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Aeroportos: Leilão reúne grupos de quatro continentes



Fábio Pupo .

Nos últimos anos, poucos países tiveram um crescimento tão acentuado no setor da aviação civil quanto o Brasil. Somada à urgência dos eventos esportivos de 2014 e 2016, a forte demanda levou o governo a realizar as concessões de aeroportos e, assim, despertou em peso o interesse da iniciativa privada a um mercado com receita líquida de R$ 2,6 bilhões anualmente e ritmo de expansão três vezes superior ao da média mundial. Daqui a dois dias, grupos empresariais de quatro continentes entregam suas ofertas ao governo na tentativa de abocanhar parte dessas oportunidades. O resultado só sai depois, no dia 6 de fevereiro.

Um dos aeroportos que serão privatizados, o de Guarulhos (na região metropolitana de São Paulo) movimenta, sozinho, 26,8 milhões de passageiros ao ano - quase o mesmo que os sete aeroportos administrados por uma das interessadas em sua concessão, a ANA Aeroportos de Portugal. Também movimenta mais que o aeroporto de Zurique, administrado pela Flughafen Zurich AG - outra concorrente. Em 2010, o crescimento, o crescimento da aviação civil no Brasil foi de 21,3% em relação ao ano anterior, muito acima do 6,6% de crescimento mundial.

Os números brasileiros chamaram a atenção das empresas estrangeiras antes mesmo de o governo federal exigir a participação delas nos consórcios participantes (o edital obriga as sociedades a terem pelo menos 10% das ações sob propriedade de um operador de aeroporto com movimentação superior a cinco milhões de passageiros por ano em pelo menos um dos últimos 10 anos, e essa experiência só existe entre as empresas de fora). Entre as nove sociedades já confirmadas, segundo apurou o Valor, pelo menos quatro tinham firmado memorandos de entendimento com companhias de fora para estudar os editais antes da exigência.

Embora haja grande interesse, algumas empresas brasileiras reivindicam mais tempo para fechar as sociedades. "Serão só 45 dias entre a divulgação do edital e a entrega de propostas. Essas negociações demoram, trata-se de um casamento, e com comunhão de bens", diz Claudia Bonelli, advogada do escritório TozziniFreire.

Hoje, os interessados nos terminais brasileiros podem ser divididos em cinco grupos - representantes europeus (como Reino Unido, Alemanha, Suíça, Portugal e Espanha), asiáticos (Cingapura), pelo menos uma americana e representantes de regiões em desenvolvimento (da África do Sul e da Argentina). A maioria evita dar detalhes da composição dos consórcios, do apetite e até mesmo da efetiva participação no leilão - embora admitam estudar os projetos brasileiros.

Um dos primeiros a anunciar parceria local foi o grupo alemão Fraport, que participa direta ou indiretamente da gestão de 13 aeroportos pelo mundo. Há quatro meses, fechou parceria com o grupo especializado em concessões de estradas EcoRodovias. Por contar com um dos mais lucrativos operadores internacionais (€ 271 milhões anuais), e ainda ter como parceiro um grupo brasileiro com baixo endividamento e caixa forte (R$ 750 milhões disponíveis), a sociedade composta por 50% de ações de cada grupo é considerada hoje uma das mais fortes para o leilão.

Caso abocanhe a concessão, Guarulhos seria o terceiro aeroporto mais movimentado no portfólio da Fraport, depois de Frankfurt, na Alemanha; e de Nova Déli, na Índia. Felix von Berg, diretor de projetos da Fraport, diz que a presença da Infraero na sociedade que irá gerir os aeroportos não chega a ser uma novidade nas operações do grupo. "Na Índia, nossa sociedade que administra o aeroporto tem 23% de participação de um agente governamental. Funciona", diz.

Entre os europeus, também promete entrar com apetite na disputa a BAA - descendente da extinta British Airports Authority, empresa privatizada em 1987 pelo governo britânico. Com lucro líquido de mais de US$ 800 milhões anualmente, firmou sociedade com o banco BTG Pactual e com o grupo brasileiro Queiroz Galvão. Desde 2006, a empresa é controlada pela espanhola especializada em infraestrutura Ferrovial - que a comprou por US$ 19 bilhões.

Também já está confirmada a presença da CCR (dos grupos Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa) com a parceira de longa data Flughafen Zurich AG, operadora do aeroporto de Zurique, na Suíça. "A empresa [CCR] está plenamente preparada para apresentar suas propostas", informou o grupo por meio de nota. A Zurich assessora os acionistas Camargo e Andrade no projeto de um terceiro aeroporto em São Paulo. Fontes do setor acreditam que a Aéroports de Paris (ADP) também vai participar do processo, em parceria com a Carioca Engenharia.

Oriundos de regiões hoje turbulentas da Europa também podem marcar presença na disputa. Particularmente curioso é o interesse da espanhola Aena e da portuguesa ANA Aeroportos de Portugal no Brasil, visto que as duas tiveram suas privatizações cogitadas pelos governos de cada país. Empresas brasileiras, inclusive (como a CCR), têm interesse nas europeias.

O governo espanhol pretendia fazer a venda de 49% da estatal espanhola, que geraria € 8 milhões para os cofres públicos. A privatização, no entanto, foi suspensa por conta da crise na Europa e da consequente subvalorização dos ativos. Com resultado líquido negativo, a Aena estuda os editais brasileiros em parceria com a OHL Brasil.

Já a privatização da portuguesa ANA avança. Representantes do governo disseram neste mês que as regras para a disputa serão lançadas ainda no primeiro semestre. A companhia ibérica administra 27,6 milhões passageiros anualmente e pretende disputar os terminais brasileiros em parceria com as brasileiras ATP, CVS e Encalso e as argentinas Cartellone e CCI. "A parceria está confirmada, embora possam entrar mais parceiros. Estamos estudando", diz Luciano Amadio Filho, presidente da CVS. Mas os resultados não tão expressivos da empresa portuguesa podem enfraquecer o consórcio na disputa. Seu resultado líquido, € 55 milhões, é praticamente um quinto do da Fraport.

A disputa contará com operadores internacionais de primeiro nível. A Changi, de Cingapura, administra o melhor aeroporto do mundo segundo a organização independente Skytrax. As propostas para os terminais brasileiros estão sendo estudadas em sociedade com a Odebrecht Transport.

A brasileira Fidens Engenharia firmou parceria com a operadora americana ADC & HAS, sócia da Andrade Gutierrez em outros projetos e que chegou a covnersar com a Odebrecht.

Não só europeus e americanos estão na disputa. Representantes de países em desenvolvimento também prometem marcar presença no leilão. Executivos do grupo indiano especializado em infraestrutura GMR (sigla para Grandhi Mallikarjuna Rao, fundador) levantavam, até há poucos dias, possíveis sociedades com empresas brasileiras. "Estamos em conversas. Não fechamos parcerias, mas isso pode acontecer até a véspera da entrega das propostas", diz Kamesh Rao, diretor operacional da GMR. Algumas empresas enviaram questionamentos à Anac, como a Airports Company South Africa (ACSA), e também são vistas como interessadas. Causa suspense no mercado o apetite do argentino Corporación América. Concessionário de 33 aeroportos na Argentina, estuda os projetos brasileiros em parceria com o brasileiro Engevix. A sociedade foi vencedora do leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante (no RN) - no ano passado, com ágio de 228,8% sobre o preço mínimo.

Bertin centra foco em rodovias e descarta aeroporto

Fábio Pupo

O grupo brasileiro Bertin cogitou entrar na disputa pela concessão dos aeroportos de Guarulhos (SP), Campinas (SP) e Brasília. Mas a entrega de propostas - marcada para quinta-feira - já foi praticamente descartada pela companhia. "O grupo tem atuação em diferentes setores e é bastante ativo. Neste momento, no entanto, concentramos as atenções nesse acordo com o grupo Atlantia ", disse Alexandre Tujisoki, diretor financeiro do Bertin, em entrevista sobre a parceria com o grupo italiano. Por telefone, ele explicou a jornalistas detalhes da nova sociedade para rodovias - anunciada oficialmente ontem.

Os dois grupos criaram uma joint venture para reunir as respectivas concessões de rodovias numa mesma empresa. Estão envolvidas quatro concessionárias, sendo três do Bertin (Nascentes das Gerais, Rodovias das Colinas e Rodovias do Tietê) e uma da Atlantia (Triângulo do Sol). Como o valor total de ativos cedido pelo grupo brasileiro é superior aos da Atlantia, serão realizados aportes que somam R$ 300 milhões pelo grupo italiano na joint venture formada.

A nova sociedade, com 50% de cada grupo, terá o capital integral de duas holdings a serem criadas. A primeira delas administrará três concessões: Nascentes das Gerais, Rodovias das Colinas e Triângulo do Sol. A outra holding administrará exclusivamente a concessionária Rodovias do Tietê, que têm como sócio o grupo português Aché. "O motivo de duas holdings serem criadas são pequenas diferenças de governança", explica Tujisoki.

A nova sociedade também terá direito de compra de 95% da SPMar - concessionária de um dos principais acessos do Rodoanel, em São Paulo - pertencentes ao Bertin. Em três anos, o investimento por parte da sociedade aplicado nas quatro concessionárias está previsto em R$ 800 milhões, aproximadamente. A previsão é que a sociedade tenha um endividamento líquido ao final de 2012 de R$ 1,62 bilhões.

Fonte: / NOTIMP









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