Rio - Exército sai e traficantes atacam PM no Alemão
Guilherme Santos e Maria Inez Magalhaes .
Ataques de traficantes a policiais militares marcaram o dia da saída do Exército dos Complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte. Horas depois de festa com a presença do governador Sérgio Cabral na passagem de comando de tropas, moradores reviveram momentos de terror.
De acordo com a assessoria da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), o primeiro ataque aos PMs aconteceu na localidade Central, próximo ao teleférico, quando bandidos passaram atirando. Os policiais não revidaram. Ninguém se feriu.
Troca de tropas: sai Exército e entra a Polícia Militar no Alemão, que sofreu ataques na noite desta segunda. O segundo ataque ocorreu na localidade Pedra do Sapo. PMs faziam patrulhamento de rotina quando bando armado atirou. Desta vez, houve revide. Ninguém ficou ferido e as cápsulas das armas dos criminosos foram recolhidas. Militares das UPPs da Fazendinha e Nova Brasília foram ajudar no policiamento, que continua ostensivo até os bandidos serem encontrados.
Muitos moradores tuitaram sobre o pânico que sentiram.Com seis Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) — até o fim do mês mais duas serão inauguradas — os complexos do Alemão e da Penha vão entrar no currículo dos futuros PMs.
Nessas áreas eles farão estágio antes de saírem do Centro de Formação de Aperfeiçoamento de Praças para patrulharem as UPPs. A ideia é que a próxima turma a entrar no Cfap já vá para o Alemão.
Nesta segunda-feira, as sedes das UPPs Fazendinha e Nova Brasília, no Alemão, foram inauguradas. Elas funcionavam em contêineres. O governador disse que a transição é o início de novo capítulo da pacificação.
Os estagiários serão acompanhados no Alemão por um oficial. “Eles podem ficar por alguns dias. É uma região emblemática onde era impensável a polícia entrar. Faremos estudos de casos da área, que vai funcionar como grande laboratório para futuros policiais”, explicou o coordenador de Ensino e Pesquisa do CPP, major Eliezer de Oliveira.
Governador pede que comandante do CPP fiscalize atividades de perto
O major Eliezer de Oliveira disse que serão colocadas em prática uso de técnicas de menor letalidade, de mediação de conflitos, de Direitos Humanos, e outras. O CPP ficará na antiga base da Força de Pacificação.
“Vou estabelecer aqui treinamento para os policiais e pretendemos com isso ampliar nossa capacidade de diálogo e melhorar o serviço. A nossa vinda é para estarmos mais próximos da comunidade”, contou o comandante do CPP, coronel Rogério Seabra.
Em seu discurso, Cabral deu uma determinação ao comandante do CPP, coronel Rogério Seabra: “Não quero te ver aqui. Vamos colocar mais homens nas ruas. Quero o senhor andando por aí, sabendo da vida de cada soldado”.
A passagem de comando teve direito à desfile dos tanques do Exército. “Ela é singular e vem acompanhada da sensação de dever cumprido, mas é preciso apoio social permanente a moradores”, ressaltou o ministro da Defesa, Celso Amorim.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, destacou o trabalho do Exército. “Nós não chegaríamos a essa área, que era a agência reguladora do crime, sem o Exército”, frisou.
Há 19 meses à frente da pacificação na área, general Adriano será substituído no CML
Ao longo de 19 meses, a Força de Pacificação foi comandada por cinco generais. Alguns ocuparam o posto mais de uma vez, mas sempre sob o comando de apenas um oficial, que participou desde o início da implantação do projeto de pacificação dos complexos do Alemão e da Penha: general Adriano Pereira Júnior, comandante do Comando Militar do Leste (CML). Em setembro, o general deixa o CML e vai para Brasília exercer nova função.
General Adriano deixará o cargo em setembro e vai para Brasília. Para seu posto foi nomeado o general de Divisão Francisco Carlos Modesto, que serve no Ministério da Defesa, em Brasília. A passagem de cargo deve acontecer em agosto. “Entrego o comando da área à Polícia Militar com a certeza da missão cumprida”, despediu-se o oficial. Mês passado, ele ainda atuou como coordenador de segurança da Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.
UPP Rocinha será instalada em agosto
A próxima UPP a ser inaugurada será na Rocinha em agosto, como O DIA noticiou mês passado. A unidade terá 750 PMs e deve começar a funcionar em meados do mês que vem, mas a área já está pacificada desde novembro, quando Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefão do tráfico na área, foi preso.
A Rocinha terá ainda seis bases de apoio na favela. Assim como as outras UPPs, ela também será inaugurada com base provisória e funcionará onde está o comando de policiamento da comunidade, no Parque Ecológico da Rocinha.
O terreno onde será a sede já foi escolhido, e o projeto está na Secretaria de Segurança Pública. Fica na Rua Divinéia. O antigo Posto de Policiamento Comunitário da comunidade também está sendo reformado e será transformado em alojamento para a UPP.
Fonte: / Notimp
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Após 19 meses, Exército passa à PM controle do Alemão
Últimos soldados e blindados foram ontem retirados do complexo de favelas do Rio, que recebeu Unidades de Polícia Pacificadora
MARCELO GOMES
Após 19 meses de ocupação, o Exército transferiu ontem oficialmente o controle do policiamento nos Complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, para a Polícia Militar do Estado. Após a solenidade, o Exército retirou todos os seus homens e veículos blindados do local. A administração da base passou para a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) da PM, que coordena as 25 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) já implantadas na cidade.
A transição do Exército para a PM começou em 18 de abril, quando foram inauguradas as duas primeiras UPPs no Alemão, nos Morros da Fazendinha e Nova Brasília. Também ontem, foram inauguradas as sedes administrativas dessas duas unidades. As duas UPPs contam com efetivo de 660 PMs que vão substituir os cerca de mil militares que faziam o policiamento nos complexos.
No total, os 19 meses de ocupação custaram mais de R$ 330 milhões ao governo federal. A ação ocorreu em novembro de 2010, quando o governador Sérgio Cabral (PMDB) pediu ajuda ao então presidente Lula para que enviasse o Exército ao Rio, quando a cidade vivia uma onda de ataques promovidos por traficantes. O Complexo do Alemão é o segundo maior aglomerado urbano do Rio - até a ocupação, era também um dos principais entrepostos do tráfico de drogas em todo o Sudeste.
Segundo o ministro da Defesa, celso amorim, esse foi um "momento especial" e o período de policiamento pelos militares pode ser considerado positivo. "Essa passagem vem acompanhada do sentimento de dever cumprido", afirmou. O governador Sérgio Cabral (PMDB) agradeceu a ajuda do governo federal e elogiou o empenho das Polícias Civil e Militar. "Quando fizemos a primeira ação no Complexo do Alemão, no primeiro semestre de 2007, havia dez anos que as forças de segurança do Estado não entravam aqui."
Durante a atuação do Exército, 470 pessoas foram detidas e 263, presas. Foram apreendidos 215 quilos de drogas, 38 armas (sendo 12 fuzis), mais de 2 mil munições de diversos calibres, 302 veículos e 197 motos.
Corrupção. O general Adriano Pereira Júnior afirmou que houve poucos casos de desvios envolvendo militares do Exército nesse período. "Se nós considerarmos o todo que nós vivemos aqui e o todo do Rio e compararmos com outras áreas, vemos que os casos foram bastante reduzidos", disse.
Conforme o Estado revelou no domingo, um oficial do Exército se tornou réu na Justiça Militar acusado de ter furtado uma chopeira da casa de um traficante e dois aparelhos de ar-condicionado da residência de uma família, ainda nos primeiros dias da ocupação do Exército no Alemão. O tenente Luiz Octávio de Goes Freitas, de 28 anos, responde em liberdade pelos crimes de furto e abandono de posto.
Fonte: / Notimp
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