Míssil indiano é mais um alerta à ONU
À sombra da inércia das Nações Unidas, que os Estados-membros, alheios à entrada da humanidade em uma nova era, resistem em reformar, cresce a sensação de insegurança internacional, e não apenas pela profunda crise econômica e financeira que consome potências mundiais. Também sem solução, a questão ambiental se agrava a olhos vistos e a fome continua a envergonhar.
Mas o retrocesso se verifica mais fortemente na paralisia em relação à política de não proliferação de armas nucleares, que já traz de volta o espectro da corrida armamentista e da Guerra Fria, com ameaças veladas despontando num cenário de franca disseminação de artefatos bélicos de grande alcance destrutivo. Pior: com o ingrediente extra do risco de tais armamentos caírem em mãos de terroristas, o que teria resultados inimagináveis.
Até hoje, são cinco (China, EUA, França, Reino Unido e Rússia) as nações que compõem o clube atômico, embora não seja segredo que Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte produzam a bomba. Na semana passada, o terror atacou com precisão áreas fortemente policiadas no Afeganistão, reforçando as suspeitas de apoio paquistanês a forças afegãs dos talibãs. Mais uma preocupação, portanto, é o perigo crescente da infiltração de radicais em posições-chaves de órgãos governamentais, sobretudo de inteligência.
Outros sinais recentes de alerta foram a fracassada tentativa norte-coreana de pôr um satélite em órbita, em clara demonstração de força, e, na sequência, o bem-sucedido lançamento, em meio a declarações ufanistas, de um míssil intercontinental indiano.
O Agni V tem potencial para levar ogivas nucleares a até 5 mil quilômetros de distância, raio em que, rumo ao norte, se localizam a capital e a segunda mais importante cidade chinesa, Pequim e Xangai. Rivais históricos em disputa territorial não resolvida, os dois países lideram a corrida armamentista. Mas a Índia também tem problemas na fronteira noroeste, com o Paquistão.
Como é regra cada país ameaçado reforçar o sistema de defesa, fica fácil imaginar o efeito cascata a ser desencadeado pelo míssil indiano, a começar pela expectativa de uma resposta iraniana. Teerã, ressalve-se, já assombra o mundo com investimentos em enriquecimento de urânio e formação de estoques de combustível nuclear. E recebe o tratamento padrão: desgastadas e parciais sanções, como o embargo às compras europeias de petróleo.
A cada peça movida nesse xadrez nefasto, perde a civilização, que já não consegue arbitrar o jogo. Falta representatividade à ONU, cuja ação tem se limitado à imposição de boicotes, determinados segundo interesses do restrito grupo de controle do Conselho de Segurança. Em março, por exemplo, quando líderes de 53 países se reuniram em Seul, na 2ª Cúpula de Segurança Nuclear, destacou-se a importância do papel da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como se a retórica bastasse para recuperar o respeito do organismo.
Na ocasião, sobressaiu declaração do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama: "Ainda há muitos atores ruins em busca desses materiais perigosos". Caberia a ele — como tentou fazer o antecessor, George W. Bush, com a divisão do mundo entre um eixo do bem e outro do mal — decidir quem pode ou não deter tal poder de fogo?
Fonte: / NOTIMP
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