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Infraero no rumo da vida própria

Empresa que administra os aeroportos será modernizada. Impactos serão grandes .

Vladimir Goitia .

Trinta e nove anos depois de sua criação, a Infraero, responsável pela administração de 67 aeroportos em todo o país, caminha em direção diferente à de estatais que foram totalmente vendidas ao final da década de 1990, como a Telebrás e a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). Mas isso não quer dizer que ela não passará por mudanças significativas de modernização de sua estrutura e de governança, com importantes impactos em sua receita, produtividade e resultados financeiros.

Na opinião de especialistas, a estatal, que reúne 37 mil funcionários e é responsável por quase 97% do tráfego aéreo regular no Brasil e por 100% da carga aérea importada, está em mutação: terá vida própria, continuará ativa e com papel fundamental no mercado na nova formatação que vem sendo preparada para o sistema aeroportuário brasileiro. O modelo a ser adotado é de Sociedades de Propósito Específico (SPEs), cuja composição permitirá ao capital privado ficar com 51% delas. Os 49% restantes permanecerão com a Infraero.

"Assim como a quebra do monopólio da exploração do petróleo foi bom para a Petrobras, as SPE"s comporão obrigatoriamente um novo modelo de gestão para a Infraero, submetendo-a, necessariamente, a um processo de benchmarking", avalia José Wilson Massa, da JW Massa, empresa de consultoria em gestão de aeroportos. Mas, insiste o consultor, o modelo de gestão da empresa terá de ser revisto.

Mozart Mascarenhas Alemão, da Mozart Alemão Consultoria, empresa especializada em projetos de engenharia e consultoria aeroportuária, tem avaliação semelhante. Para ele, a Infraero não precisa ser concedida, e muito menos privatizada. Necessita apenas ganhar maior agilidade e passar por uma intensa revisão em sua administração.

"É importante que ela continue a existir, até porque precisará administrar aeroportos menores e não rentáveis com a receita que virá dos mais rentáveis. Por isso, acredito que, depois de consolidado o processo da nova formatação para o setor, a Infraero terá todas as condições para ficar eficiente e lucrativa", afirma Alemão.

Embora o lucro líquido da estatal tenha saltado de R$ 166,5 milhões, em 2009, para R$ 234 milhões, em 2010 (40,6% a mais), apenas sete dos 67 aeroportos administrados pela Infraero foram lucrativos no ano passado. Pelo menos 15 aeroportos tiveram receitas superiores aos custos de operação, mas esse número cai para sete quando se levam em conta os custos de depreciação dos ativos e da remuneração dos bens que pertencem à União.

Mas os planos da Infraero na "nova vida" que se aproxima não se restringem apenas a administrar aeroportos pouco lucrativos. O seu presidente, Gustavo do Vale, reconhece que a empresa "sairá do conforto do monopólio estatal" para uma economia de mercado e "irá à luta". Reconhece ainda que ela e o governo não têm mais condições de fazer investimentos nos próximos 30 ou 40 anos para, por exemplo, expandir a rede regional de aviação.

"Um país com as dimensões continentais do Brasil não pode se dar o luxo de não se expandir para o interior. Acredito que o destino da Infraero é se voltar para aeroportos em cidades médias, onde hoje não há infraestrutura [aeroportuária] condizente", afirma Vale. Para ele, chegou de fato um novo momento para a empresa, uma nova vida.

Ao fazer uma espécie de radiografia da estatal desde sua criação, na década do "milagre brasileiro", ligada ao Ministério da Aeronáutica, os especialistas lembram que ela vinha crescendo e obtendo bons resultados financeiros, pelo menos até 2002, quando passou por uma série de mudanças de modelo de gestão."Essas transformações afetaram significativamente seus resultados financeiros. Além disso, a empresa foi perdendo boa parte de seus principais e mais importantes técnicos, e os investimentos começaram a ser reduzidos", lembra Alemão.

De fato, emenda Adyr da Silva, professor da Universidade de Brasília (UnB), a partir daquele ano, a Infraero realizou dois programas de demissão voluntária. Mesmo diante desse "desfalque" técnico, Massa acredita que a Infraero ainda mantém um quadro de profissionais altamente preparados, que hoje estão participando da reestruturação do sistema aeroportuário do país.

"A empresa ainda tem massa crítica de bons quadros e experiência acumulada ímpar no setor. Recuperou sua lucratividade e se ocupa da meritória e sacrificante tarefa de gerenciar mais de 50 aeroportos altamente deficitários, mas essenciais à vida administrativa e econômica do país", acrescenta o professor da UnB. "É tão bem dotada de valores que resistiu a oito presidentes nos últimos dez anos."

Outro grande problema apontado por Alemão nos últimos anos na Infraero é a forte queda dos investimentos em áreas consideradas crucias para o setor aéreo do país, que acabaram gerando os problemas de hoje. "O maior agravante foi de 2006 para cá, período em que os recursos ficaram menores ainda. A execução de obras ficou bem abaixo do previsto. A isso se somaram entraves burocráticos que dificultaram não só contratos e compras como a busca de soluções", diz Alemão.

Em 2006, por exemplo, estavam previstos gastos de RS 2,8 bilhões, mas, até 2009, a Infraero havia executado apenas R$ 815 milhões. A empresa informa que, até 2014, estuda investir cerca de R$ 9 bilhões, dos quais mais de R$ 5 bilhões em aeroportos que têm ligação direta com a Copa do Mundo e Olimpíadas de 2016.

Fonte: / NOTIMP









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