Entrevista: Presidente da TAM
Presidente da companhia afirma que, após um período de queda nas tarifas, preços vão agora aumentar de forma gradativa .
Lílian Cunha, Silvana Mautone e Nalu Fernandes, de O Estado de S. Paulo .
Nem só o luxo da cara primeira classe, nem apenas o aperto da econômica e suas tarifas baratas. O próximo passo da aviação, segundo o presidente da TAM, Líbano Barroso, deve ser "intermediário". A companhia assumiu uma nova postura, que inclui o reajuste escalonado das tarifas e a criação de uma nova classe de passageiros, a "Premium Economy", que não chega a ser a executiva, mas tem mais conforto que a econômica. A diferença, claro, será paga pelo consumidor.
"Até hoje, houve uma indução muito forte de preço para capturar esse novo cliente das companhias aéreas", disse o executivo, se referindo à nova classe média. "Esse cliente já se tornou cativo da indústria de aviação e agora é hora de começarmos a recomposição de margem do setor, aumentando preços de forma gradativa, trazendo equilíbrio entre receita e ocupação dos nossos voos", afirmou Barroso durante entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo, nesta segunda-feira, 12, em São Paulo. Abaixo, os principais trechos da entrevista:
Aumentar preços agora não pode afastar esse consumidor da nova classe média, que antes viajava de ônibus?
A questão do preço está muito ligada à oferta de número de assentos que existem no mercado. Tomamos a decisão de elevar o número de assentos da TAM para voos domésticos em 4%. Na nossa visão, o mercado ano que vem deve crescer menos do que está crescendo neste ano: em torno de 10%, enquanto agora em 2011 deveremos ficar entre 15% e 18%. Com esses novos assentos, mais a capacidade ociosa deste ano, seremos capazes de crescer aumentando nossa taxa de ocupação. Se as outras companhias tiverem atuação semelhante - ou seja, se elas promoverem um crescimento de oferta menor que a alta da demanda -, aí acreditamos que conseguiremos recuperar preços mantendo a inclusão desses novos clientes.
Em quanto a TAM planeja aumentar as tarifas?
Na divulgação dos resultados do segundo trimestre, sinalizamos que no terceiro trimestre teríamos um aumento médio do chamado "yeld" - que é o quanto que se cobra para voar um quilômetro - de 5% em relação a abril, maio e junho. Isso está acontecendo. Outro aumento de também 5% deve acontecer no quarto trimestre. Mas ainda não temos uma previsão de quanto será o reajuste.
A alta do preço do petróleo tem a ver com esse aumento?
No acumulado do ano, temos hoje um crescimento de 20% nos preços do petróleo. Acredito que o preço deve continuar
andando de lado, em linha com os valores atuais.
Como a companhia planeja continuar popularizando o transporte aéreo para esses novos consumidores e ao mesmo tempo oferecer uma classe intermediária, para quem pode pagar mais? Uma coisa não impede a outra?
Não. São estratégias totalmente complementares. Mas queria ressaltar que nossa estratégia não é a popularização, mas a de dar abrangência a todos os perfis de clientes. Tanto é que não usamos a categorização por classes sociais. Isso é muito limitador. O cliente da classe AB, por exemplo, tem um certo perfil de consumo enquanto executivo, durante os dias de semana. Mas, no fim de semana, ele tem outro comportamento, muito mais sensível a preço. Por isso, é importante segmentar, ter tarifas inteligentes para todos os públicos. Podemos fazer um preço especial desde que o cliente fique no destino final pelo menos quatro dias. Assim, não estaremos canibalizando o perfil do executivo, que vai e volta no mesmo dia, ou no dia seguinte.
O alvo da classe intermediária é o passageiro executivo?
O cliente executivo (que viaja a negócios) é nosso principal público. Ele representa 75% das viagens para a TAM e 70% para o mercado brasileiro. A tendência para os próximos dez anos é que esse cliente se mantenha como público primordial. Por isso, estamos atentos a todas as maneiras de oferecer mais conveniência para esse consumidor executivo e deixar para este cliente a opção de pagar por ela. Estamos estudando a criação de uma classe intermediária, também chamada de "Economy Plus" ou "Premium Economy" para voos domésticos e internacionais. Essa é uma possibilidade para o futuro. Também estamos oferecendo acesso à internet em quatro voos. Até o fim do ano, serão 30 voos, incluindo toda ponte aérea Rio-São Paulo.
E como anda a fusão da TAM com a chilena LAN?
Nosso plano principal agora é a conclusão da fusão com a Lan para criar a Latam. Por isso, diferente dos últimos dois anos, dessa vez não iremos ter recompra de ações. Mas estamos otimistas com relação ao processo de aprovação tanto aqui no Brasil quanto no Chile. Nossa previsão é de que a conclusão total do processo saia no primeiro trimestre de 2012. Por conclusão, entendemos a aprovação das auto de aviação civil, das autoridades de concentração econômica no Brasil e no Chile, assim como também de países europeus, a oferta de ações, a delistagem das ações da TAM e a listagem da Latam nas bolsas de São Paulo, do Chile e de Nova York.
No início de agosto, a TAM divulgou que em 90 dias teria uma posição final sobre se vai ou não comprar 31% da TRip. Como está essa situação?
Já concluímos o processo de due diligence fiscal e financeiro, que foi satisfatório. Há três semanas partimos para o chamado "full codeshare", o compartilhamento de voo, Calculamos que, em dois meses, teremos uma avaliação do valor dessa cooperação para poder definir o valor desses 31%.
A TAM está em algum grupo que vai disputar as concessões de aeroportos que o governo está preparando?
Não estamos, embora sejamos favoráveis ao processo. Temos interesse em participar, mas desde que o edital permita que a empresa tenha parte na governança da concessionária. Ou seja, queremos ter voz na direção, conselho ou conselho fiscal de uma eventual concessionária. Porque nossa grande preocupação é ter aumentos de custos operacionais com esse possível novo desenho da estrutura da companhia.
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