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Defesa - Ranking latino; A crise das armas

Leonardo Paz Neves .

Assim como o Brasil, a América Latina passou por uma estagnação nos investimentos militares nas últimas décadas, consequência direta da crise do endividamento externo vivida por vários países da região nos anos 1980 e 1990. A exceção é o Chile, onde o orçamento da defesa é atrelado às exportações de cobre — medida prevista pela Lei do Cobre, segundo a qual cerca de 10% das receitas externas obtidas com o minério são obrigatoriamente destinadas ao setor militar. O quadro na região, entretanto, está mudando, segundo avaliam os estudiosos.

"Somente há poucos anos, ao perceberem que estava em curso o sucateamento de seus equipamentos militares, os países voltaram a destinar recursos para o campo da defesa", explica o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Antonio Jorge Ramalho. Brasil, Chile, Venezuela e Colômbia são, tradicionalmente, os principais investidores em armas na América Latina. A cada ano, eles se alternam na primeira posição, de acordo com as particularidades de cada um no período estudado.

Três na ponta

Por conta de sua extensão territorial e por ter mais dinheiro, o Brasil costuma liderar o ranking em termos absolutos. O Chile entra na parte superior da lista pelos efeitos da Lei do Cobre, que vincula os investimentos às receitas da exportação do minério. No caso da Venezuela, segundo o coordenador de Estudos e Debates do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro, Leonardo Paz Neves, o presidente Hugo Chávez recorre a um discurso centrado na "ameaça externa, sobretudo dos EUA". Dessa maneira, ganha abertura para investir nas Forças Armadas. Os três países têm em comum a vantagem de contar com receitas da exportação de commodities, supervalorizadas nos últimos anos.

Para finalizar, segundo o analista, vem a Colômbia, que há mais de 40 anos vive uma guerra civil na qual o Exército precisa combater uma guerrilha endêmica. O país tradicionalmente dedica uma porcentagem alta do PIB ao setor militar, mas esses investimentos ganharam mais destaque durante o governo do presidente Álvaro Uribe, entre 2002 e 2010. "Uribe teve uma postura de embate, de enfrentamento com a guerrilha. E, para isso, foi preciso investir", conclui. (RT)

Se for preciso defender uma missão de paz em outro país, o Brasil precisa ter condições de projetar poder e fazer valer o que está falando"

A crise das armas

Com EUA e Europa sob austeridade, relatório aponta estagnação nos gastos militares. Brasil fica aquém das ambições diplomáticas

Renata Tranches

Para ampliar sua projeção internacional, o Brasil precisará investir muito mais do que faz hoje em armamento. O país tem gastos com defesa inferiores aos de todos os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Na comparação com os quatro parceiros do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), supera apenas o último. Ainda assim, um relatório anual divulgado na terça-feira pelo Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (Sipri, por sua sigla em inglês) mostrou que o Brasil está entre os seis grandes investidores globais que reduziram as despesas com material bélico em 2011, por conta da crise financeira ou de ajustes orçamentários. Analistas da área de defesa e estratégia ouvidos pelo Correio são unânimes ao afirmar que a capacidade militar nacional está muito aquém das ambições da diplomacia brasileira.

Segundo o relatório do Sipri, a crise global fez com que governos, especialmente no Ocidente, reduzissem os gastos com armas. Em termos mundiais, os números praticamente estagnaram, com um leve aumento de 0,3%. O dado assinala o fim de uma tendência de elevação acentuada, mantida entre 1998 e 2010. "Os efeitos pós-crise, em particular as medidas para redução do deficit nos EUA e na Europa, acabaram com uma década de aumentos nas despesas militares, ao menos por enquanto", disse o chefe do Projeto Despesas militares do Sipri, Sam Perlo-Freeman, por meio de um comunicado. O cenário não impediu, porém, que China e Rússia aumentassem seus gastos. Nem que os americanos continuassem na liderança isolada em investimentos no setor (veja o mapa).

A estagnação reforça um cenário que vem sendo apontado nos últimos relatórios do instituto, segundo os quais as despesas militares dos países latino-americanos, em especial do Brasil, representam porcentagens muito baixas do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2011, o país destinou 1,5% do PIB aos gastos militares. Desse montante, porém, 70% a 80% foram gastos com folha de pagamento e previdência. Segundo o analista Héctor Luis Saint-Pierre, consultor do Conselho de Defesa da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), estão incluídas nessas quantias as manobras militares com treinamentos, inclusive para missões de paz. "Tudo isso se contabiliza, mas não são gastos especificamente em armamentos", explica Saint-Pierre, que também é professor do programa de pós-graduação em relações internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP). "A proporção militar do Brasil não está à altura de sua projeção estratégica no cenário internacional".

Fonte:
/ NOTIMP


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