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NOTIMP - Noticiário da Imprensa - 04/02/2013




Acompanhe aqui o Noticiário relativo ao Comando da Aeronáutica veiculado nos principais órgãos de comunicação do Brasil e até do mundo. O NOTIMP apresenta matérias de interesse do Comando da Aeronáutica, extraídas diretamente dos principais jornais e revistas publicados no país.


Céu de brigadeiro para formar piloto .

Crescimento da frota offshore e salário valorizado atraem profissionais para operar helicóptero, triplicando licenças .

Marinella Castro .

Jonathan Barro pilotava avião, mas agora opera helicópteros offshore .
O céu está azul e o tempo firme para os pilotos de helicóptero. Apesar de cara, a formação para operar a máquina tem atraído candidatos de todo o Brasil, interessados em salários valorizados e nas chances que crescem no mercado de trabalho, empurradas pelo avanço do número de helicópteros voando e mais ainda pelo que se pode chamar de nova fronteira da profissão: as plataformas de óleo e gás. A busca das empresas desse setor por profissionais do ar tem provocado uma corrida aos cursos de formação.
Números da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram uma explosão da concessão de licenças para voar – elas mais que triplicaram nos últimos cinco anos, passando de 369 habilitações para 1.462. Para ter ideia, em 2007, 170 habilitações foram expedidas para piloto privado. No ano passado, forma 807 licenças, segundo relatório da Anac (veja gráfico).

Para os especialistas, a demanda do mercado de trabalho justifica o crescimento no percentual de habilitações. As plataformas de petróleo devem demandar por ano cerca de 80 pilotos nos próximos 10 anos, com salário inicial variando entre R$ 9 mil e R$ 10 mil, podendo rapidamente chegar a R$ 15 mil. O número que desafia a capacidade brasileira de formação.
Na corrida para atender a demanda, empresas de aviação também passaram a promover a qualificação de pilotos para atender às empresas petrolíferas, mas se haverá pilotos disponíveis essa é ainda uma incógnita. Enquanto um piloto comercial precisa investir cerca de R$ 100 mil para atingir 100 horas de voo, o chamado piloto offshore se habilita a partir de 500 horas e investimentos que superam os R$ 200 mil. "A formação deveria ter o incentivo do governo, como já ocorre em outras áreas, onde o país precisa da qualificação", defende Guilherme Medina, diretor de Recursos Humanos da Líder Aviação, maior empresa no segmento executivo da América Latina.
A Líder, que tem 67 helicópteros em sua frota, opera voos off- shore, isto é, da costa para plataformas de petróleo, de empresas como Petrobras, Shell, Chevron e Statoil. Para atender à demanda, a empresa desenvolveu em parceria com a americana Bristow Academy curso para formação de pilotos, que acontece nos Estados Unidos com duração de 12 meses. Os candidatos devem investir com recursos próprios US$ 100 mil (cerca de R$ 200 mil). Concluído o curso, passam por um processo seletivo e podem ser contratados pela empresa. "Para operar as plataformas é preciso atingir requisitos de qualidade", reforça Medina.
DISPUTA Com o aquecimento da demanda, o segmento, que sempre foi bem mais tímido que o mercado de piloto de aviões, entrou na disputa pelos profissionais. Piloto de avião, Jonathan Barro migrou para o setor de helicópteros há três anos, impulsionado pela boa oferta do segmento. Quando decidiu concluir a sua formação, que ocorreu há pouco mais de 10 anos, ele deixou BH para se formar no Rio de Janeiro, onde estavam as escolas especializadas. Hoje, a capital conta com três escolas de formação prática, duas delas abertas nos últimos três anos.
Com 5,5 mil horas acumuladas de voo, Jonathan ocupa hoje o posto que é uma espécie de sonho para muitos pilotos iniciantes na profissão. Como piloto offshore ele opera um helicóptero no valor de US$ 27 milhões. "É uma carreira sofisticada e bonita. Requer muito treinamento, mas tem também uma escala atrativa." Trabalhando por 15 dias e folgando outros 15, ele transporta 21 pessoas , avançando 270 quilômetros mar adentro. "É um desafio."

BH supera Brasil

Hernane Assis: procura por curso era de um aluno por ano, agora são 35

O mercado de helicópteros tem crescido a uma média de 20% ao ano, mas em Belo Horizonte o avanço supera a média nacional, atingindo 30% ao ano. A frota do país dobrou na última década. Minas é o terceiro colocado no ranking, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro, com frota de 220 aeronaves – há 10 anos eram 106. Somente em BH, são 56 helicópteros. "Há cinco anos, eram 10", comenta Theo Rohlfs, diretor em Minas da Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros (Abraphe).
Roberto Belmiro formou-se como piloto há 10 anos, mas foi há pouco mais de cinco anos que a carreira esquentou e ganhou grande fôlego. Ele trabalha como instrutor na Escola de Pilotagem e Centro de Treinamento Efae, em Contagem, na Grande BH. Ao mesmo tempo que vê as turmas crescerem, Belmiro investe na formação. "Faço graduação para voar com instrumentos."
Coordenador do cursos de ciências aeronáuticas da Universidade Fumec, Deusdedit Carlos Reis aponta que, depois de 10 anos com turmas à noite, a escola abre este ano horário pela manhã. Ele concorda que o helicóptero passou a ganhar destaque no mercado de trabalho, mas o custo da formação prática ainda é uma barreira a ser vencida. "Enquanto a hora de voo para avião varia entre R$ 260 e R$ 350, para o helicóptero custa entre R$ 800 e R$ 900 em média", compara.
Hernane Assis coordena a formação teórica para pilotos no Aeroclube do Estado de Minas Gerais, escola que funciona no Aeroporto Carlos Prates, com a parte teórica da formação. Segundo ele, há 10 anos a procura não passava de um candidato ao ano interessado em se dedicar ao setor, mas nos últimos três anos a demanda cresceu para 35 alunos ao ano. "O mercado é promissor." (MC)
O mercado brasileiro para pilotos de helicópteros está em franca expansão com todas as escolas lotadas até 2014. O setor vem trabalhando pela qualidade e segurança operacional e é contrário à ideia de importar mão de obra para suprir a demanda interna. Essa é uma atitude que poderia desequilibrar gravemente o mercado, impedindo o país de crescer e de se tornar autossuficiente. A formação de pilotos ganhou grande fôlego e está havendo grande investimento na formação. Acreditamos que haverá mão de obra habilitada para responder à demanda das empresas do segmento de petróleo e gás, assim como para atender o crescimento da frota particular e comercial.


Queda de avião bimotor deixa cinco mortos no interior de SP

Valmar Hupsel Filho
colaboração para a FOLHA

Um avião de pequeno porte caiu na zona rural de Cândido Mota (428 km a oeste de São Paulo) na noite deste domingo (3). Cinco pessoas, entre eles o piloto, morreram.
A aeronave, um bimotor BE9L-King Air prefixo PPAJV, decolou às 19h37 de Maringá (PR) com destino ao aeroporto de Congonhas.
A FAB (Força Aérea Brasileira) estima que a queda tenha ocorrido por volta das 20h20, quando o piloto deixou de fazer contato.
As causas do acidente serão investigadas pelo Seripa 4 (Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).


Manobra infla PAC em R$ 8,9 bi

Além de saques no Fundo Soberano e da utilização de dividendos de estatais, o governo usou uma manobra para garantir o cumprimento da meta reduzida de superávit primário em 2012. Uma série de medidas ao longo de dezembro remanejou R$ 8,9 bilhões do orçamento de seis ministérios para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), facilitando o esforço fiscal.
O valor foi obtido com base em levantamento da Agência Brasil de três portarias da Secretaria de Orçamento Federal, do ministério do Planejamento, publicadas no Diário Oficial da União nos dias 4, 26 e 28 de dezembro. Com as medidas, despesas de combate à fome, defesa e educação passaram a se enquadrar nos critérios estabelecidos para o PAC, podendo ser incluídas no mecanismo que permite o abatimento dos gastos do programa do cumprimento da meta fiscal.
O maior volume de despesas remanejadas corresponde ao ministério da defesa, que passou a contribuir com R$ 4,670 bilhões para o PAC. Em seguida, vem os ministérios da Educação (R$ 2,775 bilhões) e da Integração Nacional (R$ 1,080 bilhão). Completam a lista os ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (R$ 383,44 milhões), da Cultura (R$ 30,9 mil) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (R$ 11,1 mil).
As mudanças inflaram a execução do PAC. Pelos novos critérios, o programa gastou R$ 39,3 bilhões no ano passado. O valor exato da execução sem as dotações remanejadas não foi divulgado pelo Tesouro, mas ficaria em torno de R$ 30,4 bilhões, caso toda a verba dos programas tenha sido consumida em 2012.
O superávit primário representa o montante economizado para o pagamento dos juros da dívida pública. No ano passado, União, Estados, municípios e estatais economizaram R$ 104,951 bilhões, abaixo de meta cheia de R$ 139,8 bilhões estabelecida pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
O governo só não descumpriu a legislação porque a própria LDO autoriza o abatimento de todas as despesas do PAC da meta cheia. Dos R$ 39,3 bilhões gastos no PAC em 2012, o governo abateu R$ 34,849 bilhões do esforço fiscal.


Cinco morrem em queda de avião no interior de São Paulo

Cinco pessoas morreram na queda de um avião na zona rural de Cândido Mota (431 km de São Paulo). Não há notícias de sobreviventes, segundo o Corpo de Bombeiros.

O acidente teria ocorrido por volta das 20h30 deste domingo (3), em uma área conhecida como Água do Macuco, tradicional produtora de soja e mandioca.

No quartel dos Bombeiros em Assis, não há informações. Equipes de salvamento de pelo menos duas cidades (Assis e Marília) foram deslocadas para o local do acidente.

Também não existe informações sobre a aeronave, identificação das vítimas e dos ocupantes ou sobre o plano de voo do aparelho.

A comunicação entre os bombeiros está prejudicada desde o início das operações por conta da forte chuva que atinge a região e por ser o local uma área de baixada e de difícil acesso. O rádio entre as várias equipes não está funcionando.

Os primeiros relatos de moradores de Cândido Mota sugerem uma forte explosão ouvida a distância do ponto em que o avião caiu.

Equipes da Aeronáutica de São Paulo devem chegar nesta segunda (5) de manhã para o trabalho de perícia. Os bombeiros também cogitam retirar os corpos apenas pela manhã.

Santa Maria, rogai por eles!

A cidade que morreu com seus jovens busca uma razão para renascer nos sonhos dos que se foram e na luta dos heróis que evitaram um desastre ainda maior

Amauri Segalla
enviado especial a Santa Maria

O engenheiro agrônomo Sylvio Henrique Bidel Dornelles acordou sobressaltado na manhã do domingo 27. Seu apartamento foi invadido pelo som de motores e sirenes de ambulâncias e carros de polícia. E, de repente, viu-se em um macabro camarote. De sua varanda, ele assistia aos veículos parando ali defronte, onde fica o Centro Desportivo Municipal de Santa Maria. Deles, um a um, eram desembarcados jovens sem vida. Foram 234 ao longo do dia. A tragédia o alcançou logo cedo e foi se aproximando cada vez mais, devastando-o cada vez mais. Logo ele ficou sabendo que os corpos vinham da boate Kiss, que a filha Clarissa frequentava até que o pai a proibisse, depois que ela presenciou uma briga no local. Nos rostos desesperados de quem chegava em seguida, à procura de notícias dos estudantes que saíram de casa na noite anterior para ir a uma festa e não haviam voltado, enxergava figuras conhecidas. "Alguns pais não tiveram coragem de reconhecer os corpos e me chamaram para ir junto", diz Dornelles na quarta-feira 30, enquanto aponta, da varanda do apartamento, os galpões antes cheios de caixões e agora vazios. Ele tem dificuldade para falar sobre isso. Enquanto conversa, o som da voz sai baixo, quase inaudível, e as frases são curtas. Professor do curso de agronomia da Universidade Federal de Santa Maria, ele convivia diariamente com 31 daqueles rapazes e moças mortos. Eram seus alunos. Dezoito, de uma mesma classe. Dornelles, como toda a Santa Maria, também tinha sido atingido. Também não dorme mais em paz. Também não consegue trabalhar. Também não sabe onde buscar forças para recomeçar. Sabe apenas que a cidade jamais será a mesma.
"Você precisava ver, antes disso tudo Santa Maria transbordava alegria", diz. Na tarde daquela quarta-feira, as alamedas arborizadas da Universidade Federal de Santa Maria deveriam estar movimentadas. Em um dia normal, os prédios que abrigam cursos concorridos de agronomia, farmácia e veterinária, além de muitos outros, deveriam ressoar aquela excitação típica de um ambiente estudantil. Em um dia comum, haveria vida pulsante ali. A Federal parece ter sido abandonada às pressas, como se mísseis inimigos fossem desabar sobre ela. Não se vê uma mínima fração de seus 27 mil estudantes. Os 1,8 mil professores sumiram de vista. Não há ninguém nos laboratórios. Nem nas bibliotecas. As lanchonetes estão às moscas. As luzes, apagadas. A Universidade Federal de Santa Maria está deserta por um motivo óbvio: luto. Até a sexta-feira 1º, 103 de seus alunos tinham morrido em decorrência do incêndio na boate Kiss. Pelo menos outros 30 continuavam internados. Como a festa na Kiss foi promovida por diretórios estudantis, é provável que mais de 500 pessoas ligadas de alguma forma à instituição estivessem na boate na noite da tragédia. As aulas foram suspensas por uma semana, mas é certo que a dor vai durar muito mais. E não apenas ali. Santa Maria tem sete universidades frequentadas por 40 mil alunos. No verão, às 9 horas da noite ainda tem sol e as pessoas ficam na rua até tarde. Os índices de violência são baixos, não falta trabalho nas áreas rurais e o universo estudantil atrai professores e pesquisadores, que fizeram surgir, nos últimos anos, uma nova classe média. O paraíso não existe mais.
Fábio José Cervinski, 26 anos, era um dos alunos do curso de agronomia da Universidade Federal de Santa Maria. Há três anos, o jovem estudante era só bom humor. Havia vencido a luta contra a leucemia, doença que o vitimou quando ele tinha apenas 17. Fábio passou seis anos doente, submeteu-se a tratamentos dolorosos, inúmeras sessões de quimioterapia, até, finalmente, receber o diagnóstico de cura. Desde então, não se cansava de festejar com a família. Durante a luta contra o câncer, o jovem disse aos parentes que, se morresse, gostaria de ser enterrado ao lado da sepultura do avô, na pequena cidade de Paim Filho, no interior do Rio Grande do Sul. Ninguém mais se lembrava disso. Afinal, o câncer era passado e Fábio tinha um futuro enorme pela frente. Mas o garoto que sobreviveu a uma luta de seis anos contra a leucemia não resistiu ao gás venenoso da Kiss.O incêndio trouxe o pedido de volta à memória dos pais e foi atendido. Fábio agora está ao lado do avô em Paim Filho.
Para fazer a foto desta reportagem, o professor Dornelles voltou à sala de aula da Federal de Santa Maria. Ele veste camiseta preta e tem nas mãos as provas que os alunos fizeram na manhã da sexta-feira 25. Pouco tempo depois, na madrugada de sábado para domingo, quatro desses estudantes morreram no incêndio da boate Kiss. Dornelles mal consegue olhar para os papéis. Ele os entrega ao repórter, depois pega de volta com cuidado e acaba por colocar tudo sobre a mesa. Então, motivado provavelmente por um instinto de proteção, abraça com força o material. "Vou ligar para os pais, porque agora isso pertence a eles", diz. Uma das provas foi feita em papel rosa enfeitado com desenhos de borboletas coloridas. É da estudante do primeiro semestre de agronomia Rhaíssa Gross Curia, uma das vítimas fatais da Kiss. O professor Dornelles não consegue parar de pensar nela e em todos os outros. "Eu paguei R$ 15 pelo convite da festa na Kiss", diz ele. "Fiz isso para ajudar os alunos. A menina que me vendeu o convite morreu."
A Kiss dilacerou muitas famílias e foi ainda mais cruel com a dona de casa Elaine Gonçalves. Aos 63 anos, ela enfrentou há dois anos a morte do marido e agora se depara com o desaparecimento dos dois filhos, Deivis e Gustavo Marques Gonçalves. Depois da perda do companheiro, os jovens eram a alegria de dona Elaine, os únicos capazes de preencher seus dias. "Eles saíram de casa juntos, bonitos e faceiros, para nunca mais voltar", diz a mãe. O mais velho, Deivis, 33 anos, morreu na própria boate e foi enterrado na segunda-feira 28. O irmão, Gustavo, 21, passou três dias internado, mas não resistiu. Na terça-feira 29, Elaine recebeu a notícia da morte do segundo filho. "Deus estipulou um tempo certo para eles, então o que me resta é aceitar", diz. Inconsolável, a dona de casa sabe que agora terá de enfrentar uma nova realidade. "Meu Deus, é um pesadelo, mas eu sei que é sem eu acordar. E agora minha casa vai ficar vazia." Apesar da prostração causada pelas perdas irreparáveis, dona Elaine não está conformada. "Quero justiça", afirma, enquanto mantém os punhos fechados.
A morte inesperada é chocante sob todos os aspectos, mas ainda mais dramática para os pais. Nos cemitérios de Santa Maria, muitos deles não abandonaram o túmulo de seus filhos, mesmo dois ou três dias depois dos enterros. Na quarta-feira 30, Veleda Ames e João Carlos da Silva permaneceram um bom tempo imóveis, abraçados diante da sepultura do filho, Alexandre Ames Prado, 18 anos, estudante de jornalismo que tinha sido sepultado dois dias antes. "Não tenho mais objetivo na vida", diz Veleda. A menos de 50 metros dali, aconchegados em um banco de cimento, estavam Sandra e Carlos Favarin, pais de Kell e Aline Favarin, estudante de direito que morreu aos 22 anos e que também havia sido enterrada na segunda-feira. "A médica disse que ela não sofreu", afirma Sandra, tentando, de alguma forma, encontrar conforto, se é que é possível numa situação como essa. Nos cemitérios de Santa Maria , flores frescas estavam por toda parte e dava para ver até os coveiros, habituados à rotina da morte, com lágrimas nos olhos.
Depois de sepultar os filhos, muitos pais preferem enterrar também a tragédia e postergar a longa despedida que vem pela frente – o desvencilhamento das roupas, dos objetos pessoais e das lembranças. Três dias depois da morte da filha Mirela, 21 anos, Helena Rosa da Cruz ainda não teve coragem de jogar a metade do lanche que a jovem havia deixado na geladeira de casa antes de ir à boate Kiss. Ela e o marido, Delçon, também resolveram fechar o quarto da jovem, e do filho, José Manuel, 18, que também perderam na tragédia. "Decidimos fingir que eles estão viajando. E vai ficar assim até termos coragem", diz Helena, que foi dormir na madrugada do dia 27 tranquila, pois o casal de filhos cuidaria um do outro na balada, como sempre. Perto das 4h, tocou o telefone na casa de Helena. Era uma amiga dos irmãos avisando sobre o fogo na Kiss. O casal correu para o cenário da tragédia e logo percebeu que não encontraria seus filhos lá. Dividiu-se e começou a busca por hospitais. Era começo da tarde do domingo e Delçon e sua esposa, depois de ir e vir de todos os centros de saúde, ainda não haviam encontrado Mirela e José Manuel – os nomes não apareciam em nenhuma lista de feridos. Às 13 horas, o casal se encaminhou para o ginásio Farrezão, onde estavam as centenas de corpos. Os policiais chamavam de dez em dez nomes. Amparada em uma amiga, totalmente desorientada, Helena ouviu, apenas na quinta chamada, o nome de José Manuel. Ele era o corpo 62. Inerte diante do filho, a mãe se deparou com o de Mirela, ao longe. A partir daí, o casal enfrentou, assim como todas as famílias que lá estavam, dilaceradas com as perdas de seus jovens, uma série de filas: para a certidão de óbito e para conseguir caixões nas funerárias, entre outras. Até que Helena pôde ir para casa separar a roupa de seus meninos. Para José Manuel, que fazia parte de um grupo de danças típicas, bombachas, camisa branca, guaiaca, lenço vermelho, botas e boina. Já sua Mirela, vaidosa como ela só, rainha de Carnaval do clube e miss Santa Maria aos 10 anos, um vestido branco com brilhante na gola e um sapato de salto altíssimo. No enterro, todos choraram com e por Helena, que diante dos corpos dos filhos agradeceu a presença dos amigos e acrescentou: "Se eles foram pessoas tão maravilhosas, e se eu estou aqui agora, é porque vocês nos encheram de amor."
Janaína Portela, 19 anos, não era estudante universitária, nem estava na boate Kiss para se divertir. Moradora da periferia de Santa Maria, do bairro de Chácara das Flores, a jovem estava no epicentro de uma das maiores tragédias da história do País porque se ofereceu para substituir a mãe, Natalícia Moraes da Silva, que estava se sentindo mal, na função de lavar copos durante a festa. Não era a primeira vez que Janaína substituía Natalícia, empregada da boate. A jovem chegou a escapar do incêndio, mas entrou mais duas vezes na Kiss para auxiliar nos resgates de quem ainda sofria lá dentro. Na terceira vez, não conseguiu sair. Esforçada, queria ser veterinária, e era muito querida. Da Chácara das Flores, saíram vans, carros e um ônibus cheio de vizinhos para o enterro, na segunda-feira 28.
É difícil encontrar alguém na cidade que não tenha sentido a tragédia de perto. O recepcionista do hotel diz que o melhor amigo está internado. Você está no restaurante e o dono pede uma salva de palmas para o sobrinho, que saiu ileso da danceteria. Os shoppings e as lojas de ruas colocaram fitas de luto em suas fachadas. Nos carros dos taxistas, uma faixa preta homenageia os mortos. Uma casa colocou um cartaz que pede justiça. No ônibus que faz o trajeto Porto Alegre-Santa Maria, as pessoas relatam o sofrimento de seus entes. Em choque, a cidade ficou paralisada. Na semana passada, o fórum permaneceu fechado. Médicos e dentistas cancelaram consultas. Supermercados não abriram. Santa Maria pareceu viver o delírio da música "O Dia em Que a Terra Parou", de Raul Seixas.
No meio desse cenário de luto permanente e dessa atmosfera de dor insepulta, brotam as histórias dos heróis anônimos da tragédia de Santa Maria. Se não fossem eles, garantem as pessoas que estavam presentes na angustiante madrugada do domingo 27, muito mais vidas teriam sido perdidas. E a imagem símbolo desses heróis, que correu o mundo, é a do estudante de educação física da UFSM Ezequiel Lovato Corte Real, 23 anos, carregando um homem nos braços pelas ruas de Santa Maria. O jovem acredita ter tirado pelo menos 30 pessoas da boate Kiss, só não sabe se todas elas estavam vivas. Ele estava muito perto do palco, com duas amigas, quando viu o vocalista da banda pegar o sinalizador e apontar para o alto. Viu, também, alguém, que ele não sabe quem, tentar usar o extintor, que não alcançou o forro e, em questão de segundos, o fogo alastrar-se pela espuma do teto. "Formou-se uma manta por cima de nós", diz. Ezequiel conseguiu manter a calma e conduziu as duas amigas por um caminho alternativo até a porta de saída. No caminho, viu dezenas de pessoas serem pisoteadas e gotas grossas de espuma derretida cair sobre os frequentadores, que gritavam, desesperados. Com as colegas em segurança, Ezequiel, um ex-fisiculturista, não teve dúvida: tirou a camisa, protegeu seu rosto e voltou para o inferno de que havia acabado de escapar. Entrou e saiu da Kiss incontáveis vezes, ao lado dos bombeiros, mas não conseguia avançar mais do que cinco metros, por causa da fumaça espessa. Durante o resgate, a pele descolava do seu corpo. "Puxava os corpos pela parte que conseguia tocar, sem ver. Enquanto puxava um, sentia alguém me segurando. Tentei dar as mãos para dois ao mesmo tempo. Como iria escolher só um?" O estudante só parou sua busca quando constatou que não havia mais ninguém com vida lá dentro. Foi para casa, tomou um banho, descansou por cerca de uma hora e seguiu para o hospital, pois sentia o pulmão roncando. Desde o dia da tragédia, recebe agradecimentos pelo ato heroico. No peito, um sentimento de frustração por não ter conseguido salvar mais gente. "Não me lembro de nenhum rosto das pessoas que salvei. Só lembro o rosto de quem não salvei."
Como a tragédia afetou todo mundo, uma onda de solidariedade varreu a cidade. E ela começou com as próprias vítimas da tragédia. Muita gente foi salva pelo estudante de educação física Vinícius Rosardo, 26 anos. Tão bravo quanto Ezequiel, ele foi um dos primeiros a sair da Kiss, mas resolveu voltar à boate para ajudar no socorro às vítimas. Segundo relatos de pessoas que o viram em ação, Vinícius, de quase dois metros de altura e 130 quilos, tirou pelo menos 14 pessoas com vida que estavam presas no interior da Kiss, muitas vezes levando uma em cada braço. Não foi seu primeiro incêndio. Quando tinha 12 anos, ajudou o pai a debelar o fogo de uma casa vizinha, carregando baldes. "Se não fossem ele e muitos outros jovens que voltaram para ajudar, essa tragédia teria 500 mortos", diz o pai do estudante, o gerente de eventos Ogier Rosardo, 51 anos. Em 2012, Vinícius havia se tornado voluntário da Apae e tinha começado a dar aula de dança a idosos. Com formatura prevista para este ano, Vinícius pretendia se mudar para São Paulo, onde queria se tornar lutador de MMA. Parentes contam que ele adorava festas, mas cancelava qualquer compromisso para ajudar um amigo. "Era um rapaz muito humilde. Nunca vi ninguém falar que não gostava dele", diz o pai. "Brincava que ele era como uma baleia: grande, forte e doce." Ele salvou muitas vidas, menos a sua. Foi encontrado desacordado dentro da boate e morreu a caminho do hospital.
A solidariedade era vista em todos os lugares. Moradores doaram água e comida, empresários ofereceram veículos para o transporte dos feridos, profissionais especializados se dispuseram a trabalhar voluntariamente. Na tarde da terça-feira 29, a estudante de terapia ocupacional Kássia Flores, 19 anos, corria de um lado a outro dos corredores do Hospital Caridade, onde dezenas de feridos se recuperam. De luvas nas mãos, ela servia lanches e bebidas para os familiares das vítimas. Por que fez isso? Foram duas as razões. "Depois do que aconteceu, eu não podia ficar de braços cruzados", diz Kássia. Mas havia outro motivo. "Meu primo-irmão morreu no incêndio e eu não consigo ficar em casa." Os corredores e recepções de hospitais de Santa Maria pareciam, até quase uma semana depois do incêndio, verdadeiros centros universitários. Estavam repletos de jovens que pretendiam visitar irmãos, amigos, primos e namorados.
Passeata no centro de Santa Maria, na noite da
segunda-feira 28, em memória das vítimas da tragédia
A operadora de caixa das Lojas Americanas Alessandra Mattos, 23 anos, não para de pensar nos cinco amigos que perdeu no incêndio da boate Kiss. Mas o que também não sai da cabeça de Alessandra é que ela foi salva pelo ciúme de seu marido. "Eu estava com o convite comprado, mas ele não me deixou ir", diz. Foi por ciúme e pelo fato de o casal ter um filho de três anos. "Ele disse que era para eu ficar em casa e cuidar do guri. Fiquei com raiva, ameacei, mas não fui."A corriqueira briga de casal que tanto a irritou, livrou a comerciária do horror daquela madrugada. Todos os seus colegas, com quem ela certamente estaria na casa noturna, morreram na tragédia. Alessandra perdeu os amigos Neiva Carina de Oliveira Marin, Odomar Gonzaga Noronha, Paula Rodrigues Costa e Sandra Victorino Goulart, além de Evelin Costa Lopes, que trabalhava em outra loja. "Tive uma dor no peito horrível quando soube, fui parar no hospital. Fico aliviada por estar viva, mas triste de não tê-los mais por perto", diz a jovem, que viu seus amigos pela última vez no sábado 26, antes de sair do trabalho. "Eles me abraçaram, me beijaram. Ainda bem."
Algumas pessoas tiveram o círculo de amizades praticamente destruído. A vendedora Luciane Seger, 27 anos, por exemplo, descobriu na segunda-feira 28 que 23 colegas tinham morrido no incêndio. Era a turma que trabalhava no principal shopping da cidade e que saía junto todo fim de semana. Luciane certamente estaria na festa do sábado 27 na Kiss, ao lado de seus amigos de todas as horas. Mas, no dia da tragédia, a vendedora não pôde ir à Kiss porque estava muito ocupada com os preparativos para um churrasco em família no domingo 27. Por causa disso, desistiu da balada, pois precisaria acordar muito cedo no dia seguinte. Não teria problema, o grupo estaria junto na segunda-feira 28, reunidos trabalhando no shopping, e nos próximos fins de semana, pensou ela, antes de ser assolada com as notícias."É desesperador pensar no número de pessoas próximas que morreram", diz Luciane.
A tragédia terá um impacto na teia social de Santa Maria. Novos vínculos afetivos terão que ser criados. Em cidades de pequeno e médio porte, isso é mais difícil. Não aparece tanta gente nova assim, a não ser no início dos anos letivos das universidades, quando levas de calouros chegam para preencher as vagas.
Além das universidades, as Forças Armadas também atraem para Santa Maria pessoas de lugares distantes. O primeiro-tenente do exército Leonardo Machado Lacerda, 28 anos, foi transferido do Rio de Janeiro apenas 15 dias antes da tragédia. Na madrugada de sábado para domingo, ele quis ir à Kiss com seus colegas para comemorar sua transferência para o Sul. Ele estava muito feliz e animado com as novas perspectivas de carreira. Militar treinado, com físico ágil, Leonardo conseguiu sair com rapidez da boate no momento do incêndio. Mas, como tantos outros, num primeiro momento ele saiu ileso da fumaça que consumiu o teto da boate, mas resolveu voltar para tirar pessoas lá de dentro. Conseguiu salvar um oficial do batalhão em que servia. Com o colega a salvo, retornou para a casa tomada pela fumaça tóxica para tentar buscar duas amigas. Não conseguiu. Tornou-se outro herói e sua página na rede social Facebook está repleta de bonitas mensagens de condolências que lembram seu ato gigantesco.
Toda tragédia é triste, mas a de Santa Maria mexeu com as emoções mais profundas de brasileiros e estrangeiros porque suas vítimas são muito jovens. Até a quinta-feira 31, o número de mortos era de 236. Desses 176 tinham entre 18 e 26 anos. A faixa etária com mais óbitos é a de 18 anos, com 37 perdas, seguida pela de 20 anos (31 mortos) e 19 anos (28 mortos). Santa Maria sofreu ainda mais porque os desaparecimentos se deram no grupo que torna a cidade realmente especial, o de universitários. Os moradores garantem que não há, no Brasil, nenhum lugar que se equipare a Santa Maria na relação entre estudantes de nível superior e a população total.
Eram 3h20 da manhã, apenas um minuto depois de o Corpo de Bombeiros da cidade receber a primeira ligação alertando sobre o incêndio na boate Kiss, quando os amigos da protética Michele Cardoso, 20 anos, receberam a mensagem no Facebook: "Incêndio na Kiss socorro." Minutos depois, começaram as perguntas: "Tu está bem?" Outro texto questionava: "Como assim? Explica isso"; ou, então: "Sério, Miii?" Um outro parecia gritar: "Miiiiiiii." Em vão. Michele, que já havia trabalhado na Kiss, foi encontrada morta na boate. Ela estava acompanhada da irmã, Clarissa Lima Teixeira, e do namorado, João Paulo Pozzobon, 20 anos, que também sucumbiram ao incêndio. João Paulo morreu porque, já fora da boate, e contrariando o apelo dos amigos, retornou à Kiss para tentar salvar Michelle, que havia pedido socorro pela rede. O casal havia se conhecido na casa noturna seis meses antes. Foi a primeira grande tragédia brasileira testemunhada e comentada em tempo real pelas redes sociais, principalmente pelos jovens, que se identificaram com as vítimas. O pedido de Michele permaneceu online. Assim como milhões de tuítes e posts relacionados à tragédia de Santa Maria, de todas as partes do mundo, de anônimos e famosos, que se multiplicaram durante a semana.
A faixa etária que frequentava a Kiss era tão baixa que a boate ganhou na cidade o apelido de "Kids." Era comum ver menores de idade dançando nas pistas e consumindo bebidas alcoólicas. A Kiss também ganhou fama pela virulência com que os seguranças tratavam os frequentadores. Vários jovens disseram para a polícia que já tinham visto cenas de espancamentos motivadas por perda de comandas. Em 2011, a Kiss foi obrigada a pagar ao estudante Renato Michelon R$ 5 mil por agredi-lo na hora do pagamento da conta. "O Renato pagou R$ 100 em dinheiro, mas faltavam R$ 20", diz a advogada Patrícia Michelon, irmã de Renato e responsável pelo caso. "Como o cartão dele não passou, os seguranças partiram para a agressão." Renato levou um soco na boca e uma cotovelada no peito – tudo devidamente registrado por testemunhas.
Apesar dos problemas, a Kiss lotava sempre e era a casa preferida dos jovens da cidade. Foi lá que Brady Adrian Gonçalves Rodrigues decidiu comemorar seu aniversário. Lotado na 13ª Companhia do exército, em Santa Maria, ele fazia planos de retomar o último ano do curso de educação física e, quem sabe, seguir uma nova carreira. O incêndio destruiu suas ambições. Ele morreu ao lado da namorada, Ana Caroline Rodrigues, 19 anos, uma estudante do curso de tecnologia de alimentos da Universidade Federal. Ele tinha acabado de fazer 21 anos.
É manhã de sexta-feira e as alamedas arborizadas da Universidade Federal continuam vazias. Santa Maria, rogai por eles!


As concessões vão decolar

Leilões de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e petróleo devem movimentar pelo menos R$ 234 bilhões, até 2019.

Cristiano ZAIA

Que um dos maiores gargalos da economia brasileira está na infraestrutura, o País já sabe. Que o governo não tem capacidade de, sozinho, fazer tudo o que é preciso, também. A solução, então, foi buscar a ajuda da iniciativa privada. No ano passado, o governo passou meses discutindo como viabilizar os projetos de concessão e parcerias público-privadas (PPPs) de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, trem-bala, e novos poços de exploração de petróleo e gás, que começam a sair do papel. Juntos, devem somar pelo menos R$ 234,7 bilhões até 2019. De olho nos projetos que já estão em fase de audiência pública, como é o caso de sete trechos de rodovias federais, construtoras, operadores logísticos e fundos de investimentos nacionais e estrangeiros têm procurado os órgãos do governo para se informar.
Um deles é a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), responsável pelos projetos do trem-bala, ferrovias e rodovias. Somente em janeiro, o presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, foi procurado por representantes dos fabricantes de trens japoneses Mitsui e Mitsubishi, e das espanholas Asvi e Ferrovial, também do setor de transportes, além do Fundo Soberano de Cingapura e da construtora brasileira Camargo Corrêa. "Eles tinham dúvidas sobre a taxa de retorno do investimento, mas todos dizem que vão participar", afirma Figueiredo. Uma das maiores construtoras do País, a Odebrecht já manifestou interesse em entrar em todos os setores. "Toda a área de infraestrutura nos interessa", diz o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht.
"Saneamento, logística, portos e aeroportos." Responsável pela concessão da Arena Castelão, em Fortaleza, e construtor de trechos das ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste, o Grupo Galvão também quer participar das novas concessões. "Temos interesse em disputar ferrovias e vamos estar nos dois próximos leilões de aeroportos", afirma Dario Galvão, presidente da Galvão e Engenharia. A Arteris, que assumiu o controle acionário da espanhola OHL e já administra várias concessões rodoviárias, como a Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas Gerais, e a Regis Bittencourt, entre São Paulo e Paraná, diz "estar atenta a novas oportunidades". O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se prepara para financiar os novos empreendimentos.
As concessões já representam 90% dos desembolsos do banco nas áreas de transporte, logística e energia. O montante de recursos deve chegar a R$ 28,5 bilhões neste ano – em comparação com R$ 24,5 bilhões em 2012. "Em 2015, esperamos chegar a R$ 40 bilhões", diz Nelson Siffert, superintendente de infraestrutura do BNDES. Para as empreiteiras, o modelo de concessões tem uma vantagem adicional: a diminuição da burocracia na contratação e pagamento da obra, já que o contratante não é o governo, mas uma empresa privada. "Algumas empreiteiras já estão preferindo as concessões às obras públicas", diz José Carlos Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Em setembro, o governo quer escolher os novos operadores dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e de Confins, em Belo Horizonte.
"É um setor muito lucrativo no mundo todo, que atrai o interesse dos investidores", diz o economista Cláudio Frischtak, da Inter B Consultoria, especializada em infraestrutura. Para o governo, as concessões devem melhorar a qualidade do transporte aeroviário. "Com cinco grandes aeroportos concedidos, devemos melhorar os serviços de metade dos passageiros de todo o País", afirma o ministro Wagner Bittencourt, da Secretaria de aviação Civil (SAC). Outro setor que espera um impacto semelhante é o de portos, que deve receber bilhões de investimentos a partir de novas regras do setor, que permitirão a construção de portos privados. Com tantas oportunidades, o governo fica mais perto de alcançar a meta de um investimento em torno de 20% do PIB.


Para se fortalecer, Astrium cria subsidiária

o Valor
de São José dos Campos

A Astrium, divisão espacial da gigante europeia EADS, está fortalecendo a sua presença no Brasil para tentar participar de forma mais efetiva do programa espacial brasileiro. O Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) indica a necessidade de um investimento de R$ 9,1 bilhões nos próximos dez anos no setor.
"O Brasil, embora ocupe um lugar importante no cenário econômico mundial, ainda não integra o grupo de países que dominam a tecnologia espacial", disse o vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Astrium na América Latina, Jean Noel Hardy.
Segundo o executivo, mesmo assim a Astrium acredita no potencial espacial do Brasil e, por isso, acaba de criar a subsidiária Astrium Brasil. A companhia está presente no país desde 2006 com a Equatorial Sistemas, de São José dos Campos, e a Astrium Services, antiga Spot Image. Em 2012, a Astrium registrou uma receita de € 5,8 bilhões, 7% maior que em 2011.
Fornecedora do programa espacial brasileiro desde 1996, a Equatorial atuou no programa do satélite CBERS-3, feito em parceria com a China e para o qual desenvolveu uma câmera WFI (sigla em inglês para câmera de grande campo de visada) e um gravador digital de dados para o satélite brasileiro Amazônia-1, em fase de desenvolvimento. O CBERS-3 tem lançamento previsto para maio.
A Equatorial foi contratada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o fornecimento dos sistemas aos satélites CBERS-3 e Amazônia. Segundo o presidente da Equatorial, César Ghizoni, os dois contratos estão avaliados em cerca de R$ 60 milhões.
Em 2012, de acordo com o executivo, a Equatorial gerou receitas de R$ 9,5 milhões, ante os R$ 6,8 milhões do ano anterior. Entre os novos contratos previstos para este ano, Ghizoni cita o fornecimento de cabos do sistema elétrico do satélite Amazônia-1 e um contrato com a GMV, empresa europeia que fornece sistemas de navegação de satélites.
A GMV está desenvolvendo seu sistema em parceria com o Instituto Tecnológico de aeronáutica (ITA) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), disse o presidente da Equatorial. (VS)

Satélite brasileiro atrai sete grupos mundiais

Por Virgínia Silveira
Para o Valor, de São José dos Campos

Sete grandes grupos de fabricantes internacionais estão participando do processo de seleção do fornecedor do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas. Realizada pelo governo brasileiro, essa concorrência é considerada hoje a principal na área espacial da América do Sul, com investimento já aprovado de R$ 720 milhões. O valor inclui o lançamento do satélite, previsto para o fim de 2014.
A Agência Espacial contratou a Visiona Tecnologia Espacial, joint venture entre a Embraer e a Telebras, para fazer o gerenciamento dos contratos com os futuros fornecedores do equipamento. A Visiona encerrou a fase de recebimento das informações solicitadas aos fabricantes no fim do ano passado, e nas próximas duas semanas poderá liberar as linhas gerais de sua solicitação de propostas (RFP, na sigla em inglês) para os interessados.
A lista de empresas participantes da licitação, segundo fontes que acompanham o processo, inclui as europeias Astrium e Thales Alenia Space, as americanas Boeing, Lockheed Martin e Space Systems Loral (essa última adquirida pelo grupo canadense MDA, em 2012), a japonesa Mitsubishi e a russa Reshetnev.
Procurada pelo Valor, a Boeing disse que seria prematuro comentar a concorrência, pois o pedido de proposta ainda não foi divulgado. "A Boeing está a par do processo da Visiona, mas seguimos nossa política de não comentar os requisitos relativos aos nossos clientes", disse em nota.
Haverá uma única licitação para a compra do satélite, do sistema de controle de solo e do lançamento, disse o diretor de planejamento e investimentos estratégicos da Agência Espacial, Petrônio Noronha de Souza. Apenas a parte de instalação de antenas de recepção e emissão de sinais de internet ficará sob a responsabilidade da Telebras, segundo o diretor.
Os requisitos do satélite foram elaborados pelo Ministério das Comunicações, Telebras e Ministério da Defesa, consolidados depois pelos grupos de trabalho criados pelo decreto presidencial que estabeleceu a governança para o desenvolvimento do equipamento geoestacionário. A canadense Telesat, segundo o diretor da agência, deu apoio ao projeto na fase que antecedeu a RFP.
O prazo para o lançamento, no entanto, segundo o Valor apurou, poderá atrasar e se estender até 2015, pois o período para a contratação dos fornecedores e a fabricação do satélite é considerado curto. A agência também já programou a aquisição do segundo satélite, com previsão de lançamento para 2019.
O satélite geoestacionário vai atender à demanda de comunicações militares e de defesa do governo federal, assim como o Programa Nacional de Banda Larga, levando internet às populações de cerca de 1,2 mil municípios localizados em regiões remotas do país. Atualmente, o governo contrata tecnologia de satélites estrangeiros.
O satélite brasileiro vai operar em banda X (faixa de frequência de transmissão dos dados), para as comunicações estratégicas do governo, com cobertura regional (Brasil), América Latina e Oceano Atlântico, usando cinco transponders (sistema que converte o sinal recebido do satélite para outra frequência determinada). Para as comunicações em banda larga usará a banda Ka.
O contrato de construção do satélite vai envolver transferência de tecnologia nas áreas de sistemas de comunicação, controle de atitude e órbita, controle de solo, software de controle e propulsão, afirmou o diretor da Agência Espacial.
O satélite geoestacionário foi incluído na lista de projetos que o Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) considera como estruturantes e mobilizadores. "São projetos que colocam desafios tecnológicos à pesquisa e à indústria e que organizam a cadeia produtiva nacional, e ampliam o mercado de bens e serviços espaciais", descreve o documento.
Entre os resultados esperados, descritos no relatório do Pnae, está o incremento da capacitação tecnológica da indústria nacional no segmento de satélites de telecomunicação e elevação do índice de participação das empresas no desenvolvimento e fabricação do segundo satélite.


Poder Aéreo

Primeira Aviadora da FAB pede as contas e vai para a CGU

A mulher que inscreveu seu nome na história da aviação no Brasil como a primeira aviadora da FAB, a Primeiro Tenente Fabrícia Liane Souza Aguiar Oliveira foi licenciada da Aeronáutica no último dia 29 de janeiro.
Primeira colocada da primeira turma de Cadetes Aviadores da Academia da Força Aérea (AFA) que recebeu mulheres, no ano de 2003, Fabrícia, que servia no 1º Esquadrão do 6º Grupo de Aviação (1º/6º GAV), em Recife, foi aprovada no último concurso para auditora da Controladoria Geral da União.
Em junho de 2010, ela foi homenageada pela Assembleia Legislativa do RJ e agradeceu com as seguintes palavras:
“Recomendo a carreira de aviadora para as mulheres que, além do sonho de pilotar aviões, tenham um amor profundo pelo Brasil. Sem um desses requisitos, acho que não é possível”.

BRASIL ECONÔMICO

“O Brasil não consegue transformar conhecimento em riqueza com a inovação”

ENTREVISTA ANTÔNIO BRITTO Presidente da Interfarma
Para representante das indústrias farmacêuticas, país tem pesquisadores competentes e ilhas de excelência em várias áreas do saber, mas precisa estabelecer relações entre empresas, universidades e governo
Na presidência da entidade que representa as indústrias farmacêuticas no Brasil — a Interfarma —, Antônio Britto insiste em tocar a tecla da inovação. O desenvolvimento de pesquisa tem sido uma das principais bandeiras defendidas pela entidade, que constrói um largo trabalho para incentivar o Brasil a abraçar essa causa. Ele acha que o país está dando alguns passos na direção correta, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. Britto elogia decisões como a tomada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que deve reduzir os prazos para análises sobre a realização de pesquisas clínicas — necessárias para o desenvolvimento de novos medicamentos. “Hoje um ponto que podemos e devemos atacar para melhorar a atratividade é a questão dos prazos, que estão espremidos pela demanda”, declarou Dirceu Barbano, presidente da Anvisa, em entrevista recente ao BRASIL ECONÔMICO. A postura de Britto no comando da Interfarma vem carregada de uma história política que o Brasil conhece desde que o jornalista foi o porta-voz da Presidência da República e contou aos brasileiros que Tancredo Neves, o primeiro presidente civil depois de um longo período de governo militar, havia falecido. Britto foi também deputado federal, ministro da Previdência Social e governa-dor do Rio Grande do Sul, seu estado natal. Antes de chegar à Interfarma, atuou como executivo em grandes empresas brasileiras, como a Azaléia e a Claro.
É essa experiência que lhe traz clareza para inserir a indústria farmacêutica no contexto socioeconômico brasileiro. E, a partir desse ponto de vista, cobrar de governos, empresas e universidades ações coordenadas em prol do desenvolvimento da pesquisa e da inovação. “É preciso que a gente festeje os acertos que teve como país e tenha a humildade de entender que o que serviu para resolver os problemas do térreo talvez não sirva para resolver os problemas do oitavo andar. No térreo a gente não precisava de elevador. Mas para chegar às doenças mais complexas, qual será o elevador? Fica muito difícil imaginar que a gente queira resolver os problemas desse Brasil novo, de população que envelhece, com as mesmas armas que a gente resolveu a desidratação e a diarreia”, diz o presidente da Interfarma. “O Brasil melhorou muito em matéria de saúde. Nós temos felizmente uma redução extraordinária da mortalidade infantil, aumento da longevidade, redução de doenças contagiosas — dengues à parte —, temos um programa de imunização super bem sucedido, outro grande acerto com os agentes de família e êxitos fantásticos como no caso da aids. Só que, enquanto o Brasil dava certo nisso tudo, o país ia mudando e ficando mais complexo também em doenças”, afirma, lembrando que as chamadas doenças modernas estão tomando o primeiro lugar nas causas de internação e morte. Segundo ele, o desafio da saúde no Brasil — e de toda a indústria relacionada à ela — está em dar respostas tanto às questões básicas quanto às complexas, “porque é absolutamente vergonhoso que ainda morra gente de doenças do século passado”
Cláudia Bredarioli
Como o senhor avalia, hoje, o cenário brasileiro para o desenvolvimento da inovação e o incentivo à pesquisa?
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, em um artigo, fez uma avaliação com a qual eu concordo completamente. Ele diz que o Brasil foi extremamente competente nos últimos anos em desenvolver e ampliar a geração de conhecimento científico. Nós temos mais doutores do que nunca, estamos publicando mais artigos científicos do que nunca. Mas, na avaliação do ministro, o Brasil não tem conseguido transformar o conhecimento que gera em riqueza através da inovação. Quando a gente examina a questão da inovação no Brasil, é preciso afastar o que não é problema: nós não temos falta de gente competente, não temos falta de ilhas de excelência onde se detêm um conhecimento de igual nível ao que se há de melhor no mundo.
Em que ponto está o problema?
O problema está no fato de que em qualquer país do mundo em que a inovação deu certo, dos Estados Unidos à Coreia, há uma conexão que funciona muito bem entre a universidade gerando conhecimento, as empresas aplicando esse conhecimento e o governo estimulando esse circuito. No Brasil, a imagem que eu faço é de que nós não temos um continente de inovação — com todo mundo em cima do mesmo território —, temos ilhas e essas ilhas não se relacionam muito bem. As universidades e as empresas ainda estão muito distantes. A universidade, de modo geral, ainda tem aversão a querer transformar o conhecimento em riqueza. E as empresas, também de modo geral, não gostam de correr riscos. Só que inovação, acima de tudo, é correr riscos.
Qual outro grande empecilho?
A outra questão é a do ambiente regulatório para a inovação. Pobre de quem queira inovar no Brasil. Primeiro porque tem uma lista de dez ou doze áreas do governo cada um com suas exigências e burocracias. Segundo porque inovar no Brasil parece pecado. O pesquisador brasileiro tem que pagar imposto de importação para comprar material de pesquisa. O prazo para autorização da pesquisa é no mínimo o dobro ou o triplo do praticado em outros países. Então, os dois grandes inimigos da inovação são: o ambiente regulatório hostil e a falta de uma maior conexão universidades-empresas-governo.
Como é possível começar a resolver cada um deles?
A solução passa primeiro por uma questão política. Como o Brasil sempre foi um grande ex-portador e contou com um belo mercado interno, a inovação se restringiu a ser vista como uma espécie de opção. Acontece que o mundo mudou e, se o Brasil quiser ser realmente grande, a inovação tem que deixar de ser uma opção para ser considerada uma necessidade. Enquanto o Brasil não assumira inovação como uma necessidade, a inovação vai continuar como o ioga — todo mundo é a favor,mas pouca gente pratica. Se essa questão política for resolvida, teremos uma tarefa mais fácil que será derrubar as barreiras burocráticas.
Mas o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação tem defendido que este é o ano da inovação no Brasil e que a presidente Dilma Rousseff está de acordo com essa decisão. Como isso pode ser visto em termos práticos?
Temos alguns fatos positivos neste momento. O principal deles é a compreensão e a convicção da presidente Dilma sobre a necessidade da inovação. Isso é muito positivo. E um exemplo dessa obstinação pessoal dela é o programa Ciência sem Fronteiras.Mas,nem a conhecida obstinação da presidente foi capaz, ainda, de limpar os obstáculos burocráticos. Se observarmos o número de agentes governamentais envolvidos em inovação e as exigências absurdas que são feitas, somos obrigados a lamentar que, embora o governo tenha as melhores intenções, o primeiro dever de casa que seria limpar a própria casa da burocracia não foi cumprido.
E a sociedade também poderia fazer sua parte?
Essa participação é fundamental porque a conexão academia-empresas-governo não depende só do governo. O governo tem feito a sua parte colocando recursos. Sempre falta dinheiro para a inovação, mas eu acho que o dinheiro hoje não é o maior problema. O maior problema é a mentalidade das empresas e das universidades brasileiras, que não assumem o risco da inovação ou tampouco uma atitude mais firme em favor da inovação. As empresas não o fazem porque temem o risco e as universidades porque ainda vi-vem uma crise existencial para descobrir se universidade tem que só gerar conhecimento básico ou também pode gerar conhecimento aplicado. A própria legislação não estimula que a academia vá atrás da produção e da patente. O resultado é que a gente produz doutores como nunca e eles continuam, na maioria dos casos, muito mais voltados à produção de artigos científicos do que de inovação.
Por isso o Brasil continua muito atrás de seus parceiros dos Brics quando o assunto é patente?
A patente é uma mera consequência. Por que os EUA geram muita patente? Porque geram muita inovação. Por que geram inovação? Porque têm um ambiente formado para isso. Se pegarmos um país como a Coreia, a quem o Brasil não deve absolutamente nada, vemos que esse país tomou a decisão de ser importante em pesquisa clínica. Em pouco mais de 10 anos, a Irlanda alcançou um posto bem à frente do Brasil em pesquisa clínica. Trata-se de uma ilha pequena, mas que é superavitária em medicamentos. A Irlanda assumiu a inovação como um esporte nacional. Ela criou as condições para essa mudança.
Em quanto tempo conseguiram isso?
O esforço da Irlanda é de 25 ou 30 anos.
Apesar desses problemas com a burocracia, o Brasil está inserido nesse movimento global da indústria farmacêutica, se pensarmos no país como destino para investimentos em pesquisa?
O Brasil é um dos mercados que mais crescem no mundo e o interesse pelo Brasil no campo farmacêutico continua muito grande. Diferentemente do que ocorre em outros setores, o que mais assusta o investidor estrangeiro nesta área é uma coisa fácil de re-solver, que é a burocracia. Do ponto de vista de como o exterior nos vê, temos um excelente conjunto de leis que beneficiam o investimento no setor farmacêutico, temos um mercado extraordinário, uma ciência que avança muito. Internamente temos avanços importantes em saúde básica, mas também um desafio cada vez maior de atender a demanda para diagnóstico e tratamento de doenças crônicas — o que exige custos cada vez mais elevados. Isso seguramente vai levar o Brasil a repensar a estrutura de acesso a medicamentos. Outro desafio é que o gasto público em saúde está absolutamente abaixo do necessário e da média mundial. E fica difícil imaginar como é que a gente vai resolver o primeiro problema — do acesso a medicamentos —, sem resolver este segundo. Outra grande questão é: se nós quisermos dar boas respostas e acesso a diagnósticos de doenças cada vez mais complexas, vamos ter que nos dedicar mais à inovação.
Neste sentido, o que se espera para 2013? A recente decisão da Anvisa em relação à pesquisa clínica é um avanço?
Nós tivemos boas e más notícias no Brasil sobre pesquisa clínica em 2012. A boa notícia veio da Anvisa, que mudou os processos pelos quais autoriza pesquisa clínica no Brasil. Essas novas regras vão, num curto espaço de tempo, favorecer a pesquisa clínica. Só que, infelizmente, ao mesmo tempo em que a Anvisa andava para frente, o Conselho Nacional de Saúde decidiu andar para o lado.
Sobre a mesma questão?
Sobre um outro lado dessa questão. A pesquisa clínica no Brasil depende de dois sistemas de autorização, um é o da Anvisa, que andou para frente. A outra autorização, que também é fundamental, é a que vem do Conselho Nacional de Ética na Pesquisa (Conep). Depois de quase dois anos de trabalho, com uma consulta pública que recebeu mais de 1.800 contribuições, a vontade do Ministério da Saúde de fazer uma modernização nas regras acabou não sendo apoiada pelo Conselho Nacional de Saúde, que segue a decisão do Conep.
Isso é reversível? Qual prejuízo ou atraso esse tipo de decisão pode representar para a pesquisa no Brasil?
Eu não sei se é reversível ou não, mas sei o que vai acontecer se não for revertido: o Brasil vai perder centenas de estudos clínicos. Um levantamento que nós fizemos com apenas 10 dos nossos 45 associados, mostra que só esses 10 perderam 145 estudos clínicos no ano passado. Ou seja, deixaram de vir para o Brasil 145 pesquisas. Existe uma incompreensão por parte de algumas pessoas sobre quem é prejudicado quando a pesquisa clínica não vem para o Brasil. Muita gente acha que a indústria perde. A indústria não perde, porque a pesquisa que ela não faz aqui ela vai fazer em outro lugar. Quem perde é médico e paciente.
Há ainda uma imagem de que fazer pesquisa clínica é usar a população como cobaia? A que se deve esse tipo de postura?
Eu acho que, como tudo, há diversos fatores presentes nisso. Alguns criam dificuldade por ranço ideológico. Outros, com a intenção que é bonita e correta de proteger os sujeitos de pesquisa. Outros, por puro amor ao poder da burocracia. Nós temos uma mistura disso tudo aqui. O fato é que é preciso discutir: só existe preocupação ética no Brasil? O Brasil é o único país preocupado com isso? A Alemanha, a Suíça, os Estados Unidos não têm preocupações éticas? Se eles têm, estão provando que é possível ser ético sem ser demorado. Eu posso ser ético e ter processos eficientes
O senhor tem pontuado frequentemente que isso não pode ser confundido com redução da seriedade e do controle nos processos.
O que a gente tem discutido muito é que a Interfarma não deseja que haja nenhum tipo de facilidade de ordem ética. Pesquisa clínica é uma coisa muito delicada. Mas é possível tentar, por favor, conciliar a ética com a eficiência. Por exemplo, o Brasil é o único país do mundo onde um estudo clínico tem que passar por três autorizações: Cep, Conep, Anvisa. Por que a Conep tem que revisar tudo o que os Ceps fazem se quem fiscaliza os Ceps é a própria Conep? Hoje, quando alguém quer fazer uma pesquisa sobre um novo medicamento, ela sempre tem que ser feita em diversos países do mundo. Esse alguém dispara o processo de conseguir autorização em diversos países. Ora, se nove países já responderam e um demorou... O Brasil é hoje um país importante, mas o mundo ainda não espera por nós. O mundo segue sem o Brasil. O que vai acontecer é que aquele medicamento vai acabar sendo vendido para cá, só que os ganhos para os cientistas e para os pacientes vão ficar todos no exterior.
Em alguma área há avanço nesse cenário?
Acho que na Anvisa andou bem. Temos que bater palmas.
O senhor acha que isso se deve a uma mudança de gestão ou de compreensão das coisas?
Eu acho que o governo sabe que a situação da pesquisa clínica está muito complicada no Brasil. Onde o governo podia fazer sozinho, ele foi lá e fez. No Ministério da Saúde, o governo dependia do Conselho Nacional de Saúde, e o conselho disse não às mudanças. Eu tenho certeza que se o ministro Padilha (ministro da Saúde, Alexandre Padilha) pudesse sozinho tomar a decisão, ele decidiria pela modernidade e não pelo atraso.
Há necessidade de romper paradigmas para isso ocorrer? Por isso é tão complexo esse processo?
Esses processos não são mágicos. A geração do novo é sempre complexa. Mas o que a gente tenta alertar é que a busca pela inovação em qualquer área não é uma corrida do Brasil com o Brasil. É uma corrida do Brasil como mundo. O Brasil melhorou muito, só que outros estão melhorando mais. E o Brasil já tem tamanho e já se desenvolveu o suficiente para passar a se preocupar e a se comparar com os outros.
Há exemplos que poderíamos seguir?
Não se trata de querer que o Brasil importe modelos, mas que o Brasil olhe para dentro do Brasil e copie seus próprios modelos corretos. Vou dar três exemplos: Embraer, Embrapa e Petrobras. São empresas que avançaram fortemente em inovação. Se olharmos para o modelo das três vemos uma absoluta integração entre produção de conhecimento e aplicação prática desse conhecimento. No caso da Embraer tem ainda uma outra lição importante: não haveria Embraer sem ITA (Instituto Tecnológico de aeronáutica). Ali está integrada a geração de conhecimento com a aplicação desse conhecimento. Estão na mesma cidade e ninguém tem vergonha de pesquisar avião numa esquina e fazer avião na outra. Mas quem é o ITA da saúde? Quando vamos ter, em outras áreas, a mesma tranquilidade que a Embrapa teve de se colocar a serviço da produção agrícola nacional? O Brasil já tem modelos internos. Nós devemos nos preocupar com a Irlanda, com a Coreia, com Cingapura, com a China, mas não precisamos copiá-los. Precisamos copiar o que nós mesmos já conseguimos fazer.
Na área farmacêutica, quais outros fatores dificultam o desenvolvimento da indústria?
Acho que governo comete um grande acerto e um grande erro nessa questão da política industrial no campo farmacêutico: o acerto é querer ter uma produção nacional. Ninguém merece ser chamado de brasileiro se achar que o Brasil não deve desenvolver e produzir medicamentos aqui. Mas, para dar início à produção farmacêutica, é preciso primeiro montar clusters entre universidades e empresas, desenvolver conhecimento e inovação. A política industrial em favor da inovação farmacêutica não se faz com terrenos ou incentivos em dinheiro. É preciso gerar conhecimento, que gere pesquisas, que gere patentes, etc...
A indústria farmacêutica lida com uma situação que é estar na conexão entre a manutenção da ordem capitalista, que requer a geração de lucro, e a de atender a um anseio social, por meio da questão da saúde?
O aspecto mais fascinante de trabalhar com medicamento é que estamos diante de um setor que é tão importante no econômico quanto no social. Não vai se atender ao social se as empresas não forem viáveis, mas, de outra parte, a viabilidade das empresas precisa encontrar respostas à necessidade de acesso por parte das pessoas e dos governos. Essa é a grande questão: como manter um segmento econômico que depende de lucro, mas este lucro não pode passar por cima da necessidade de oferecer respostas à questão de acesso? Não é de graça que o Obama está quebrando a cabeça com essa pergunta, a Europa está com seu sistema de saúde se inviabilizando, o mundo emergente olha para os EUA e não vê a resposta, tampouco na Europa. É uma pergunta em aberto para a humanidade.

CAVOK

Esquadrilha da Fumaça divulga calendário de apresentações para março de 2013

A Esquadrilha da Fumaça vai começar em breve a sua temporada 2013 de apresentações. Dia 1° de março, as sete aeronaves T-27 Tucano vão começar as demonstrações pelo Brasil e também no exterior, e para que isso seja possível, alguns pilotos do esquadrão já estão voando para essas cidades nas missões precursoras, onde com antecedência verificam e preparam todos os detalhes para as demonstrações.
Segundo o Capitão Aviador Eduardo Maia Arantes, a missão prévia consiste em “conferir diversos detalhes, como segurança das aeronaves e do público, contato com Bombeiros e Polícia, além de informações básicas, como hospedagem e alimentação dos integrantes da equipe”.
Nessa semana, dois pilotos já visitaram cinco cidades: Nova Andradina (MS), Nova Santa Rosa (PR), Santa Helena (PR), São Miguel do Oeste (SC) e Curitiba (PR). Outros dois pilotos ficaram encarregados de visitar os municípios de Itu (SP) e Ouro Fino (MG).
Confira abaixo os dias das demonstrações nas cidades que irão receber a Fumaça no mês de março:
01 – Nova Andradina - MS
02 – Ouro Fino – MG
03 – Itu – SP
07 – Nova Santa Rosa – PR
08 – Santa Helena – PR
09 – São Miguel do Oeste – SC
10 – Curitiba – PR
15 – Montevidéu – Uruguay
24 – Georgetown – Guiana
27 – São Luis – MA
28 – São Geraldo do Araguaia – PA
29 – Açailândia – MA
30 – Imperatriz – MA


CORREIO DO ESTADO (MS)

Esquadrilha da Fumaça define detalhes
 

A um mês da apresentação de acrobacias aéreas da Esquadrilha da Fumaça em Nova Andradina, o Executivo municipal define detalhes do show. O evento será realizado no próximo dia 1º de março e terá como ponto principal a Praça Geraldo Mattos Lima.
Gratuita, a performance tem previsão de início para as 16h30. A apresentação contará com sete aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) e 16 profissionais entre pilotos e mecânicos. O tempo de duração do show deve ser de aproximadamente 45 minutos e deverá ocorrer em um raio de 7 quilômetros.
Com 80 apresentações por ano em uma agenda concorrida pelos mais de cinco mil municípios brasileiros, o show de acrobacia aérea da Esquadrilha da Fumaça em Mato Grosso do Sul será realizado apenas em Nova Andradina. A previsão é de que pessoas de vários municípios da região compareçam para o evento.

DIÁRIO DA RÚSSIA

Governo brasileiro confirma interesse na compra de sistema de defesa antiaérea da Rússia

Negócio deverá ser fechado durante a visita de Dmitri Medvedev ao Brasil

O Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Brasil, General José Carlos de Nardi, confirmou o interesse do governo brasileiro na aquisição do sistema de defesa antiaérea da Rússia. Segundo a agência de notícias RIA Novosti, o militar afirmou ao seu colega russo, Valeri Gerassimov, que o Brasil está muito interessado na compra de três baterias antimísseis Pantsir-S1 e em duas baterias do sistema Igla.
A venda destes equipamentos deverá ser concretizada durante a próxima visita do Primeiro-Ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, ao Brasil, nos dias 20 e 21 de fevereiro.
O sistema Pantsir-S1, fabricado pela empresa russa KBP, é composto por um veículo transportador da estação de radar, do lançador de mísseis, dois canhões, sensor de comando e rastreamento de alvos. Já o Igla pode ser transportado pelo militar combatente e disparar mísseis terra-ar.

BRASIL ECONÔMICO

 Embraer fecha acordo de US$ 250 milhões

Contrato com Republic Airways prevê manutenção para 300 aviões, inclusive os da brasileira
A Embraer assinou contrato de quase US$ 250 milhões com a Republic Airways para prestar assistência para até 308 aviões, entre eles, os 47 que a companhia norte-americana comprou na semana passada da fabricante brasileira. A Embraer dará suporte para mais de 400 peças para toda a frota da Republic, incluindo motor e sistemas hidráulicos e elétricos, informou nesta sexta-feira a fabricante. O contrato prevê a cobertura até fevereiro de 2020 de todos os E-Jets da Republic Airways, enquanto aviões modelo 145 terão cobertura até dezembro de2017.









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