Brasil ajudará Suriname a reformar Defesa
Ministros brasileiros e do país vizinho se reuniram para ajustar os termos da cooperação .
ROBERTO GODOY .
O governo brasileiro vai apoiar a reorganização da estrutura militar e de Defesa do Suriname, país de 487 mil habitantes e 1.840 soldados, na fronteira norte.
Na semana passada, os ministros da área de ambas as nações, Celso Amorim e Lamoure S. Latour, reuniram-se na sede da Embraer, em São José dos Campos, para ajustar os termos da cooperação.
O Suriname quer adquirir de dois a quatro Super Tucanos, turboélices de ataque leve. Quer também navios-patrulha de 500 toneladas, da Emgepron, empresa mantida pela Marinha.
Latour disse que os seis blindados Cascavel EE-9, armados com um canhão 90 mm, e os 15 Urutus, para transporte de tropas, recebidos do Brasil em 1983, precisam passar por um processo de revitalização. As forças surinamesas necessitam de 100 caminhões e cerca de 80 veículos diversos. Gostariam de mandar oficiais para as escolas de formação do Brasil. O pacote inclui ainda um sistema eletrônico de comunicações.
Empresários do setor ouvidos pelo Estado avaliam que os negócios em discussão podem chegar aos US$ 150 milhões - dependendo das especificações, por exemplo, dos componentes de bordo dos aviões e dos navios. Isso significa 8 vezes o orçamento anual da Defesa do Suriname. Nos últimos seis exercícios, essa rubrica tem variado em torno de US$ 20 milhões.
Aos negócios. O ministro da Defesa, Celso Amorim, determinou ao secretário de Produtos de Defesa, Murilo Barboza, que faça a avaliação da abertura de uma linha especial de crédito para atender à demanda do Suriname.
O problema ficou para a última parte do encontro, com a participação dos quatro chefes militares brasileiros - almirante Júlio Moura Neto, da Marinha, general Enzo Peri, do Exército, brigadeiro Juniti Saito, da Aeronáutica e general José de Nardi, do Estado-Maior Conjunto. O ministro Latour solicitou a criação de mecanismos para ter acesso aos dados do satélite brasileiro de sensoriamento remoto e também a informações produzidas pela sofisticada rede digital do Sipam, o Sistema de Proteção da Amazônia. Latour considera a ferramenta indispensável para combater ações ilícitas, como voos clandestinos do tráfico de drogas e de contrabandistas.
É um tema delicado. O atual presidente do Suriname, Dési Bouterse, eleito em 2010, foi condenado na Holanda a uma pena de 11 anos, que pode chegar a 16, por tráfico de drogas. Alega que se trata de "armação política". O DEA, agência antinarcóticos americana, qualifica o país como uma importante conexão das rotas de circulação de cocaína.
Aos 65 anos, tendo ocupado a presidência nos anos 80, Bouterse escapou de ter seu país invadido pelos Estados Unidos há pouco menos de 29 anos. A intervenção foi feita pelo governo do Brasil. O presidente era João Figueiredo, que recebeu em abril a informação de que o presidente Ronald Reagan havia decidido pela intervenção militar no Suriname. A inteligência americana havia comprovado a presença de soldados de Cuba no país. Seriam cerca de 400 deles, em instalações fechadas, com características de centros de treinamento.
A presença de um núcleo multiplicador da revolução socialista cubana no continente era inaceitável. Figueiredo reagiu depressa. Mandou a Paramaribo, no avião presidencial, o general Danilo Venturini, secretário do Conselho de Segurança Nacional, com a missão de oferecer ao líder surinamês, o mesmo Desi Bouterse, suporte técnico em setores estratégicos, linhas de crédito e parceria em programas de infraestrutura - com o compromisso de afastamento rápido e inequívoco de Havana.
Deu certo. No dia 26 de outubro o embaixador cubano, Oscar Cardenas, deixou o país. Seis dias mais tarde só o zelador permanecia na representação diplomática. O episódio implicou uma certa tutela brasileira sobre o Suriname. Foi aberto um crédito de emergência de US$ 10 milhões e o Brasil entregou os 21 blindados Cascavel e Urutu.
Fonte: / NOTIMP