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Rio Grande do Sul: Voos executivos acirram concorrência no Estado



MGrupo compra Bertol e entra na briga para conquistar mais mercado .

Patrícia Comunello .


O MGrupo, que atua na construção comercial, residencial e hoteleira no Estado, acaba de arrematar o braço de aviação executiva da gaúcha Bertol. A transação, avaliada em R$ 80 milhões, só aguarda a homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), informou o diretor-executivo do MGrupo, Cyro Santiago Rodrigues, que já programou investimentos no aumento da frota e para brigar por mercado. A operação confirma que o Estado desponta entre os mais promissores do País, tanto para prestadores locais como nacionais.

Dados da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag) situam o Rio Grande do Sul em terceiro lugar na frota de aeronaves (excluindo as comerciais), com 843 unidades, atrás de São Paulo (3.578) e de Minas Gerais (1.002). Se depender dos novos proprietários da Bertol, a família local vai crescer. Rodrigues já encomendou quatro jatos Phenom 100, um dos mais bonitos da Embraer, avaliados em US$ 25 milhões, e poderá adquirir um turboélice King Air, um dos mais eficientes na relação custo-benefício para curta e média distância. Mais aeronaves (a frota atual é de quatro) demandará mais espaço, que deve ser assegurado com o pedido para duplicar a área do hangar no Aeroporto Internacional Salgado Filho feito à Infraero.

Os Rodrigues, oriundos de São Carlos, interior paulista, conheceram a Bertol ao utilizar o hangar para guardar o jato Learjet da empresa. Também despertou a atenção o contrato exclusivo da empresa gaúcha com o governo estadual para dar conta dos deslocamentos aéreos de clientes como o governador Tarso Genro. “Fizemos pesquisas e identificamos crescimento neste tipo de serviço”, observou o diretor do MGrupo. A aposta dos investidores é na procura pelo sistema de uso fracionado das aeronaves executivas. “O cliente, que pode estar ligado a uma pequena ou grande empresa, sabe que viaja a cada 15 dias já deixa reservado seu horário”, explica Rodrigues.

Para o executivo, o sistema, popular na aviação americana, pode atrair ainda quem pensa em comprar um jato, mas não tem fluxo que compense o investimento, que envolve ao menos US$ 3,5 milhões na compra de um modelo básico. “Estudo mostrou que proprietários de aeronaves voam dez horas ao mês, e o custo fixo, sem contar abastecimento, é de R$ 70 mil a R$ 80 mil por mês”, comenta o diretor do MGrupo.

A Uniair, que atua com táxi aéreo e transporte aeromédico e é quase vizinha da Bertol, já descobriu o filão e registra a escalada no aproveitamento de voos. De 36 horas de voos executivos em 2009, o fluxo pulou para 60 em 2010 e até setembro deste ano já ultrapassava 90, segundo o diretor-presidente, o médico Mauricio Goldbaum. O segmento já responde pela maior receita dentro dos dois nichos, ultrapassando o aeromédico, em que a empresa é líder no Sul. “Quem usou continua usando”, traduz Goldbaum. “A facilidade é ter o avião para resolver em minutos o que precisa”, acrescenta. O diretor associa ainda a maior procura pelo transporte à influência da cultura de empresas de fora, que passam a investir no Estado e demandam o serviço.

Com quatro aeronaves, entre elas três modelos turboélice King Air e um helicóptero Esquilo, a Uniair, que integra a Unimed RS, aposta na facilidade dos equipamentos para pousos em qualquer tipo de pista, do asfalto à grama ou áreas usadas por lavoura ou campo. Este é o fluxo da Capital para o Interior. Desde 2009, a operadora gaúcha investe em melhoria dos equipamentos (adquiriu dois aviões) e também decidiu fincar uma base em Londrina, no Paraná, de olho na demanda de outro estado do Sul.

Operadores nacionais também investem no mercado local


A limitação da malha de voos nacionais comerciais e da estrutura para embarque e desembarque nos terminais dos aeroportos alimentam o crescimento do serviço fretado para executivos. “Eles não podem depender do horário comercial e sua cobertura. Quem tem maior poder aquisitivo está migrando para este serviço”, assinala o sócio e presidente da Global Aviation, Ricardo Gobetti. A empresa detém uma das maiores frotas de aviões executivos do País, com 50 aeronaves, carteira com dez mil clientes e 18 voos diários. O número reduzido de operadores locais colocou o Estado na lupa de investimentos da Global. Hoje são quatro empresas atuando no segmento gaúcho.

Padrão de renda e faturamento de empresas configuram as condições para maior ingresso no mercado. “Se não há como chegar no tempo esperado, vai de aviação executiva”, analisa Gobetti, sobre o fator que gera fluxo ao setor. O empresário admite que Porto Alegre está entre as prioridades da empresa, que estuda montar uma base até o começo de 2012 e aposta em crescimento de 15% no fluxo de voos deste ano (ante 5% em 2009 sobre 2008). “Estamos vendo área para hangares. Florianópolis e Curitiba também estão no plano de crescimento”, revela o presidente da empresa.

Segundo Gobetti, o maior movimento é verificado na Capital e em Caxias do Sul, devido à concentração industrial. Nos últimos meses, a Global comprou hangares em terminais de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal (Brasília). Segundo a Anac, as decolagens de jatos de aviação executiva aumentaram 10% em 2011 no Brasil. Cássio Polli, diretor da Aerie Aviação Executiva, que atua na compra de aeronaves, cita que a procura pelo serviço já colocou a frota do segmento no País como a segunda maior no mundo, atrás apenas da americana.

Polli reforça que o mercado gaúcho está entre os mais promissores, impulsionado pelo desenvolvimento econômico e dificuldade de deslocamento com agilidade para destinos fora da cobertura da aviação comercial, que atinge apenas 130 cidades. “O Brasil tem mais de 5 mil municípios e cerca de 3 mil aeródromos”, contrasta o diretor da Aerie. No mercado de venda de unidades, os preços nunca estiveram tão atrativos, influenciados ela crise mundial e pelo câmbio. “A redução chega a 70% em alguns jatos”, exemplifica Polli. A empresa espera vender dez unidades em 2011, mantendo a média de sete anos. Mas o diretor adverte que a facilidade de aquisição e preços mais baixos também exigem cuidado de quem for fazer o negócio. “Na Internet, é enorme a oferta. Mas é preciso observar a manutenção e a assistência”, orienta.

Fonte: JORNAL DO COMÉRCIO DE PORTO ALEGRE / NOTIMP









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