Aeroportos regionais se tornam alternativa logística para transporte de passageiros e cargas
Genilson CEZAR .
A pequena Ibiúna, município paulista de 71 mil habitantes, a 60 quilômetros de São Paulo, vive momentos de expectativa. Nos próximos dias, a Câmara Municipal deve aprovar o “protocolo de intenções”, firmado no mês de março entre a prefeitura local e a Eiko Engenharia, para a construção de um aeroporto com capacidade para movimentar 3,5 mil passageiros por dia, em um terreno de 151 hectares, o equivalente a 1,5 milhão de metros quadrados.
Se aprovado o acordo inicial, a Eiko, que já atua nas obras de modernização do Terminal de Cumbica, em Guarulhos (SP), terá prazo de 60 dias para apresentar o plano de trabalho técnico do aeroporto, cuja previsão de entrega é de 36 meses. O investimento para a construção – com terminal de passageiros e de carga – é estimado em R$ 500 milhões.
Mas outro volume de recursos do mesmo valor deverá ser aplicado por empresas privadas em empreendimentos no entorno da obra, como hotéis, shopping, estacionamentos e até uma nova rodoviária. “A localização de Ibiúna é estratégica para sediar um aeroporto na região sudeste do Estado de São Paulo”, diz Paulo Niyama, secretário de saúde e de governo da Prefeitura de Ibiúna. A cidade está a 40 quilômetros do Rodoanel, que interliga as principais rodovias paulistas e conta com uma estrada de ferro que a liga ao porto de Santos.
A perspectiva de construção de mais um aeroporto no interior do Estado de São Paulo amplia as oportunidades de negócio da aviação regional. Estudo da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional (Abetar), realizado no fim do ano passado, identificou um grande potencial de demanda nos mais de 200 aeroportos regionais do País, o que abre a perspectiva para investimentos privados.
“Só para atender ao crescimento da demanda de 174 aeroportos regionais, serão necessários investimentos de R$ 2,4 bilhões até 2015”, afirma Anderson Correia, especialista em transporte aéreo, responsável pelo estudo da Abetar. Para a entidade, o sucesso das licitações realizadas para a concessão dos aeroportos de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte; Campinas e Guarulhos, em São Paulo; e de Brasília, que renderam ao governo cerca de R$ 30 bilhões, deve estimular as ações visando à privatização dos aeroportos regionais.
A UTC Participações, uma das empresas do consórcio vencedor da licitação para modernização do aeroporto de Viracopos, em Campinas, diz que as pretensões do grupo são de participar de outras concessões aeroportuárias no País.
“Não só pretendemos como já estudamos algumas oportunidades presentes no mercado brasileiro, de aeroportos regionais e menores, que podem se transformar num bom negócio”, afirma João Santana, presidente da Constran e diretor da UTC, a holding que coordena o projeto de Viracopos. “Temos avaliado algumas oportunidades em São Paulo, na Bahia e na Amazônia.”
De acordo com Santana, a aviação regional tem crescido muito no volume de passageiros e de cargas, por conta do crescimento econômico. Um dos alvos da UTC é o aeroporto João Durval Carneiro, em Feira de Santana, a 109 quilômetros de Salvador. No ano passado, o terminal passou por reformas – impermeabilização e rejuvenescimento da pista, construção de muro de proteção e limpeza da área –, com investimentos de R$ 1,8 milhão.
Mas agora foi contratada uma consultoria com recursos do Banco Mundial para elaborar um projeto mais amplo de modernização, que deverá contar com dinheiro do setor privado. O objetivo é transformá-lo em um polo aéreo regional para distribuição de cargas mais leves, como produtos eletroeletrônicos.
“No Nordeste, estamos vivendo um intenso aumento do tráfego no modal aéreo, de carga e de passageiros, por conta da expansão da economia”, diz José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras e atual secretário do Planejamento da Bahia. “Para isso, precisamos contar com o apoio da iniciativa privada.” Grandes empresas privadas nacionais têm apostado nesses aeroportos regionais como forma de evitar o congestionamento dos grandes terminais aéreos brasileiros.
Um exemplo disso é a Azul, do empresário americano David Neeleman, que escolheu Viracopos como base de sua operação de transporte de passageiros e cargas. Atualmente, a companhia é responsável por 70% do volume de carga transportada no Brasil a partir do aeroporto campineiro. “Tivemos um crescimento de 90% na tonelagem transportada no ano passado”, diz Maria Fan, gerente-geral da Azul Cargo, que opera desde 2009, em mais de 3.500 cidades brasileiras, atendendo 49 aeroportos.
Entre os serviços oferecidos pela Azul Cargo, predominam as encomendas expressas de pequeno porte, que são o foco da empresa, com entregas de porta em porta. Eletroeletrônicos, informática, peças de reposição, maquinários, medicamentos, confecções, além de documentos e amostras urgentes, figuram entre os principais produtos enviados.
Fonte: / NOTIMP
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