O Irã e a primeira crise de 2012
A posse de armas nucleares é um dos pontos mais delicados da arquitetura política internacional. Ainda prevalece hoje a norma imposta pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial de que esses dispositivos deveriam ficar restritos a eles. Posteriormente, outros países forçaram sua entrada no "clube", entre eles China, Índia e Paquistão. São "sócios" de fato.
Outra política vigente é a da não proliferação: os países farão o que estiver ao seu alcance para evitar que mais nações tenham acesso a uma tecnologia capaz de destruir a Terra, ou torná-la inabitável. A norma se torna tanto mais correta quanto menor for a confiabilidade de países e seus governos. Enquanto Brasil e Argentina renunciaram a seus programas nucleares bélicos, há nações em relação às quais a posse de armas atômicas é uma ameaça à comunidade internacional. É o caso de Irã e Coreia do Norte, que não medem esforços para obtê-las.
Se o passo mais acertado é o banimento total das armas nucleares, enquanto isso não ocorre é necessário envidar esforços para que elas não fiquem à disposição de párias globais, como Irã e Coreia do Norte. Países como o Irã têm aliados ainda menos confiáveis que ele, como o libanês Hezbollah e o palestino Hamas; o grande pesadelo é imaginar um deles de posse de um artefato nuclear, em condições de chantagear a comunidade internacional. Há anos, o Ocidente tenta obter do Irã garantias de que seu programa nuclear tem, como seus dirigentes não cansam de repetir, fins pacíficos. Mas a realidade teima em desmentir Teerã.
O momento é de grande tensão. No sábado, o governo Obama decidiu aplicar mais duras sanções econômicas ao regime iraniano, o que poderia incluir embargo às exportações de petróleo. Ao mesmo tempo, a União Europeia estuda ampliar as medidas contra o programa nuclear iraniano. Como costuma acontecer nessas ocasiões, Teerã respondeu com exercícios militares que trouxeram implícita a ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passa boa parte do petróleo do Oriente Médio, e com testes de mísseis capazes de atingir Israel.
Os EUA deixaram claro que não tolerariam o fechamento de Ormuz. Tipicamente, as autoridades do Irã fizeram acenos para desanuviar o ambiente, dizendo-se dispostas a reiniciar as discussões nas Nações Unidas sobre seu programa nuclear. O comandante da Marinha iraniana declarou não ter ordem alguma para fechar Ormuz, mas está "preparado para vários cenários".
A chave da questão está nas mãos de China e Rússia, que defendem o Irã. Ambos precisam apoiar os esforços do Ocidente para que o Irã aceite, sem condições, inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica. Ambos pertencem aos Brics e é importante que esse grupo de países emergentes jogue seu peso na busca de solução para o impasse, nessa primeira crise de 2012.
Seria boa oportunidade para o Brasil desfazer a má impressão de maio de 2010, quando o presidente Lula foi a Teerã, juntamente com o premier turco Erdogan, numa fútil tentativa de última hora de obter mudanças na posição iraniana para evitar uma nova rodada de sanções. Caíram numa armadilha: nem o Irã mudou nem o Conselho de Segurança deixou de impô-las.
Fonte: / NOTIMP