O caçador de sucata: Como o juiz Marlos Augusto Melek venceu a burocracia para livrar os aeroportos de 57 aviões sucateados
Guilherme Queiroz .
Em junho de 2011, o juiz federal da Justiça do Trabalho no Paraná Marlos Augusto Melek percorria o pátio do Aeroporto de Congonhas numa das rotineiras visitas ao terminal paulistano. Diante dos aviões sucateados da antiga Vasp, Melek analisava um destino para os bens da companhia aérea que faliu em 2008, deixando para trás dívidas de R$ 3,5 bilhões, que incluem um passivo trabalhista de R$ 1,5 bilhão, com 15 mil funcionários. Veio então uma ideia simples: por que não reunir artigos da empresa em kits colecionáveis e vendê-los para aficionados da AVIAÇÃO?
Dois meses depois, três mil interessados compareceriam ao leilão com a esperança de arrematar uma parte da memória da Vasp. Mais que ressarcir os credores da companhia, o evento é um exemplo das iniciativas gestadas no programa Espaço Livre, do qual o juiz é mentor e coordenador. Na segunda-feira 6, o programa leiloou por R$ 133 mil – um ágio de 33% – um Boeing 737-200 da companhia que quebrou nas mãos do empresário Vagner Canhedo, uma relíquia com painéis de instrumentos intactos e bancos de couro preservados, que se transformará em brinquedo num bufê infantil em Araraquara, interior de São Paulo.
Aviador nas horas vagas, o paranaense de 36 anos chegou ao Conselho Nacional de Justiça em outubro de 2010 a convite da ministra Eliana Calmon, corregedora nacional de Justiça. Era a oportunidade a fim de buscar a solução para algo que o incomodava. "Lia nas revistas especializadas que havia muita reclamação no meio aeronáutico contra a inércia da Justiça", disse Melek à DINHEIRO. Com o aval do conselho, ele desenhou o projeto para remover a sucata de aviões que há anos entulha os pátios de aeroportos Brasil afora.
Avançar na tarefa significava percorrer muitas instâncias judiciais, envolvidas não só no processo da Vasp como nos da Transbrasil, Varig, VarigLog e de outras empresas que, falidas, deixaram 57 carcaças de aeronaves para trás. O raciocínio econômico permeia todas as iniciativas do Espaço Aberto. Cada um dos dez aviões da Vasp estacionados em Congonhas custava R$ 1,2 mil por dia à massa falida da companhia. Trata-se de uma dívida impagável. Ao liberar os 118 mil metros quadrados ocupados pelas aeronaves, a Infraero volta a explorar os espaços, o que pode lhe render até R$ 2,4 mil em taxas por dia.
Fonte: / NOTIMP