|

Brasilia: Helicóptero que caiu no lago não tinha autorização para pouso

http://www.fab.mil.br/sis/enoticias/imagens/notimp/1647/vejaheli.jpg

Kelly Almeida, Adriane Bernades e Luiz Calgano .

O piloto do helicóptero que perdeu o controle e caiu no Lago Paranoá após um pouso de emergência, na noite da última quinta-feira, estava sem autorização para aterrissar no Setor de Clubes Sul. Segundo informações da Força Aérea Brasileira (FAB), o plano de voo do Robinson modelo R44 previa a saída do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek em direção a Goiânia (GO). Denis Rizoli Rosa obteve ainda autorização do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo I (Cindacta I), da Aeronáutica, para fazer um sobrevoo no Distrito Federal, mas apenas no Lago Norte. O Shopping Pier 21, portanto, não fazia parte da rota autorizada.

Quatro órgãos investigam o acidente, que não deixou feridos. As polícias Civil e Federal, além da Aeronáutica e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), vão apurar as causas do pouso forçado, às margens do Lago Paranoá, pouco depois de parar no estacionamento do centro comercial. A aeronave ficou parcialmente submersa. As investigações devem indicar se houve negligência por parte do piloto ou se o helicóptero apresentou alguma falha mecânica. Por enquanto, há mais dúvidas do que certezas (leia quadro).

Segundo testemunhas, o piloto ficou cerca de cinco minutos parado no estacionamento do Pier 21 e, por volta das 18h20, decolou após o embarque de três pessoas. Logo depois da decolagem, houve perda no controle do helicóptero, que caiu na água. Os três ocupantes saíram do local antes da chegada do socorro. Até o fechamento da edição, os nomes dos passageiros não haviam sido divulgados. Nenhum representante da empresa proprietária do equipamento deu entrevistas.

Ontem pela manhã, peritos da Polícia Civil e da Aeronáutica fotografaram e inspecionaram a aeronave e o local do acidente. Eles receberam apoio de mecânicos especializados que trabalham na oficina onde a perícia do motor será realizada, em Goiânia. Às 13h50, o veículo foi içado por um guindaste e colocado em um caminhão. A aeronave é mantida em um hangar do Aeroporto JK e deve ser levada hoje para Goiânia (GO), onde está localizada a firma responsável pelo helicóptero. Ele será reformado pela segunda vez, já que, em 2006, o mesmo aparelho sofreu um acidente em Barueri (SP).

A assessoria de imprensa da Força Aérea Brasileira (FAB) informou que o 6º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa 6) vai elaborar um relatório para apurar os fatores que contribuíram para o acidente. O documento, que não tem data para ficar pronto, será encaminhado ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). O órgão é responsável por submeter o piloto à Junta de Julgamento da Aeronáutica (JJAER) para saber se houve infração por conta do pouso não autorizado.

Punições

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) adiantou que a aeronave e o piloto estão com as documentações em dia. Denis Rizoli, segundo a agência, possui o brevê — diploma para comandantes de voo. Mesmo assim, o órgão vai abrir um processo administrativo para verificar se ele tem a habilitação e o Certificado de Capacidade Física (CCF) válidos e se a aeronave está com a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) e o Certificado de Aeronavegabilidade (CA) atualizados.

Se for comprovada alguma irregularidade, os responsáveis podem ser autuados, multados, perder a licença ou ter a habilitação suspensa ou cassada. Em caso de falha humana, o caso pode ser encaminhado ao Ministério Público para possíveis penalidades no âmbito criminal. A Anac só deve abrir o processo quando receber um relatório preliminar da Aeronáutica.

A 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) abriu ocorrência e, de acordo com o delegado adjunto, Johnson Kennedy Monteiro, as informações colhidas pela investigação serão encaminhadas para a Polícia Federal (PF). Até o fechamento dessa edição, a PF, por meio da assessoria de imprensa, informou que não havia recebido nenhum documento ou pedido formal da Polícia Civil do Distrito Federal para a continuidade das investigações. O procedimento deve chegar na próxima semana.

Dúvidas

O que precisa ser respondido pela investigação:

1. O que a aeronave fazia no Lago Sul, sem autorização?
2. Quem eram os três ocupantes?
3. Se o plano de voo original era direto para Goiânia, por que havia autorização para sobrevoo no Lago Norte?
4. Quais foram as causas do acidente?
5. O helicóptero estava com sobrepeso?

Helicóptero que fez pouso forçado havia caído em 2006 matando duas pessoas

O helicóptero que fez um pouso forçado às 18h21 de quinta-feira com quatro tripulantes no Lago Paranoá é o mesmo que caiu em 3 de março de 2006, em São Paulo, matando duas pessoas e ferindo uma. A aeronave Robinson PP-MOF modelo R44 pertencia, à época, à Sigma Serviços Aéreos Especializados e Táxi Aéreo. O comandante do voo perdeu o controle do veículo após a decolagem, colidiu em algumas árvores e, em seguida, contra o solo. Os mortos eram filhos do dono da empresa. O equipamento decolou em Barueri, às 15h40, com o piloto Norbert Engelmeier Júnior, 39 anos, e os irmãos Osvaldo Gouveia de Sousa Rocha, 24, e Luís Otávio de Sousa Rocha, 18. Os ocupantes seguiriam para Ilhabela (SP).

As informações constam em um relatório elaborado no ano passado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica. Revelam que um dos jovens assumiu a direção da aeronave como copiloto. “O que havia assumido os comandos realizou a decolagem. O piloto da empresa percebeu que, ao sair do heliponto, a aeronave não tinha sustentação suficiente para o prosseguimento do voo. Ele assumiu, mas não conseguiu controlar o helicóptero”, descreve o documento.

Osvaldo morreu na hora. Socorristas encaminharam o irmão, Luís Otávio, para o hospital, mas também não resistiu. Ainda de acordo com o relatório, os condutores estavam com o Certificado de Habilitação Técnica (CHT) vencido. “O fato de os pilotos estarem com as habilitações vencidas evidencia a falha da empresa no acompanhamento de pessoal”, detalha o texto. A aeronave ficou bastante danificada, principalmente do lado direito, em razão da colisão contra o solo. Após reformado, o helicóptero foi vendido para o atual proprietário.

Perícia

Agentes da Polícia Civil e oficiais da Aeronáutica concluíram, no início da tarde de ontem, a primeira etapa dos trabalhos de perícia do helicóptero. Eles disseram que, inicialmente, nada externo à aeronave contribuiu para o acidente. Agora, resta saber se a queda foi provocada por falha mecânica ou humana. Peritos de ambas as corporações fotografaram o veículo dentro e fora da água. Depois de içado, foi levado ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. As peças serão lacradas com adesivos para o transporte até Goiânia, onde será feita a perícia. A transferência está prevista para hoje.

Peritos e mecânicos especializados analisarão as peças do motor. Essa etapa da investigação pode durar de nove meses a um ano, pois várias partes precisam ser comparadas com modelos similares mais novos. Segundo os técnicos, caso algum ponto apresente defeito, a detecção do problema será mais simples. Mas algumas falhas só aparecem em condições específicas, por exemplo, a combinação do peso transportado pela aeronave com o nível de aquecimento do motor. Os especialistas estudam ainda a possibilidade de simular o acidente em um programa de computador.

Testemunhas

Na quinta-feira, Raimundo Gomes da Silva, 22 anos, funcionário de um restaurante próximo ao local do acidente, presenciou o pouso forçado. Ele contou que, pouco antes do problema, o piloto havia desligado o motor do equipamento e três homens esperaram a hélice parar para entrar na aeronave.

Em seguida, viu o equipamento sendo ligado outra vez. “Não sei o que aconteceu, mas o aparelho girou e caiu na lago”, contou. “Inicialmente, não pareceu um pouso de emergência. A impressão é que tinham ido buscar as pessoas. Depois do acidente, os quatro saíram da aeronave sem ajuda, com a água na altura das pernas. Quando começou um tumulto, foram embora.”

Outra testemunha, Diogo Ramos, 26 anos, gerente de um quiosque de relógios no Pier 21, disse que o helicóptero sobrevoou o local por volta das 14h. Nesse horário, também teria tentado um pouso irregular no estacionamento de uma churrascaria ao lado do shopping. “Pelo tempo, me pareceu que ele tinha pousado para desembarcar passageiros, mas não deu para ver”, disse.

Regularizada

Em ambos os acidentes, documentos comprovam que a aeronave estava em dia com as inspeções e com o Certificado de Aeronavegabilidade (CA). No caso do acidente de 2006, o relatório final do Cenipa aponta que, no momento da queda, o helicóptero de aproximadamente 1,1 mil quilos estava a 5,4 mil pés de altitude.

Fora das normas

O piloto do helicóptero Robinson R44 só poderia pousar no Shopping Pier 21 com autorização prévia da Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC). E, mesmo se tivesse permissão, ela deveria constar no plano de voo, o que não é o caso. Em situações normais, o piloto só pode pousar em áreas homologadas, ou seja, em aeroportos e helipontos. As exceções existem, mas não raras, explicam especialistas ouvidos pelo Correio.

Presidente do Centro Brasileiro de Aviação Agrícola, Experimental e Recreativa (Cbaaer), Ronaldo Oliveira acredita que, seo piloto não tinha autorização da ANAC para fazer o pouso no Pier 21, cometeu um "deslize". "Não existe, ao meu ver, nenhuma possibilidade da ANAC permitir um pouso naquele local". Ele lembrou que toda aeronave possui um transponder, por meio do qual os controladores de voo fazem o rastreamento. "O equipamento aponta se a rota e altitude estão sendo cumpridas. Se houve emergência, o piloto fez contato com a torre".

Segundo Oliveira, caso o piloto tenha deixado o aeroporto JK com destino a Goiânia, havia duas rotas. A mais comum é a que passa sobre o Paranoá: Pier 21, Ponte JK, Palácio da Alvorada, Ponte do Bragueto e, de lá, Goiânia. A outra, pelo corredor sul, necessita de uma autorização especial. O piloto vai até próximo de Luiziânia e, depois, segue para a capital goiana.

Com 17 anos de experiência, um piloto ouvido pela reportagem diz ser difícil avaliar qual punião o piloto vai receber, caso tenha feito o pouso sem autorização. "Ele posou perto dos carros? Expôs as pessoas? Nesse caso, é uma conduta grave. Mas, pelas imagens, o pousou foi em uma área reservada, com alguma segurança mínima. Talvez seja considerada uma falta leve. Pode ser multado ou ter a carteira suspensa".

Fonte:
/ NOTIMP








Receba as Últimas Notícias por e-mail, RSS,
Twitter ou Facebook


Entre aqui o seu endereço de e-mail:

___

Assine o RSS feed

Siga-nos no e

Dúvidas? Clique aqui




◄ Compartilhe esta notícia!

Bookmark and Share






Publicidade






Recently Added

Recently Commented