Salgado Filho: Gargalo Aéreo
Mesmo com obras, Salgado Filho completa uma década ainda sem alternativas suficientes para atender à explosão da demanda por voos .
Um Aeroporto Sob Pressão .
Foi há 10 anos: o então novo terminal de passageiros do aeroporto Salgado Filho era inaugurado com a pompa e a circunstância necessárias, incluindo a presença de um presidente da República, porque o déficit do antigo prédio passava de 1 milhão de passageiros ao ano. Quem diria que, uma década depois, o déficit teria dobrado de tamanho e que as perspectivas para os próximos anos não seriam nada animadoras a ampliação prevista para começar ano que vem mira um horizonte apenas até 2018. Pelo andar da carruagem, o déficit neste ano estará próximo de 4 milhões de usuários.
– Infelizmente, as dificuldades vão continuar porque é apenas uma meia-sola no aeroporto. Pode rir, mas um projeto decente deveria considerar um terminal para os próximos cem anos – avalia o professor Hildebrando Hoffmann, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS.
Só que o horizonte desenhado por Hoffmann não se encaixa na realidade do Salgado Filho. Encravado na zona urbana da cidade, o aeroporto tem um limite além do qual jamais passará porque é impossível construir uma segunda pista ali. Dessa forma, é questão de tempo criar uma alternativa de movimentação aérea na Região Metropolitana.
– O setor cresceu muito rapidamente nos últimos anos, acima da capacidade projetada. Mas o movimento do segundo semestre já indica uma desaceleração – tranquiliza o superintendente do aeroporto Salgado Filho, Jorge Herdina.
De janeiro a julho, o crescimento do tráfego aéreo no terminal foi de 20,4%. Em números absolutos, foram cerca de 744 mil passageiros a mais nas áreas de embarque e desembarque. Desde que foi inaugurado, em 2001, o movimento de passageiros no Salgado Filho aumentou 188,5%. Nesse ritmo, chegará a 15 milhões de usuários por ano em 2021. As estimativas mais pessimistas dão conta de um movimento superior a 21 milhões de pessoas.
O memorial descritivo (veja quadro abaixo) que serviu de apoio à escolha da empresa responsável pelo projeto técnico da ampliação, entretanto, dá razão a Hoffmann. O documento deixa claro que o terminal não mudará de categoria e que continuará tendo apenas um corpo principal e uma ala de embarque e desembarque. A capacidade de atendimento a passageiros será ampliada para 10 milhões de usuários, embora a superintendência garanta que o cálculo foi refeito e preveja 12,5 milhões de passageiros. Segundo Herdina, o recorde de passageiros por hora no embarque do terminal atual está abaixo da capacidade do aeroporto em condições normais de operação – sem atrasos ou cancelamentos de voos.
Antes da reforma, a Infraero vai dotar o Salgado Filho de um módulo operacional (MOP) – a obra, que já começou, deve estar pronta até o final do ano. O módulo, apelidado pejorativamente de “puxadinho”, terá 1,8 mil metros quadrados e, segundo a superintendência regional do aeroporto, aumentará a capacidade de processamento simultâneo de passageiros em 50%. O investimento é de R$ 4 milhões.
– A saturação do aeroporto é uma questão de tempo. Quanto tempo não sabemos ainda. Mas é preciso ter uma alternativa urgente ao Salgado Filho – disse o diretor do Departamento Aeroportuário do Estado (DEA), Roberto Carvalho Neto.
Flávio Ilha
Ritmo Intenso
Desde 2001, movimento de passageiros cresceu 188,5% no aeroporto gaúcho
Hora de Decolar
Uma história simples para ilustrar em que pé está o Salgado Filho. Quem chega de carro ao aeroporto certamente já teve a infelicidade de descobrir que em muitos momentos não há vagas, nem no estacionamento pago. Em dias de maior movimento, chega a haver buzinaço de motoristas/passageiros ansiosos com a aproximação da hora do embarque e vendo que não encontrarão um lugar para deixar o veículo.
Essa cena quase que se repetiria no outro lado do terminal, no pátio de aviões do aeroporto. Só não ocorre porque novos pedidos de voos encaminhados por companhias aéreas não são concedidos. O motivo: não há espaço para mais um Boeing, um Airbus ou um Embraer. Empresas do terminal 1 e 2 gostariam de aumentar as opções para os passageiros, mas esbarram na falta de infraestrutura do aeroporto. Até são oferecidos novos horários de operações, mas em horas de baixo movimento, o que não tornaria o voo rentável.
Recentemente, como não conseguiu um novo horário para operar no Salgado Filho, a Avianca decidiu trocar, no primeiro e no último voo do dia para São Paulo, o MK28, com capacidade para cem passageiros, por um A318, o que a faz levar 20 pessoas a mais.
O crescimento do setor de aviação – com a proporcional criação de vagas de trabalho – fica refém da falta de planejamento de quem deveria agir na mesma velocidade dos aviões. Acostumados durante décadas com a ideia curta de que avião é para poucos, os planejadores acharam que um terminal com o visual bonito e repleto de lojas seria suficiente para dar conta do movimento. Esqueceram-se das novas companhias aéreas, da estabilidade econômica e do crédito fácil. Quando começou o atual século, parecia que Porto Alegre ficaria bem servida de aeroporto. Não precisou uma década para essa ideia cair por terra. Agora está na hora de os gestores do Salgado Filho mudarem a história e fazerem o aeroporto decolar para os novos tempos que estamos vivendo.
Marcelo Flach
Novo Terminal Ainda É Incerto
A alternativa que está sendo planejada pelo governo do Estado parece tão inviável quanto a segunda pista do Salgado Filho. A construção de um novo terminal, numa área na divisa dos municípios de Nova Santa Rita e Portão, além de cara, levaria pelo menos 10 anos para ficar pronta. Isso se tiver viabilidade técnica.
Na quinta-feira, as prefeituras das duas cidades entregaram ao governo do Estado os decretos de utilidade pública da área designada ao aeroporto. O terreno, de 2,5 mil hectares, fica entre as BRs 386 e 116 e a cerca de 25 quilômetros do centro da Capital. Segundo o diretor do DEA, Roberto Carvalho Neto, os decretos permitem que o Estado inicie a montagem de um estudo de viabilidade para o terminal. O primeiro passo é apresentar a delimitação da área ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), que tem de autorizar os estudos. A meta é obter aval do Cindacta no primeiro semestre de 2012. A partir daí, poderiam ser feitas as primeiras simulações técnicas do empreendimento.
– Já temos um primeiro esboço, que vamos transformar em croquis. Não queremos concorrer com o Salgado Filho, mas dar uma alternativa à demanda crescente. Em médio prazo, não mais acharíamos uma área similar na região – completou Neto.
Pelo esboço, o terminal teria capacidade para 30 milhões de passageiros/ano e duas pistas – de 3,4 mil metros e 2,7 mil – que permitem pousos e decolagens simultâneos. O investimento seria superior a R$ 700 milhões.
O secretário de Administração de Nova Santa Rita, Adauri Maciel, disse que está otimista com o projeto, embora reconheça a complexidade de implantação de um novo aeroporto.
– O investimento é alto, mas a importância do projeto é indiscutível – afirmou.
Fonte: / NOTIMP