Constantino Júnior, da Gol, ficou R$ 600 milhões mais pobre
Ele e os irmãos perderam, cada um, cerca de 600 milhões de reais com a desvalorização de 54% das ações da Gol neste ano. É o pior momento da empresa na bolsa .
São Paulo - A abertura de capital da Gol foi um marco para o mercado brasileiro de capitais. Segunda empresa a estrear na Bovespa na onda de ofertas de ações que começou em 2004 com a Natura, a Gol captou quase 1 bilhão de reais com a operação. Seus papéis chegaram a valorizar mais de 200% nos anos seguintes.
No auge, a Gol valia três vezes mais do que a chilena LAN e quatro vezes mais do que a americana JetBlue. Após o IPO, Constantino de Oliveira Júnior, presidente da companhia aérea, e seus três irmãos ingressaram na lista de bilionários da revista Forbes. Passados sete anos, no entanto, a história é bem diferente: a antiga queridinha vive hoje um drama particular na bolsa de valores.
A ação caiu 54% no ano, a terceira maior baixa entre as empresas mais negociadas (a desvalorização da principal concorrente, a TAM, foi de 12%).
O papel nunca esteve tão barato — nem mesmo durante a crise financeira de 2008, a relação entre o valor de mercado da companhia e a sua geração de caixa foi tão ruim. Com a baixa, Júnior e os irmãos perderam, cada um, em torno de 600 milhões de reais em nove meses.
O que está acontecendo? Em parte, o mau desempenho na bolsa se deve aos números decepcionantes divulgados nos últimos meses: a Gol anunciou um prejuízo de 359 milhões de reais no segundo trimestre e informou que sua margem operacional seria bem menor que a esperada.
Além disso, há o risco de a recente valorização do dólar prejudicar ainda mais os resultados da empresa por elevar o custo do combustível e da dívida em moeda estrangeira. São dados preocupantes. Mas esse não é o único problema.
Outras companhias, como B2W e JBS, e bancos médios, como o BicBanco, também vêm apresentando números sofríveis e suas ações estão indo melhor.
A questão é que, hoje, analistas e investidores não confiam no que a cúpula da empresa diz — e, sem confiança, não há ação que resista.
“O clima é de desorientação. No começo do ano, a Gol disse que estava protegida contra a alta do preço do petróleo e que o prejuízo seria de apenas 50 milhões de reais. Mas a perda foi muito maior”, diz Rosangela Ribeiro, analista da corretora SLW. Metas ambiciosas não foram cumpridas, o que não ajudou em nada.
Nos últimos dois meses, a Gol resolveu agir para tentar brecar a queda das ações. Uma das medidas foi reformular o conteúdo das apresentações ao mercado.
Se, até julho, os executivos da área de relações com investidores passavam cerca de 40 minutos falando sobre o potencial da Copa do Mundo e da Olimpíada para o mercado de aviação e sobre o aumento das viagens de avião no Brasil, hoje, o foco é detalhar o plano de corte de custos, mostrar como a empresa sairá do vermelho e de que forma integrará as operações da Webjet, comprada em julho.
“Antes, a comunicação da Gol era fácil: bastava falar das perspectivas de crescimento. Agora, eles precisam convencer os investidores de que estão no caminho certo”, diz Victor Mizusaki, analista do banco UBS. “Estamos sendo muito mais questionados”, diz Leonardo Pereira, vice-presidente de finanças da empresa, que é acompanhado por Júnior em alguns desses encontros.
A meta é economizar 650 milhões de reais até o fim de 2012, por meio de reestruturações administrativas — em setembro, foram extintas quatro diretorias e uma vice-presidência —, devolução de aeronaves, acordos para reduzir os gastos com manutenção e inclusão de mais assentos por avião (Pereira garante que as poltronas extras serão colocadas em áreas ociosas e, assim, os passageiros não ficarão mais apertados; a conferir).
A empresa também contratou o economista Marcelo Neri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro e especialista em baixa renda, para fazer uma palestra para investidores estrangeiros sobre o potencial de consumo da nova classe média.
Nada de surpreendente no conteúdo que será apresentado por Neri: ele vai mostrar que, num período de 11 anos até 2014, uma população equivalente à da França terá migrado para as classes A, B e C, “o que elevará o consumo de diversos itens, de vestuário a passagens aéreas”.
O objetivo da contratação do economista, segundo Pereira, é dar “legitimidade” ao discurso da Gol. Fora isso, a empresa anunciou que vai recomprar 9,3 milhões de papéis preferenciais, o equivalente a 10% do total em circulação.
A recuperação pode demorar
É suficiente? As ações voltaram a subir recentemente — nos últimos 30 dias, a alta foi 12% superior à do Ibovespa. Mas a maioria das corretoras que rebaixaram a previsão para os papéis da Gol não voltou a melhorar sua avaliação. “Temos de pagar para ver”, diz um relatório do HSBC.
É o tipo de ceticismo que deve dominar as cerca de 150 reuniões com investidores que os executivos da companhia já têm agendadas até o fim deste ano, aqui e no exterior.
“Claro que sentimos a pressão de fazer a ação voltar a subir, até porque nossa remuneração variável depende disso, mas sabemos que esse é um trabalho de convencimento de longo prazo. Esperamos ver resultados mais palpáveis no início de 2012”, diz Pereira.
Por que no começo do ano que vem? É quando a empresa vai divulgar o balanço de 2011, e só aí os investidores saberão se o plano de corte de custos foi bem-sucedido.
Também vai levar alguns meses até que fiquem mais claros quais serão os ganhos da compra da Webjet e como será a competição com a gigante criada após a fusão entre a LAN e a TAM. Até lá, é difícil que os irmãos Constantino recuperem o que cada um perdeu.
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Foto: Luis Argerich