NOTIMP - Noticiário da Imprensa - 04/02/2013
Acompanhe aqui o Noticiário relativo ao Comando da Aeronáutica veiculado
nos principais órgãos de comunicação do Brasil e até do mundo.
O NOTIMP apresenta matérias de interesse do Comando da
Aeronáutica, extraídas diretamente dos principais jornais e revistas
publicados no país.
Céu de brigadeiro para formar piloto .
Crescimento da frota offshore e salário valorizado atraem profissionais para operar helicóptero, triplicando licenças .
Marinella Castro .
Jonathan Barro pilotava avião, mas agora opera helicópteros offshore .
O céu está azul e o tempo firme para os
pilotos de helicóptero. Apesar de cara, a formação para operar a máquina
tem atraído candidatos de todo o Brasil, interessados em salários
valorizados e nas chances que crescem no mercado de trabalho, empurradas
pelo avanço do número de helicópteros voando e mais ainda pelo que se
pode chamar de nova fronteira da profissão: as plataformas de óleo e
gás. A busca das empresas desse setor por profissionais do ar tem
provocado uma corrida aos cursos de formação.
Números da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) mostram uma explosão da concessão de licenças para voar –
elas mais que triplicaram nos últimos cinco anos, passando de 369
habilitações para 1.462. Para ter ideia, em 2007, 170 habilitações foram
expedidas para piloto privado. No ano passado, forma 807 licenças,
segundo relatório da Anac (veja gráfico).
Para os especialistas, a demanda do mercado de trabalho justifica o crescimento no percentual de habilitações. As plataformas de petróleo devem demandar por ano cerca de 80 pilotos nos próximos 10 anos, com salário inicial variando entre R$ 9 mil e R$ 10 mil, podendo rapidamente chegar a R$ 15 mil. O número que desafia a capacidade brasileira de formação.
Na corrida para atender a demanda,
empresas de aviação também passaram a promover a qualificação de pilotos
para atender às empresas petrolíferas, mas se haverá pilotos
disponíveis essa é ainda uma incógnita. Enquanto um piloto comercial
precisa investir cerca de R$ 100 mil para atingir 100 horas de voo, o
chamado piloto offshore se habilita a partir de 500 horas e
investimentos que superam os R$ 200 mil. "A formação deveria ter o
incentivo do governo, como já ocorre em outras áreas, onde o país
precisa da qualificação", defende Guilherme Medina, diretor de Recursos
Humanos da Líder Aviação, maior empresa no segmento executivo da América
Latina.
A Líder, que tem 67 helicópteros em sua
frota, opera voos off- shore, isto é, da costa para plataformas de
petróleo, de empresas como Petrobras, Shell, Chevron e Statoil. Para
atender à demanda, a empresa desenvolveu em parceria com a americana
Bristow Academy curso para formação de pilotos, que acontece nos Estados
Unidos com duração de 12 meses. Os candidatos devem investir com
recursos próprios US$ 100 mil (cerca de R$ 200 mil). Concluído o curso,
passam por um processo seletivo e podem ser contratados pela empresa.
"Para operar as plataformas é preciso atingir requisitos de qualidade",
reforça Medina.
DISPUTA Com o aquecimento da demanda, o
segmento, que sempre foi bem mais tímido que o mercado de piloto de
aviões, entrou na disputa pelos profissionais. Piloto de avião, Jonathan
Barro migrou para o setor de helicópteros há três anos, impulsionado
pela boa oferta do segmento. Quando decidiu concluir a sua formação, que
ocorreu há pouco mais de 10 anos, ele deixou BH para se formar no Rio
de Janeiro, onde estavam as escolas especializadas. Hoje, a capital
conta com três escolas de formação prática, duas delas abertas nos
últimos três anos.
Com 5,5 mil horas acumuladas de voo,
Jonathan ocupa hoje o posto que é uma espécie de sonho para muitos
pilotos iniciantes na profissão. Como piloto offshore ele opera um
helicóptero no valor de US$ 27 milhões. "É uma carreira sofisticada e
bonita. Requer muito treinamento, mas tem também uma escala atrativa."
Trabalhando por 15 dias e folgando outros 15, ele transporta 21 pessoas ,
avançando 270 quilômetros mar adentro. "É um desafio."
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BH supera Brasil
Hernane Assis: procura por curso era de um aluno por ano, agora são 35
O
mercado de helicópteros tem crescido a uma média de 20% ao ano, mas em
Belo Horizonte o avanço supera a média nacional, atingindo 30% ao ano. A
frota do país dobrou na última década. Minas é o terceiro colocado no
ranking, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro, com frota de 220 aeronaves
– há 10 anos eram 106. Somente em BH, são 56 helicópteros. "Há cinco
anos, eram 10", comenta Theo Rohlfs, diretor em Minas da Associação
Brasileira de Pilotos de Helicópteros (Abraphe).
Roberto Belmiro formou-se como piloto há
10 anos, mas foi há pouco mais de cinco anos que a carreira esquentou e
ganhou grande fôlego. Ele trabalha como instrutor na Escola de Pilotagem
e Centro de Treinamento Efae, em Contagem, na Grande BH. Ao mesmo tempo
que vê as turmas crescerem, Belmiro investe na formação. "Faço
graduação para voar com instrumentos."
Coordenador do cursos de ciências
aeronáuticas da Universidade Fumec, Deusdedit Carlos Reis aponta que,
depois de 10 anos com turmas à noite, a escola abre este ano horário
pela manhã. Ele concorda que o helicóptero passou a ganhar destaque no
mercado de trabalho, mas o custo da formação prática ainda é uma
barreira a ser vencida. "Enquanto a hora de voo para avião varia entre
R$ 260 e R$ 350, para o helicóptero custa entre R$ 800 e R$ 900 em
média", compara.
Hernane Assis coordena a formação teórica
para pilotos no Aeroclube do Estado de Minas Gerais, escola que
funciona no Aeroporto Carlos Prates, com a parte teórica da formação.
Segundo ele, há 10 anos a procura não passava de um candidato ao ano
interessado em se dedicar ao setor, mas nos últimos três anos a demanda
cresceu para 35 alunos ao ano. "O mercado é promissor." (MC)
O mercado brasileiro para pilotos de
helicópteros está em franca expansão com todas as escolas lotadas até
2014. O setor vem trabalhando pela qualidade e segurança operacional e é
contrário à ideia de importar mão de obra para suprir a demanda
interna. Essa é uma atitude que poderia desequilibrar gravemente o
mercado, impedindo o país de crescer e de se tornar autossuficiente. A
formação de pilotos ganhou grande fôlego e está havendo grande
investimento na formação. Acreditamos que haverá mão de obra habilitada
para responder à demanda das empresas do segmento de petróleo e gás,
assim como para atender o crescimento da frota particular e comercial.
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Queda de avião bimotor deixa cinco mortos no interior de SP
Valmar Hupsel Filho
colaboração para a FOLHA
Um
avião de pequeno porte caiu na zona rural de Cândido Mota (428 km a
oeste de São Paulo) na noite deste domingo (3). Cinco pessoas, entre
eles o piloto, morreram.
A aeronave, um bimotor BE9L-King Air prefixo PPAJV, decolou às 19h37 de Maringá (PR) com destino ao aeroporto de Congonhas.
A FAB (Força Aérea Brasileira) estima que a queda tenha ocorrido por volta das 20h20, quando o piloto deixou de fazer contato.
As causas do acidente serão investigadas pelo Seripa 4 (Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
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Manobra infla PAC em R$ 8,9 bi
Além
de saques no Fundo Soberano e da utilização de dividendos de estatais, o
governo usou uma manobra para garantir o cumprimento da meta reduzida
de superávit primário em 2012. Uma série de medidas ao longo de dezembro
remanejou R$ 8,9 bilhões do orçamento de seis ministérios para o
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), facilitando o esforço
fiscal.
O valor foi obtido com base em
levantamento da Agência Brasil de três portarias da Secretaria de
Orçamento Federal, do ministério do Planejamento, publicadas no Diário
Oficial da União nos dias 4, 26 e 28 de dezembro. Com as medidas,
despesas de combate à fome, defesa e educação passaram a se enquadrar
nos critérios estabelecidos para o PAC, podendo ser incluídas no
mecanismo que permite o abatimento dos gastos do programa do cumprimento
da meta fiscal.
O maior volume de despesas
remanejadas corresponde ao ministério da defesa, que passou a contribuir
com R$ 4,670 bilhões para o PAC. Em seguida, vem os ministérios da
Educação (R$ 2,775 bilhões) e da Integração Nacional (R$ 1,080 bilhão).
Completam a lista os ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (R$ 383,44 milhões), da Cultura (R$ 30,9 mil) e da Ciência,
Tecnologia e Inovação (R$ 11,1 mil).
As mudanças inflaram a execução do PAC.
Pelos novos critérios, o programa gastou R$ 39,3 bilhões no ano passado.
O valor exato da execução sem as dotações remanejadas não foi divulgado
pelo Tesouro, mas ficaria em torno de R$ 30,4 bilhões, caso toda a
verba dos programas tenha sido consumida em 2012.
O superávit primário representa o
montante economizado para o pagamento dos juros da dívida pública. No
ano passado, União, Estados, municípios e estatais economizaram R$
104,951 bilhões, abaixo de meta cheia de R$ 139,8 bilhões estabelecida
pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
O governo só não descumpriu a legislação
porque a própria LDO autoriza o abatimento de todas as despesas do PAC
da meta cheia. Dos R$ 39,3 bilhões gastos no PAC em 2012, o governo
abateu R$ 34,849 bilhões do esforço fiscal.
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Cinco morrem em queda de avião no interior de São Paulo
Cinco
pessoas morreram na queda de um avião na zona rural de Cândido Mota
(431 km de São Paulo). Não há notícias de sobreviventes, segundo o Corpo
de Bombeiros.
O acidente teria ocorrido por volta das 20h30 deste domingo (3), em uma área conhecida como Água do Macuco, tradicional produtora de soja e mandioca. No quartel dos Bombeiros em Assis, não há informações. Equipes de salvamento de pelo menos duas cidades (Assis e Marília) foram deslocadas para o local do acidente. Também não existe informações sobre a aeronave, identificação das vítimas e dos ocupantes ou sobre o plano de voo do aparelho. A comunicação entre os bombeiros está prejudicada desde o início das operações por conta da forte chuva que atinge a região e por ser o local uma área de baixada e de difícil acesso. O rádio entre as várias equipes não está funcionando. Os primeiros relatos de moradores de Cândido Mota sugerem uma forte explosão ouvida a distância do ponto em que o avião caiu. Equipes da Aeronáutica de São Paulo devem chegar nesta segunda (5) de manhã para o trabalho de perícia. Os bombeiros também cogitam retirar os corpos apenas pela manhã. |
Santa Maria, rogai por eles!
A
cidade que morreu com seus jovens busca uma razão para renascer nos
sonhos dos que se foram e na luta dos heróis que evitaram um desastre
ainda maior
Amauri Segalla
enviado especial a Santa Maria
O
engenheiro agrônomo Sylvio Henrique Bidel Dornelles acordou
sobressaltado na manhã do domingo 27. Seu apartamento foi invadido pelo
som de motores e sirenes de ambulâncias e carros de polícia. E, de
repente, viu-se em um macabro camarote. De sua varanda, ele assistia aos
veículos parando ali defronte, onde fica o Centro Desportivo Municipal
de Santa Maria. Deles, um a um, eram desembarcados jovens sem vida.
Foram 234 ao longo do dia. A tragédia o alcançou logo cedo e foi se
aproximando cada vez mais, devastando-o cada vez mais. Logo ele ficou
sabendo que os corpos vinham da boate Kiss, que a filha Clarissa
frequentava até que o pai a proibisse, depois que ela presenciou uma
briga no local. Nos rostos desesperados de quem chegava em seguida, à
procura de notícias dos estudantes que saíram de casa na noite anterior
para ir a uma festa e não haviam voltado, enxergava figuras conhecidas.
"Alguns pais não tiveram coragem de reconhecer os corpos e me chamaram
para ir junto", diz Dornelles na quarta-feira 30, enquanto aponta, da
varanda do apartamento, os galpões antes cheios de caixões e agora
vazios. Ele tem dificuldade para falar sobre isso. Enquanto conversa, o
som da voz sai baixo, quase inaudível, e as frases são curtas. Professor
do curso de agronomia da Universidade Federal de Santa Maria, ele
convivia diariamente com 31 daqueles rapazes e moças mortos. Eram seus
alunos. Dezoito, de uma mesma classe. Dornelles, como toda a Santa
Maria, também tinha sido atingido. Também não dorme mais em paz. Também
não consegue trabalhar. Também não sabe onde buscar forças para
recomeçar. Sabe apenas que a cidade jamais será a mesma.
"Você precisava ver, antes disso tudo
Santa Maria transbordava alegria", diz. Na tarde daquela quarta-feira,
as alamedas arborizadas da Universidade Federal de Santa Maria deveriam
estar movimentadas. Em um dia normal, os prédios que abrigam cursos
concorridos de agronomia, farmácia e veterinária, além de muitos outros,
deveriam ressoar aquela excitação típica de um ambiente estudantil. Em
um dia comum, haveria vida pulsante ali. A Federal parece ter sido
abandonada às pressas, como se mísseis inimigos fossem desabar sobre
ela. Não se vê uma mínima fração de seus 27 mil estudantes. Os 1,8 mil
professores sumiram de vista. Não há ninguém nos laboratórios. Nem nas
bibliotecas. As lanchonetes estão às moscas. As luzes, apagadas. A
Universidade Federal de Santa Maria está deserta por um motivo óbvio:
luto. Até a sexta-feira 1º, 103 de seus alunos tinham morrido em
decorrência do incêndio na boate Kiss. Pelo menos outros 30 continuavam
internados. Como a festa na Kiss foi promovida por diretórios
estudantis, é provável que mais de 500 pessoas ligadas de alguma forma à
instituição estivessem na boate na noite da tragédia. As aulas foram
suspensas por uma semana, mas é certo que a dor vai durar muito mais. E
não apenas ali. Santa Maria tem sete universidades frequentadas por 40
mil alunos. No verão, às 9 horas da noite ainda tem sol e as pessoas
ficam na rua até tarde. Os índices de violência são baixos, não falta
trabalho nas áreas rurais e o universo estudantil atrai professores e
pesquisadores, que fizeram surgir, nos últimos anos, uma nova classe
média. O paraíso não existe mais.
Fábio José Cervinski, 26 anos, era um dos
alunos do curso de agronomia da Universidade Federal de Santa Maria. Há
três anos, o jovem estudante era só bom humor. Havia vencido a luta
contra a leucemia, doença que o vitimou quando ele tinha apenas 17.
Fábio passou seis anos doente, submeteu-se a tratamentos dolorosos,
inúmeras sessões de quimioterapia, até, finalmente, receber o
diagnóstico de cura. Desde então, não se cansava de festejar com a
família. Durante a luta contra o câncer, o jovem disse aos parentes que,
se morresse, gostaria de ser enterrado ao lado da sepultura do avô, na
pequena cidade de Paim Filho, no interior do Rio Grande do Sul. Ninguém
mais se lembrava disso. Afinal, o câncer era passado e Fábio tinha um
futuro enorme pela frente. Mas o garoto que sobreviveu a uma luta de
seis anos contra a leucemia não resistiu ao gás venenoso da Kiss.O
incêndio trouxe o pedido de volta à memória dos pais e foi atendido.
Fábio agora está ao lado do avô em Paim Filho.
Para fazer a foto desta reportagem, o
professor Dornelles voltou à sala de aula da Federal de Santa Maria. Ele
veste camiseta preta e tem nas mãos as provas que os alunos fizeram na
manhã da sexta-feira 25. Pouco tempo depois, na madrugada de sábado para
domingo, quatro desses estudantes morreram no incêndio da boate Kiss.
Dornelles mal consegue olhar para os papéis. Ele os entrega ao repórter,
depois pega de volta com cuidado e acaba por colocar tudo sobre a mesa.
Então, motivado provavelmente por um instinto de proteção, abraça com
força o material. "Vou ligar para os pais, porque agora isso pertence a
eles", diz. Uma das provas foi feita em papel rosa enfeitado com
desenhos de borboletas coloridas. É da estudante do primeiro semestre de
agronomia Rhaíssa Gross Curia, uma das vítimas fatais da Kiss. O
professor Dornelles não consegue parar de pensar nela e em todos os
outros. "Eu paguei R$ 15 pelo convite da festa na Kiss", diz ele. "Fiz
isso para ajudar os alunos. A menina que me vendeu o convite morreu."
A Kiss dilacerou muitas famílias e foi
ainda mais cruel com a dona de casa Elaine Gonçalves. Aos 63 anos, ela
enfrentou há dois anos a morte do marido e agora se depara com o
desaparecimento dos dois filhos, Deivis e Gustavo Marques Gonçalves.
Depois da perda do companheiro, os jovens eram a alegria de dona Elaine,
os únicos capazes de preencher seus dias. "Eles saíram de casa juntos,
bonitos e faceiros, para nunca mais voltar", diz a mãe. O mais velho,
Deivis, 33 anos, morreu na própria boate e foi enterrado na
segunda-feira 28. O irmão, Gustavo, 21, passou três dias internado, mas
não resistiu. Na terça-feira 29, Elaine recebeu a notícia da morte do
segundo filho. "Deus estipulou um tempo certo para eles, então o que me
resta é aceitar", diz. Inconsolável, a dona de casa sabe que agora terá
de enfrentar uma nova realidade. "Meu Deus, é um pesadelo, mas eu sei
que é sem eu acordar. E agora minha casa vai ficar vazia." Apesar da
prostração causada pelas perdas irreparáveis, dona Elaine não está
conformada. "Quero justiça", afirma, enquanto mantém os punhos fechados.
A morte inesperada é chocante sob todos
os aspectos, mas ainda mais dramática para os pais. Nos cemitérios de
Santa Maria, muitos deles não abandonaram o túmulo de seus filhos, mesmo
dois ou três dias depois dos enterros. Na quarta-feira 30, Veleda Ames e
João Carlos da Silva permaneceram um bom tempo imóveis, abraçados
diante da sepultura do filho, Alexandre Ames Prado, 18 anos, estudante
de jornalismo que tinha sido sepultado dois dias antes. "Não tenho mais
objetivo na vida", diz Veleda. A menos de 50 metros dali, aconchegados
em um banco de cimento, estavam Sandra e Carlos Favarin, pais de Kell e
Aline Favarin, estudante de direito que morreu aos 22 anos e que também
havia sido enterrada na segunda-feira. "A médica disse que ela não
sofreu", afirma Sandra, tentando, de alguma forma, encontrar conforto,
se é que é possível numa situação como essa. Nos cemitérios de Santa
Maria , flores frescas estavam por toda parte e dava para ver até os
coveiros, habituados à rotina da morte, com lágrimas nos olhos.
Depois de sepultar os filhos, muitos pais
preferem enterrar também a tragédia e postergar a longa despedida que
vem pela frente – o desvencilhamento das roupas, dos objetos pessoais e
das lembranças. Três dias depois da morte da filha Mirela, 21 anos,
Helena Rosa da Cruz ainda não teve coragem de jogar a metade do lanche
que a jovem havia deixado na geladeira de casa antes de ir à boate Kiss.
Ela e o marido, Delçon, também resolveram fechar o quarto da jovem, e
do filho, José Manuel, 18, que também perderam na tragédia. "Decidimos
fingir que eles estão viajando. E vai ficar assim até termos coragem",
diz Helena, que foi dormir na madrugada do dia 27 tranquila, pois o
casal de filhos cuidaria um do outro na balada, como sempre. Perto das
4h, tocou o telefone na casa de Helena. Era uma amiga dos irmãos
avisando sobre o fogo na Kiss. O casal correu para o cenário da tragédia
e logo percebeu que não encontraria seus filhos lá. Dividiu-se e
começou a busca por hospitais. Era começo da tarde do domingo e Delçon e
sua esposa, depois de ir e vir de todos os centros de saúde, ainda não
haviam encontrado Mirela e José Manuel – os nomes não apareciam em
nenhuma lista de feridos. Às 13 horas, o casal se encaminhou para o
ginásio Farrezão, onde estavam as centenas de corpos. Os policiais
chamavam de dez em dez nomes. Amparada em uma amiga, totalmente
desorientada, Helena ouviu, apenas na quinta chamada, o nome de José
Manuel. Ele era o corpo 62. Inerte diante do filho, a mãe se deparou com
o de Mirela, ao longe. A partir daí, o casal enfrentou, assim como
todas as famílias que lá estavam, dilaceradas com as perdas de seus
jovens, uma série de filas: para a certidão de óbito e para conseguir
caixões nas funerárias, entre outras. Até que Helena pôde ir para casa
separar a roupa de seus meninos. Para José Manuel, que fazia parte de um
grupo de danças típicas, bombachas, camisa branca, guaiaca, lenço
vermelho, botas e boina. Já sua Mirela, vaidosa como ela só, rainha de
Carnaval do clube e miss Santa Maria aos 10 anos, um vestido branco com
brilhante na gola e um sapato de salto altíssimo. No enterro, todos
choraram com e por Helena, que diante dos corpos dos filhos agradeceu a
presença dos amigos e acrescentou: "Se eles foram pessoas tão
maravilhosas, e se eu estou aqui agora, é porque vocês nos encheram de
amor."
Janaína Portela, 19 anos, não era
estudante universitária, nem estava na boate Kiss para se divertir.
Moradora da periferia de Santa Maria, do bairro de Chácara das Flores, a
jovem estava no epicentro de uma das maiores tragédias da história do
País porque se ofereceu para substituir a mãe, Natalícia Moraes da
Silva, que estava se sentindo mal, na função de lavar copos durante a
festa. Não era a primeira vez que Janaína substituía Natalícia,
empregada da boate. A jovem chegou a escapar do incêndio, mas entrou
mais duas vezes na Kiss para auxiliar nos resgates de quem ainda sofria
lá dentro. Na terceira vez, não conseguiu sair. Esforçada, queria ser
veterinária, e era muito querida. Da Chácara das Flores, saíram vans,
carros e um ônibus cheio de vizinhos para o enterro, na segunda-feira
28.
É difícil encontrar alguém na cidade que
não tenha sentido a tragédia de perto. O recepcionista do hotel diz que o
melhor amigo está internado. Você está no restaurante e o dono pede uma
salva de palmas para o sobrinho, que saiu ileso da danceteria. Os
shoppings e as lojas de ruas colocaram fitas de luto em suas fachadas.
Nos carros dos taxistas, uma faixa preta homenageia os mortos. Uma casa
colocou um cartaz que pede justiça. No ônibus que faz o trajeto Porto
Alegre-Santa Maria, as pessoas relatam o sofrimento de seus entes. Em
choque, a cidade ficou paralisada. Na semana passada, o fórum permaneceu
fechado. Médicos e dentistas cancelaram consultas. Supermercados não
abriram. Santa Maria pareceu viver o delírio da música "O Dia em Que a
Terra Parou", de Raul Seixas.
No meio desse cenário de luto permanente e
dessa atmosfera de dor insepulta, brotam as histórias dos heróis
anônimos da tragédia de Santa Maria. Se não fossem eles, garantem as
pessoas que estavam presentes na angustiante madrugada do domingo 27,
muito mais vidas teriam sido perdidas. E a imagem símbolo desses heróis,
que correu o mundo, é a do estudante de educação física da UFSM
Ezequiel Lovato Corte Real, 23 anos, carregando um homem nos braços
pelas ruas de Santa Maria. O jovem acredita ter tirado pelo menos 30
pessoas da boate Kiss, só não sabe se todas elas estavam vivas. Ele
estava muito perto do palco, com duas amigas, quando viu o vocalista da
banda pegar o sinalizador e apontar para o alto. Viu, também, alguém,
que ele não sabe quem, tentar usar o extintor, que não alcançou o forro
e, em questão de segundos, o fogo alastrar-se pela espuma do teto.
"Formou-se uma manta por cima de nós", diz. Ezequiel conseguiu manter a
calma e conduziu as duas amigas por um caminho alternativo até a porta
de saída. No caminho, viu dezenas de pessoas serem pisoteadas e gotas
grossas de espuma derretida cair sobre os frequentadores, que gritavam,
desesperados. Com as colegas em segurança, Ezequiel, um
ex-fisiculturista, não teve dúvida: tirou a camisa, protegeu seu rosto e
voltou para o inferno de que havia acabado de escapar. Entrou e saiu da
Kiss incontáveis vezes, ao lado dos bombeiros, mas não conseguia
avançar mais do que cinco metros, por causa da fumaça espessa. Durante o
resgate, a pele descolava do seu corpo. "Puxava os corpos pela parte
que conseguia tocar, sem ver. Enquanto puxava um, sentia alguém me
segurando. Tentei dar as mãos para dois ao mesmo tempo. Como iria
escolher só um?" O estudante só parou sua busca quando constatou que não
havia mais ninguém com vida lá dentro. Foi para casa, tomou um banho,
descansou por cerca de uma hora e seguiu para o hospital, pois sentia o
pulmão roncando. Desde o dia da tragédia, recebe agradecimentos pelo ato
heroico. No peito, um sentimento de frustração por não ter conseguido
salvar mais gente. "Não me lembro de nenhum rosto das pessoas que
salvei. Só lembro o rosto de quem não salvei."
Como a tragédia afetou todo mundo, uma
onda de solidariedade varreu a cidade. E ela começou com as próprias
vítimas da tragédia. Muita gente foi salva pelo estudante de educação
física Vinícius Rosardo, 26 anos. Tão bravo quanto Ezequiel, ele foi um
dos primeiros a sair da Kiss, mas resolveu voltar à boate para ajudar no
socorro às vítimas. Segundo relatos de pessoas que o viram em ação,
Vinícius, de quase dois metros de altura e 130 quilos, tirou pelo menos
14 pessoas com vida que estavam presas no interior da Kiss, muitas vezes
levando uma em cada braço. Não foi seu primeiro incêndio. Quando tinha
12 anos, ajudou o pai a debelar o fogo de uma casa vizinha, carregando
baldes. "Se não fossem ele e muitos outros jovens que voltaram para
ajudar, essa tragédia teria 500 mortos", diz o pai do estudante, o
gerente de eventos Ogier Rosardo, 51 anos. Em 2012, Vinícius havia se
tornado voluntário da Apae e tinha começado a dar aula de dança a
idosos. Com formatura prevista para este ano, Vinícius pretendia se
mudar para São Paulo, onde queria se tornar lutador de MMA. Parentes
contam que ele adorava festas, mas cancelava qualquer compromisso para
ajudar um amigo. "Era um rapaz muito humilde. Nunca vi ninguém falar que
não gostava dele", diz o pai. "Brincava que ele era como uma baleia:
grande, forte e doce." Ele salvou muitas vidas, menos a sua. Foi
encontrado desacordado dentro da boate e morreu a caminho do hospital.
A solidariedade era vista em todos os
lugares. Moradores doaram água e comida, empresários ofereceram veículos
para o transporte dos feridos, profissionais especializados se
dispuseram a trabalhar voluntariamente. Na tarde da terça-feira 29, a
estudante de terapia ocupacional Kássia Flores, 19 anos, corria de um
lado a outro dos corredores do Hospital Caridade, onde dezenas de
feridos se recuperam. De luvas nas mãos, ela servia lanches e bebidas
para os familiares das vítimas. Por que fez isso? Foram duas as razões.
"Depois do que aconteceu, eu não podia ficar de braços cruzados", diz
Kássia. Mas havia outro motivo. "Meu primo-irmão morreu no incêndio e eu
não consigo ficar em casa." Os corredores e recepções de hospitais de
Santa Maria pareciam, até quase uma semana depois do incêndio,
verdadeiros centros universitários. Estavam repletos de jovens que
pretendiam visitar irmãos, amigos, primos e namorados.
Passeata no centro de Santa Maria, na noite da
segunda-feira 28, em memória das vítimas da tragédia
A operadora de caixa das Lojas Americanas
Alessandra Mattos, 23 anos, não para de pensar nos cinco amigos que
perdeu no incêndio da boate Kiss. Mas o que também não sai da cabeça de
Alessandra é que ela foi salva pelo ciúme de seu marido. "Eu estava com o
convite comprado, mas ele não me deixou ir", diz. Foi por ciúme e pelo
fato de o casal ter um filho de três anos. "Ele disse que era para eu
ficar em casa e cuidar do guri. Fiquei com raiva, ameacei, mas não
fui."A corriqueira briga de casal que tanto a irritou, livrou a
comerciária do horror daquela madrugada. Todos os seus colegas, com quem
ela certamente estaria na casa noturna, morreram na tragédia.
Alessandra perdeu os amigos Neiva Carina de Oliveira Marin, Odomar
Gonzaga Noronha, Paula Rodrigues Costa e Sandra Victorino Goulart, além
de Evelin Costa Lopes, que trabalhava em outra loja. "Tive uma dor no
peito horrível quando soube, fui parar no hospital. Fico aliviada por
estar viva, mas triste de não tê-los mais por perto", diz a jovem, que
viu seus amigos pela última vez no sábado 26, antes de sair do trabalho.
"Eles me abraçaram, me beijaram. Ainda bem."
Algumas pessoas tiveram o círculo de
amizades praticamente destruído. A vendedora Luciane Seger, 27 anos, por
exemplo, descobriu na segunda-feira 28 que 23 colegas tinham morrido no
incêndio. Era a turma que trabalhava no principal shopping da cidade e
que saía junto todo fim de semana. Luciane certamente estaria na festa
do sábado 27 na Kiss, ao lado de seus amigos de todas as horas. Mas, no
dia da tragédia, a vendedora não pôde ir à Kiss porque estava muito
ocupada com os preparativos para um churrasco em família no domingo 27.
Por causa disso, desistiu da balada, pois precisaria acordar muito cedo
no dia seguinte. Não teria problema, o grupo estaria junto na
segunda-feira 28, reunidos trabalhando no shopping, e nos próximos fins
de semana, pensou ela, antes de ser assolada com as notícias."É
desesperador pensar no número de pessoas próximas que morreram", diz
Luciane.
A tragédia terá um impacto na teia social
de Santa Maria. Novos vínculos afetivos terão que ser criados. Em
cidades de pequeno e médio porte, isso é mais difícil. Não aparece tanta
gente nova assim, a não ser no início dos anos letivos das
universidades, quando levas de calouros chegam para preencher as vagas.
Além das universidades, as Forças Armadas também atraem para Santa Maria pessoas de lugares distantes. O
primeiro-tenente do exército Leonardo Machado Lacerda, 28 anos, foi
transferido do Rio de Janeiro apenas 15 dias antes da tragédia. Na
madrugada de sábado para domingo, ele quis ir à Kiss com seus colegas
para comemorar sua transferência para o Sul. Ele estava muito feliz e
animado com as novas perspectivas de carreira. Militar treinado, com
físico ágil, Leonardo conseguiu sair com rapidez da boate no momento do
incêndio. Mas, como tantos outros, num primeiro momento ele saiu ileso
da fumaça que consumiu o teto da boate, mas resolveu voltar para tirar
pessoas lá de dentro. Conseguiu salvar um oficial do batalhão em que
servia. Com o colega a salvo, retornou para a casa tomada pela fumaça
tóxica para tentar buscar duas amigas. Não conseguiu. Tornou-se outro
herói e sua página na rede social Facebook está repleta de bonitas
mensagens de condolências que lembram seu ato gigantesco.
Toda tragédia é triste, mas a de Santa
Maria mexeu com as emoções mais profundas de brasileiros e estrangeiros
porque suas vítimas são muito jovens. Até a quinta-feira 31, o número de
mortos era de 236. Desses 176 tinham entre 18 e 26 anos. A faixa etária
com mais óbitos é a de 18 anos, com 37 perdas, seguida pela de 20 anos
(31 mortos) e 19 anos (28 mortos). Santa Maria sofreu ainda mais porque
os desaparecimentos se deram no grupo que torna a cidade realmente
especial, o de universitários. Os moradores garantem que não há, no
Brasil, nenhum lugar que se equipare a Santa Maria na relação entre
estudantes de nível superior e a população total.
Eram 3h20 da manhã, apenas um minuto
depois de o Corpo de Bombeiros da cidade receber a primeira ligação
alertando sobre o incêndio na boate Kiss, quando os amigos da protética
Michele Cardoso, 20 anos, receberam a mensagem no Facebook: "Incêndio na
Kiss socorro." Minutos depois, começaram as perguntas: "Tu está bem?"
Outro texto questionava: "Como assim? Explica isso"; ou, então: "Sério,
Miii?" Um outro parecia gritar: "Miiiiiiii." Em vão. Michele, que já
havia trabalhado na Kiss, foi encontrada morta na boate. Ela estava
acompanhada da irmã, Clarissa Lima Teixeira, e do namorado, João Paulo
Pozzobon, 20 anos, que também sucumbiram ao incêndio. João Paulo morreu
porque, já fora da boate, e contrariando o apelo dos amigos, retornou à
Kiss para tentar salvar Michelle, que havia pedido socorro pela rede. O
casal havia se conhecido na casa noturna seis meses antes. Foi a
primeira grande tragédia brasileira testemunhada e comentada em tempo
real pelas redes sociais, principalmente pelos jovens, que se
identificaram com as vítimas. O pedido de Michele permaneceu online.
Assim como milhões de tuítes e posts relacionados à tragédia de Santa
Maria, de todas as partes do mundo, de anônimos e famosos, que se
multiplicaram durante a semana.
A faixa etária que frequentava a Kiss era
tão baixa que a boate ganhou na cidade o apelido de "Kids." Era comum
ver menores de idade dançando nas pistas e consumindo bebidas
alcoólicas. A Kiss também ganhou fama pela virulência com que os
seguranças tratavam os frequentadores. Vários jovens disseram para a
polícia que já tinham visto cenas de espancamentos motivadas por perda
de comandas. Em 2011, a Kiss foi obrigada a pagar ao estudante Renato
Michelon R$ 5 mil por agredi-lo na hora do pagamento da conta. "O Renato
pagou R$ 100 em dinheiro, mas faltavam R$ 20", diz a advogada Patrícia
Michelon, irmã de Renato e responsável pelo caso. "Como o cartão dele
não passou, os seguranças partiram para a agressão." Renato levou um
soco na boca e uma cotovelada no peito – tudo devidamente registrado por
testemunhas.
Apesar dos problemas, a Kiss lotava
sempre e era a casa preferida dos jovens da cidade. Foi lá que Brady
Adrian Gonçalves Rodrigues decidiu comemorar seu aniversário. Lotado
na 13ª Companhia do exército, em Santa Maria, ele fazia planos de
retomar o último ano do curso de educação física e, quem sabe, seguir
uma nova carreira. O incêndio destruiu suas ambições. Ele morreu ao lado
da namorada, Ana Caroline Rodrigues, 19 anos, uma estudante do curso de
tecnologia de alimentos da Universidade Federal. Ele tinha acabado de
fazer 21 anos.
É manhã de sexta-feira e as alamedas arborizadas da Universidade Federal continuam vazias. Santa Maria, rogai por eles!
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As concessões vão decolar
Leilões de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e petróleo devem movimentar pelo menos R$ 234 bilhões, até 2019.
Cristiano ZAIA
Que
um dos maiores gargalos da economia brasileira está na infraestrutura, o
País já sabe. Que o governo não tem capacidade de, sozinho, fazer tudo o
que é preciso, também. A solução, então, foi buscar a ajuda da
iniciativa privada. No ano passado, o governo passou meses discutindo
como viabilizar os projetos de concessão e parcerias público-privadas
(PPPs) de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, trem-bala, e novos
poços de exploração de petróleo e gás, que começam a sair do papel.
Juntos, devem somar pelo menos R$ 234,7 bilhões até 2019. De olho nos
projetos que já estão em fase de audiência pública, como é o caso de
sete trechos de rodovias federais, construtoras, operadores logísticos e
fundos de investimentos nacionais e estrangeiros têm procurado os
órgãos do governo para se informar.
Um deles é a Empresa de Planejamento e
Logística (EPL), responsável pelos projetos do trem-bala, ferrovias e
rodovias. Somente em janeiro, o presidente da EPL, Bernardo Figueiredo,
foi procurado por representantes dos fabricantes de trens japoneses
Mitsui e Mitsubishi, e das espanholas Asvi e Ferrovial, também do setor
de transportes, além do Fundo Soberano de Cingapura e da construtora
brasileira Camargo Corrêa. "Eles tinham dúvidas sobre a taxa de retorno
do investimento, mas todos dizem que vão participar", afirma Figueiredo.
Uma das maiores construtoras do País, a Odebrecht já manifestou
interesse em entrar em todos os setores. "Toda a área de infraestrutura
nos interessa", diz o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht.
"Saneamento, logística, portos e
aeroportos." Responsável pela concessão da Arena Castelão, em Fortaleza,
e construtor de trechos das ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste, o Grupo
Galvão também quer participar das novas concessões. "Temos interesse em
disputar ferrovias e vamos estar nos dois próximos leilões de
aeroportos", afirma Dario Galvão, presidente da Galvão e Engenharia. A
Arteris, que assumiu o controle acionário da espanhola OHL e já
administra várias concessões rodoviárias, como a Fernão Dias, que liga
São Paulo a Minas Gerais, e a Regis Bittencourt, entre São Paulo e
Paraná, diz "estar atenta a novas oportunidades". O Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se prepara para financiar os
novos empreendimentos.
As concessões já representam 90% dos
desembolsos do banco nas áreas de transporte, logística e energia. O
montante de recursos deve chegar a R$ 28,5 bilhões neste ano – em
comparação com R$ 24,5 bilhões em 2012. "Em 2015, esperamos chegar a R$
40 bilhões", diz Nelson Siffert, superintendente de infraestrutura do
BNDES. Para as empreiteiras, o modelo de concessões tem uma vantagem
adicional: a diminuição da burocracia na contratação e pagamento da
obra, já que o contratante não é o governo, mas uma empresa privada.
"Algumas empreiteiras já estão preferindo as concessões às obras
públicas", diz José Carlos Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira
da Indústria da Construção (CBIC). Em setembro, o governo quer escolher
os novos operadores dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e de
Confins, em Belo Horizonte.
"É um setor muito lucrativo no mundo
todo, que atrai o interesse dos investidores", diz o economista Cláudio
Frischtak, da Inter B Consultoria, especializada em infraestrutura. Para
o governo, as concessões devem melhorar a qualidade do transporte
aeroviário. "Com cinco grandes aeroportos concedidos, devemos melhorar
os serviços de metade dos passageiros de todo o País", afirma o ministro
Wagner Bittencourt, da Secretaria de aviação Civil (SAC). Outro setor
que espera um impacto semelhante é o de portos, que deve receber bilhões
de investimentos a partir de novas regras do setor, que permitirão a
construção de portos privados. Com tantas oportunidades, o governo fica
mais perto de alcançar a meta de um investimento em torno de 20% do PIB.
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Para se fortalecer, Astrium cria subsidiária
o Valor
de São José dos Campos
A
Astrium, divisão espacial da gigante europeia EADS, está fortalecendo a
sua presença no Brasil para tentar participar de forma mais efetiva do
programa espacial brasileiro. O Programa Nacional de Atividades
Espaciais (Pnae) indica a necessidade de um investimento de R$ 9,1
bilhões nos próximos dez anos no setor.
"O Brasil, embora ocupe um lugar
importante no cenário econômico mundial, ainda não integra o grupo de
países que dominam a tecnologia espacial", disse o vice-presidente de
desenvolvimento de negócios da Astrium na América Latina, Jean Noel
Hardy.
Segundo o executivo, mesmo assim a
Astrium acredita no potencial espacial do Brasil e, por isso, acaba de
criar a subsidiária Astrium Brasil. A companhia está presente no país
desde 2006 com a Equatorial Sistemas, de São José dos Campos, e a
Astrium Services, antiga Spot Image. Em 2012, a Astrium registrou uma
receita de € 5,8 bilhões, 7% maior que em 2011.
Fornecedora do programa espacial
brasileiro desde 1996, a Equatorial atuou no programa do satélite
CBERS-3, feito em parceria com a China e para o qual desenvolveu uma
câmera WFI (sigla em inglês para câmera de grande campo de visada) e um
gravador digital de dados para o satélite brasileiro Amazônia-1, em fase
de desenvolvimento. O CBERS-3 tem lançamento previsto para maio.
A Equatorial foi contratada pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o fornecimento dos
sistemas aos satélites CBERS-3 e Amazônia. Segundo o presidente da
Equatorial, César Ghizoni, os dois contratos estão avaliados em cerca de
R$ 60 milhões.
Em 2012, de acordo com o executivo, a
Equatorial gerou receitas de R$ 9,5 milhões, ante os R$ 6,8 milhões do
ano anterior. Entre os novos contratos previstos para este ano, Ghizoni
cita o fornecimento de cabos do sistema elétrico do satélite Amazônia-1 e
um contrato com a GMV, empresa europeia que fornece sistemas de
navegação de satélites.
A GMV está desenvolvendo seu
sistema em parceria com o Instituto Tecnológico de aeronáutica (ITA) e o
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), disse o
presidente da Equatorial. (VS)
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Satélite brasileiro atrai sete grupos mundiais
Por Virgínia Silveira
Para o Valor, de São José dos Campos
Sete
grandes grupos de fabricantes internacionais estão participando do
processo de seleção do fornecedor do Satélite Geoestacionário de Defesa e
Comunicações Estratégicas. Realizada pelo governo brasileiro, essa
concorrência é considerada hoje a principal na área espacial da América
do Sul, com investimento já aprovado de R$ 720 milhões. O valor inclui o
lançamento do satélite, previsto para o fim de 2014.
A Agência Espacial contratou a Visiona
Tecnologia Espacial, joint venture entre a Embraer e a Telebras, para
fazer o gerenciamento dos contratos com os futuros fornecedores do
equipamento. A Visiona encerrou a fase de recebimento das informações
solicitadas aos fabricantes no fim do ano passado, e nas próximas duas
semanas poderá liberar as linhas gerais de sua solicitação de propostas
(RFP, na sigla em inglês) para os interessados.
A lista de empresas participantes da
licitação, segundo fontes que acompanham o processo, inclui as europeias
Astrium e Thales Alenia Space, as americanas Boeing, Lockheed Martin e
Space Systems Loral (essa última adquirida pelo grupo canadense MDA, em
2012), a japonesa Mitsubishi e a russa Reshetnev.
Procurada pelo Valor, a Boeing disse que
seria prematuro comentar a concorrência, pois o pedido de proposta ainda
não foi divulgado. "A Boeing está a par do processo da Visiona, mas
seguimos nossa política de não comentar os requisitos relativos aos
nossos clientes", disse em nota.
Haverá uma única licitação para a compra
do satélite, do sistema de controle de solo e do lançamento, disse o
diretor de planejamento e investimentos estratégicos da Agência
Espacial, Petrônio Noronha de Souza. Apenas a parte de instalação de
antenas de recepção e emissão de sinais de internet ficará sob a
responsabilidade da Telebras, segundo o diretor.
Os requisitos do satélite foram
elaborados pelo Ministério das Comunicações, Telebras e Ministério da
Defesa, consolidados depois pelos grupos de trabalho criados pelo
decreto presidencial que estabeleceu a governança para o desenvolvimento
do equipamento geoestacionário. A canadense Telesat, segundo o diretor da agência, deu apoio ao projeto na fase que antecedeu a RFP.
O prazo para o lançamento, no entanto,
segundo o Valor apurou, poderá atrasar e se estender até 2015, pois o
período para a contratação dos fornecedores e a fabricação do satélite é
considerado curto. A agência também já programou a aquisição do segundo
satélite, com previsão de lançamento para 2019.
O satélite geoestacionário vai
atender à demanda de comunicações militares e de defesa do governo
federal, assim como o Programa Nacional de Banda Larga, levando internet
às populações de cerca de 1,2 mil municípios localizados em regiões
remotas do país. Atualmente, o governo contrata tecnologia de satélites estrangeiros.
O satélite brasileiro vai operar em banda
X (faixa de frequência de transmissão dos dados), para as comunicações
estratégicas do governo, com cobertura regional (Brasil), América Latina
e Oceano Atlântico, usando cinco transponders (sistema que converte o
sinal recebido do satélite para outra frequência determinada). Para as
comunicações em banda larga usará a banda Ka.
O contrato de construção do satélite vai
envolver transferência de tecnologia nas áreas de sistemas de
comunicação, controle de atitude e órbita, controle de solo, software de
controle e propulsão, afirmou o diretor da Agência Espacial.
O satélite geoestacionário foi incluído
na lista de projetos que o Programa Nacional de Atividades Espaciais
(Pnae) considera como estruturantes e mobilizadores. "São projetos que
colocam desafios tecnológicos à pesquisa e à indústria e que organizam a
cadeia produtiva nacional, e ampliam o mercado de bens e serviços
espaciais", descreve o documento.
Entre os resultados esperados, descritos
no relatório do Pnae, está o incremento da capacitação tecnológica da
indústria nacional no segmento de satélites de telecomunicação e
elevação do índice de participação das empresas no desenvolvimento e
fabricação do segundo satélite.
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Poder Aéreo
Primeira Aviadora da FAB pede as contas e vai para a CGU
A mulher que inscreveu seu nome na
história da aviação no Brasil como a primeira aviadora da FAB, a
Primeiro Tenente Fabrícia Liane Souza Aguiar Oliveira foi licenciada da
Aeronáutica no último dia 29 de janeiro.
Primeira colocada da primeira turma
de Cadetes Aviadores da Academia da Força Aérea (AFA) que recebeu
mulheres, no ano de 2003, Fabrícia, que servia no 1º Esquadrão do 6º
Grupo de Aviação (1º/6º GAV), em Recife, foi aprovada no último concurso
para auditora da Controladoria Geral da União.
Em junho de 2010, ela foi homenageada pela Assembleia Legislativa do RJ e agradeceu com as seguintes palavras:
“Recomendo a carreira de aviadora para as mulheres que, além do sonho de pilotar aviões, tenham um amor profundo pelo Brasil. Sem um desses requisitos, acho que não é possível”. |
BRASIL ECONÔMICO
“O Brasil não consegue transformar conhecimento em riqueza com a inovação”
ENTREVISTA ANTÔNIO BRITTO Presidente da Interfarma
Para representante das indústrias
farmacêuticas, país tem pesquisadores competentes e ilhas de excelência
em várias áreas do saber, mas precisa estabelecer relações entre
empresas, universidades e governo
Na presidência da entidade que representa
as indústrias farmacêuticas no Brasil — a Interfarma —, Antônio Britto
insiste em tocar a tecla da inovação. O desenvolvimento de pesquisa tem
sido uma das principais bandeiras defendidas pela entidade, que constrói
um largo trabalho para incentivar o Brasil a abraçar essa causa. Ele
acha que o país está dando alguns passos na direção correta, mas ainda
tem um longo caminho a percorrer. Britto elogia decisões como a tomada
recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que
deve reduzir os prazos para análises sobre a realização de pesquisas
clínicas — necessárias para o desenvolvimento de novos medicamentos.
“Hoje um ponto que podemos e devemos atacar para melhorar a atratividade
é a questão dos prazos, que estão espremidos pela demanda”, declarou
Dirceu Barbano, presidente da Anvisa, em entrevista recente ao BRASIL
ECONÔMICO. A postura de Britto no comando da Interfarma vem carregada de
uma história política que o Brasil conhece desde que o jornalista foi o
porta-voz da Presidência da República e contou aos brasileiros que
Tancredo Neves, o primeiro presidente civil depois de um longo período
de governo militar, havia falecido. Britto foi também deputado federal,
ministro da Previdência Social e governa-dor do Rio Grande do Sul, seu
estado natal. Antes de chegar à Interfarma, atuou como executivo em
grandes empresas brasileiras, como a Azaléia e a Claro.
É essa experiência que lhe traz clareza
para inserir a indústria farmacêutica no contexto socioeconômico
brasileiro. E, a partir desse ponto de vista, cobrar de governos,
empresas e universidades ações coordenadas em prol do desenvolvimento da
pesquisa e da inovação. “É preciso que a gente festeje os acertos que
teve como país e tenha a humildade de entender que o que serviu para
resolver os problemas do térreo talvez não sirva para resolver os
problemas do oitavo andar. No térreo a gente não precisava de elevador.
Mas para chegar às doenças mais complexas, qual será o elevador? Fica
muito difícil imaginar que a gente queira resolver os problemas desse
Brasil novo, de população que envelhece, com as mesmas armas que a gente
resolveu a desidratação e a diarreia”, diz o presidente da Interfarma.
“O Brasil melhorou muito em matéria de saúde. Nós temos felizmente uma
redução extraordinária da mortalidade infantil, aumento da longevidade,
redução de doenças contagiosas — dengues à parte —, temos um programa de
imunização super bem sucedido, outro grande acerto com os agentes de
família e êxitos fantásticos como no caso da aids. Só que, enquanto o
Brasil dava certo nisso tudo, o país ia mudando e ficando mais complexo
também em doenças”, afirma, lembrando que as chamadas doenças modernas
estão tomando o primeiro lugar nas causas de internação e morte. Segundo
ele, o desafio da saúde no Brasil — e de toda a indústria relacionada à
ela — está em dar respostas tanto às questões básicas quanto às
complexas, “porque é absolutamente vergonhoso que ainda morra gente de
doenças do século passado”
Cláudia Bredarioli
Como o senhor avalia, hoje, o cenário brasileiro para o desenvolvimento da inovação e o incentivo à pesquisa?
O ministro da Ciência, Tecnologia e
Inovação, Marco Antonio Raupp, em um artigo, fez uma avaliação com a
qual eu concordo completamente. Ele diz que o Brasil foi extremamente
competente nos últimos anos em desenvolver e ampliar a geração de
conhecimento científico. Nós temos mais doutores do que nunca, estamos
publicando mais artigos científicos do que nunca. Mas, na avaliação do
ministro, o Brasil não tem conseguido transformar o conhecimento que
gera em riqueza através da inovação. Quando a gente examina a questão da
inovação no Brasil, é preciso afastar o que não é problema: nós não
temos falta de gente competente, não temos falta de ilhas de excelência
onde se detêm um conhecimento de igual nível ao que se há de melhor no
mundo.
Em que ponto está o problema?
O problema está no fato de que em
qualquer país do mundo em que a inovação deu certo, dos Estados Unidos à
Coreia, há uma conexão que funciona muito bem entre a universidade
gerando conhecimento, as empresas aplicando esse conhecimento e o
governo estimulando esse circuito. No Brasil, a imagem que eu faço é de
que nós não temos um continente de inovação — com todo mundo em cima do
mesmo território —, temos ilhas e essas ilhas não se relacionam muito
bem. As universidades e as empresas ainda estão muito distantes. A
universidade, de modo geral, ainda tem aversão a querer transformar o
conhecimento em riqueza. E as empresas, também de modo geral, não gostam
de correr riscos. Só que inovação, acima de tudo, é correr riscos.
Qual outro grande empecilho?
A outra questão é a do ambiente
regulatório para a inovação. Pobre de quem queira inovar no Brasil.
Primeiro porque tem uma lista de dez ou doze áreas do governo cada um
com suas exigências e burocracias. Segundo porque inovar no Brasil
parece pecado. O pesquisador brasileiro tem que pagar imposto de
importação para comprar material de pesquisa. O prazo para autorização
da pesquisa é no mínimo o dobro ou o triplo do praticado em outros
países. Então, os dois grandes inimigos da inovação são: o ambiente
regulatório hostil e a falta de uma maior conexão
universidades-empresas-governo.
Como é possível começar a resolver cada um deles?
A solução passa primeiro por uma questão
política. Como o Brasil sempre foi um grande ex-portador e contou com um
belo mercado interno, a inovação se restringiu a ser vista como uma
espécie de opção. Acontece que o mundo mudou e, se o Brasil quiser ser
realmente grande, a inovação tem que deixar de ser uma opção para ser
considerada uma necessidade. Enquanto o Brasil não assumira inovação
como uma necessidade, a inovação vai continuar como o ioga — todo mundo é
a favor,mas pouca gente pratica. Se essa questão política for
resolvida, teremos uma tarefa mais fácil que será derrubar as barreiras
burocráticas.
Mas o Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação tem defendido que este é o ano da inovação no Brasil e que a
presidente Dilma Rousseff está de acordo com essa decisão. Como isso
pode ser visto em termos práticos?
Temos alguns fatos positivos neste
momento. O principal deles é a compreensão e a convicção da presidente
Dilma sobre a necessidade da inovação. Isso é muito positivo. E um
exemplo dessa obstinação pessoal dela é o programa Ciência sem
Fronteiras.Mas,nem a conhecida obstinação da presidente foi capaz,
ainda, de limpar os obstáculos burocráticos. Se observarmos o número de
agentes governamentais envolvidos em inovação e as exigências absurdas
que são feitas, somos obrigados a lamentar que, embora o governo tenha
as melhores intenções, o primeiro dever de casa que seria limpar a
própria casa da burocracia não foi cumprido.
E a sociedade também poderia fazer sua parte?
Essa participação é fundamental porque a
conexão academia-empresas-governo não depende só do governo. O governo
tem feito a sua parte colocando recursos. Sempre falta dinheiro para a
inovação, mas eu acho que o dinheiro hoje não é o maior problema. O
maior problema é a mentalidade das empresas e das universidades
brasileiras, que não assumem o risco da inovação ou tampouco uma atitude
mais firme em favor da inovação. As empresas não o fazem porque temem o
risco e as universidades porque ainda vi-vem uma crise existencial para
descobrir se universidade tem que só gerar conhecimento básico ou
também pode gerar conhecimento aplicado. A própria legislação não
estimula que a academia vá atrás da produção e da patente. O resultado é
que a gente produz doutores como nunca e eles continuam, na maioria dos
casos, muito mais voltados à produção de artigos científicos do que de
inovação.
Por isso o Brasil continua muito atrás de seus parceiros dos Brics quando o assunto é patente?
A patente é uma mera consequência. Por
que os EUA geram muita patente? Porque geram muita inovação. Por que
geram inovação? Porque têm um ambiente formado para isso. Se pegarmos um
país como a Coreia, a quem o Brasil não deve absolutamente nada, vemos
que esse país tomou a decisão de ser importante em pesquisa clínica. Em
pouco mais de 10 anos, a Irlanda alcançou um posto bem à frente do
Brasil em pesquisa clínica. Trata-se de uma ilha pequena, mas que é
superavitária em medicamentos. A Irlanda assumiu a inovação como um
esporte nacional. Ela criou as condições para essa mudança.
Em quanto tempo conseguiram isso?
O esforço da Irlanda é de 25 ou 30 anos.
Apesar desses problemas com a burocracia,
o Brasil está inserido nesse movimento global da indústria
farmacêutica, se pensarmos no país como destino para investimentos em
pesquisa?
O Brasil é um dos mercados que mais
crescem no mundo e o interesse pelo Brasil no campo farmacêutico
continua muito grande. Diferentemente do que ocorre em outros setores, o
que mais assusta o investidor estrangeiro nesta área é uma coisa fácil
de re-solver, que é a burocracia. Do ponto de vista de como o exterior
nos vê, temos um excelente conjunto de leis que beneficiam o
investimento no setor farmacêutico, temos um mercado extraordinário, uma
ciência que avança muito. Internamente temos avanços importantes em
saúde básica, mas também um desafio cada vez maior de atender a demanda
para diagnóstico e tratamento de doenças crônicas — o que exige custos
cada vez mais elevados. Isso seguramente vai levar o Brasil a repensar a
estrutura de acesso a medicamentos. Outro desafio é que o gasto público
em saúde está absolutamente abaixo do necessário e da média mundial. E
fica difícil imaginar como é que a gente vai resolver o primeiro
problema — do acesso a medicamentos —, sem resolver este segundo. Outra
grande questão é: se nós quisermos dar boas respostas e acesso a
diagnósticos de doenças cada vez mais complexas, vamos ter que nos
dedicar mais à inovação.
Neste sentido, o que se espera para 2013? A recente decisão da Anvisa em relação à pesquisa clínica é um avanço?
Nós tivemos boas e más notícias no Brasil
sobre pesquisa clínica em 2012. A boa notícia veio da Anvisa, que mudou
os processos pelos quais autoriza pesquisa clínica no Brasil. Essas
novas regras vão, num curto espaço de tempo, favorecer a pesquisa
clínica. Só que, infelizmente, ao mesmo tempo em que a Anvisa andava
para frente, o Conselho Nacional de Saúde decidiu andar para o lado.
Sobre a mesma questão?
Sobre um outro lado dessa questão. A
pesquisa clínica no Brasil depende de dois sistemas de autorização, um é
o da Anvisa, que andou para frente. A outra autorização, que também é
fundamental, é a que vem do Conselho Nacional de Ética na Pesquisa
(Conep). Depois de quase dois anos de trabalho, com uma consulta pública
que recebeu mais de 1.800 contribuições, a vontade do Ministério da
Saúde de fazer uma modernização nas regras acabou não sendo apoiada pelo
Conselho Nacional de Saúde, que segue a decisão do Conep.
Isso é reversível? Qual prejuízo ou atraso esse tipo de decisão pode representar para a pesquisa no Brasil?
Eu não sei se é reversível ou não, mas
sei o que vai acontecer se não for revertido: o Brasil vai perder
centenas de estudos clínicos. Um levantamento que nós fizemos com apenas
10 dos nossos 45 associados, mostra que só esses 10 perderam 145
estudos clínicos no ano passado. Ou seja, deixaram de vir para o Brasil
145 pesquisas. Existe uma incompreensão por parte de algumas pessoas
sobre quem é prejudicado quando a pesquisa clínica não vem para o
Brasil. Muita gente acha que a indústria perde. A indústria não perde,
porque a pesquisa que ela não faz aqui ela vai fazer em outro lugar.
Quem perde é médico e paciente.
Há ainda uma imagem de que fazer pesquisa clínica é usar a população como cobaia? A que se deve esse tipo de postura?
Eu acho que, como tudo, há diversos
fatores presentes nisso. Alguns criam dificuldade por ranço ideológico.
Outros, com a intenção que é bonita e correta de proteger os sujeitos de
pesquisa. Outros, por puro amor ao poder da burocracia. Nós temos uma
mistura disso tudo aqui. O fato é que é preciso discutir: só existe
preocupação ética no Brasil? O Brasil é o único país preocupado com
isso? A Alemanha, a Suíça, os Estados Unidos não têm preocupações
éticas? Se eles têm, estão provando que é possível ser ético sem ser
demorado. Eu posso ser ético e ter processos eficientes
O senhor tem pontuado frequentemente que isso não pode ser confundido com redução da seriedade e do controle nos processos.
O que a gente tem discutido muito é que a
Interfarma não deseja que haja nenhum tipo de facilidade de ordem
ética. Pesquisa clínica é uma coisa muito delicada. Mas é possível
tentar, por favor, conciliar a ética com a eficiência. Por exemplo, o
Brasil é o único país do mundo onde um estudo clínico tem que passar por
três autorizações: Cep, Conep, Anvisa. Por que a Conep tem que revisar
tudo o que os Ceps fazem se quem fiscaliza os Ceps é a própria Conep?
Hoje, quando alguém quer fazer uma pesquisa sobre um novo medicamento,
ela sempre tem que ser feita em diversos países do mundo. Esse alguém
dispara o processo de conseguir autorização em diversos países. Ora, se
nove países já responderam e um demorou... O Brasil é hoje um país
importante, mas o mundo ainda não espera por nós. O mundo segue sem o
Brasil. O que vai acontecer é que aquele medicamento vai acabar sendo
vendido para cá, só que os ganhos para os cientistas e para os pacientes
vão ficar todos no exterior.
Em alguma área há avanço nesse cenário?
Acho que na Anvisa andou bem. Temos que bater palmas.
O senhor acha que isso se deve a uma mudança de gestão ou de compreensão das coisas?
Eu acho que o governo sabe que a situação
da pesquisa clínica está muito complicada no Brasil. Onde o governo
podia fazer sozinho, ele foi lá e fez. No Ministério da Saúde, o governo
dependia do Conselho Nacional de Saúde, e o conselho disse não às
mudanças. Eu tenho certeza que se o ministro Padilha (ministro da Saúde,
Alexandre Padilha) pudesse sozinho tomar a decisão, ele decidiria pela
modernidade e não pelo atraso.
Há necessidade de romper paradigmas para isso ocorrer? Por isso é tão complexo esse processo?
Esses processos não são mágicos. A
geração do novo é sempre complexa. Mas o que a gente tenta alertar é que
a busca pela inovação em qualquer área não é uma corrida do Brasil com o
Brasil. É uma corrida do Brasil como mundo. O Brasil melhorou muito, só
que outros estão melhorando mais. E o Brasil já tem tamanho e já se
desenvolveu o suficiente para passar a se preocupar e a se comparar com
os outros.
Há exemplos que poderíamos seguir?
Não se trata de querer que o Brasil
importe modelos, mas que o Brasil olhe para dentro do Brasil e copie
seus próprios modelos corretos. Vou dar três exemplos: Embraer, Embrapa e
Petrobras. São empresas que avançaram fortemente em inovação. Se
olharmos para o modelo das três vemos uma absoluta integração entre
produção de conhecimento e aplicação prática desse conhecimento. No
caso da Embraer tem ainda uma outra lição importante: não haveria
Embraer sem ITA (Instituto Tecnológico de aeronáutica). Ali está
integrada a geração de conhecimento com a aplicação desse conhecimento.
Estão na mesma cidade e ninguém tem vergonha de pesquisar avião numa
esquina e fazer avião na outra. Mas quem é o ITA da saúde? Quando
vamos ter, em outras áreas, a mesma tranquilidade que a Embrapa teve de
se colocar a serviço da produção agrícola nacional? O Brasil já tem
modelos internos. Nós devemos nos preocupar com a Irlanda, com a Coreia,
com Cingapura, com a China, mas não precisamos copiá-los. Precisamos
copiar o que nós mesmos já conseguimos fazer.
Na área farmacêutica, quais outros fatores dificultam o desenvolvimento da indústria?
Acho que governo comete um grande acerto e
um grande erro nessa questão da política industrial no campo
farmacêutico: o acerto é querer ter uma produção nacional. Ninguém
merece ser chamado de brasileiro se achar que o Brasil não deve
desenvolver e produzir medicamentos aqui. Mas, para dar início à
produção farmacêutica, é preciso primeiro montar clusters entre
universidades e empresas, desenvolver conhecimento e inovação. A
política industrial em favor da inovação farmacêutica não se faz com
terrenos ou incentivos em dinheiro. É preciso gerar conhecimento, que
gere pesquisas, que gere patentes, etc...
A indústria farmacêutica lida com uma
situação que é estar na conexão entre a manutenção da ordem capitalista,
que requer a geração de lucro, e a de atender a um anseio social, por
meio da questão da saúde?
O aspecto mais fascinante de trabalhar
com medicamento é que estamos diante de um setor que é tão importante no
econômico quanto no social. Não vai se atender ao social se as empresas
não forem viáveis, mas, de outra parte, a viabilidade das empresas
precisa encontrar respostas à necessidade de acesso por parte das
pessoas e dos governos. Essa é a grande questão: como manter um segmento
econômico que depende de lucro, mas este lucro não pode passar por cima
da necessidade de oferecer respostas à questão de acesso? Não é de
graça que o Obama está quebrando a cabeça com essa pergunta, a Europa
está com seu sistema de saúde se inviabilizando, o mundo emergente olha
para os EUA e não vê a resposta, tampouco na Europa. É uma pergunta em
aberto para a humanidade.
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CAVOK
Esquadrilha da Fumaça divulga calendário de apresentações para março de 2013
A Esquadrilha da Fumaça vai começar em
breve a sua temporada 2013 de apresentações. Dia 1° de março, as sete
aeronaves T-27 Tucano vão começar as demonstrações pelo Brasil e também
no exterior, e para que isso seja possível, alguns pilotos do esquadrão
já estão voando para essas cidades nas missões precursoras, onde com
antecedência verificam e preparam todos os detalhes para as
demonstrações.
Segundo o Capitão Aviador Eduardo Maia
Arantes, a missão prévia consiste em “conferir diversos detalhes, como
segurança das aeronaves e do público, contato com Bombeiros e Polícia,
além de informações básicas, como hospedagem e alimentação dos
integrantes da equipe”.
Nessa semana, dois pilotos já visitaram
cinco cidades: Nova Andradina (MS), Nova Santa Rosa (PR), Santa Helena
(PR), São Miguel do Oeste (SC) e Curitiba (PR). Outros dois pilotos
ficaram encarregados de visitar os municípios de Itu (SP) e Ouro Fino
(MG).
Confira abaixo os dias das demonstrações nas cidades que irão receber a Fumaça no mês de março:
01 – Nova Andradina - MS
02 – Ouro Fino – MG 03 – Itu – SP 07 – Nova Santa Rosa – PR 08 – Santa Helena – PR 09 – São Miguel do Oeste – SC 10 – Curitiba – PR 15 – Montevidéu – Uruguay 24 – Georgetown – Guiana 27 – São Luis – MA 28 – São Geraldo do Araguaia – PA 29 – Açailândia – MA 30 – Imperatriz – MA |
CORREIO DO ESTADO (MS)
Esquadrilha da Fumaça define detalhes
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DIÁRIO DA RÚSSIA
Governo brasileiro confirma interesse na compra de sistema de defesa antiaérea da Rússia
Negócio deverá ser fechado durante a visita de Dmitri Medvedev ao Brasil
O Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Brasil, General José Carlos de Nardi, confirmou o interesse do governo brasileiro na aquisição do sistema de defesa antiaérea da Rússia. Segundo a agência de notícias RIA Novosti, o militar afirmou ao seu colega russo, Valeri Gerassimov, que o Brasil está muito interessado na compra de três baterias antimísseis Pantsir-S1 e em duas baterias do sistema Igla.
A venda destes equipamentos deverá ser
concretizada durante a próxima visita do Primeiro-Ministro da Rússia,
Dmitri Medvedev, ao Brasil, nos dias 20 e 21 de fevereiro.
O sistema Pantsir-S1, fabricado pela
empresa russa KBP, é composto por um veículo transportador da estação de
radar, do lançador de mísseis, dois canhões, sensor de comando e
rastreamento de alvos. Já o Igla pode ser transportado pelo militar
combatente e disparar mísseis terra-ar.
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BRASIL ECONÔMICO
Embraer fecha acordo de US$ 250 milhões
Contrato com Republic Airways prevê manutenção para 300 aviões, inclusive os da brasileira
A Embraer assinou contrato de quase US$
250 milhões com a Republic Airways para prestar assistência para até 308
aviões, entre eles, os 47 que a companhia norte-americana comprou na
semana passada da fabricante brasileira. A Embraer dará suporte para
mais de 400 peças para toda a frota da Republic, incluindo motor e
sistemas hidráulicos e elétricos, informou nesta sexta-feira a
fabricante. O contrato prevê a cobertura até fevereiro de 2020 de todos
os E-Jets da Republic Airways, enquanto aviões modelo 145 terão
cobertura até dezembro de2017.