David Neeleman: Azul está pronta para a disputa
Fundador da companhia avalia que, com melhor infraestrutura, aviação pode crescer até três vezes mais, mas alerta para alta de tarifas .
Rosana Hessel .
Fundador da Azul Linhas Aéreas, o empresário David Neeleman, acredita que a concessão de grandes aeroportos à iniciativa privada ajuda a impulsionar todo o mercado de aviação. "Se não fosse a atual infraestrutura precária, o setor poderia crescer duas ou três vezes mais", calcula.
Desde que a privatização foi anunciada pelo governo Dilma, ele avalia disputar os leilões, tendo como alvo principal Viracopos, em Campinas (SP), onde a companhia centraliza suas operações, para evitar a alta das tarifas aeroportuárias, como ocorreu no México, na Argentina e na Inglaterra. No Brasil, porém, a participação das aéreas foi limitada a 1%, o que não tirou completamente o interesse no negócio.
Nascido no Brasil e criado desde os cinco anos nos Estados Unidos, Neeleman também é (sic - foi) dono da Jet Blue, norte-americana, e da Westjet, canadense. Em menos de três anos de atividade, a Azul já detém quase 10% do mercado nacional e o empresário garante que tomará mais mercado da TAM e da Gol, que prestam serviços ruins. "Vamos continuar crescendo", avisa. A seguir, trechos da entrevista de Neeleman ao Correio.
Como avalia sua experiência no mercado brasileiro?
Quando começamos no Brasil, pensávamos que o mercado de aviação devia ser duas ou três vezes maior. Só que não tem muita infraestrutura para suportar esse crescimento. Em 2008, com 56,2 milhões de passageiros, tínhamos um índice de voos per capita menor que o do México. A taxa já melhorou, mas é seis vezes menor que a dos Estados Unidos. As tarifas são bem mais baixas agora do que antes de entrarmos no mercado, e tem mais gente viajando de avião.
Como a Azul deverá chegar ao fim de 2011, quando completará o terceiro ano de operação?
Temos planos para crescer. Hoje voamos para 40 cidades. Ainda este ano, vamos chegar a 45 destinos e, no ano que vem, a 55. Crescemos 50% em 2010 e esperamos ganhar outros 50% este ano. Temos quase 10% do mercado, mas em algumas rotas nossa participação é de 70%. Nossos aviões têm mais espaço e são mais confortáveis que os da concorrência. Os jatos Embraer 195 têm 118 lugares. O Boeing 737-800 da Gol tem 185 e querem colocar mais oito assentos. Não sei onde, só se for no banheiro.
Os aviões da Embraer são competitivos em comparação ao operados pela Jet Blue nos EUA?
Precisamos de 95 funcionários por aeronave, bem menos que nossos concorrentes — TAM, com 180, e Gol, com 150. Somos mais eficientes. E os aviões da Embraer gastam menos combustível, que, no Brasil, custa 50% mais que em outros países em razão da alta carga tributária. O querosene de aviação representa quase 45% dos custos de nossa empresa.
Quais os principais impostos que oneram o setor?
O Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é muito alto. Em São Paulo, a alíquota é 25%. O ICMS do querosene deveria ser fixo, e não uma porcentagem, porque aumenta ainda toda vez que o preço do combustível sobe. Nos EUA, o imposto é de US$ 0,01 por litro, e o custo de operação é menos de 30%. Há ainda o imposto de importação cobrado pela Petrobras, mesmo sendo o produto refinado aqui. Aliás, esse é mais um problema, o monopólio no fornecimento do combustível. Mesmo assim, as tarifas de aviação caíram desde que a Azul começou a operar. Quando começamos, a passagem média era duas vezes mais cara que nos EUA. Hoje não é mais, mas a única coisa parecida com os EUA é o preço do bilhete aéreo.
A Azul vai participar de leilões de concessão de grandes aeroportos?
Sim. Mesmo de forma residual, quero estar envolvido com o negócio porque tenho medo que esses aeroportos sejam vendidos por muito dinheiro e, depois, os vencedores da licitação venham querer cobrar muito mais para ter um retorno rápido e elevado, como aconteceu no México, na Inglaterra e na Argentina, cujos aeroportos privados estão entre os mais caros do mundo. Queremos participar da empresa que ganhar em Viracopos, que ainda vai ser o maior aeroporto do Brasil.
Como o senhor vê a lentidão dos investimentos de ampliação e reforma dos aeroportos da Copa?
A Infraero tem muita gente boa, mas, como é estatal, fica amarrada pela Lei de Licitações, sem agilidade. Não falta terreno nem dinheiro, só agilidade e visão. Em Brasília, por exemplo, escolhemos ficar fora do terminal central e ocupar o de taxi aéreo para termos melhores condições de operar. Se pudesse, criaria terminais próprios para fazer as coisas andar mais rápido.
Como está a frota da companhia? A empresa pretende fazer novas encomendas?
Temos 32 jatos Embraer e oito turboélices ATR. Vamos terminar o ano com 50 aviões. Mas já estamos negociando com a Embraer nossa próxima compra de jatos, para entrega no período de 2013 a 2015. O novo contrato será anunciado até dezembro. Vamos crescer conforme a demanda e, quem sabe, chegaremos logo a 100 aparelhos.
Fonte: / NOTIMP