Especial Defesa: Amorim toma posse e faz afagos em militares
Novo ministro da Defesa disse que dará continuidade ao trabalho feito na pasta .
Durante a cerimônia, presidente Dilma minimizou saída de Nelson Jobim e disse que trocas "são rotina" .
FLÁVIA FOREQUE .
O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, 69, fez elogios à carreira militar e disse, em rápido discurso de posse, que trabalhará "sob o signo da continuidade".
Seu antecessor, Nelson Jobim, foi alvo de críticas da presidente Dilma. O ex-ministro não foi à cerimônia no Planalto porque disse que está com suspeita de dengue.
Criticado nos bastidores por oficiais do Exército, Amorim foi cauteloso: "Identifico nos militares valores dignos de admiração, [como] patriotismo, abnegação, zelo pela coletividade e respeito à hierarquia e à disciplina".
Eles reagiram mal a um diplomata mandando nas Forças Armadas e ao "esquerdismo" de Amorim, responsável pela aproximação com o Irã.
Dilma elogiou a experiência do ex-chanceler e fez comparações indiretas dele com Jobim ao ressaltar sua "moderação nas manifestações públicas" e a "elegância no relacionamento".
A presidente não chegou a citar o ex-ministro e minimizou sua saída: "Trocas de comando são rotina".
Jobim foi demitido após sucessivas declarações polêmicas. Disse que votou no tucano José Serra nas eleições de 2010 e afirmou que a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) "é muito fraquinha", e que Gleisi Hoffmann (Casa Civil) "sequer conhece Brasília".
ORÇAMENTO
Amorim evitou declarações políticas e se concentrou nas questões orçamentárias. Em fevereiro, o governo cortou R$ 4 bilhões da Defesa -o equivalente a um quarto do disponível para investimento e custeio.
A jornalistas Amorim negou que as negociações para comprar novos aviões de caça da Aeronáutica estejam paralisadas. Disse que conta com "a compreensão dos colegas da área financeira".
A cerimônia de posse foi rápida e pouco concorrida, com a presença de alguns ministros, diplomatas e militares e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT).
Chanceler brasileiro nos dois governos Lula, ele ainda afirmou haver um "descompasso" entre a crescente influência do Brasil no cenário internacional e a capacidade da Defesa em acompanhá-la.
Bandeira branca
Eliane Cantanhêde
Brasília
O comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto, estudou boa parte da vida com Celso Amorim, agora ministro da Defesa e seu chefe civil, no colégio Mello e Souza, no Rio.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, cansou de ouvir elogios à gentileza e à pontualidade de Amorim, que nos oito anos de Lula viajou 597 vezes e rodou o mundo pelas asas da FAB.
O comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, vem da Arma de Engenharia, tem relação direta com a presidente Dilma Rousseff e não está aí para criar confusão.
E o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi, ainda tem de mostrar a que veio antes de achar alguma coisa sobre o novo chefe.
Além disso, vale o que o general da reserva Augusto Heleno me disse na sexta e Dilma Rousseff repetiu literalmente ontem na solenidade de posse de Amorim: "Trocas de comando fazem parte da rotina militar". Sai um, entra outro.
É assim que, apesar de reações no Exército, ora iradas, ora irônicas, contra outro ministro vindo do Itamaraty, depois da trombada com o embaixador José Viegas, as cúpulas militares se deixaram fotografar sorridentes, quase felizes, no encontro de sábado com Amorim no Planalto. Não é uma cena comum. Oficiais costumam sair sérios e contidos em fotos de trabalho.
Assim, passado o primeiro momento de perplexidade para alguns e de surpresa para todos, a tendência é que as peripécias de Amorim no Irã sejam relevadas e a Defesa volte à rotina de reivindicações por maiores soldos e pelo descontingenciamento que pode salvar parte dos programas de reequipamento. No fundo, é o que interessa.
Num discurso curto e sisudo, Amorim produziu uma frase de efeito com o "x" da questão: "Um país pacífico como o Brasil não pode ser confundido com país desarmado e indefeso". Se levar isso a sério, não terá problemas.
Marco Aurélio Garcia diz que militares "sabem obedecer"
O assessor especial da presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, minimizou divergências entre os militares com a escolha do nome de Celso Amorim, diplomata de carreira, para assumir a Defesa.
"Os militares sabem mandar e sabem obedecer. Eles sabem que a comandante e chefe das Forças Armadas do Brasil se chama Dilma Rousseff, que ela delega grande parte desses poderes ao ministro da Defesa, que foi o ministro Jobim, (...) e delega agora ao ministro Celso Amorim", afirmou Garcia após a cerimônia de posse do novo ministro.
Sobre a recusa de Nelson Jobim em transmitir o cargo a Celso Amorim
A RECUSA DE Nelson Jobim a fazer a transmissão de cargo a Celso Amorim reproduziu a recusa do general Figueiredo a transmitir o cargo ao sucessor. Não é preciso dizer mais nada sobre a atitude ou seu protagonista. Ou protagonistas.
Janio de Freitas
SEGUNDO LANCE
A operação de afastamento de um ministro da Defesa e apresentação de outro foi perfeita pela precisão e presteza, como uma cirurgia urgente e delicada.
O intervalo entre queda e indicação do substituto não deu tempo a mais do que a perplexidade.
Quando jornalistas quiseram começar a agitação, era tarde e sobretudo inútil. A substituição do indicado publicamente só poderia dar-se por meio de uma crise ins- titucional incabível nas circunstâncias atuais.
Apesar de tudo, não foi, como operação política, a mais brilhante do dia. Aquela é atribuída à própria Dilma Rousseff. Uma outra, paralela, não está claro quem a tenha idealizado, para o problema Dnit.
Órgão de vida fácil por tanto tempo, o Dnit esgotou sua liberdade de rodar bolsinha.
O inconformismo de congressistas, partidos e das pagadoras empreiteiras aprestou-se, porém, para forçar as mesmas fórmulas tapeadoras que, em escândalos anteriores, fizeram mudanças no DNER e no sucessor Dnit sem alterar o bordel.
Com isso, as demissões recentes, cumprida a sua função de limpeza, logo se tornaram problemas para o governo, cercado pelas voracidades políticas e conflitantes para abocanhar os cargos vagos.
O Dnit foi entregue, de surpresa, a Jorge Ernesto Pinto Fraxe. Nenhum político e nenhum partido pôde nem sequer dizer coisa alguma. Engenheiro, com larga experiência no comando de obras, o escolhido assim calava os que tinham "técnicos" para indicar.
A nenhum político ou partido deixava a possibilidade de criar problema dada a entrega do cargo a outro partido ou outro político, como PR e PMDB estavam prontos para fazer.
Fraxe não tem filiação partidária. Desconhecido, nome tirado de um bolso planaltino em desafio aos partidos? Bem, isso sim.
Mas em que Senado, em que Câmara, em que partido haveria protesto contra a perda de um cargo para um general, e, além de general, sem conexão política e com as habilitações adequadas?
Os cargos subsequentes, esvaziados dos representantes políticos, preenchem-se nestes dias com técnicos nas atividades do Dnit.
O inconveniente do retorno da entrega de cargo civil a militar, uma velha prática de governos que não trouxe benefício algum à funcionalidade administrativa, fica superado pela esperada devolução do Dnit e de seus muitos bilhões aos interesses do país. Até prova em contrário, se houver.
Considerar que ganho mensal de R$ 1.000 situa na classe média é, no mínimo, uma fraude. Esses R$ 1.000 não chegam nem sequer a dois salários mínimos.
É mais do que tempo de constituir-se uma comissão séria, competente e de ideias livres, para compor uma tabulação honesta da relação entre escala de ganho/salário e escala social.
Fonte: / NOTIMP
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Ideologia é a Constituição
Na posse de Celso Amorim, Dilma Rousseff tranquiliza os militares quanto ao viés esquerdista do novo ministro e ressalta que ela é a chefe das Forças Armadas
Tiago Pariz, Paulo de Tarso Lyra
A presidente Dilma Rousseff fez um discurso curto, mas cirúrgico, durante a cerimônia de posse do ex-chanceler Celso Amorim como novo ministro da Defesa, ontem, no Palácio do Planalto. E sepultou os temores da caserna com a inclinação esquerdista de Amorim nos tempos em que foi titular das Relações Exteriores de Luiz Inácio Lula da Silva. "A lógica do Ministério da Defesa é a disciplina, a competência e a dedicação. A ideologia do Ministério da Defesa é o respeito à Constituição e a subordinação aos interesses nacionais. O partido do Ministério da Defesa é a pátria. Os senhores sabem disso, o novo ministro sabe disso", afirmou a presidente
Nos exatos 7min16 de duração de seu pronunciamento, Dilma ressaltou, nas entrelinhas, que não há espaço para voos solos na pasta, já que a presidente é a verdadeira comandante em chefe das Forças Armadas. "Com o meu apoio e sob meu comando direto, ele ajudará muito o Ministério da Defesa a vencer os seus maiores desafios, tanto os mais urgentes, os mais conjunturais, quanto os mais estratégicos."
Dilma tampouco demonstrou contrariedade pela ausência de Nelson Jobim na solenidade — ele justificou estar com suspeita de dengue — e ignorou a contribuição do ministro que exerceu o cargo de meados de 2007 até a semana passada. Preferiu concentrar-se nas qualidades de Amorim. "Celso Amorim é um homem talhado para esta fase do Brasil, que é um país de cabeça erguida, consciente da sua soberania", declarou a presidente. A cúpula das Forças Armadas viu no discurso de Dilma a abertura para um canal direto com a Presidência, algo que era fechado na época de Nelson Jobim. De acordo com a presidente, a experiência de Amorim como chanceler será fundamental para as negociações sobre acordos bilaterais, compra de armamentos e aquisição de tecnologia bélica.
Comandantes
Quando foi sua vez de falar, o ministro da Defesa — que passou o dia em reuniões no Palácio do Planalto — fez um discurso direcionado aos comandantes das três Forças Armadas. Ele só tirava os olhos de suas anotações para mirar diretamente a fila da plateia em que estavam sentados os chefes da Marinha, Júlio de Moura Neto; do Exército, Enzo Peri; e da Aeronáutica, Juniti Saito.
Amorim comprometeu-se a trabalhar pelo reaparelhamento das Forças Armadas e disse serem legítimas as reivindicações dos militares sobre aumento salarial. Ainda enfatizou que, sob seu comando, os projetos não sofrerão retrocesso. Para Amorim, Exército, Marinha e Aeronáutica estão com seu poderio defasado diante das necessidades do país em proteger as fronteiras e as riquezas naturais. "Nossas forças sofrem de carências que não permitem o efeito dissuasório indispensável à segurança desses ativos. Há um descompasso entre a crescente influência internacional brasileira e nossa capacidade de respaldá-la no plano da defesa. Uma não será sustentável sem a outra", afirmou.
O ministro voltou a afirmar que é preciso estabelecer um cronograma de retirada das tropas brasileiras do Haiti (leia mais na página 4), ao mesmo tempo em que defendeu a participação das tropas em outras missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), sempre mirando o objetivo de ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. "Um país pacífico como o Brasil não pode ser confundido com país desarmado e indefeso."
Comissão da Verdade na pauta da oposição
Líderes da oposição, que tinham almoço marcado para hoje com o
ex-ministro Nelson Jobim, aguardam o posicionamento do novo chefe da Defesa, Celso Amorim, sobre o projeto da Comissão da Verdade. Segundo o deputado Duarte Nogueira (SP), líder do PSDB na Câmara, o partido quer saber se a orientação do Palácio do Planalto continua a mesma. "Estamos dispostos a ouvir o governo sobre o projeto em tramitação na Câmara. Temos que olhar para frente, sem ficar remoendo o passado. Precisamos de uma conclusão rápida desse processo", destaca Nogueira. O governo deve convocar, ainda esta semana, uma reunião com os líderes da base para passar as orientações sobre a votação da proposta. A ideia é que o texto seja apreciado até o fim do mês. (Alana Rizzo)
Cortes no orçamento
A primeira tarefa do ministro da Defesa, Celso Amorim, é decidir como será feito o corte de R$ 4,2 bilhões nos recursos disponíveis para a pasta neste ano — o orçamento total supera R$ 15 bilhões. As Forças Armadas já encaminharam quais projetos consideram inadiáveis e não podem sofrer reduções. Essa discussão estava sendo tocada por Nelson Jobim com a presidente Dilma Rousseff. Embora os debates estejam encaminhados, não há decisão. Mas a expectativa é que a construção do submarino nuclear e a compra do cargueiro C-390 da Embraer não sejam afetados.
Celso Amorim dedicou a segunda-feira a conhecer detalhes da rotina do Ministério da Defesa. Despachando no quarto andar do Palácio do Planalto, ele recebeu o assessor para Assuntos Internacionais, o chefe de gabinete, tratou da agenda da semana e dos detalhes de sua posse. "Não ignoro a centralidade da questão orçamentária. Cabe a mim empenhar-me em obter os recursos indispensáveis ao equipamento adequado das Forças Armadas. Conto, para tanto, com a compreensão de meus colegas da área financeira", afirmou, ressaltando que a recuperação tecnológica será feita com a participação dos ministérios do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia. (TP e PTL)
Missão no Haiti custa R$ 1 bilhão ao Brasil
Novo ministro pensa em estratégia para a retirada dos militares brasileiros que estão no país caribenho desde 2004
Izabelle Torres, Edson Luiz
O ministro da Defesa, Celso Amorim, pensa em uma forma de programar a saída das tropas brasileiras do Haiti. O ex-chanceler já tem em mãos o relatório sobre os custos da manutenção da Força de Paz nos últimos seis anos. Desde 2004, quando a ocupação teve início, pouco mais de R$ 1 bilhão saiu dos cofres brasileiros para bancar as despesas dos militares que participam da missão. São gastos que incluem compra de material para os alojamentos, treinamento de pessoal, viagens, palestras e manutenção de equipamentos. Uma conta considerável, segundo especialistas, principalmente no momento em que a pasta reclama dos constantes contingenciamentos orçamentários e da falta de recursos.
No ano passado, a manutenção das tropas no Haiti custou R$ 426 milhões aos cofres públicos. A conta inclui os R$ 140 milhões das despesas anuais previstas e outros R$ 286 milhões gastos com a ajuda humanitária enviada pelo Brasil depois que um terremoto devastou o país caribenho.
Na matemática dos gastos entram reembolsos feitos pela Organização das Nações Unidas (ONU) ao Brasil. Segundo relatório do Ministério da Defesa enviado à Câmara dos Deputados, nos últimos anos esses ressarcimentos somaram cerca de R$ 168 milhões: 16,45% do que foi executado pelo governo brasileiro. O percentual, considerado baixo, vinha gerando sucessivas reclamações do antigo comandante da pasta Nelson Jobim, demitido na semana passada.
Divergências
Segundo o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Pio Penna Filho, não é apenas pelas despesas criadas para manter suas tropas na missão no Haiti que o Brasil precisa pensar em deixar Porto Príncipe. "O custo não é o grande problema. Está no momento de sair, mas não se sabe como sair. É necessário haver um processo de transição. O que não se pode é deixar o tempo passar de forma que a permanência das tropas se torne eterna. Há questões políticas envolvidas nesse processo e até os haitianos já declararam que não querem uma intervenção eterna", pondera o especialista.
O fim da participação brasileira na Força de Paz do Haiti deve ser uma das primeiras medidas adotadas pelo novo ministro. Em reunião com os comandantes das Forças Armadas no último sábado, Amorim disse que é hora de pensar em estratégias de retirada das tropas, que estão no país desde junho de 2004. Atualmente, 2.160 homens trabalham pela segurança interna do Haiti, abalada depois da queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide. Por ano, os salários desses militares consomem pouco mais de R$ 41 milhões — valores não incluídos nas cifras sobre os gastos com a missão, pois, se estivessem no Brasil, também iriam receber os soldos.
A saída das tropas, no entanto, está longe de ser unanimidade entre especialistas. Alguns deles defendem o tratamento da questão não apenas pelo aspecto de gastos, mas também pelo fator político que a decisão pode ter no momento em que o Brasil pleiteia uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Para Geraldo Cavagnari, integrante do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas (Unicamp), não há qualquer prejuízo em deixar os efetivos em Porto Príncipe, principalmente o Exército. "Acho que as tropas devem permanecer, pois não está implicando nenhum risco e há muitos aspectos diferentes em jogo", observa.
Fonte: / NOTIMP
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Saída do Haiti é prioridade
Ex-chanceler que agora ocupa o Ministério da Defesa defende retirada das tropas brasileiras que integram a Força de Paz desde 2004
Izabelle Torres e Edson Luiz
O ministro da Defesa, Celso Amorim, pensa em uma forma de programar a saída das tropas brasileiras do Haiti. O ex-chanceler já tem em mãos o relatório sobre os custos da manutenção da Força de Paz nos últimos seis anos. Desde 2004, quando a ocupação teve início, pouco mais de R$ 1 bilhão saiu dos cofres brasileiros para bancar as despesas dos militares que participam da missão. São gastos que incluem compra de material para os alojamentos, treinamento de pessoal, viagens, palestras e manutenção de equipamentos. Uma conta considerável, segundo especialistas, principalmente no momento em que a pasta reclama dos constantes contingenciamentos orçamentários e da falta de recursos.
No ano passado, a manutenção das tropas no Haiti custou R$ 426 milhões aos cofres públicos. A conta inclui os R$ 140 milhões das despesas anuais previstas e outros R$ 286 milhões gastos com a ajuda humanitária enviada pelo Brasil depois que um terremoto devastou o país caribenho.
Na matemática dos gastos brasileiros entram reembolsos feitos pela Organização das Nações Unidas (ONU) ao Brasil. Segundo relatório do Ministério da Defesa enviado à Câmara dos Deputados, nos últimos anos esses ressarcimentos somaram cerca de R$ 168 milhões: 16,45% do que foi executado pelo governo brasileiro. Um percentual considerado baixo e que vinha gerando sucessivas reclamações do antigo comandante da pasta Nelson Jobim.
Divergências Segundo o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Pio Penna Filho, não é apenas pelas despesas criadas para manter suas tropas na missão no Haiti que o Brasil precisa pensar em deixar Porto Príncipe. "O custo não é o grande problema. Está no momento de sair, mas não se sabe como sair. É necessário haver um processo de transição. O que não se pode é deixar o tempo passar de forma que a permanência das tropas se torne eterna. Há questões políticas envolvidas nesse processo e até os haitianos já declararam que não querem uma intervenção eterna", diz o professor.
O fim da participação brasileira na Força de Paz do Haiti deve ser uma das primeiras medidas adotadas pelo novo ministro. Em reunião com os comandantes das Forças Armadas no último sábado, Amorim disse que é hora de pensar em estratégias de retirada das tropas, que estão no país desde junho de 2004. Atualmente, 2.160 homens trabalham pela segurança interna do Haiti, abalada depois da queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide. Por ano, os salários desses militares consomem pouco mais de R$ 41 milhões. Valores não incluídos nas cifras sobre os gastos com a missão, já que se estivessem no Brasil eles também iriam receber os soldos.
A saída das tropas, no entanto, está longe de ser unanimidade entre especialistas. Alguns deles defendem o tratamento da questão não apenas pelo aspecto de gastos, mas também pelo fator político que a decisão pode ter, no momento em que o país pleiteia uma cadeira permanente no conselho de segurança das Nações Unidas. Para Geraldo Cavagnari, integrante do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas (Unicamp), não há qualquer prejuízo em deixar os efetivos em Porto Principe, principalmente o Exército. "Acho que as tropas devem permanecer, pois não está implicando em nenhum risco e há muitos aspectos diferentes em jogo", observa.
Fonte: / NOTIMP
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Com Amorim, Comissão da Verdade volta à estaca zero, diz oposição
Líderes condicionam apoio para acelerar tramitação de projeto à “postura” do novo ministro, a quem consideram “ideologizado”
Tratada como matéria de consenso até a semana passada, o projeto de lei que cria a Comissão da Verdade - com objetivo de esclarecer casos de violação de direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985) - pode sofrer atraso em sua tramitação na Câmara dos Deputados, depois que Nelson Jobim foi substituído por Celso Amorim no comando do Ministério da Defesa.
O motivo é que o ex-ministro havia costurado um acordo com a oposição para que o projeto tramitasse em regime de urgência constitucional na Casa. Mas Jobim caiu antes que o pedido fosse formalizado. Agora, os líderes oposicionistas decidiram retirar o apoio à urgência até conhecerem as “intenções” de Amorim à frente da pasta.
“O Jobim abriu uma negociação com oposição que estava bem avançada. Quase todos os líderes haviam concordado com a urgência. A manutenção ou não desse apoio vai depender agora da postura do Amorim”, diz o líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA).
O novo ministro é acusado pela oposição de ser ligado à política partidária do PT e de ter apoiado, quando esteve à frente do Itamaraty, a aproximação do governo brasileiro junto à Cuba de Fidel Castro, à Venezuela de Hugo Chávez e ao Irã de Mahmmoud Ahmadinejad.
Jobim, enquanto esteve à frente da Defesa, havia se reunido, no primeiro semestre, com líderes do PSDB, PPS, DEM e da Minoria na Câmara. Na ocasião, traçou um histórico de como o ministério vinha tratando o assunto. Ouviu dos parlamentares que o projeto teria apoio da oposição desde que fosse mantido o caráter não persecutório da comissão.
“Queremos aprovar a matéria olhando para frente e não para trás”, afirma o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP). “O nosso receio com Amorim é em relação a um comportamento ideológico fruto da tradição do Instituto Rio Branco. O ministro se deixou contaminar pelo viés ideológico do ex-presidente Lula, que colocava interesses do partido acima dos interesses do país”.
Nesta terça-feira, Jobim teria encontro com a bancada do PSDB sobre o andamento do projeto, que chegou ao Congresso em maio do ano passado. Amorim, que tomou posse da pasta ontem, cancelou a reunião. O líder tucano no Senado, Alvaro Dias (PR), afirma que o partido não tem posição definida.
“O PSDB está na estaca zero”, assinala. “A reunião tinha como objetivo tomar conhecimento da posição do ministro. Mas creio que a tendência é se analisar a proposta do governo e, principalmente, a justificativa do projeto”.
Alteração
Para o líder da Minoria na Câmara, deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), o ambiente de discussão é “favorável”. “Quero crer que o ministro Amorim terá postura diferente na Defesa”, afirma. “Ele será mais prudente, trabalhará em convergência com comandantes das Forças Armadas. Até porque, se por ventura quiser se arriscar, não terá ambiente interno”.
A oposição pretende levar ao novo ministro pelo menos uma sugestão, discutida com Jobim, de mudança no texto elaborado pelo Executivo. O deputado ACM Neto defende alteração no trecho que trata da indicação dos membros que vão compor a Comissão da Verdade. Pelo projeto, ela terá sete membros escolhidos pelo presidente da República.
“Entendemos que é fundamental que o Congresso indique parte dos membros. Isso não pode ser uma atribuição exclusiva do Executivo”, questiona ACM. Entre outros pontos, a Comissão buscará esclarecer casos de tortura, mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres. Após ser instalada, ela terá prazo de dois anos para apresentar relatório com suas conclusões.
Fonte: / NOTIMP
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Cardozo vai negociar Comissão da Verdade
Dilma tira Defesa do comando das negociações
Raymundo Costa
A presidente Dilma Rousseff aproveitou a troca de guarda no Ministério da Defesa e passou para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a negociação sobre a criação da Comissão Nacional da Verdade para investigar a prática de crimes contra os direitos humanos na ditadura. Cardozo é ex-parlamentar, tem amplo trânsito no Congresso, inclusive no PSDB e Democratas e credibilidade na esquerda diretamente envolvida no projeto.
Um exemplo é a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que tem restrições aos termos em que a negociação vinha sendo conduzida. Cardozo foi secretário de governo de Erundina quando a atual deputada era prefeita da cidade de São Paulo, na segunda metade dos anos 80. Além de Erundina, na trincheira dos que questionam o acordo negociado pelo ex-ministro Nelson Jobim estão o PSOL, algumas famílias de torturados, mortos e desaparecidos políticos e parte do PT, cuja principal expressão é o deputado Luiz Couto (SP).
A escolha da presidente faz todo sentido. O Ministério da Defesa é parte nesse processo, assim como a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, ocupada pela deputada do PT gaúcho Maria do Rosário. Logo, é boa política que uma das primeiras providências de José Eduardo Cardozo venha a ser uma conversa com os ministros Celso Amorim, empossado ontem na Defesa, e Rosário.
Cardozo já demonstrou capacidade para desatar nós complicados, como ocorreu quando foi chamado para relatar o projeto de lei da Ficha Limpa, aprovado na Câmara contra as apostas de boa parte da banca. Como negociador, portanto, tem crédito. As tratativas para a criação da comissão têm se mostrado tão ou mais difíceis.
No curso da aprovação do Plano Nacional dos Direitos Humanos, onde sua criação é prevista, um general perdeu a cabeça mas Jobim conseguiu circunscrever a natureza da comissão ao caráter testemunhal, de resgate da memória e reparação às vítimas. Valeu-se, para isso, da interpretação de reciprocidade dada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao texto da Lei de Anistia: quem depuser à comissão não sairá da sala de audiências na condição de réu.
A tarefa de Cardozo é urgente. Se não for resolvida agora, provavelmente permanecerá como assunto mal resolvido da política, enquanto for viva a memória dos que tombaram na luta contra uma parte do Estado que preferiu o terrorismo à lei para enfrentar a oposição.
Cardozo é a novidade nas mudanças operadas por Dilma na Defesa, o que não quer dizer que Jobim tenha perdido o cargo por causa da negociação da Comissão da Verdade. Desde o início Jobim demonstrava não se sentir muito à vontade no governo Dilma. Também teve desentendimentos burocráticos tensos com Antonio Palocci, quando o ex-ministro estava na Casa Civil.
O certo é que faltava confiança na relação da presidente da República com o ministro da Defesa, o que não a impediu de mantê-lo no cargo até que o próprio Jobim tornou inviável sua permanência no governo. Ao contrário do que deixou transparecer, Jobim queria ficar na Defesa, mas um encadeamento de declarações infelizes - feitas em diferentes momentos, mas publicadas em sequência - tornaram sua permanência impossível.
Salvo comentário de bastidor de um ou outro oficial de pijama, o nome de Celso Amorim foi bem recebido nas Forças Armadas. A experiência dos militares com diplomatas no comando das três Armas não é boa, mas José Viegas, o primeiro ministro da Defesa do ex-presidente Lula, saiu direto do Itamaraty para a caserna. Ex-chanceler, Amorim está há seis meses fora do governo. Suas primeiras declarações de apoio à Estratégia Nacional de Defesa e à manutenção dos programas de modernização em andamento agradaram os militares.
Amorim certamente terá dificuldades se povoar de "itamaratecas" o Ministério da Defesa e demonstrar fraqueza nas negociações sobre orçamento das Forças e salários. É apressada a euforia do lobby contrário à escolha dos caças franceses Rafale para a FAB: Amorim participou da arquitetura do acordo, quando era chanceler do governo Lula.
As denúncias contra a cúpula do Ministério da Agricultura nem de longe representam um problema governo versus PMDB. O que está agora posto é se a faxina ética desencadeada pela presidente da República é a brinca ou à vera. Dilma não tem problema de base parlamentar. Ao contrário, tem gordura pra queimar. A questão não é de governabilidade, mas da a natureza do governo e de sua política.
As ações da presidente têm uma lógica com começo, meio e fim ou são espasmódicas? Dilma libertou o gênio da garrafa e se piscar pode ser por ele engolida?
Se a presidente demitir o ministro Wagner Rossi, a sociedade vai aplaudir. A questão da moralidade já passou dos limites. É inaceitável que o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves, nomeie a ex-mulher para o Ministério da Agricultura a fim de resolver seus problemas familiares. Antes ela já havia sido demitida da Infraero, motivo, aliás, do desentendimento entre o líder e ex-ministro Nelson Jobim, um pemedebista acidental.
A ofensiva ética de Dilma definiu um estilo de atuação de rentabilidade alta e imediata na opinião pública. Mas a presidente agora está com um grande problema nas mãos: Wagner Rossi. Ele é ministro da Agricultura por indicação de Michel Temer, que além de vice-presidente da República é presidente do poderoso PMDB. Rossi é afilhado reconhecido de Temer na Agricultura, como já fora na Conab e na direção dos portos de São Paulo.
O PMDB inteiro sabe disso, assim como desde sempre soube das denúncias que se acumularam contra o ministro nos cargos que exerceu antes por indicação do vice e da estreita ligação do ex-secretário-executivo da Agricultura Milton Ortolan com o chefe Rossi. Quando Rossi assumiu o posto, foi sugerido a ele manter na secretaria-executiva o ex-deputado Silas Brasileiro, mas ele insistiu com Ortolan.
Se Dilma quiser tirar Rossi ela não apenas tira como o PMDB não vai fazer nada. Pelo menos por enquanto. Além da opinião pública favorável à presidente, o partido "entende" que, se reagir, vai ficar ainda mais enlameado. Dilma pegou um peso-pesado pela frente. Sua decisão vai dizer se a faxina é à brinca, apenas uma jogada publicitária, como afirma a oposição, ou à vera.
Fonte: / NOTIMP
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Amorim promete lutar por recursos para Defesa
Ao tomar posse como novo ministro da Defesa, Celso Amorim não contou com a presença do antecessor, Nelson Jobim, que está com suspeita de dengue.
Para acalmar os militares, alinhados com Jobim e sobressaltados desde o anúncio de que Amorim assumiria a pasta, o novo ministro disse que é preciso ampliar investimentos na área e que pretende "mais ouvir do que falar".
Segundo Amorim, o Brasil não pode ser confundido com um país "desarmado e indefeso" e destacou que vai se empenhar para obter os recursos indispensáveis para o fortalecimento das Forças Armadas.
– Cabe a mim empenhar e obter os recursos indispensáveis e equipamento adequado das Forças Armadas, conto para tanto com a compreensão dos colegas da área financeira – discursou Amorim
O ministro observou que, embora seja um país que vive em "paz" com os vizinhos, o Brasil não pode abrir mão da vigilância.
Fonte: / NOTIMP