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Marinha: Plano inclui sistema de combate dos EUA; Licitação de € 3 bi atrai Navantia ao Brasil



O sistema de combate Aegis, fabricado pela americana Lockheed Martin, é apontado pelo estaleiro Navantia como um dos pontos fortes da proposta espanhola para as fragatas que estão sendo oferecidas à Marinha do Brasil. Empregado por mais de 100 navios em seis países, o sistema é o mais avançado do mundo em guerra antiaérea. Só na Marinha americana, mais de 80 navios estão equipados com o Aegis, onde já foram investidos mais de US$ 80 bilhões.

A despeito dos comentários em relação às restrições de transferência de tecnologia de sistemas americanos, o representante da Lockheed Martin no Prosuper, Peter Buckley, afirma que o governo dos EUA aprovou a exportação do sistema Aegis para o Brasil. O executivo ressalta que a empresa também já trabalhou em estreita colaboração com a Marinha americana para fornecer o mesmo sistema ao Japão, Espanha, Noruega, Coreia do Sul e Austrália, onde operam sem nenhum problema.

"Em cada um desses casos, as Marinhas receberam os requisitos de transferência de tecnologia exigidos para operar e manter o sistema Aegis e em todos os países esse processo tem sido feito com sucesso", disse. Buckley comenta que a experiência com o sistema Aegis na Espanha é o melhor exemplo da compreensão do nível de transferência de tecnologia desejado pela Marinha do Brasil.

"O nível de transferência de tecnologia para a Espanha é tão maduro que o estaleiro é o contratante principal da oferta ao Prosuper da Marinha do Brasil. E isso envolve não só o fornecimento do casco dos navios, como também dos sistemas mecânicos e elétricos e do sistema de gerenciamento de combate", explicou o executivo. A Navantia é a líder e integradora do sistema de combate dos navios escolta.

A Navantia explica, na proposta feita à Marinha do Brasil, que o sistema de combate das fragatas é desenvolvido pela própria empresa e 100% integrado ao radar SPY-1 da Lockheed, o que simplifica a transferência de tecnologia. A Navantia também pretende repassar às empresas brasileiras o domínio em tecnologia de sistemas de combate, que poderá ser útil na adaptação do sistema brasileiro de controle tático Siconta, atualmente instalado em diversos navios brasileiros.

Caso a oferta da Navantia seja a vencedora do Prosuper, a Lockheed Martin, segundo o Buckley, pretende apoiar a transferência de tecnologia ao Brasil em todas as fases do programa: engenharia de sistemas, projeto, integração, teste de integração de bordo, testes em mar, produção, operações e manutenção.

O executivo da empresa americana comenta ainda que a equipe da Lockheed Martin que está trabalhando com a Navantia no Prosuper é a mesma que recentemente concluiu, com sucesso, a modernização do sistema de combate do Tapajó, submarino da classe Tupi, da Marinha do Brasil.

Em entrevista ao site Alide, especializado em temas de defesa, os representantes da Lockheed Martin no Prosuper disseram que existe um imenso mercado potencial para o fornecimento de sobressalentes do sistema Aegis pelas empresas brasileiras que conseguirem atingir um preço competitivo. A companhia informou ainda que, além do Prosuper, está muito interessada em participar dos programas Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras) e SisGAAz (Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul) e que por isso tem a intenção de abrir um escritório no Brasil.

Licitação de € 3 bi atrai Navantia ao Brasil

Virgínia Silveira

O estaleiro Navantia, maior empresa de defesa da Espanha, vê o programa de reaparelhamento da Marinha brasileira como uma grande oportunidade para incrementar seus negócios internacionais na área de construção naval militar, setor que responde por 80% do faturamento do estaleiro, de € 1,6 bilhão por ano.

O objetivo da empresa é aumentar a participação do mercado internacional na receita do grupo, hoje em torno de 47% e com isso amenizar os efeitos da crise econômica que reduziram o orçamento da área de defesa e congelaram os programas.

A empresa quer trazer ao Brasil a experiência bem sucedida de transferência de tecnologia feita com as Marinhas da Venezuela, Austrália, Índia e Noruega, onde o acordo de offset (compensação tecnológica e industrial) com as empresas locais superou em 100% o valor do contrato.

A oportunidade mais concreta neste momento está sendo a concorrência para o fornecimento de onze navios de superfície, conhecido como Programa de Obtenção de Meios de Superfície (Prosuper). Avaliado em cerca de € 3 bilhões, o Prosuper prevê a aquisição de cinco fragatas ou navios de escolta de 6 mil toneladas, cinco navios de patrulha oceânica de 1,8 mil toneladas e um navio de apoio logístico de 12 mil toneladas.

"Queremos usar o Brasil como plataforma de exportação para outros países da América do Sul", disse o principal executivo da Navantia, controlada pelo governo espanhol, Luis Cacho Quesada. O executivo diz que a Navantia não é só construtor de plataformas de navios, mas tem ampla capacidade de integração dos diferentes sistemas que equipam os navios.

"A nossa estratégia com o Brasil vai além da venda dos navios. Queremos estabelecer associações industriais duradouras e passar a experiência da Navantia em gestão de programas complexos", afirmou. O prazo de execução do programa é estimado em 15 anos. A primeira fragata será construída na Espanha para facilitar o processo de transferência de tecnologia aos estaleiros brasileiros desde o início.

A Navantia participa do Prosuper em parceria com a americana Lockheed Martin. Com a transferência de tecnologia, o gerente do Prosuper na Navantia, Ricardo Biarge Zapatero, diz que a Marinha do Brasil será capaz de fazer a manutenção, modificar e implementar melhorias nos navios, o que exigirá participação da indústria local (estaleiros e empresas com tecnologia para trabalhar em sistemas de combate).

Alguns acordos de colaboração, segundo ele, já foram fechados com a Atech, Mectron, Avibras e Omnisys, além de conversas com os estaleiros Odebrecht e Eisa. Em novembro, a Navantia reuniu mais de 80 empresas no Rio de Janeiro, interessadas em ouvir detalhes da oferta para o Prosuper. "Vamos fazer uma nova jornada com essas empresas, em São Paulo", disse Quesada.

Nem mesmo o anúncio de que a inglesa BAE Systems, que também disputa o Prosuper, conseguiu um contrato de fornecimento de três navios de patrulha oceânica para a Marinha do Brasil, desanimou os espanhóis. "Pelo que nós tivemos conhecimento trata-se de uma compra de oportunidade, que atenderá às necessidades mais imediatas da Marinha brasileira. Isso não deve alterar os planos estratégicos em relação ao Prosuper", afirmou o executivo.

Os navios, comprados pela Marinha brasileira, a um custo de 133 milhões de libras esterlinas (R$ 387,2 milhões), foram originalmente construídos para a Guarda Costeira de Trinidad-Tobago, que cancelou a encomenda quando os navios já se encontravam em provas de mar.

O vice-presidente Executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, disse que a compra foi uma oportunidade boa e barata, pois a BAE tinha urgência em vender as embarcações. A fabricante tentava vender os patrulheiros há mais de um ano.

"As empresas locais não gostaram dessa compra porque os navios já estão prontos, mas pelo menos a manutenção deverá ser feita no Brasil e elas poderão, eventualmente, produzir os equipamentos que faltarem", completou. A BAE informou, em comunicado, que o contrato com a Marinha também inclui licença de fabricação, que permite a construção de outros navios da mesma classe no Brasil.

Na nota da BAE Systems, o diretor de Engenharia Naval da Marinha do Brasil, contra-almirante Francisco Deiana, disse que esta aquisição não muda o escopo do Prosuper em relação a compra de outros cinco navios patrulha, a serem construídos no Brasil. Procurada pelo Valor, a Marinha não respondeu, até o fechamento desta edição, a um pedido de informações enviado no dia 19 dezembro.

Para o Prosuper, a Marinha está em negociação com estaleiros projetistas de seis países, além da Espanha: Alemanha (ThyssenKrupp); França (DCNS), que já atua no programa brasileiro dos submarinos; Coreia do Sul (DSME); Holanda (Damen); Reino Unido (BAE); e a Itália (Fincantieri), que chegou a ser considerada como favorita até o final de 2010, mas com a mudança de governo e os cortes no orçamento da Defesa, os rumos do programa mudaram.

A decisão do Prosuper é esperada para este ano, mas a data ainda não foi definida. Neste momento, segundo a Navantia, a Marinha está revisando as propostas enviadas, e a partir daí vai definir os requisitos finais do projeto. "Acredito que até fevereiro devemos concluir nossa oferta definitiva para o programa", comentou Quesada.

Fonte: / NOTIMP













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