Aeroportos: Que tenham sucesso
Os ganhadores dos leilões dos três aeroportos são instituições que acreditam na economia brasileira .
Benjamin Steinbruch .
Foi uma demonstração de força do capital nacional. Ninguém tira esse mérito do evento da semana passada, quando a administração dos três maiores aeroportos do país foi concedida à iniciativa privada com o compromisso de pagamento de R$ 24,5 bilhões à União, na primeira grande operação de privatização do governo petista.
A avaliação equilibrada desse evento permite comemorações, mas também exige cuidados. Não se justificam as observações críticas sobre a ausência, nos consórcios ganhadores, de operadores de aeroportos de países desenvolvidos.
No aeroporto de Cumbica, que serve à região metropolitana de São Paulo, faz parte do consórcio a administradora de aeroportos da África do Sul, inclusive o de Johannesburgo. No de Brasília está uma companhia argentina e, em Viracopos, uma francesa com forte presença na África e em um aeroporto de menor porte na própria França.
Não se poderia imaginar que as maiores operadoras do chamado Primeiro Mundo pudessem ter grande ímpeto para participar do leilão brasileiro neste momento pela obvia razão de que há uma crise brutal no Primeiro Mundo. É razoável, portanto, imaginar que essas empresas tenham pouco apetite para assumir maiores riscos enquanto persistir a indefinição dos rumos da atual crise. Algumas até participaram do leilão, inclusive uma alemã e outra suíça.
Outra avaliação crítica diz respeito à presença dos grandes fundos de pensão brasileiros no negócio. Do consórcio vencedor em Cumbica, cuja concessão vai custar R$ 16,2 bilhões por 20 anos, participam os fundos de previdência do Banco do Brasil, da Petrobras e da Caixa Econômica Federal.
Nada diferente se pode esperar de instituições como essas, cuja obrigação é administrar recursos que serão exigidos no longo prazo pelos beneficiários dos fundos.
Ao adquirir participação na operação de um aeroporto como o de São Paulo, pelo qual passam 30 milhões de passageiros por ano e 160 mil pessoas por dia, os fundos estão apostando num negócio que consideram rentável no longo prazo. E não há razão para não acreditar nisso. Qualquer beneficiário, em sã consciência, vai preferir que seu fundo de pensão dê prioridade a bons investimentos que permitam rentabilidade no longo prazo e não a operações de curto prazo, que podem dar lucros imediatos, mas não garantem a longevidade do fundo.
A terceira avaliação crítica refere-se ao fato de que o BNDES deverá financiar 60% das obras civis e 80% dos recursos necessários para a compra de equipamentos nacionais pelos grupos vencedores. Aqui a crítica é pueril, porque cabe ao banco apoiar o desenvolvimento e dele se espera que financie projetos como esses, vitais para modernizar a infraestrutura do país.
Pode dar errado? Pode. Nenhum negócio tem 100% de certeza, até porque o risco é inerente à iniciativa empresarial. E, nesse caso, caberia à autoridade pública e à Infraero, que terá 49% do negócio em cada uma das três concessões, intervir a tempo para que não haja deterioração dos serviços aeroportuários, dada sua natureza essencial.
Supõe-se, porém, que os ganhadores dos leilões tenham feito simulações aprofundadas sobre as receitas e os retornos de seus investimentos. Não são recomendáveis comparações que consideram os lucros atuais dos aeroportos insuficientes para pagar o investimento necessário para a obtenção da outorga.
Para refrescar memórias, observamos que, quando participamos da privatização da Vale, a companhia estatal lucrava anualmente
R$ 517 milhões. Esse foi o valor do resultado da mineradora em 1996, último ano como estatal, que era uma das mais bem administradas pelo Estado. Mesmo assim, três anos depois, em 1999, o lucro havia subido para R$ 1,3 bilhão, apesar de ter sido esse o período da "crise da Ásia". A mudança foi consequência das reestruturações e da eficiente administração privada.
Como nos anos 1990, os ganhadores dos leilões dos três grandes aeroportos são pessoas e instituições que acreditam na economia brasileira e no capitalismo nacional. Que tenham sucesso.
BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.
Fonte: / NOTIMP
Foto: Andomenda