no pós-Guerra. Nos anos 60, é a vez de as grandes empresas europeias
se internacionalizarem depois do período de recuperação econômica do
pós-Guerra. Veio a resposta deliberada dos estados de projetar empresas
dentro da Europa e transformá-las em empresas de expressão
internacional. Se olharmos os anos 70, é o momento em que a economia
japonesa desenvolve grandes empresas internacionais, novas marcas e
novas especializações, com grande mérito porque o Japão começa a
disputar segmentos altamente intensivos em inovação tecnológica e
desenvolve marcas internacionais. Nos anos 80, começam a aparecer
empresas coreanas. Na primeira década deste século, aparecem as chinesas
em diversos segmentos. Há também um movimento de internacionalização de
empresas da Índia. Se olharmos o Brasil, foi até tardio esse movimento.
Não há nada de extraordinário nisso. É apenas uma expressão da
importância da estrutura empresarial brasileira, em movimentos coetâneos
com o capitalismo moderno. Infelizmente, dados os problemas estruturais
da indústria manufatureira brasileira, que vêm desde os anos 90, o
Brasil não pôde ainda desenvolver capacidade e empresas competitivas em
alto valor agregado na manufatura, embora tenha uma ou outra, mas ainda
não estamos no topo do pódio, ainda estamos ali em empresas que estão
entre décima/vigésima. Uma exceção é a Embraer, que é um caso à parte e
exemplar de desenvolvimento de política industrial, com poder de compra,
desenvolvimento. Mas eu estou pensando na indústria manufatureira em
geral.
Valor: Mas o senhor vê setores da indústria manufatureira onde o país ainda possa ganhar liderança mundial? Quais?
Coutinho: Eu acredito que se trabalharmos
em uma agenda de revitalização da indústria brasileira, uma agenda
moderna que reconhece e parte da premissa de que a competitividade
internacional é pré-condição para a própria formulação da politica é
quase natural que se desenvolvam candidatos a se transformarem em
empresas de expressão internacional.
Valor: O que é essa agenda moderna? O que tem nela que ainda não apareceu nas políticas dos últimos anos?
Coutinho: Primeiro, o desenvolvimento no
país de todos os complexos industriais intensivos em inovação e em
conhecimento. O Brasil é uma das poucas economias emergentes que não
desenvolveu um complexo de tecnologia minimamente competente em
tecnologia da informação com capacidade de produção, salvo poucas
exceções. Não temos, dado o tamanho da nossa estrutura industrial,
empresas importantes nos diversos segmentos de tecnologia de informação,
como equipamentos de comunicação, de consumo, de informática, de
automação. Não que não tenhamos uma ou outra empresa, até com potencial.
Tivemos avanços e retrocessos e não conseguimos estruturar. Tivemos
algum avanço na indústria de medicamentos e equipamentos ligados ao
complexo da saúde, especialmente com a política de genéricos, que
permitiu o desenvolvimento de empresas brasileiras razoavelmente
líquidas e rentáveis, mas elas estão ainda em processo de dar um salto
de qualidade em relação a uma nova janela de oportunidade que são os
medicamentos de base biotecnológica, os biofármacos. É uma oportunidade
que esta aí e que podemos ou não capturar. Olhando o complexo de saúde e
usando de maneira inteligente o poder de compra, podemos desenvolver
outras ou atrair empresas que possam desenvolver no país plataformas
competitivas dentro do sistema global. Temos na cadeia importante dada
pelos grandes investimentos em petróleo e gás, em offshore, a
possibilidade de desenvolver uma cadeia supridora de equipamentos e
serviços mais sofisticados usando de maneira flexível e inteligente os
requisitos de conteúdo local. O que, diga-se de passagem, nessa caso são
bastante flexíveis aqui, falamos de um conteúdo local de 50/60%.
"É falsa a tese de que a política industrial trabalha com critérios de conteúdo local desarrazoados e ineficientes"
Valor: O senhor está falando do pré-sal?
Coutinho: Sim. E estamos aqui
falando de processos progressivos, não são instantâneos. Se eu olhar o
complexo industrial de aeronáutica, aeroespacial e defesa nós temos
oportunidade de organizar melhor o nosso complexo. Temos uma empresa
âncora exemplar que é talvez o exemplo solitário de empresa
manufatureira internacionalmente competitiva brasileira que é a Embraer.
Com a Embraer entrando no campo de defesa, e o governo tendo um
conjunto de inciativas direcionadas ao reequipamento das Forças Armadas,
isso pode gerar um processo virtuoso de aprendizado. Aqui tem uma outra
área de oportunidades. Posso olhar também as energias. O Brasil tem um
grande potencial em energias renováveis e é possível pensar que, a
partir dessas oportunidades, posso desenvolver cadeias competitivas para
essas energias. Temos, finalmente, mas não exaustivamente, um
agronegócio que sempre foi muito competitivo e, aliás, é o grande
exemplo de obtenção de ganhos substanciais de produtividade nos últimos
anos. Tal capacidade de competir abre oportunidade para o
desenvolvimento de empresas supridoras, tanto de equipamentos agrícolas,
seja instalação de base de empresa internacional, que usa o Brasil como
plataforma competitiva, seja no desenvolvimento no Brasil de toda a
indústria de genética vegetal e animal, seja toda a indústria química
aplicada ao agronegócio, defensivos e fertilizantes. Outra área é o
etanol de segunda geração. Então, há oportunidades. O que nos faltou? É
pensar o desenvolvimento da indústria de maneira articulada às
oportunidades concretas de inserção competitiva que o Brasil possa vir a
ter, inclusive das commodities. Eu, outra vez reafirmo aqui o seguinte:
se tivermos consciência da relevância estratégica da indústria e
tivermos a sensatez de elaborar políticas que reconheçam a necessidade
de competir internacionalmente, usem de maneira inteligente e flexível
as políticas de adensamento de cadeias locais, capturem as oportunidades
e usem as ferramentas e instrumentos que os países todos utilizam.
Estes instrumentos são intensivos especialmente em estímulos, e
inclusive, subsídios à inovação, e uso do poder de compra. É
possível pensar no desenvolvimento de oportunidades para a indústria e
projetar, no futuro, se o paradigma funcionar, que o Brasil tenha também
empresas de expressão internacional nestes setores. Se o jogo da
competição é global, é natural que ao desenvolver uma indústria
competitiva ela participe do jogo global.
Valor: Mas não é contraditório que o
exemplo que o senhor citou como melhor empresa da indústria brasileira é
a Embraer, que atua em um setor onde não existe regra de conteúdo
local?
Coutinho: A Embraer é uma exceção
dentre todas as empresas internacionais do setor porque a base de
suprimento local é a mais frágil quando comparada com as outras
indústrias aeronáuticas do mundo.
Valor: Ela não é adensada no Brasil?
Coutinho: Isso, ela tem pouco
adensamento no Brasil. O que é característico dela é sua capacidade de
desenhar produtos "estado-da-arte", extremamente eficientes. E
mostrou que é possível funcionar, ainda que com baixo conteúdo local,
razoavelmente bem. Mas se você perguntar, é o ideal? Não. Se for
possível ter um adensamento mais eficiente, tanto melhor. O que eu quero
também dizer é que o exemplo da Embraer é especial, mas ela não pode
ser um paradigma para toda a indústria, ela tem características
especiais. Ela faz parte de uma indústria de altíssima especialização no
plano internacional, com pouquíssimos produtores. É estruturalmente
diferente de outras indústrias.
Valor: Então não daria para replicar o modelo dela em outros setores?
Coutinho: Talvez seja possível replicar o
modelo em alguns segmentos parecidos onde a especialização
internacional é muito grande e onde as cadeias de suprimento são poucas e
internacionalmente especializadas. Para setores que vistam esse
figurino é possível. O que estou dizendo é que esse figurino não é
paradigma para a indústria toda. É desconhecimento de economia
industrial achar que é. E tem muita gente opinando em economia
industrial sem entender sua complexidade.
Valor: Pegando esse gancho, os EUA estão
aparentemente fazendo um processo de readensar suas cadeias, estão
trazendo parte da produção de volta. Eles fazem isso em um ambiente no
qual pode se tornar mais barato produzir lá que na China, em alguns
setores. Quando o senhor fala desse seu sonho do Brasil criar condições
de produzir industrialmente aqui, isso não depende de um novo equilíbrio
macroeconômico? De um outro Estado, que não existe? Esse, por exemplo,
consome só em tributos 35% do PIB anualmente e por isso também não
consegue ter uma taxa de câmbio favorável ao processo industrial.
Coutinho: Concordo inteiramente com a
agenda de eficiência fiscal e moderação da carga tributária. E mais do
que isso, do aperfeiçoamento qualitativo da estrutura tributária
brasileira. A estrutura tributária brasileira é muito falha, tem muitos
impostos em cascata, a carga tributária é muito calcada em tributação
indireta. Não tenho dúvida de que ela precisa ser aperfeiçoada. Agora,
porém, ela não é uma determinante direta da taxa de câmbio em um mundo
encharcado, com excesso de liquidez global. É uma questão mais complexa.
Valor: Mas um Estado que consome 35% da
renda nacional, portanto, deixando pouco espaço para que o setor
privado, por exemplo, destine sua poupança ao investimento, e não ao
governo. A medida em que estamos, como todos reconhecem, atrasados nessa
competição industrial, e precisamos criar um ambiente propício à
produção industrial competitiva no Brasil, ele não depende de um novo
Estado?
Coutinho: Não tenho nenhuma dúvida de que
precisamos tornar o Estado brasileiro mais eficiente e mais capacitado.
Essa é uma agenda que preocupa o governo e o governo tem buscado
trabalhar nisso. Um Estado mais enxuto, mais eficiente, mais capacitado,
não automaticamente produzirá uma taxa de câmbio mais competitiva, nem
automaticamente produzirá mais poupança e mais capacidade de
financiamento doméstico. A agenda de financiamento e criação de poupança
doméstica é uma agenda mais complexa. Ela significa uma mudança até
cultural dos poupadores brasileiros, significa desindexar
definitivamente os instrumentos financeiros, acabar com a indexação à
Selic, ao CDI, migrar a base de depósitos de uma forma racional para
prazos mais longos, e ter uma correspondência entre risco, retorno e
"duration" dos ativos financeiros. Uma grande agenda de evolução
financeira do Brasil é uma capacidade de transformar depósito em
poupança de longo prazo, em crédito de longo prazo, que é a forma no
capitalismo moderno de criar poupança doméstica. A poupança não se cria
guardando dinheiro embaixo do colchão e economizando previamente, mas se
cria através de mecanismos sólidos de estruturação de funding de longo
prazo que pode se transformar em suporte do investimento. Mas essa é
outra agenda que tem, inclusive, alguma relação em ter um Estado mais
eficiente, inclusive para administrar os incentivos de política da qual
estamos falando. Mas eu quero sublinhar que os avanços recentes que têm
sido feitos são relevantes. Acredito, por exemplo, que o painel de
instrumentos para as políticas de fomento para o desenvolvimento
industrial avançou nos últimos anos com, entre outros avanços, o que a
Lei do Bem trouxe, inclusive com possibilidade de subvenção econômica ao
setor privado para inovação e os outros incentivos que equalizaram, até
modestamente, o que o Brasil pratica em relação ao paradigma
internacional. Creio que a possibilidade de usar o poder de compra do
Estado de uma maneira organizada é outro avanço, e creio que o
desbloqueio dos instrumentos de financiamento de longo prazo para a
inovação, pela Finep, e pelo BNDES, também são avanços concretos. A
grande iniciativa chamada Inova Empresa, que tem recebido pouca atenção,
mas que está em implementação concreta, vai resultar em frutos
importantes. O que nós temos aqui é um conjunto forte de medidas de
incentivo à inovação empresarial, lideradas pelo setor privado, com
instrumentos de fomento e de apoio ao adensamento industrial e à captura
de novas oportunidades.
Valor: Mas olhando para esses setores e
também para o programa de logística, onde só nele se tem pelo menos R$
250 bilhões de projetos a serem financiados em um prazo relativamente
curso, não vão faltar recursos? Qual a capacidade do BNDES de dar conta
desse funding?
Coutinho: Essa já é outra pergunta, eu
ainda nem mencionei a infraestrutura social, onde o Brasil é carente em
metrô, trens urbanos, saneamento básico. Então, eu enxergo muitas
fronteiras. E vejo os Estados brasileiros, graças ao longo cumprimento
da Lei de Responsabilidade Fiscal, agora habilitados, uma parcela deles,
a investir em infraestrutura como suporte aos investimentos federais.
Ainda é importante lembrar minha visão de que é possível revitalizar e
construir uma nova indústria competitiva no Brasil. Somando todos esses
fatores não há porque o Brasil não possa se desenvolver a taxas mais
altas. Certamente é preciso avançar em reformas que tornem o Estado mais
eficiente, mas eu queria sublinhar uma coisa aqui: para a concretização
de muitas destas oportunidades é preciso resgatar a capacidade de
pensar e planejar a longo prazo. Temos que combinar inteligentemente o
dinamismo do setor privado operando sobre regras de mercado, que é a
forma mais eficiente de alocar recursos, com a capacidade ordenadora de
visões de longo prazo que sejam mobilizadoras e deem um horizonte de
previsibilidade para o setor privado. Conseguindo chegar lá, o Brasil se
desenvolve com taxas de crescimento muito mais altas do que essas.
Valor: É curioso que o Brasil, tendo
superado a hiperinflação, e estando há 18 anos no processo de
estabilização da economia, ainda não consiga.
Coutinho: Eu discordo. Se eu olhar qual
era a Formação de Capital Fixo sobre PIB até 2002/2003, ela estava em
15%/16%. Nós conseguimos agregar 4 pontos percentuais, chegamos a 19,5%,
caímos para 18%, vamos voltar para 20%, 21%. Já agregamos isso com
todas as precariedades e dificuldades de consolidação da última etapa da
estabilização brasileira, que só veio mesmo quando acumulamos reservas,
e deu para fazer um colchão de câmbio. Já conseguimos fazer um salto, a
formação já subiu de 15% para 19%. Agora precisamos dar outro salto, de
19% para 23%. É possível, perfeitamente possível.
Valor: Mas voltando à pergunta: haverá
funding? Até porque de 15% para 19%, o BNDES ficou de que tamanho? E
para ir de 19% para 23%? E não só BNDES, mas pergunto do funding para
todos os projetos de investimento, incluindo o programa de logística.
Coutinho: E a resposta é mobilização e
desenvolvimento do mercado de capitais junto com o BNDES, uma agenda da
qual já falamos. O BNDES pode crescer um pouquinho mais? Pode, mas não
vai dar conta de tudo, e o mercado precisa se desenvolver.
|
Brasil reduz presença militar no Haiti
A
redução do efetivo de militares brasileiros na missão de paz no Haiti
começou na semana passada, quando 330 homens deixaram o país. Na
quarta-feira, partiu o navio Garcia D Ávila, carregando boa parte dos
veículos e de materiais de alojamento usados no 2- Batalhão de
Infantaria de Força de Paz (Brabat 2). Esses são os passos mais visíveis
da extinção do batalhão, que deixou de prestar serviços no dia 12 de
abril e, até junho, não terá mais nenhum representante.
Constituído em março de 2010 com o
objetivo de prestar auxílio humanitário no pós-terremoto, o batalhão
deixa o Haiti num momento em que a violência voltou a crescer,
principalmente na região da Grande Bel-Air, que inclui os bairros mais
populosos de Porto Príncipe e é parte da área de atuação do batalhão.
Não há números oficiais, masum
levantamento da ONG Viva Rio no Haiti, feito com base em informações de
líderes comunitários, da polícia haitiana e da Missão das Nações
Unidas para a Estabilização no Haiti (minustash), mostra que a taxa de
homicídios na região era, em 2006, de 32 por 100 mil habitantes. Em
2010, ano do terremoto, foi para 50 e, entre novembro de 2011 e outubro
de 2012, saltou para 104.
Para o comandante do bataIhão,
coronel Sinval dos Reis Leite, a saída do Brabat 2 não vai interferir
na segurança da população. Ele afirma que a tarefa dessa unidade era
“especificamente humanitária e acabou recebendo uma área operacional
para prover segurança”. Segundo ele, “antes do terremoto só existia um
Brabat, com cerca de 1.200 homens, e isso será reconstituído”. A área coberta pelo batalhão que será extinto será dividida entre os militares brasileiros e o Exército do Nepal.
A violência na região, segundo o coronel,
é volátil. Os motivos, explica Pedro Braum Azevedo da Silveira,
pesquisador e consultor de segurança do Viva Rio no Haiti, são vários, e
a luta por poder entre as cerca de dez gangues da Grande Bel-Air é um
deles.
Segundo o coronel Sinval, desde
dezembro, quando assumiu o comando do batalhão, nenhum tiro real foi
disparado. Balas de borracha foram usadas em eventos avaliados como
esporádicos. “O mais surpreendente foi que aumentamos a sensação de
segurança sem precisar dar nenhum tiro.”
Passaram pelo batalhão que deixa de existir, em três anos e três meses de operação, 4.787 militares brasileiros.
O material usado pelo batalhão foi
dividido em quatro grupos: parte será repatriada para o Brasil, outros
equipamentos serão reutilizados na base que permanece no Haiti, alguns
objetos serão doados e o restante será descartado.
O navio Garcia D’Ávila, que tem 140
metros de comprimento e pode carregar até 8.751 toneladas, leva ao
Brasil veículos (viaturas, caminhões, carros de combate e ambulâncias)
e contêineres com materiais como geradores, unidade de purificação de
água, barracas, coletes e capacetes.
|
A CRÍTICA CAMPO GRANDE
Capital será base de treinamento da FAB a partir de amanhã
Com o objetivo de treinar pilotos e
controladores no monitoramento de tráfego aéreo, a Força Aérea
Brasileira (FAB) elegeu Campo Grande como base de um treinamento para
combater ilícitos na região de fronteira. A Parbra III, que começa
nesta segunda-feira (6), é exercício combinado entre a FAB e a Força
Aérea do Paraguai (FAP).
Do outro lado da fronteira, as
atividades serão concentradas nas cidades de Pedro Juan Caballero e
Concepción. Vão ser utilizadoss 20 aeronaves e efetivo de 150 militares.
O terceiro exercício entre os dois países trará como novidade o emprego dos radares táticos MRCS 403.
O treinamento vai permitir, futuramente,
estabelecer um sistema de transferência de informações entre as defesas
aéreas brasileira e paraguaia.