Obra em Guarulhos atrasa e frustra plano de Dilma de evitar caos aéreo
André Borges .
BRASÍLIA – A construção do terceiro terminal de passageiros [sic] do aeroporto de Guarulhos (SP), contratada em regime de urgência pela Infraero para atender o aumento da movimentação deste fim de ano, não vai ficar pronta antes do dia 31 de dezembro. O atraso se tornou inevitável depois do desabamento do teto do terminal, incidente ocorrido há duas semanas.
O adiamento, que até agora tinha sido negado pelo governo, foi confirmado ao Valor pelo presidente da Infraero, Gustavo Vale. “O plano realmente era inaugurar o terminal no dia 20, mas com esse incidente as coisas mudaram mesmo. Ficou impossível concluir o trabalho antes do Réveillon”, disse.
A conclusão do terminal era peça central da estratégia do governo para evitar um novo caos aéreo. Foi a primeira decisão prática referendada pela presidente Dilma Rousseff na área aeroportuária. Era uma prioridade absoluta da Infraero e da Secretaria de Aviação Civil.
A Infraero enfrentou uma saraivada de críticas, inclusive do Tribunal de Contas da União (TCU), por ter contratado – sem licitação – a empresa Delta Construções para tocar as obras em Cumbica. O contrato de R$ 85,75 milhões, firmado em julho, dá 180 dias para que a Delta conclua o serviço. Como o prazo se encerra em 21 de janeiro de 2012, não há uma quebra de acordo configurada. As razões, no entanto, que levaram a Infraero a bancar uma contratação sem o processo licitatório caíram por terra. Quando fechou o contrato, a diretoria da estatal argumentou que a urgência da obra era necessária para evitar um apagão aéreo neste fim de ano.
“Aconteceu um problema, um incidente. O que podemos fazer? Paciência. Como não teremos a estrutura disponível, vamos buscar uma forma de diminuir os problemas em Cumbica, que fatalmente vão ocorrer”, disse Vale.
O presidente da Infraero afirmou que cerca de 200 colaboradores da empresa serão deslocados para o atendimento em Cumbica nas duas próximas semanas. “Estamos alinhando ações com as companhias aéreas e a Receita Federal. Todas as folgas estão suspensas nos próximos dias. Até o pessoal do setor administrativo vai ajudar nas operações. Agora vamos ter que resolver as coisas no braço.”
As razões que levaram à queda do teto de Cumbica estão sendo apuradas pela Polícia Federal, Infraero e a própria Delta. Segundo Gustavo do Vale, cerca de 1 mil metros da proteção da cobertura do terminal caiu. Com o incidente, a Infraero decidiu trocar todos os 7 mil metros da estrutura, para evitar novos riscos de segurança para os passageiros. “Os fabricantes foram imediatamente acionados para fazer uma nova estrutura, mas esse tipo de material não tem pronta-entrega, vamos ter de aguardar”, comentou.
Procurada pelo Valor, a Delta não quis se pronunciar sobre o assunto. Em relatório de setembro, os auditores do TCU chamaram a atenção para a “falta de comprovação de capacidade técnica da empresa contratada para a execução do objeto contratado”. A Infraero, no entanto, garantiu que iria realizar “rigoroso controle na fiscalização e no acompanhamento da execução” da obra.
No dia do incidente em Guarulhos, o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, chegou a garantir que a entrega do novo terminal ocorreria no dia 20.
A capacidade de atendimento do novo terminal é de 5,5 milhões de passageiros por ano. Em 2010, o aeroporto de Guarulhos teve crescimento de 23% no volume de passageiros sobre o ano anterior, recebendo 26,8 milhões de pessoas. No primeiro semestre deste ano, a alta acumulada foi de 16% sobre a movimentação do mesmo intervalo de 2010. A previsão é que um total de 31,5 milhões de passageiros passem pelo aeroporto até o dia 31. A capacidade atual de Cumbica, no entanto, suporta no máximo 26 milhões de passageiros por ano.
Fonte:
Foto: Andomenda