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Rio: Soldados na favela



Preocupa o pedido do governo do Rio, de pronto aceito pelo Ministério da Defesa, de prorrogar a presença policial do Exército por oito meses além do prazo previsto -até junho de 2012, portanto- nos complexos de favelas do Alemão e da Penha.

A tomada dessa região na zona norte da capital fluminense, em novembro de 2010, representou um marco no combate ao controle territorial exercido pelo narcotráfico em bairros pobres da cidade.

Mas a operação de guerra, que contou com blindados da Marinha para vencer barricadas levantadas pelos bandidos, trouxe também a marca de perigosa exceção à lógica anterior de reconquista de território em outras favelas do Rio.

A cada morro retomado, uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) era instalada. O Estado voltava a se fazer presente para aquelas populações, e uma condição mínima de cidadania -a de igualdade de todos perante as leis- era devolvida a seus moradores.

Não foi o que ocorreu no Alemão e na Penha. A enorme extensão territorial do complexo de favelas exigiu do governo do Estado o pedido de auxílio ao Exército, que se ocuparia da tarefa de patrulhar as ruas da região até que novos policiais, 2.000 ao todo, pudessem ser encarregados do trabalho rotineiro de segurança.

Previa-se para outubro deste ano a instalação das novas UPPs, prazo que esta Folha já considerara, à época, por demais dilatado. Um novo período de espera é agora anunciado para a troca de guarda que, afinal, cumprirá a verdadeira reintegração daqueles moradores à cidade e à cidadania.

A situação se agrava com os relatos, também registrados neste jornal, da volta de comandantes do tráfico de drogas às favelas do Alemão e da Penha.

Não deve ser descartada a possibilidade de o crime organizado contaminar as forças que deveriam combatê-lo. Com o agravante de que tal contaminação ameaça agora uma das forças armadas, como antes fizera com uma parcela da polícia fluminense.

É inquestionável o sucesso, até aqui, da iniciativa do governo do Rio de pacificar favelas. Tampouco se ignoram a complexidade dessa operação e as dificuldades envolvidas em sua realização.

Por isso mesmo, é necessário que as autoridades trabalhem o mais depressa possível para levar policiamento rotineiro à região, retomada há quase dez meses. Assim poderá ser considerada concluída essa importante etapa do processo de eliminação dos bolsões de poder paralelo no Rio.

Exército e moradores entram em conflito no morro do Alemão

Militares usam spray de pimenta e dão tiros de bala de borracha contra pessoas da comunidade, que reagem. Uma mulher foi levada ao hospital ferida com um tiro de borracha na boca; há relatos de que existem mais baleados

CIRILO JUNIOR

Moradores e militares da Força de Pacificação do Exército entraram em confronto ontem, no complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio.

Os militares do Exército estão na área desde novembro do ano passado quando forças de segurança retomaram a comunidade, que era controlada por traficantes.

Bombas de efeito moral, balas de borracha e spray de pimenta foram lançados pelos soldados contra a população, que por sua vez, arremessava paus e pedras.

Segundo moradores, soldados mandaram um grupo que estava em um bar abaixar o som da televisão, o que desagradou as pessoas e deu início ao confronto.

O ativista René Silva, morador do complexo e dono do perfil do Twitter "A Voz da Comunidade", comentou, pela rede, que os militares usaram spray de pimenta. "Até eu fui agredido. Fiquei com os olhos ardendo", postou o jovem.

O Exército contesta. Segundo o major Marcus Bouças, o tumulto foi iniciado pelo "excesso de bebida" dos moradores que insultaram os militares que passavam.

Uma mulher foi ferida com um tiro de borracha, mas há relatos de outros baleados. Ao menos três pessoas foram detidas pelos militares.

Vídeo postado na internet mostra soldados atirando balas de borracha contra moradores, que não reagem.

A tropa, que conta com 850 homens, deve ficar na comunidade até junho de 2012.


Fonte: / NOTIMP







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