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Salgado Filho - Nevoeiros expõem aeroporto precário



Infraero não tem previsão para ampliar pista e instalar o equipamento que facilitaria pousos e decolagens em dias de baixa visibilidade .

NILSON MARIANO .

O viajante que utilizar o Aeroporto Salgado Filho neste mês deve reservar espaço extra na bagagem para um item indispensável: paciência. Chegou maio – mês recordista em nevoeiros que impedem pousos e decolagens –, sem que a Infraero tenha ao menos aprontado o projeto para a ampliação da pista. E pior: não há sequer previsão.

A conjunção de clima adverso com imprevidência administrativa deverá acumular transtornos a passageiros, tripulantes e empresas aéreas. A extensão da pista de 2,28 mil metros para 3,2 mil metros seria condição para instalar o equipamento ILS categoria 2 (na sigla em inglês, Instrument Landing System, ou sistema de pouso por instrumentos), que proporciona maior visibilidade a pilotos em pousos e decolagens. Hoje, o Salgado Filho opera com o ILS categoria 1.

Superintendente da Infraero no Estado, Jorge Herdina sustenta que o plano é implantar o ILS 2 na pista atual, como anunciado há um ano. Ainda não há sinais da instalação, que Herdina diz estar em "produção". Especialistas e pilotos alertam que seria arriscado, mas o superintendente garante a segurança.

A intenção é não esperar pela nova pista, cujo projeto vem sendo adiado há 15 meses. De janeiro de 2011 até o início de abril deste ano, dormitou nas gavetas de especialistas do Exército. No momento, é avaliado na Infraero, em Brasília. Prazo para entrega: indefinido. Herdina admite não saber quando o plano da futura pista será finalizado. Estimativas indicam que pode demorar mais um mês. Se os atrasos persistirem, pode ficar comprometida a meta de concluir a obra em 2013.

Curitiba tem o que falta no RS

O aumento da pista não é apenas um clamor dos gaúchos. É uma exigência da Federação Internacional de Futebol (Fifa) para que Porto Alegre se habilite como sede da Copa do Mundo de 2014. A conclusão do projeto não evitaria os incômodos da temporada de nevoeiros, mas seria um alento a passageiros, pilotos e empresários, que poderiam vislumbrar o fim dos pesadelos.

Nos últimos 10 anos, somente nos meses de maio o Salgado Filho foi paralisado por intermináveis 217 horas e 23 minutos. É como se maio tivesse um dia a menos do que os 31 assinalados no calendário. E a meteorologista Estael Sias avisa: este mês deve ter uma sequência razoável de nevoeiros, devido à umidade persistente no Leste e das variações de temperatura.

Consideradas todas as promessas, o Salgado Filho espera por pista e pelo ILS 2 desde 1997. A reivindicação é que se equipare ao aeroporto que serve Curitiba, que reduziu os fechamentos de pista graças ao ILS 2. O Afonso Pena está tão à frente do Salgado Filho que já projeta o ILS 3 como parte das melhorias para a Copa de 2014. Para o coordenador de pós-graduação em Logística da Fundação Getulio Vargas (FGV), Renaud Barbosa da Silva, a disparidade pode ser explicada por questões políticas, econômicas e operacionais.

– É difícil entender por que o Salgado Filho não dispõe de um ILS de categoria elevada – avalia Renaud.

O que exaspera os frequentadores do Salgado Filho não é apenas a rotina de postergações no projeto. A falta de informações de autoridades – e o excesso de previsões que não se confirmam – agrava a incerteza. A Infraero de Brasília, onde está o plano de ampliação da pista, não se manifesta. ZH entrou em contato com a assessoria, que solicitou a formalização do pedido por e-mail. Não houve retorno.

“É uma injustiça com os gaúchos”

Os passageiros são os mais afetados por nevoeiros, mas não os únicos a reclamar dos fechamentos do Aeroporto Internacional Salgado Filho no outono. Pilotos e tripulantes se queixam de transtornos, como o aumento da jornada de trabalho, enquanto empresários contabilizam prejuízos, como refazer a planilha de voos e conexões.

O diretor de segurança de voos e relações internacionais do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho, destaca que é uma "injustiça" contra o Rio Grande do Sul não equipar o Salgado Filho – estratégico para o Cone Sul – com uma pista maior e o instrumento antineblina ILS 2.

– Para nós, gera a inconveniência de aumentar o tempo de trabalho quando precisamos pousar em Florianópolis ou Curitiba devido ao fechamento do Salgado Filho – diz Camacho.

As empresas também estrilam. O diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins, lamenta que adiamentos ou cancelamentos bagunçam a programação de voos das companhias. Em efeito cascata, alteram conexões e suprimento de aeronaves.

Especialistas em engenharia Aeronáutica consultados por ZH, como o professor James Rojas Waterhouse, da Universidade de São Paulo (USP), atribuem o apequenamento do Salgado Filho a sucessivas omissões dos governos federal, estadual e municipal. A situação pode ser comparada à de um navio com um furo no casco. Nenhum dos tripulantes – presidentes da República, governadores e prefeitos – chamou a si a responsabilidade de tapá-lo.

Fonte: / NOTIMP


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