Especial Jobim: Dilma demite Jobim e põe Celso Amorim na Defesa
Ministro cai após criar embaraço com comentários pejorativos sobre colegas .
Dias depois de declarar voto em Serra em 2010, Jobim chamou Ideli Salvatti de "fraquinha" em entrevista a revista .
A presidente Dilma Rousseff oficializou ontem a demissão do ministro Nelson Jobim (Defesa) e nomeou para seu lugar o chanceler do governo Lula, Celso Amorim.
É o terceiro ministro a deixar o governo em menos de oito meses de gestão.
A decisão foi tomada ontem pela manhã, depois de a presidente ler reportagem sobre Jobim na revista "Piauí", cujo conteúdo foi antecipado pela Folha, na qual ele faz comentários pejorativos sobre colegas de ministério.
Dilma considerou "insustentável" a situação de Jobim diante de suas declarações à revista, em que classificava Ideli Salvatti (Relações Institucionais) de "fraquinha" e dizia que Gleisi Hoffmann (Casa Civil) "nem conhece Brasília". Ele relatava o que considerou "trapalhadas" na polêmica sobre o sigilo eterno de documentos oficiais.
Jobim, que passou o dia de ontem em viagem à fronteira do Brasil com a Colômbia, chegou ao Planalto por volta das 20h. Antes de voltar, havia dito que suas palavras foram tiradas do contexto.
O ministro antecipou seu retorno a pedido de Dilma, com quem conversou por telefone à tarde. Na conversa, a presidente sugeriu a Jobim que pedisse demissão. "Ou você pede demissão ou eu terei que demiti-lo", teria dito.
Num encontro no Planalto que não durou cinco minutos, Jobim entregou a carta de demissão.
SUBSTITUTO
Escolhido como substituto, Celso Amorim, ex-ministro de Lula tal como Jobim, chegou a ser cogitado para o cargo durante a montagem do governo de Dilma.
Nos últimos dias, assessores da presidente disseram à Folha que Amorim dava indicações de estar em campanha para assumir o posto.
Dilma só ligou para Amorim após receber a carta de Jobim. O ex-chanceler já tinha dado sinal positivo, ao ser sondado, por telefone, pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. As conversas, com Dilma e com Carvalho, foram curtas.
"Eu e a presidente nos damos muito bem", limitou-se a dizer Amorim à Folha, depois de confirmado na vaga.
Segundo ele, o ato de nomeação deverá sair já no "Diário Oficial da União" de hoje, mas as cerimônias de posse e transmissão de cargo ficarão para segunda-feira.
O trecho da reportagem da "Piauí" que mais irritou Dilma não foi a citação às ministras, mas como Jobim relatou à revista conversa entre os dois sobre a contratação do ex-deputado José Genoino para ser assessor na Defesa.
Segundo a revista, ela perguntou se ele seria "útil", ao que Jobim respondeu: "Presidente, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu".
Jobim havia escapado de uma demissão anteontem, quando se reuniu por cerca de uma hora com Dilma para explicar declarações de que votou em José Serra em 2010.
Alvos de ataques de Jobim, as ministras Ideli e Gleisi reagiram de maneira comedida.
Em entrevista à Folha e ao UOL, Ideli classificou as declarações de "desnecessárias". Gleisi divulgou, por assessoria, que considerava "irrelevante" o comentário.
Jobim tentou desfazer o mal-estar ligando anteontem à noite para Ideli e Gleisi.
Conseguiu falar com a primeira, mas não teve sucesso com a segunda. À tarde, negou ter feito comentários desabonadores a colegas.
Personalista, Jobim foi o primeiro titular de fato da Defesa
Caos aéreo, Comissão da Verdade parada e novela sem fim sobre a compra dos caças estão entre os fracassos
Igor Gielow
Os quatro anos do gaúcho Nelson Jobim à frente da pasta da Defesa, com diversas polêmicas, significaram até para seus detratores o primeiro mandato de um ministro civil à frente dos assuntos militares no país.
Desde que Fernando Henrique Cardoso criou o ministério e submeteu as três Forças Armadas a ele, em 1999, seu objetivo institucional não havia sido alcançado.
Houve ministros fracos politicamente (como Élcio Álvares), ineptos (como Waldir Pires) ou apáticos (como Geraldo Quintão ou José Alencar).
Nenhum deles, contudo, fez frente aos seus comandados militares, acostumados por décadas a cuidar cada um de seus interesses, orçamentos e prioridades -fora as incursões na política, com os resultados conhecidos.
Com Jobim, que herdou o caos aéreo da gestão Waldir Pires, as coisas mudaram. Respaldado por Lula e compondo com os militares em questões caras à caserna, como na disciplina imposta aos controladores de voo ou contra a revisão da Lei de Anistia, Jobim ganhou autoridade inexistente nos antecessores.
O crescimento econômico dos anos Lula lhe possibilitou dar aos fardados reajustes e programas de modernização ao mesmo tempo em que mudava de fato a estrutura de comando.
Criou em 2010 o arcabouço jurídico para as compras de defesa. A indústria bélica se reorganizou, com divisões específicas saindo das costelas de gigantes como a Embraer e a Odebrecht, buscando novos negócios.
Ao mesmo tempo, a histórica regra do "cada um cuida do seu" nas Forças teve a lógica quebrada pela unificação das compras militares em uma secretaria. Ainda é algo incipiente, mas poderá racionalizar gastos.
O personalismo de Jobim à frente da pasta, que contribuiu para sua saída, cria um inevitável ponto de comparação com o diplomata Celso Amorim, que o sucederá. Com o agravante de que a contenção de gastos não dará espaço de manobra ao próximo ministro.
Outros fracassos ocorreram. O caos aéreo, que toma ares de drama com a proximidade da Copa-2014, não foi resolvido, e sim terceirizado para uma secretaria própria. A discussão sobre a Comissão da Verdade, a ser votada no Congresso, ainda está longe de ser pacífica.
A modernização militar ocorre aos trancos e barrancos. A escolha da França como parceira militar prioritário gerou uma grande dependência, ainda que os programas de submarinos e helicópteros estejam andando, mesmo que com críticas.
Já a compra dos novos caças para a FAB é uma novela sem fim e uma derrota pessoal de Jobim. Grande francófilo, por assim dizer, ele quase viu o modelo francês Rafale levar o negócio no governo Lula, mas agora tudo está na estaca zero.
Fica ainda um avanço. Ainda que megalômana e falha, a Estratégia Nacional de Defesa publicada em 2008 é um marco da transparência num setor fechado por natureza, assim como o "Livro Branco", em elaboração, com o raio-X militar do país.
Militares criticam escolha de diplomata para Forças Armadas
Considerado incógnita, Celso Amorim terá de vencer desconfiança especialmente no Exército Dilma convidou os três comandantes militares, que tinham boa relação com Nelson Jobim, a permanecer nos cargos
Eliane Cantanhêde
A reação ao nome do embaixador Celso Amorim para a Defesa foi ruim particularmente no Exército, que teve uma relação difícil e conflituosa com um outro ministro da Defesa pinçado da carreira diplomática: o embaixador José Viegas, que ocupou a pasta no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Oficiais que trocaram telefonema ontem à noite criticaram a escolha de Amorim e um deles foi bem claro em conversa com a Folha: "Desde quando diplomata gosta de guerra? É como botar médico para cuidar de necrotério. Parece brincadeira".
Apesar do temperamento duro de Jobim, ele tinha boa relação e o respeito dos comandantes e dos oficiais-generais (os de maior patente) das três Forças, que reconheciam nele um aliado para reivindicar programas e para reduzir o que consideram "preconceito" do governo de esquerda contra os militares.
A boa relação não se reproduzia nas bases militares, que consideravam Jobim "arrogante" e ironizavam que ele se comportava como "dono das Forças Armadas".
Mas eram críticas internas, que não comprometiam o comando e a desenvoltura de Jobim nas três Forças.
Quanto a Amorim, ele é tido como uma grande incógnita, mas militares do Exército admitem que a primeira fase de adaptação mútua não será fácil. Um grande desafio do novo ministro é a falta de perspectiva de descontingenciamento dos recursos severamente atingidos pelos cortes no Orçamento.
Dilma não fez consulta formal, mas sim uma deferência com os três comandantes militares, o general Enzo Peri (Exército), o brigadeiro Juniti Saito (Aeronáutica) e o almirante Júlio Soares de Moura Neto (Marinha).
Ela convidou ontem os três para permanecer nos cargos, o que foi interpretado como uma forma que ela encontrou para consultá-los sobre a escolha de Amorim.
Uma curiosidade é que Jobim e Amorim nunca foram amigos ou mesmo próximos durante a convivência no governo Lula. A interlocutores, costumavam fazer comentários irônicos sobre o outro.
WIKILEAKS
Jobim mais de uma vez enveredou por áreas e manifestações que caberiam ao Itamaraty. Telegramas da Embaixada dos EUA em Brasília obtidos pelo WikiLeaks indicaram, via relatos de diplomatas, que Jobim quis se afirmar como interlocutor privilegiado dos americanos.
Para o ex-embaixador Clifford Sobel, Jobim pareceu determinado a "desafiar a supremacia histórica do Itamaraty em todas as áreas da política externa". Numa conversa em 2008, Jobim disse que o então secretário-geral de Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães, "odeia os EUA" e queria "criar problemas" na relação bilateral.
Também confrontou Amorim em negociações sobre uma eventual adesão ao Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Fonte: / NOTIMP
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Cotado desde a transição
A indicação de Celso Amorim para a pasta até ontem comandada por Jobim foi idealizada logo após Dilma ser eleita, mas não ocorreu devido a pedido de Lula. Ex-chanceler defende redução da tropa brasileira no Haiti
Paulo de Tarso Lyra e Tiago Pariz
A presidente Dilma Rousseff queria nomear o então chanceler Celso Amorim desde os tempos do governo de transição no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, no fim do ano passado. Mas acabou cedendo à pressão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e manteve Nelson Jobim no cargo. Dilma quer imprimir à pasta um perfil "mais estratégico e menos Força bruta, semelhante a um batalhão de engenharia e logística", segundo uma fonte palaciana. Amorim tem a seu favor o fato de comungar da mesma noção de soberania nacional tão cara às Forças Armadas. Mas, para ter o respeito das tropas, terá que reduzir o viés ideológico que caracterizou sua gestão durante os oitos anos do governo Lula.
Essa mesma ideologia impediu Amorim de permanecer no Ministério das Relações Exteriores. Dilma queria imprimir uma nova política externa, mais próxima dos Estados Unidos — eleito como grande inimigo na reta final do governo Lula — e menos afável aos países que violavam os direitos humanos sob o argumento de "interesse comerciais". Amorim tentou permanecer no posto, mas a presidente optou por Antonio Patriota, ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos, casado com uma norte-americana. A escolha já rendeu frutos: depois de tantas derrotas, o Brasil finalmente venceu uma eleição internacional, com a escolha de José Graziano para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
Com Jobim, a relação nunca foi de proximidade, situação agravada após o então ministro de Lula afirmar, durante reunião da cúpula do Executivo, no ano passado, que não teria como fazer campanha para a petista por "ser amigo de José Serra". Após eleita, Dilma manteve Jobim na pasta, mas foi, aos poucos, esvaziando suas atribuições. Primeiro, adiou a compra de caças para a Força Aérea Brasileira indefinidamente. Depois, escanteou o peemedebista das articulações com o Judiciário. Por fim, empurrou para a frente os debates sobre os submarinos militares de propulsão nuclear. Por diversas vezes, Jobim pensou em pedir demissão.
Sucessor
A escolha de Amorim é vista com ressalvas e encontra críticas na caserna. Na avaliação dos militares, o novo ministro deverá rever alguns de seus entendimentos, como a visão estratégica de aproximação à França, por exemplo. Sobretudo no Exército, muitos generais se espelham nas experiências dos Estados Unidos e da Inglaterra, e não tanto nos franceses. Mas lembram que Amorim foi um dos formuladores da política de aumento da capacidade militar do Brasil, que leva em conta a possibilidade de o Brasil ser a quinta maior economia do mundo, ter enormes reservas de petróleo com a camada pré-sal e o aumento da potência agrícola. Partiu dele, antes mesmo de Jobim assumir o Ministério da Defesa, a proposta de reaparelhar as três Forças, dando sequência à compra dos caças pela Força Aérea e à construção do submarino nuclear.
Os militares consideram que a política externa do Brasil, ao se orientar na busca por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), passou a dar mais destaque à política de defesa nacional. A caserna lembra a liderança do Brasil na Força de Paz enviada ao Haiti autorizada depois das negociações lideradas pelo Itamaraty, o que aprimorou o treinamento da tropa para situações de guerra. Em entrevista ao programa É notícia, da RedeTV!, na semana passada, Amorim defendeu uma retirada gradual da Força na ilha da América Central: "Prontamente, deveriam voltar para o Brasil os militares que foram adicionados à tropa depois do terremoto que devastou o pequeno país caribenho em 2010".
Agora, entre os desafios que passam à tutela de Amorim, estão a aprovação pelo Senado da Lei de Acesso à Informação e a instalação da Comissão da Verdade para investigar crimes praticados durante a ditadura. Jobim vinha trabalhando para reduzir as resistências no Congresso sobre a divulgação de material do governo, incluindo os dados classificados de ultrassigilosos de gestões passadas.
Desafios
O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, vai herdar de seu antecessor pelo menos quatro temas de relevância e de polêmica. São eles:
Estratégia Nacional de Defesa
Além de reForçar as fronteiras, prevê a modernização das Forças Armadas para os próximos 30 anos.
Caças
A compra dos aviões caças, um dos temas mais discutidos durante o governo Lula, deve voltar à tona.
Comissão da Verdade
Parte dos militares não aceita que sejam retomadas investigações sobre a ditadura.
Copa do Mundo
As Forças Armadas, que também participaram do Pan-Americano, atuarão principalmente na área de inteligência.
Fonte: / NOTIMP
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Reação em três atos
Jobim desafina novamente e é demitido. Celso Amorim assume Ministério da Defesa
Depois de constranger o governo, afirmando ter votado em José Serra nas eleições de 2010, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tornou insustentável sua permanência, ao dizer que a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, "é muito fraquinha" e que a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, "sequer conhece Brasília". Dilma o demitiu e nomeou para o seu lugar o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.
Sai Jobim e entra Amorim
Terceira demissão no ministério de Dilma ocorre depois de declarações constrangedoras do titular da Defesa. Presidente consultou Lula antes de fechar nome do substituto
Depois de uma série de declarações constrangedoras para a presidente Dilma Rousseff e o governo, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi finalmente demitido. A decisão de afastá-lo foi tomada ainda na noite de quarta-feira, depois que Dilma foi alertada pela ministra da Secretaria de Comunicação, Helena Chagas, das afirmações do ministro à revista Piauí. "De novo?! Não é possível. Estive com ele de manhã e não me disse nada disso", comentou Dilma, indignada. Ontem, por volta do meio-dia, a presidente ligou para Jobim, em Tabatinga, no Amazonas. Na conversa, que durou menos de três minutos, foi direta: "Ou você pede para sair ou eu saio com você". A presidente estava tão chateada que Jobim não tentou se explicar, como das outras vezes em que se viu enrascado por afirmações polêmicas. Antes de voltar a Brasília, cumpriu agenda em Tabatinga, de forma lacônica, certo de que, em algumas horas, seria ex-ministro. Quando estava dentro do avião, preparando-se para continuar a viagem até Letícia, na Colômbia, recebeu outro telefonema de Dilma, às 14h50, com uma ordem expressa para que retornasse ao Distrito Federal. Entre uma ligação e outra, Dilma havia fechado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o nome do sucessor, o ex-chanceler Celso Amorim.
Um dos aviões a serviço da comitiva brasileira voltou de Tabatinga com Jobim e três assessores. No voo, ele revisou a carta de demissão – pedindo o afastamento de forma "irretratável" – e fez uma lista de pessoas a quem deveria avisar em primeira mão: a mulher, Adrienne, os filhos, alguns ministros, parlamentares e amigos.
A revista Piauí que chega às bancas hoje traça um perfil do então ministro da Defesa, entremeado com declarações a respeito de outras áreas do governo e críticas às ministras de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a quem Jobim chama de "fraquinha", e à da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, tratada como uma pessoa que não conhece Brasília. As declarações selaram o destino de Jobim.
Dilma estava engasgada com Jobim desde o início de julho, quando o ministro, ao participar de homenagem aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que FHC era um "estadista" e não "levantava a voz para seus subordinados". Na semana passada, Jobim disse em entrevista ter votado no tucano José Serra para presidente da República. Ali, o ministro perdeu o apoio da própria sigla, que ontem lavou as mãos. E Dilma começou a procurar um substituto. Nestes primeiros sete meses de governo, Jobim é o terceiro ministro a cair, depois de Antonio Palocci (Casa Civil) e Alfredo Nascimento (Transportes).
Fonte: / NOTIMP
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Questão da compra de caças contribuiu para desconforto entre Jobim e Dilma
A questão da compra dos caças que renovarão as Forças Armadas é uma das causas do indisfarçável desconforto de Nelson Jobim à frente do Ministério da Defesa durante o governo Dilma Rousseff.
Jobim, que daria como praticamente certa a compra dos caças franceses Rafale, da Dassault Aviation, teria ficado desapontado com uma possível preferência pessoal de Dilma por aviões da americana Boeing.
O impasse e a demora do governo em bater o martelo a respeito da compra dos caças teria irritado Jobim e contribuído para que ele, tido como um homem de personalidade forte, aumentasse o tom de críticas e insinuações que, claramente, têm causado desconforto no Palácio do Planalto.
A polêmica sobre a compra de 36 novos caças se arrasta desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Além da Dassault e da Boeing, o Brasil também analisa ofertas da sueca Saab.
O então presidente Lula chegou a fazer manifestações públicas em apoio ao modelo proposto pela França. Mas ao tomar posse no início deste ano, Dilma Rousseff decidiu reavaliar as ofertas e suspendeu o processo de compra dos aviões.
Fonte: / NOTIMP
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Jobim nega críticas à ministra Ideli Salvati e a outros integrantes do governo
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, negou hoje ter feito críticas à ministra chefe da Secretaria de Reações Institucionais, Ideli Salvati. Segundo a coluna da jornalista Monica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, as supostas críticas de Jobim à sua companheira de governo teriam sido feitas à revista Piauí, que circula a partir de amanhã com reportagem que traça o perfil do titular da Defesa. "Em momento algum, fiz referência à ela dessa natureza", disse.
Jobim afirmou que tem auxiliado Ideli Salvati nas articulações no Senado com o objetivo de aprovar o projeto de lei em tramitação que trata do acesso a informações públicas. Ele elogiou a ministra de Relações Institucionais e também negou ter feito qualquer comentário depreciativo em relação a outros membros do governo. "Reconheço na Ideli capacidade e tenacidade importantíssimas na condução dos assuntos dentro do Congresso", destacou.
O ministro da Defesa classificou as informações veiculadas na imprensa como "parte de um jogo de intrigas" e uma tentativa de desestabilizá-lo. "Isso faz parte daquilo que passa pela cabeça de quem não conhece a necessidade de um país", afirmou.
Jobim participou hoje, em Tabatinga (AM), da solenidade de assinatura de um acordo para a adoção a adoção de um plano binacional de segurança fronteiriça entre o Brasil e a Colômbia. Participaram também do ato o vice-presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, além de outras autoridades dos dois países.
Fonte: Ministerio da Defesa / NOTIMP
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Jobim foi "deselegante" ao criticar colegas, diz Lula
Para ex-presidente, ministro faz um trabalho "excepcional" na Defesa e Dilma deve conversar com ele: "Dois gaúchos se entendem. Ou não se entendem."
Lu Aiko Otta, da Agência Estado
BOGOTÁ - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou deselegante a atitude do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de criticar colegas de ministério. "Se o Jobim fez aquilo, não é correto", disse. "Não é correto fazer críticas sobre outros ministros, não é elegante." Questionado se isso seria caso de demissão, ele disse não saber.
Lula foi informado de que Jobim e a presidente Dilma Rousseff tiveram uma conversa na quarta-feira, 3, à noite, da qual os dois saíram satisfeitos. "Se ele não falou para ela da Piauí e ela ficou sabendo da Piauí, realmente cria uma situação constrangedora para ele que não falou e para ela. Foi muito deselegante."
O presidente elogiou a atuação de Jobim e afirmou que ele vem conduzindo o Ministério da Defesa "com muita grandeza" e fazendo um trabalho "excepcional". "Mas até o Pelé, se estiver jogando mal, o técnico tira, pô."
Para Lula, é um "erro histórico" achar que Jobim era indicação sua para o governo de Dilma. "A presidente Dilma se reunia com meus ministros muito mais do que eu", observou. Cada proposta que chegava para sua apreciação, explicou Lula, era discutida antes em dez reuniões com Dilma, então sua ministra da Casa Civil. "Os ministros eram mais amigos dela do que meus amigos." Lula acrescentou ainda que Dilma e Jobim vão conversar: "Dois gaúchos se entendem. Ou não se entendem."
Militares consideraram Amorim a pior escolha possível para a Defesa
Segundo fontes das Forças Armadas, há resistência contra o ex-chanceler devido às suas decisões 'completamente ideologizadas' durante o governo Lula
Tânia Monteiro, da Agência Estado
BRASÍLIA - A indicação do ex-chanceler Celso Amorim para o Ministério da Defesa já está provocando reações contrárias em Brasília. Militares dos altos comandos das Forças Armadas consultados pela reportagem consideraram esta "a pior escolha possível" que a presidente poderia ter feito.
Segundo esses interlocutores, Amorim contrariou "princípios e valores" dos militares nos últimos anos quando esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores e até ex-ministro Nelson Jobim contornava as polêmicas causadas por decisões "completamente ideologizadas" de Amorim. Essas fontes questionam por que o governo decidiu colocar de novo um diplomata sobre os militares. Eles lembram que isso não deu certo com José Viegas e "não vai dar de novo". Para esses militares, a decisão da presidente foi precipitada, mas vão ter que engolir.
No meio militar, saída é bem-vinda, mas sucessão preocupa
Tânia Monteiro
Militares costumam dizer que um general da reserva manda menos do que o cabo encarregado do refeitório. A frase retrata a decomposição do poder de um alto coturno quando perde voz de comando.
Celebrado pelos militares pela capacidade de interlocução com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Nelson Jobim foi para a "reserva" no governo Dilma Rousseff.
Deixou de ser ouvido pelo Palácio do Planalto, e ultimamente até nas demandas orçamentárias. Sem poder de persuasão, deixou de representar a tropa, que começou a procurar interlocução diretamente com o Ministério do Planejamento para tratar de dinheiro.
Patente. Além da falta de prestígio, Jobim, por protagonizar polêmicas, expôs a pasta a uma agenda negativa. "Ele perdeu o apreço dos militares por suas atitudes", comentou um "quatro estrelas", oficial general de posto mais elevado, ao citar as declarações recentes de Jobim.
A identidade do novo ministro, porém, causava apreensão na caserna. Há resistência a um quadro que venha de outra carreira de Estado, como é o caso do escolhido de Dilma: o ex-chanceler Celso Amorim. Militares, fora o ego ferido, veem nisso um sinal de desprestígio da pasta.
Cogitado inicialmente, o nome do vice-presidente Michel Temer era vista só como solução temporária. A avaliação é de que a Defesa seria uma atividade secundária de Temer, assim como ocorreu no período de José Alencar. Já Mangabeira Unger era um nome apreciado pelo nacionalismo, embora a proximidade com os Estados Unidos, onde é professor em Harvard, assustasse alguns setores.
No cenário ontem estabelecido pelos militares, a escolha de um quadro como o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Moreira Franco, seria ideal. Carregaria para a pasta o peso político do PMDB, mas, por seu perfil, deixaria a máquina nas mãos dos militares, que "reconquistariam" o ministério.
Fonte: / NOTIMP
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Caça Rafale volta ao páreo com Celso Amorim no Ministério da Defesa?
Como ministro do Itamaraty, no governo Lula, Amorim apoiou a escolha do caça francês, desagradando a cúpula das Forças Armadas
Márcio Juliboni
O Rafale, da Dassault: Amorim defenderá com tanta clareza o caça francês?
São Paulo – A Dassault, a empresa francesa que fabrica o caça Rafale, pode ter ganho um importante aliado na disputa pela venda de 36 aviões para a Força Aérea Brasileira. Celso Amorim, que sucederá Nelson Jobim no Ministério da Defesa, já manifestou seu apoio público aos caças franceses em diversas ocasiões, quando era chanceler do governo Lula.
A compra dos caças foi um dos temas mais controversos do último governo. Avaliada em 7 bilhões de dólares, a licitação foi suspensa pela presidente Dilma Rousseff, no início de seu mandato. O argumento é que, em um ano de ajuste fiscal, não há “clima” para que o processo continue.
Seu padrinho político, Lula, e Amorim defenderem, várias vezes, a escolha do Rafale. A favor do caça francês, estariam não apenas a proposta de transferência de tecnologia – algo que os concorrentes do Rafale oferecem com restrições – mas, sobretudo, uma troca de apoio político da França às pretensões brasileiras de ocupar postos importantes em organismos internacionais.
Polêmica
A opção pelo Rafale, porém, não é um consenso nem mesmo entre a cúpula das Forças Armadas. Um relatório do Comando da Aeronáutica concluiu, por exemplo, que a melhor opção é o caça Gripen NG, da empresa sueca Saab.
Para se ter uma ideia do clima de polarização, Amorim, então chanceler brasileiro, chegou a declarar, em janeiro do ano passado, que a compra dos caças “era uma decisão política.”
Agora, como ministro da Defesa, poderá usar sua influência para continuar defendendo o caça francês junto à presidente Dilma. O problema é que a política externa brasileira mudou de rumo, chefiada agora por Antônio Patriota. E a própria presidente Dilma já teria manifestado a intenção de rever o processo de compra – e manifestado uma inclinação pessoal pelos caças da Boeing.
A batalha pelo maior contrato em jogo na área de Defesa brasileira entra em uma nova fase. E a Dassault torce para que Amorim ainda esteja na cabine de seu caça.
Fonte: / NOTIMP
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Saiba o que dizem os políticos sobre a troca de ministro na Defesa
Jobim deixa governo após revista publicar falas com críticas a colegas. Ex-ministro Celso Amorim aceitou substituí-lo, informou Planalto.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, entregou a carta de demissão à presidente Dilma Rousseff na noite desta quinta (4), depois de antecipar a volta de uma viagem ao Amazonas. De acordo com a assessoria do Palácio do Planalto, o diplomata Celso Amorim foi convidado e aceitou assumir como novo ministro da Defesa. Filiado ao PT, Amorim foi ministro das Relações Exteriores durante os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República.
Jobim deixou o cargo após a publicação pela revista "Piauí" de reportagem na qual ele faz críticas às ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).
Saiba o que dizem os políticos sobre a troca de ministro na Defesa:
ACM Neto (BA), deputado federa e líder do DEM na Câmara
"O governo perde muito com a saída do Jobim. Ele vinha fazendo um bom trabalho e tinha um currículo como poucos para isso. Acho que ela [Dilma] foi exagerada ao tomar essa posição. Gente que rouba, ela deixa no governo. Aí, pessoas que dão declarações, ela coloca para fora. Quanto ao Celso Amortim, só espero que ele não tenha posições ideológicas como teve nas Relações Exteriores."
Álvaro Dias, líder do PSDB no Senado
“Causa-me espanto o governo em tão pouco tempo tão confuso, inseguro e conturbado politicamente. Já são três ministros demitidos, Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Nelson Jobim, e dois remanejados [Ideli Salvatti e Luiz Sérgio]. Mexidas em cinco pastas do governo me parece pouco tempo para tantas alterações. Nelson Jobim valorizava o governo, tem conteúdo, prestígio e status nacional."
Cândido Vaccarezza (PT-SP), deputado federal e líder do governo na Câmara
"Quero parabenizar a a presidente Dilma e o ministro Celso Amorim. O Jobim falou frases infelizes, mas foi um bom ministro. Ele não pode ser lembrado por frases infelizes."
Demóstenes Torres (GO), senador e líder do DEM
“Foi uma péssima troca. Jobim foi o único que conseguiu dar uma sistematização ao Ministério da Defesa. Acho que o Celso Amorim vai ser um desastre. Ele é um fanático esquerdista e não entende nada de Defesa. Com todo respeito aos diplomatas, mas a Defesa não é lugar para diplomata.”
Duarte Nogueira (SP), deputado federal e líder do PSDB na Câmara
"Infelizmente, no lugar de demitir os diversos auxiliares envolvidos em denúncias de corrupção e irregularidades - ou fazê-lo a conta-gotas - a presidente Dilma abre mão de um ministro que vinha realizando um bom trabalho. Com isso, o Governo Federal, já eivado de problemas que vão de desvios de recursos à inoperância, como no caso da pífia execução do PAC, perde ainda mais qualidade.”
Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara dos Deputados
“Ele sempre me pareceu equilibrado e comprometido com o tema Defesa. Mas, infelizmente, demonstrou insensibilidade para tratar das questões pessoais. Estas são questões que não se podem falar em público. Lamento o que tenha acontecido. Por outro lado, celebro a iniciativa da presidente Dilma de colocar no seu lugar um ministro eficiente como Celso Amorim que entende de questões fundamentais para o Brasil. Ele é muito experiente e vai desempenhar com capacidade o seu papel junto à República”.
Paulo Teixeira, deputado federal e líder do PT na Câmara
"Celso Amorim foi chanceler, conhece o tema internacional, conhece o tema de Defesa. Creio que a presidenta foi muito feliz na escolha. Creio que a oposição erra na sua avaliação. Todo governo tem manual de conduta. Eu creio que esse foi um momento de relaxamento do Nelson Jobim. Mas ele estava na frente de uma jornalista. Houve uma quebra na regra."
Rui Falcão (SP), deputado estadual e presidente nacional do PT
"Não foi o PT que provocou o desligamento dele. Foi ele mesmo [Jobim] que se afastou do cargo. O Celso Amorim foi uma ótima escolha. Ele tem conhecimento em geopolítica, entende da questão nacional, se entende bem com os partidos [...] O ministro Jobim foi o que mais tempo permaneceu no governo, vinha seguindo a política traçada pelo presidente Lula. Não tinha motivo nenhum para ele sair, mesmo depois que ele afirmou ter votado no Serra. Agora, as últimas declarações foram uma afronta a presidente Dilma. Ele colocou a posição da presidente em xeque. Foi um momento infeliz dele. se ele pensasse cinco minutos, não teria dito o que disse."
Valdir Raupp (RO), senador e presidente nacional em exercício do PMDB
“O PMDB não perde o ministério [com a saída de Jobim]. O PMDB já não tinha o ministério. A Defesa sempre foi da cota da presidente. Para nós, a saída é indiferente.”
Fonte: / NOTIMP
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Oposição defende Jobim e critica escolha de Amorim
Para parlamentares do PSDB e do DEM, o ministro caiu por falar a verdade
Luciana Marques, Gabriel Castro e Adriana Caitano
As declarações do agora ex-ministro da Defesa Nelson Jobim (PMDB-RS) sobre o voto em José Serra, a "fraqueza" de Ideli Salvatti e a ascensão sobre militares e sobre a própria presidente irritaram o Planalto, mas deram munição para tucanos e democratas. Os parlamentares da oposição saíram em defesa de Jobim, ajudando-o a sair justamente com a imagem que Dilma Rousseff queria evitar: a de herói.
O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), disse lamentar a queda do ministro. “Ele vinha fazendo um bom trabalho, diferentemente de ministros que estão sob suspeita de irregularidades”, comentou o parlamentar. No Twitter, o líder do DEM na Câmara, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), disse que a saída de Jobim enfraquece e amplia a eterna crise do governo. “É o terceiro ministro a sair num prazo de três meses. A novidade fica por conta do currículo. Jobim foi expulso por ser competente e falar a verdade”, disse. “Dilma mostra que os homens sérios, competentes e de bem são premiados com demissão em seu governo”.
Demóstenes Torres (GO), líder do DEM no Senado, disse que o ex-chanceler Celso Amorim, que ocupará a vaga na Defesa, irá apequenar o governo, porque envergonhou o país diante do mundo quando esteve à frente do Itamaraty. “Ele apoiou ditaduras, armou e caiu em ciladas”, comentou o senador, em seu perfil no microblog. “A presidente, que prometeu uma faxina nos lulistas, acaba de trazer o resíduo sólido para dentro antes da reciclagem, ela acaba de ressuscitar o patrono dos fiascos”.
Reestruturação - Os governistas não chegaram a tomar as dores de Jobim, mas evitaram criticá-lo. “Ele foi um dos melhores ministros da Defesa, principalmente no que diz respeito ao processo de reestruturação das Forças Armadas”, afirma o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). “Mas o Amorim também é uma pessoa preparada nessa área”.
Raupp não considera que o PMDB perdeu um ministério, já que Jobim fazia parte da “cota pessoal” de Dilma. O novo ministro, que é do PT, volta por indicação do ex-presidente Lula. "Essa não é uma questão partidária. O Celso Amorim tem serviços relevantes prestados ao país. É uma pessoa extremamente competente, a presidenta tratou esse ministério como uma pasta em que não haveria indicação política”, completa o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-GO). “Mas o ministro Jobim também fez um excelente trabalho".
Novo ministro não deixou saudade no Itamaraty
Obcecado por construir uma política externa 'independente' das grandes potências, Amorim levou a diplomacia a situações constrangedoras
Gabriel Castro
Celso Amorim, ministro da Defesa (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)
O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, nasceu em Santos (SP), tem 69 anos de idade e é diplomata desde 1965. Ele havia deixado o governo com o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cuja gestão comandou o Ministério de Relações Exteriores. Antes disso, havia chefiado o Itamaraty também na gestão de Itamar Franco.
Amorim foi o artífice do alinhamento brasileiro a algumas das piores ditaduras do globo durante o governo Lula. Também guiou a política externa para uma constrangedora proximidade com o regime nuclear do Irã, cujo ápice da insensibilidade foi a recusa brasileira em condenar o apedrejamento de mulheres no país islâmico.
A leniência diante do ataque boliviano às refinarias da Petrobras foi outra marca do mandato de Amorim. Na gestão dele, o Brasil acelerou o contato com organismos multilaterais como tentativa de criar um eixo alternativo no cenário de poder global. Apesar de alguns avanços, o Itamaraty gastou tempo e energia com empreitadas com pouco futuro, como a Unasul do ditador venezuelano Hugo Chavez.
Missões - Filiado ao PT, Amorim deixou o cargo na gestão de Dilma Rousseff para dar lugar a Antonio Patriota, que deu um perfil mais moderado à política externa.
Na Defesa, Amorim terá como uma das principais missões dar fim ao longo processo de escolha dos caças que irão substituir parte dos aviões de combate da Aeronáutica. O governo tem adiado a compra, especialmente depois do corte orçamentário implementado pelo governo Dilma Rousseff.
Fonte: / NOTIMP
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Negociação sobre caças da FAB azedou relação entre Dilma e Jobim
Tensão entre o governo e o ministo da Defesa entrou em escalada desde que presidenta decidiu jogar a escolha para 2012
A decisão da presidenta Dilma Rousseff de adiar para o ano que vem o processo de compra de 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) foi um dos fatores da tensão nascida entre o governo e o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Coroado nos últimos meses com sucessivas declarações polêmicas feitas Jobim, o desgaste na relação entre a presidenta e o auxiliar entrou em escalada desde que Dilma decidiu engavetar negociações que herdou do antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.
Na época, auxiliares diretos de Jobim não pouparam comentários sobre a frustração do ministro, embora reconhecessem que, ao assumir a Presidência, Dilma naturalmente iria querer conhecer mais a fundo o assunto antes de tomar uma decisão final.
A decisão de renovar a frota da FAB nasceu ainda durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem Jobim também foi ministro. O processo, entretanto, foi iniciado depois de ele deixar a gestão tucana. Sob Lula, Jobim participou ativamente das negociações com França, Suécia e Estados Unidos.
Com custo estimado entre R$ 10 bilhões e R$ 25 bilhões, o projeto envolve três grupos estrangeiros - a francesa Dassault, a americana Boeing e a sueca Saab - e é tema recorrente nas conversas diplomáticas entre o governo brasileiro e chefes de Estado. Antes de deixar o Planalto, Lula chegou a dar como certa a vitória dos aviões Rafale, produzidos pela Dassault, mas o governo acabou voltando atrás, persistindo assim o clima de indefinição sobre o negócio.
Fonte: / NOTIMP
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Dilma troca Jobim por Amorim
Após um longo processo de desgaste, provocado por declarações polêmicas, Nelson Jobim foi demitido ontem do Ministério da Defesa e será substituído pelo ex-chanceler Celso Amorim. O destino de Jobim foi definido pela presidente Dilma na tarde de ontem, após ler a íntegra da reportagem concedida pelo ex-ministro à revista "Piauí", na qual classificou a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, de "fraquinha" e disse que a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, não conhece Brasília. Na véspera, Jobim encontrou-se com Dilma, mas não citou a entrevista.
Fernando Exman
Celso Amorim substitui Nelson Jobim na Defesa
A presidente Dilma Rousseff demitiu ontem Nelson Jobim do Ministério da Defesa, nomeando para seu lugar o ex-chanceler Celso Amorim. Esta foi a quarta mudança promovida no ministério em pouco mais de sete meses de governo.O destino de Jobim foi selado na tarde de ontem, depois de a presidente ler a íntegra de reportagem da revista "Piauí" em que o ex-ministro da Defesa chama a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, de "fraquinha" e diz que a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, "nem sequer conhece Brasília". Ele censurou também a relação do governo com o Congresso.
As críticas tornaram insustentável a situação de Jobim no cargo. Na véspera, Dilma e o ex-ministro haviam se encontrado para tratar de assuntos administrativos do Ministério da Defesa. A reunião serviria também para distensionar as relações entre os dois, mas acabou tendo o efeito inverso, pois Jobim não comentou com Dilma que fizera críticas às colegas de ministério na entrevista à "Piauí".
Dias antes, Jobim revelou em outra entrevista que votou em José Serra (PSDB) na eleição presidencial de 2010. Em seguida, também a jornalistas, disse que pretendia continuar no governo e elogiou a presidente.
Durante o dia de ontem, o Palácio do Planalto evitou alimentar a crise. Dilma tomou a decisão de substituir Jobim, mas optou por não fazer o anúncio porque o ministro não estava em Brasília. Ela ordenou, então, que ele, que estava em missão oficial em Tabatinga (AM), retornasse imediatamente à capital federal. O plano de Jobim era fazer isso apenas no fim da noite, mas ele teve que embarcar num avião no meio da tarde.
Jobim participou ontem de cerimônia de assinatura de um acordo com a Colômbia para a proteção da região fronteiriça. Já informado da crise em Brasília, negou, em entrevista a uma TV do Amazonas, que tivesse feito os comentários desairosos sobre Ideli e Gleisi.
"O que nós comentávamos e nos referíamos era o projeto de lei sobre informações. Em momento algum fiz referência dessa natureza. Aliás, o que eu realmente reconheço em Ideli Salvatti é a capacidade e uma tenacidade importantíssima na condução dos assuntos dentro do Congresso", afirmou. "Isso faz parte de um jogo de intrigas, da tentativa de desestabilizações."
Ao chegar a Brasília, no início da noite, dirigiu-se diretamente ao Palácio do Planalto e entregou a carta de demissão à presidente num rápido encontro. Seguiu-se o script desenhado pela presidente. Jobim fora avisado antes que, caso não pedisse sua exoneração, seria demitido.
O vice-presidente Michel Temer esteve cotado para assumir a Defesa, mas seus aliados informaram durante o dia que ele não desejava a função. Preferia continuar ajudando na articulação do Executivo com o Congresso a mergulhar na burocracia e nos diversos afazeres do Ministério da Defesa.
Apesar de Jobim ser filiado ao PMDB, o partido não reivindicou a escolha do substituto. A legenda de Temer considera que, além de não render dividendos políticos e eleitorais, a Defesa é um cargo de Estado. O PMDB quer ter crédito para fazer outras cobranças ao Executivo.
Os pemedebistas tampouco consideravam que a Defesa fosse controlada pelo partido. A permanência de Jobim no atual governo atendeu a uma demanda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Como Jobim não tem uma relação excelente no PMDB, ninguém brigou por ele", explicou um integrante da executiva nacional da sigla.
Outros dirigentes do PMDB avaliaram que o desgaste de Jobim ocorreu devido ao seu temperamento e às próprias atitudes. Disseram ainda que suas queixas resultavam de insatisfação. Segundo esses pemedebistas, o que incomodava Jobim era a falta de prestígio. Com Lula, Jobim era frequentemente chamado ao Planalto para discutir questões jurídicas e políticas. Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, fazia a ponte entre o Executivo e o Judiciário.
Com a posse de Dilma, no entanto, a vida de Jobim mudou. Sua atuação passou a restringir-se à Defesa. Não bastasse, Dilma fez cortes pesados no orçamento do ministério e congelou o processo de aquisição de novos caças para a Força Aérea Brasileira, programa até então coordenado por Jobim, e determinou que o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) participasse das discussões sobre o tema.
Celso Amorim chefiou o Itamaraty nos dois mandatos de Lula, além de ter exercido o mesmo cargo por um ano e sete meses na gestão Itamar Franco. Filiou-se ao PT para tentar disputar uma vaga no Senado pelo Rio de Janeiro, mas não a conseguiu depois que os petistas fecharam acordo com o PMDB.
A volta de Amorim surpreendeu porque, durante a transição do governo, ele pediu mais de uma vez a Lula que convencesse Dilma a mantê-lo no Itamaraty. A presidente optou, no entanto, por substituí-lo por Antônio Patriota. Constrangido com os pedidos insistentes de Amorim, Lula chegou a comentar com um assessor: "O cara não se manca que o nosso tempo acabou".
Na ditadura militar, Amorim foi demitido da presidência da Embrafilme por ter autorizado a distribuição de "Pra Frente Brasil", filme que denunciou a prática de tortura durante o regime. A obra desagradou aos militares.
Para parlamentares da oposição, a troca de Jobim por Amorim vai reForçar a influência de Lula no governo. O líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto, disse que Amorim teve uma "postura ideológica" à frente do Itamaraty. Já o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), deu declarações sinalizando que o Jobim - hoje filiado ao PMDB - seria bem recebido na legenda dos tucanos. O presidente nacional do Democratas, senador José Agripino (RN), lamentou a saída de Jobim. "Os probos, sinceros, são demitidos. Os acusados ficam."
Já deixaram o governo Dilma Antonio Palocci e Alfredo Nascimento. A crise que provocou a demissão de Palocci também levou à troca de Ideli e Luiz Sérgio, respectivamente, nas Pastas de Relações Institucionais e Pesca.
Fonte: / NOTIMP