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O renascer da defesa brasileira

Medidas de incentivo turbinam investimentos de fabricantes de componentes e equipamentos destinados às Forças Armadas .

FLÁVIO ILHA .

É com o ânimo renovado pelo anúncio de uma série de medidas de incentivo, na última quinta-feira, que o setor bélico brasileiro prepara um salto capaz de colocar o país entre os quatro maiores produtores de equipamentos e componentes para defesa do mundo. O entusiasmo é tanto que as indústrias do setor já falam em dobrar de tamanho nos próximos 10 anos, quando estarão em jogo projetos que somam US$ 40 bilhões em investimentos. O mercado estima que a indústria de componentes de uso militar movimente por ano no Brasil cerca de US$ 3 bilhões.

– Estamos saindo de uma situação praticamente vegetativa para a retomada de toda uma cadeia produtiva responsável por inovação e postos de trabalho de alta qualificação – comemora o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa (Abimde), Orlando Ferreira Neto.

Apenas em 2011, a União separou R$ 544 milhões para o desenvolvimento do projeto do novo avião de transporte militar da Embraer – batizada de KC 390, a aeronave deve começar a levantar voo em 2014. As perspectivas – o modelo já tem 24 pedidos firmes da Aeronáutica e uma prospecção de outras 120 unidades para o mercado global – obrigaram a Embraer a criar uma divisão específica para direcionar seus investimentos na área da defesa. A indústria estima disputar projetos de US$ 15 bilhões nos próximos anos.

– Não mediremos esforços para transformar esse segmento em um grande negócio – diz Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança.

Bom momento faz Iveco criar divisão específica

A Odebrecht, tradicional empreiteira identificada com a construção de estradas, também investe no setor militar. Em parceria com a francesa DCNS, está erguendo um estaleiro no Rio de Janeiro para abrigar a construção de cinco submarinos militares, um dos quais com propulsão nuclear. O projeto está avaliado em 6,7 bilhões de euros.

– Acreditamos nesse mercado, mas trata-se de projeto de longuíssimo prazo – avalia o presidente da Odebrecht Defesa e Tecnologia, Roberto Simões.

A empresa adquiriu no ano passado a Mectron, fabricante de mísseis, e tem parceria com outra francesa – a Cassidian – para o desenvolvimento de tecnologia de controle de fronteiras e regiões remotas. A joint venture projeta chegar à casa dos 500 milhões de euros em faturamento nos próximos cinco anos.

Em Minas Gerais, a Iveco – empresa fabricante de caminhões do grupo Fiat – está preparando a linha de montagem do blindado anfíbio Guarani, que está sendo desenvolvido em parceria com o Exército. O primeiro lote, que começa a ser fabricado no segundo semestre de 2012, envolve a encomenda de 2.044 veículos. O contrato chega a R$ 6 bilhões.

Um protótipo do modelo foi apresentado na última edição da Latin American Air & Defence (Laad), a maior feira latino-americana do setor realizada em abril no Rio de Janeiro. O Guarani servirá de base para uma família de blindados que poderá ter até 10 versões. A empresa investiu R$ 75 milhões para criar a divisão Iveco Veículos de Defesa.

– Vamos partir em busca de novos produtos para o segmento militar, seja para o Brasil, seja para exportação – projetou o presidente da Iveco Latin America, Marco Mazzu.

Pacote estimula modernização

As medidas anunciadas na quinta-feira pelo governo federal fazem parte do plano Brasil Maior e preveem uma política de compras governamentais e desoneração de impostos para o setor de defesa. O pacote ainda tem como objetivo contemplar uma antiga reivindicação das Forças Armadas, que se dizem desaparelhadas e sem equipamentos.

Serão beneficiadas pelo plano companhias que produzam equipamentos eletrônicos, armas, embarcações e aviões, entre outros. A proposta incentiva ainda a modernização tecnológica do setor, que reclama de sucateamento. A MP 544 cria um regime especial de IPI e PIS/Cofins para as empresas do setor, com alíquotas zeradas por um prazo de até cinco anos na industrialização e na venda à União. As medidas deverão ser regulamentadas num prazo de 30 dias, e as empresas terão de se cadastrar para usufruírem do benefício.

– O programa cria condições de autonomia para que as Forças Armadas não estejam dependentes de fornecedores externos para execução de suas funções – defendeu o ministro da Defesa, Celso Amorim.

A expectativa da Abimde é que as novas regras possibilitem a criação de 23 mil empregos diretos no setor num prazo de cinco anos.

O que vem por aí

PROJETOS EM ANDAMENTO

F-X2, para o fornecimento de novos caças para a FAB, SisGAAz, sistema integrado de gerenciamento da Amazônia Azul Prosuper, programa de reaparelhamento da Marinha no que se refere a navios M113, de modernização dos tanques do Exército Brasileiro Prosub, para construção de submarinos F-5M, de modernização de caças F-5 da FAB KC 390, novo avião de transporte tático militar.

Tecnologia gaúcha no ar

A gaúcha AEL Sistemas é uma das maiores beneficiadas pelo renascimento da indústria militar brasileira. Além de garantir componentes para os caças F-5 e os aviões militares ALX e AMX, da Embraer, a empresa vai fornecer 216 torretas não tripuladas para os blindados Guarani, que serão fabricados pela montadora Iveco em Minas Gerais.

As estruturas, equipadas com canhões de 30 milímetros e metralhadoras .762, permitem que os ocupantes dos veículos monitorem as incursões de ataque de dentro do tanque, com absoluta segurança.

– Temos vários contratos em andamento, que envolvem valores importantes. Nos últimos dois anos, dobramos de tamanho a cada exercício e, neste ano, projetamos crescer 35% – informa o vice-presidente de operações da AEL Sistemas, Vítor Neves.

A empresa, que faz parte do grupo israelense Elbit desde 2009, participa de praticamente todos os projetos importantes em desenvolvimento no país. Especializada em aviônica, a AEL será fornecedora da Embraer na fabricação do KC 390 e tem pré-acordos técnicos com as três empresas selecionadas para fornecer 36 caças à Força aérea Brasileira (FAB), com vistas à transferência de tecnologia. Também está envolvida na modernização dos helicópteros Esquilo, que está em desenvolvimento com a francesa Fagen. Com a Helibrás, a AEL tem contrato para fornecimento de displays e telas para a fabricação dos 50 helicópteros EC725 adquiridos pelas Forças Armadas.

A Digicon também aproveita o bom momento da indústria bélica para turbinar seus negócios na área de defesa, que hoje representam menos de 5% do faturamento da companhia. A meta é chegar a R$ 6 milhões de receita em médio prazo.

– Enxergamos como um negócio bastante promissor para o futuro – afirma Luiz Duarte, gerente de manufatura da Digicon Componentes Aeronáuticos.

Fonte: / NOTIMP










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