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Especial: EUA / USAF e o cancelamento do contrato de US$ 355 milhões por 20 Super Tucano da Embraer



A Força Aérea dos Estados Unidos informou nesta terça-feira que está cancelando o contrato de US$ 355 milhões para fornecimento de 20 aviões Super Tucano, da Embraer, citando problemas com a documentação.

Veja fotos do avião Super Tucano
Igor Gielow: Cancelamento da compra de aviões é revés para a Embraer

A Força Aérea americana disse que vai investigar e refazer a licitação, que também está sendo contestada na Justiça dos EUA pela norte-americana Hawker Beechcraft após sua aeronave AT-6 ser excluída da competição --o que levou o negócio a ser suspenso no começo de janeiro. O contrato havia sido concedido pela Força Aérea dos EUA para a Embraer e a parceira Sierra Nevada Corp.

No ocasião, a Força Aérea havia dito que acreditava que a competição e a avaliação para seleção do fornecedor tinham sido justas, abertas e transparentes. Hoje, porém, mudou o tom.

"Apesar de buscarmos a perfeição, nós as vezes não atingimos nosso objetivo, e quando fazemos isso temos que adotar medidas de correção", disse nesta terça-feira o secretário da Força Aérea, Michael Donley, em comunicado.

"Uma vez que a compra ainda está em litígio, eu somente posso dizer que o principal executivo de aquisições da Força Aérea, David Van Buren, não está satisfeito com a qualidade da documentação que definiu o vencedor."

O comandante da área de materiais da Força Aérea dos Estados Unidos, Donald Hoffman, ordenou uma investigação sobre a situação, afirmou o porta-voz da Força Aérea.

FAB/Divulgação
O Caça Super Tucano, projetado para missões de ataque e treinamento, atinge 590 km/h
O Caça Super Tucano, projetado para ataque e treinamento

OUTRO LADO

Procurada, a Embraer afirmou que não sabia do cancelamento e que, no momento, não havia quem pudesse comentar o caso, visto que todos aqueles que poderiam responder estavam em reunião.

O contrato, em negociação há um ano, gerou resistências, principalmente entre congressistas do Kansas, Estado-sede da Hawker. Pedidos de investigação internacional para apurar eventual subsídio do Brasil à Embraer chegou a ser cogitado.

A avaliação é que um contrato dessa magnitude (em momento de crise econômica) e um setor tão sensível não podem chegar às mãos de uma empresa estrangeira.

PACOTE DE SERVIÇOS

O negócio havia sido anunciado no final de 2011 e incluía, além do fornecimento das aeronaves, um pacote de serviços, como treinamento de mecânicos e pilotos responsáveis pela operação do avião.

Pelo contrato, a Embraer teria 60 meses para entregar esse primeiro lote, prazo que começaria a contar já neste mês. O primeiro avião teria de ser entregue em 2013.

A unidade de São José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP), produziria grande parte do avião. A montagem final seria feita nos EUA.

A companhia mantinha expectativas de vender mais 35 aviões, o que poderia elevar o contrato à cifra de US$ 950 milhões.

DEFESA

O fornecimento das 20 unidades do A-29 Super Tucano era o primeiro contrato da Embraer com a Defesa americana.

Quando anunciou o contrato, a Embraer disse que o negócio seria "uma grande vitrine". "Esse é o primeiro contrato com a Força Aérea dos EUA. Esse é um item sensível no maior mercado de defesa do mundo. Muitos países vão olhar isso", disse na ocasião Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança.

Com esse pedido, a Embraer alcançaria 200 encomendas do modelo Super Tucano (desenvolvido pela FAB em 1995 e exportado para vários países do mundo). Apenas 40 precisam ainda ser entregues, mas esse número inclui o pedido que havia sido feito pela Força Aérea americana.

O A-29 Super Tucano, projetado para missões de contra-insurgência, atualmente é empregado por seis forças aéreas e possui encomendas de outras, segundo a Embraer.

De acordo com a licitação, as aeronaves da Embraer seriam utilizadas para treinamento avançado em vôo, reconhecimento e operações de apoio aéreo no Afeganistão.

Eleição nos EUA e caça francês são decisivos para cancelamento

Pressão da indústria e notícias favoráveis ao Rafale pesam contra Super Tucano

IGOR GIELOW

O cancelamento e revisão da compra dos aviões Super Tucano por parte dos EUA decorre de uma combinação de fatores, alguns mais comezinhos, outro de maior implicação estratégica.

Primeiro, há as eleições americanas deste ano e a forte pressão da indústria bélica local contra a entrada de qualquer ator estrangeiro em seus domínios.

Assim como em 2004, quando a Embraer viu cancelada uma concorrência ainda mais importante para o fornecimento de aviões de alerta antecipado ao Exército dos Estados Unidos, o discurso de fabricantes e políticos alegando a perda de empregos americanos falou alto.

Desta vez, a brasileira tinha um produto único em mãos, e uma venda para a única superpotência do mundo agregaria valor inestimável para negócios futuros.

Há mais. O Departamento de Estado americano apoiava a compra de olho em uma cooperação mais ampla na área de defesa -em outras palavras, para facilitar politicamente as chances do Boeing F/A-18 na concorrência para aquisição de caças da Força Aérea Brasileira.

A escala dos negócios é incomparável, R$ 600 milhões nos Estados Unidos e talvez R$ 10 bilhões aqui, mas o ponto dos americanos era o de estabelecer uma relação de confiança hoje inexistente na área ao abrir o maior mercado de defesa do mundo ao Brasil.

Só que do anúncio da vitória e posterior suspensão da compra dos Super Tucanos para cá houve uma série de notícias favoráveis ao concorrente francês na disputa dos caças, o Dassault Rafale.

O anúncio de que a Índia deverá comprar o modelo e a subsequente viagem do ministro Celso Amorim (Defesa) ao país asiático para coletar informações colocaram novamente o avião como favorito na disputa.

Isso, nas palavras de uma pessoa ligada aos negociadores americanos ao analisar o caso ontem, "foi uma ducha de água fria".

Assim, não é nada casual o cancelamento da compra dos Super Tucanos a essa altura, ainda que ele possa vir a ser reavaliado mais para a frente.

Fonte:

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Opção por Embraer foi atacada nos EUA

Escolha da empresa brasileira tornou-se fonte de atritos entre os governos da Flórida e do Kansas e sofreu críticas de políticos republicanos

DENISE CHRISPIM MARIN , CORRESPONDENTE / WASHINGTON , ROBERTO GODOY

Desde a escolha da Embraer para fornecimento de 20 aviões A-29 Super Tucano, oficializada em 30 de dezembro, a decisão da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) tem sido criticada duramente por políticos republicanos. Também tornou-se fonte de atritos entre os governos dos Estados da Flórida, que abriga instalações da Embraer, e do Kansas, onde se encontra a sede da Hawker Beechcraft.

A escolha da Embraer significaria a perda de empregos em Wichita. A cidade está sob risco de ver fechada outra facilidade do setor aeronáutico, desta vez da Boeing Company. A opção da USAF pela Embraer havia se tornado também munição eleitoral contra Obama. O pré-candidato republicano Newt Gingrich criticara pelo menos duas vezes a escolha dos aviões da Embraer.

Em comunicado, o deputado federal Mike Pompeo, republicano de Kansas, afirmou ter chamado a atenção para o fato de "algo não cheirar bem" nessa licitação. "Estou contente por ter seguido os meus instintos e lutado pela Hawker Beechcraft e pelos empregos que ela gera em Kansas. Eu aplaudo a USAF por ter, finalmente, começado a eliminar esse véu de sigilo", afirmou.

Visita. O Itamaraty e o Departamento de Estado americano esperavam que a Justiça desse um parecer favorável à compra dos aviões da Embraer pela USAF, questionada pela Hawker Beechcraft antes da visita da presidente Dilma Rousseff a Washington, no dia 9. A decisão foi submetida à Corte Federal de Apelação, mas agora, com a desistência do negócio pela Força Aérea americana, perde o objeto .

Embora não estivesse entre os temas formais de discussão das equipes de Dilma e do presidente dos EUA, Barack Obama, o contrato da USAF com a Embraer seria um exemplo da iniciativa da Casa Branca de atrair investimentos brasileiros para gerar empregos no país.

Para atender ao pedido, a Embraer estava decidida a ampliar suas instalações na Flórida, para adequá-la à exigência de produção parcial dos aviões nos EUA ou, ainda, a montar uma linha na planta de sua parceira, a americana Sierra Nevada Corporation, em Sparks, Nevada.

Também alimentava a expectativa de ver a encomenda elevada a 55 unidades, o equivalente a US$ 950 milhões, e receber encomendas de outros parceiros dos EUA na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O primeiro avião do pacote seria entregue em fevereiro de 2013. O acordo previa fornecimento de peças, componentes, documentação técnica e treinamento de pessoal. / COLABOROU GERSON MONTEIRO, ESPECIAL PARA O ESTADO

Atitude americana pode influenciar na escolha dos caças

Análise: Roberto Godoy

O cancelamento da encomenda dos 20 Super Tucanos para a aviação militar americana não diminui o bom nome do avião brasileiro de ataque leve. É, a rigor, um movimento para produzir efeito no ano eleitoral dos Estados Unidos.

A concorrente local Hawker Beechcraft, derrotada no confronto técnico entre seu avião, o AT-6, e o Super Tucano da Embraer, tratou de anunciar que, sem o contrato de US$ 355 milhões com possibilidade de expansão até US$ 950 milhões, seria obrigada a encerrar as atividades de uma fábrica de seu complexo de Wichita, fechando 1.400 vagas, diretas e indiretas. Não é um bom argumento para uma corporação que, tentando reduzir prejuízos, transferiu para Chiuaua, no México, três facilidades industriais e, claro, exportou os devidos empregos.

Não é a primeira experiência da Embraer com o amargo modo de operar do setor de Defesa americano. Em 2004 o Pentágono deu a vitória à companhia do Brasil em uma licitação cujo valor era estimado entre US$ 7,5 bilhões e US$ 10 bilhões para fornecimento de até 58 aviões de inteligência. A concorrência foi cancelada pouco depois.

Imbatível como máquina militar, o Super Tucano acumula 18 mil horas de voo de combate, foi escolhido por sete países e deve ser o selecionado também pelo governo do Peru. É uma solução engenhosa, reunindo a bordo de um avião relativamente barato, a tecnologia eletrônica de última geração e um considerável poder de fogo.

A questão a ser definida é se a perda do contrato dos EUA vai influenciar a decisão da presidente Dilma Rousseff na escolha do novo caça avançado da FAB. A americana Boeing é uma das três finalistas, com a Dassault francesa e a Saab sueca. Os fatos de ontem podem ter o poder de apressar a resolução do processo.

Fonte: / NOTIMP









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