Governo refaz conta e 'amplia' aeroportos
Infraero altera metodologia de cálculo e, com isso, aumenta capacidade de terminais em 100 milhões de passageiros/ano .
Estatal alega mudança no perfil dos usuários e avanços tecnológicos, mas especialista critica solução com "canetada" .
RODRIGO MATTOS e MARIANA BARBOSA .
Pelas contas originais, a capacidade dos 13 aeroportos estratégicos para a Copa (12 cidades-sede mais Campinas) subiria para quase 150 milhões de passageiros/ano com os investimentos de R$ 6,4 bilhões previstos até 2014. Aplicada a nova metodologia, que leva em conta avanços tecnológicos e a mudança no perfil dos usuários, as mesmas obras agora elevarão a capacidade para 256,8 milhões de passageiros/ano.
Isso dá uma folga de 41% no sistema, considerando uma estimativa de demanda de 152,6 milhões de passageiros em 2014. Com essa margem, os aeroportos poderiam aguentar de cinco a dez anos além da Copa sem grandes investimentos, dizem especialistas. A IATA, associação internacional de empresas aéreas, recomenda folga de capacidade de ao menos 20%.
O especialista em transporte aéreo e professor da Coppe/UFRJ, Elton Fernandes, ironizou a mudança de metodologia: "Com uma canetada, todos os problemas do setor acabaram", disse.
Em fevereiro, Fernandes divulgou um estudo que mostra que dos 13 aeroportos, nove chegariam em 2014 com a capacidade esgotada. Financiado pelo Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas), o estudo foi baseado em dados de capacidade divulgados pela Infraero.
Em 2010, 104 milhões de passageiros passaram pelos 13 aeroportos, que tinham capacidade para receber 95 milhões de passageiros/ano pelos cálculos antigos. Pela nova metodologia da Infraero, o aperto vivido hoje por quem viaja de avião desaparece: a capacidade sobe para 140,6 milhões -35% acima da demanda.
Os novos cálculos de capacidade começaram a surgir em apresentações sobre os preparativos para a Copa divulgadas pela Infraero em seminários e na internet ao longo deste ano. O superintendente de Planejamento da estatal, Walter Américo, diz que o método passou a ser adotado oficialmente no início de 2010, depois de três anos de estudos. "Hoje você faz check-in pelo celular e isso reduz a necessidade de tantos balcões", exemplificou.
Os voos na madrugada, segundo ele, também influenciaram os cálculos. "Os aeroportos ficam abertos 24 horas, mas não considerávamos a madrugada no cálculo da capacidade. Mas agora há muitos voos."
Fonte: / NOTIMP