Infraero pode parar
Empregados da estatal ameaçam com greve a partir de 1° de julho se os salários não forem reajustados em 14%. Empresa oferece 6% .
Gustavo Henrique Braga .
Depois dos transtornos causados pelas cinzas do vulcão chileno, os passageiros brasileiros podem se preparar para mais dor de cabeça ao viajar de avião. O Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) avisa que a categoria responsável pelas atividades administrativas dos aeroportos cruzará os braços, caso a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) se recuse a apresentar uma proposta de reajuste melhor do que os 6,51% já oferecidos. Os trabalhadores exigem correção mínima de 14%, e farão assembleias nacionais no próximo dia 1º para deliberar sobre a greve. Além disso, funcionários dos terminais de Guarulhos (SP), Confins (MG), Brasília e Manaus (AM) já aderiram a um indicativo de paralisação contra o processo de privatização do setor. Eles marcaram um ato de protesto, em Brasília, para o próximo dia 6.
Samuel Santos, diretor do Sina, argumentou que os aeroportuários não foram ouvidos sobre o tema da privatização. "Queremos ter o direito de participar da discussão. Uma medida dessas não poderia ter sido aprovada antes de se escutar todos os lados envolvidos", disse. No entender do sindicalista, em vez de passar o controle majoritário dos aeroportos para a iniciativa privada, conforme prevê o modelo anunciado pelo governo para os terminais de Guarulhos, Campinas e Brasília, a melhor opção seria manter o poder de decisão nas mãos do governo, por se tratar de uma área estratégica.
"Esses aeroportos que querem entregar à iniciativa privada são exatamente os mais rentáveis. É aquele negócio, privatiza o filé e estatiza o osso", criticou Celso Klafke, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores na Aviação Civil (Fentac). Apesar do barulho dos sindicalistas, a expectativa é de que a privatização dos aeroportos terá papel importante para garantir a infraestrutura necessária para atender a crescente demanda dos brasileiros e também para suportar o aumento de tráfego durante eventos como a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas de 2016.
James Waterhouse, professor da Escola de Engenharia Aeronáutica da Universidade de São Paulo (USP), defendeu a necessidade de investimentos privados no setor aeroportuário brasileiro, mas com a ressalva de que as cláusulas contratuais ao consórcio vencedor previnam eventuais abusos a longo prazo. "A incompetência do setor público para gerir os terminais é inquestionável. Mas é preciso cuidado para não trocar um problema por outro", afirmou. O especialista explica que o modelo de concessão precisa considerar o fato de que os aeroportos têm funções sociais, como o estímulo ao turismo e ao desenvolvimento de indústrias locais em detrimento do lucro acima de tudo. Procurada pelo Correio, a Infraero disse que não se pronunciaria sobre os protestos dos aeroportuários.
Capacidade esgotada
Um estudo elaborado pelo Centro de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) detectou que a maior parte dos terminais aéreos está com a capacidade esgotada. O de Brasília e mais três — Galeão (RJ), Fortaleza (CE) e Manaus — serão os únicos com infraestrutura suficiente para atender a demanda de passageiros em 2016. Pela estimativa do Coppe, nos 16 aeroportos localizados em cidades-sede da Copa, o número anual de passageiros saltará dos 127,72 milhões registrados no ano passado para 187,48 milhões em 2014.
Fonte: / NOTIMP