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70 anos do primeiro disparo da FAB em combate na Segunda Guerra Mundial

O Brasil ainda não estava em guerra contra o nazismo, o Ministério da Aeronáutica tinha apenas 15 meses de criação e os Capitães Aviadores Parreiras Horta e Pamplona estavam no meio da formação operacional nos bombardeiros B-25B Mitchel. Mas em uma tarde do dia 22 de maio de 1942 eles escreveram seus nomes na história da Força Aérea Brasileira (FAB). E a tinta seriam as bombas lançadas sobre o inimigo.

Quatro dias antes, o navio Comandante Lyra havia sido atacado em águas territoriais brasileiras por um submarino italiano, a pouco mais de 330 km de distância de Fernando de Noronha. Era a oitava embarcação do país atingida pelas forças do Eixo. Danificado por disparos de um torpedo, de bombas incendiárias e de disparos de canhão 100mm e metralhadoras, o navio não afundou, mas pegou fogo e deixou uma imensa nuvem de fumaça, visível pelo trajeto que seguiu rebocada até Fortaleza (CE).

A guerra estava próxima. Cada voo da FAB, mesmo os de treinamento, passou a ser realizado com a máxima atenção. Qualquer submarino ou embarcação que não pudesse ser identificada já seria considerado hostil. Bélgica, França, Holanda, Dinamarca, Noruega, Polônia e outros países da Europa, Ásia e África já estavam ocupados pelo Eixo. Crescia a importância estratégica do litoral brasileiro, fundamental para o esforço logístico aliado.

Foi nesse contexto que os pilotos da FAB, ao lado de militares da aviação do exército dos Estados Unidos, decolaram para mais uma missão de treinamento. Os brasileiros se revezavam nas funções de navegador e piloto da aeronave nos vários trechos da missão. Até que às 13h57 daquela sexta-feira, dia 22 de maio, um submarino foi avistado. O comandante do B-25, Capitão-Aviador Oswaldo Pamplona, não teve dúvidas: atacou o alvo. Era o batismo de fogo da FAB na Segunda Guerra.

A decisão rápida do aviador surtiu efeito. O submarino foi pego de surpresa. A 300 metros de altitude, o B-25 sobrevoou a embarcação da proa à popa e lançou 10 bombas de 45 kg. Em segundos, começaram as explosões próximas ao casco. Somente depois do lançamento começou o ininterrupto fogo antiáereo enquanto a embarcação iniciava uma curva e expelia fumaça dos motores diesel. Enquanto o bombardeiro mantinha contato visual com o alvo e informava o comando sobre o ataque, os disparos do canhão de 100 mm continuavam, até que a aeronave desapareceu nas nuvens. Antes do pouso em Fortaleza, mais aviões já haviam decolado para caçar a ameaça inimiga na costa brasileira, mas o alvo não foi mais encontrado.

O submarino era o Barbarigo, da Regia Marina da Itália. Era exatamente o mesmo que havia atacado o Comandante Lyra. Com 73 metros de comprimento, velocidade de até 30 km/h, 2 canhões de 100mm, 4 metralhadoras e 8 tubos para lançamento de torpedos, o Barbarigo foi o primeiro submarino atacado pela Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Até o final conflito no Atlântico Sul, 11 deles foram afundados em cerca de 15 mil missões de patrulha. Um número maior de ataques aconteceu.

História - A FAB utilizou vários modelos de aeronaves nas missões de defesa da costa brasileira, entre eles o PBY-5 Catalina, A-28 Hudson, PV-1 Ventura e PV-2 Ventura. Mas o B-25 já entrou em operação com fama operacional. O primeiro voo do modelo aconteceu em 1940, já durante a Segunda Guerra Mundial, mas o bombardeiro com as peculiares asas de gaivota invertidas participou do conflito em todas as partes do mundo.

Pouco menos de um mês antes do ataque brasileiro ao submarino Barbarigo, 16 aviões B-25B americanos fizeram uma das mais famosas missões de bombardeiro na Segunda Guerra. A partir de um porta-aviões, decolaram e atacaram cidades japonesas como uma resposta à ação japonesa em Pearl Harbor, em abril de 1942. O “raide de Doolitle”, como a ação ficou conhecida em homenagem ao comandante da missão, começou a mais de 1.200 km de distância dos alvos, grande parte sobre território hostil, uma prova do longo alcance e dos bombardeiros. O fato é retratado no filme “Pearl Harbor”.

Quando o Capitão Pamplona decidiu atacar a embarcação desconhecida naquele 22 de maio de 1942, os aviadores da FAB estavam no comando de um dos bombardeiros mais modernos então em operação no mundo. O Brasil possuía 6 B-25, que voavam a partir da Base Aérea de Fortaleza no Agrupamento de Aviões de Adaptação, uma unidade criada para treinar os militares brasileiros para os aviões recém-adquiridos.

O Brasil foi o único país da América do Sul a receber esses bombardeiros ainda durante a Segunda Guerra Mundial. Até 1944, trinta B-25 dos modelos B, C, D e J foram recebidos para unidades que cumpriam missões de patrulha marítima, escolta de comboios de navios e treinamento de bombardeio, a partir das Bases Aéreas de Fortaleza, Recife e Natal. Um B-25C, que não foi formalmente transferido para a FAB, foi utilizado na Itália como avião de transporte de apoio ao 1° Grupo de Aviação de Caça, unidade que entrou em combate na Europa em 1944.

Com o fim da Guerra, milhares de aviões dos Estados Unidos ficaram disponíveis para programas de assistência militar, e o Brasil recebeu mais 64 B-25,

do modelo J, o mais avançado. Essas aeronaves permaneceram em operação até 1970, tendo operado em esquadrões de bombardeio e até no 1° Grupo de Aviação Embarcada, mas sem pousos ou decolagens a bordo do porta-aviões, servindo apenas como plataforma para treinamento dos pilotos antes do recebimento dos bimotores P-16 Tracker.

Os B-25 também fizeram parte da dotação de esquadrões ainda ativos: o 1°/4° GAV, o 1°/5° GAV, o 2°/5° GAV e o 1°/10° GAV, onde cumpriam as missões de reconhecimento, hoje a cargo dos caças A-1. Já designados CB-25 e sem as metralhadoras de auto-defesa, esses aviões encerraram a carreira na FAB com missões de transporte em apoio a bases aéreas e parques de material de aeronáutica.

Brasil caçou submarinos ao longo da costa

A Segunda Guerra chegou às portas do Brasil em 1942. Em três anos, 71 embarcações foram atacadas em águas brasileiras por submarinos inimigos. No total, o país perdeu mais de 30 navios ao redor do mundo, a maior parte deles no litoral brasileiro. Cerca de 1.500 pessoas morreram. Veja arte ao lado.

Com apenas um ano de criação, e em fase de reestruturação, a Força Aérea Brasileira foi convocada para patrulhar o litoral brasileiro. “A guerra submarina, perversa e implacável, prossegue num crescente vertiginoso”, escreveu Ivo Gastaldoni, piloto de patrulha e veterano da Segunda Guerra.

Em apenas três dias do mês de agosto de 1942, o submarino U-507 alemão afundou seis navios e matou 627 pessoas. Essa seqüência de ataques foi decisiva para que o Brasil declarasse guerra aos países do Eixo, em 22 de agosto.

O Brasil tinha como vizinhos as Guianas Francesa e Holandesa, ambas sob o controle nazista e que serviam como posto de abastecimento de submarinos inimigos. Os navios cargueiros com destino aos Estados Unidos, e de lá para o Brasil, precisavam de escolta aérea e naval.

No esforço de guerra, o Brasil criou novas bases aéreas, recebeu equipamentos e treinamento por meio de um convênio firmado com os Estados Unidos. Unidades Aéreas americanas foram enviadas ao país. Nascia a Aviação de Patrulha.


Fonte: Agência Força Aérea


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