Defesa: Hora de sair do Haiti
Brasil vai começar a trazer de volta tropa a serviço da ONU .
O Brasil e países vizinhos que mantêm tropas no Haiti desde 2004 começam a discutir um plano de retirada dos efetivos em serviço naquele país caribenho. Com 2.185 brasileiros de capacetes azuis, temos lá o maior contigente entre os países que compõem a Minustah, como é chamada a força convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para pacificação do Haiti, em substituição a uma tropa multinacional liderada pelos Estados Unidos, que tinha sido enviada depois da queda tumultuada do governo de Jean Bertrand Aristide. Os atuais efetivos millitares no Haiti ainda conservam os reforços providenciados, inclusive pelo Brasil, em razão do terremoto de janeiro de 2010, que arrasou o país e deixou milhares de famílias ao desabrigo. O povo do Haiti ainda padece da ausência de infraestrutura social e econômica, com a maior parte da população vivendo abaixo da linha de pobreza e sem condições de esboçar reação consistente para tirar o país dessa situação. Apesar disso, parece haver o consenso generalizado de que, não fosse o desastre natural de 2010, a retirada já deveria ter começado.
De fato, nunca foi prudente a manutenção de tropas estrangeiras em qualquer país, mesmo em casos como o do Haiti, em que há o risco de a população ser submetida a atos de vandalismo e violência, em razão da desorganização social. Costuma ocorrer um natural desgaste na ação repressiva das tropas a grupos semiorganizados que tentam a todo instante assumir à força frações localizadas de poder. A permanência prolongada das tropas nessas condições acaba por dificultar o controle de outros tipos de problemas, como o que, há alguma semanas, constrangeram o governo do Uruguai, com o envolvimento de marinheiros de sua missão em casos de estupro. Foi, portanto, acertada a iniciativa brasileira de incluir na pauta da última reunião de representantes dos países sul-americanos com tropas no Haiti, realizada em Montievidéu, quinta-feira, o processo de encerramento daquela missão. A ideia é chegar à próxima reunião do Conselho de Segurança da ONU, em 15 de outubro, com um plano pré-aprovado entre os vizinhos do sub-continente.
A renovação do mandato da Minustah está na pauta dessa reunião e o conselho já sinalizou sua concordância em iniciar a transferência gradual da segurança do país caribenho a seu próprio governo. O Brasil defende a retirada gradual e negociada com as autoridades do Haiti, de modo a evitar um hiato perigoso entre a saída dos soldados da ONU e a retomada das ações pelas forças oficiais locais. Nessa linha, os ministros da Defesa, Celso Amorim, e das Relações Exteriores, Antonio Patriota, vão propor que, num primeiro momento, o efetivo da força de paz volte ao contigente anterior ao do terremoto, quando passaram de 9 mil para 12.250 homens, dos quais 8,7 mil soldados e 3,5 mil policiais. Fez muito o Brasil em ter dado contribuição digna de seu tamanho e importãncia no continente e, mais ainda, de ter se desdobrado no momento mais dramático da tragédia haitiana. E agora, que só há razões para a retirada da tropa, o governo brasileiro, que por enquanto coleciona bons resultados dessa delicada missão, acerta ao voltar a influir para que a saída se dê de modo organizado e sem pôr a perder a boa imagem que nossos soldados construíram no sofrido Haiti.
Fonte: / NOTIMP