Galeão: Esteira 5
Cristina Grillo .
Madrugada de terça, dois voos internacionais lotados chegam ao mesmo tempo no aeroporto internacional do Rio. Em qualquer cidade medianamente desenvolvida, isso é fato corriqueiro. Aqui, é prenúncio de aborrecimento para os passageiros.
A fila do controle de passaporte preocupa. Fazendo um cálculo conservador, 500 pessoas aguardam para serem atendidas por seis funcionários. Mas, surpresa, anda mais rápida do que se poderia imaginar.
A encrenca começa na hora de pegar as bagagens. A primeira leva -pouco mais de meia dúzia de malas- surge rapidamente na esteira 5, mas fica nisso. Passam-se dez minutos até que novo carregamento apareça.
A entrega a conta-gotas prossegue. Um cartaz informa que, em caso de reclamações, o passageiro deve se dirigir à companhia de aviação. A moça com uniforme da empresa diz aos queixosos: "É sempre assim, demora mesmo". Solícita, avisa aos viajantes cansados e, agora, estressados: "Às vezes, extravia". Em voo sem escalas? "Também", responde.
Uma hora após o pouso, grande parte dos passageiros ainda espera, ansiosa, por suas malas. É o momento exato para a lei de Murphy ("se algo pode dar errado, dará") entrar em ação: a esteira 5 enguiça.
Os passageiros emudecem. É praticamente um minuto de silêncio pela esteira 5. Até que surge a primeira vaia, o primeiro grito de "mala, mala", logo acompanhado em coro pelos viajantes. Do meu lado, o estrangeiro que chegava ao Rio pela primeira vez, em uma viagem de negócios, pergunta: "É sempre assim?".
Uma hora e quarenta minutos após o pouso, consigo encontrar minha bagagem. Saio dali fazendo as contas: faltam dois anos e meio para a Copa do Mundo, quatro anos e meio para os Jogos Olímpicos. Será que até lá teremos um aeroporto de verdade ou vamos ter que continuar a gritar "mala, mala"?
Fonte: / NOTIMP