Ameaça de apagão aéreo
O tema infelizmente é inescapável. A fragilidade da infraestrutura de transportes no Brasil ganha relevância todo final de ano, com o aumento do fluxo de passageiros durante o mês de dezembro. Com a expectativa de 16 milhões de pessoas em deslocamento, dois milhões a mais do que na temporada passada, apenas nos principais aeroportos, quase todos saturados e com ampliações previstas para os próximos anos, o governo federal resolveu repetir medidas que chama de preventivas contra o caos, inibidoras de um eventual apagão no sistema aeroportuário. Melhor seria se a precaução valesse o nome e tivesse vindo antes, mas ao menos a preocupação existe.
Foram anunciadas melhorias de infraestrutura, gestão, informação e aumento de pessoal, que visam facilitar o atendimento e agilizar os processos de embarque e desembarque, numa tentativa de impedir os transtornos gerados pela demora excessiva, que complicam ainda mais a vida de todos em casos de atrasos de voos. As companhias prometeram fazer a sua parte, acelerando o check-in e o retorno das bagagens, além de não praticar o overbooking – que é a marcação de mais reservas do que o número real de lugares disponíveis. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) avisou que vai intensificar a fiscalização a partir do dia 16, especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Minas Gerais.
Por sua vez, o Departamento de Controle do Espaço aéreo (DCEA) ampliou o limite de aviões ocupando a mesma região no ar, ao reduzir pela metade a distância mínima entre um e outro. Com isto, ao invés de 65, cerca de 80 aeronaves poderão sobrevoar São Paulo ao mesmo tempo, por exemplo. Em 2006, a crise dos controladores de voos, após o desastre da Gol, deixou o cidadão com medo. Contudo, se a segurança não for comprometida, o congestionamento lá em cima pode significar menos tumulto nos nossos aeroportos, que continuam despreparados para acomodar o grande número de pessoas que desejam viajar nesta época do ano.
O governo garante que o caos aéreo não terá vez, e o fantasma do apagão de 2007 não faz sentido, pois tudo está pronto para o gerenciamento da alta estação. A população espera que sim, lembrando que os investimentos realizados pela Infraero até outubro não passaram de 28% do total do gasto anual previsto. A deficiência histórica fez com que a privatização surgisse como solução, e três dos maiores aeroportos deverão ser licitados para a iniciativa privada em 2012: os de Guarulhos (SP), Viracopos (Campinas) e Brasília, que precisarão receber o equivalente a R$ 4 bilhões em dois anos, em obras de modernização.
Com o tempo passando e o cronograma dos milagres da Copa de 2014 precisando ser tocado, o governo brasileiro corre para não dar vexame na recepção dos turistas e na imagem do País que será sede do maior evento esportivo do planeta. Daqui até lá, o volume de investimentos e a administração dos aeroportos terá que evoluir bastante, seja para a demanda crescente diante de estradas arruinadas, seja para a chegada dos ilustres visitantes internacionais.
Fonte: / NOTIMP