AF447: Especial III: Segurança aérea vai além da tecnologia
Após a queda do Airbus A330 no Atlântico, detectores de velocidade em aviões do mesmo tipo foram trocados. Segundo especialistas, mais mudanças são necessárias .
Débora Álvares .
Dois anos após a queda do Airbus A330 da Air France, itens ainda não esclarecidos levantam, mais do que dúvidas sobre os motivos do acidente, questionamentos acerca da segurança de voar. Embora as causas do desastre não tenham sido esclarecidas, algumas modificações foram determinadas pela fabricante da aeronave. No entanto, especialistas em segurança de voo não acreditam que as mudanças parem por aí. “Quando eles determinarem o que provocou a pane, certamente vão perceber outras necessidades em equipamentos. Mas, por hora, não é possível afirmar em quais”, destaca Moacyr Duarte, coordenador do grupo de Análise de Risco Tecnológico do Instituto Alberto Luiz Coimbra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ).
Ao divulgar um relatório preliminar do acidente, na última sexta-feira, o Escritório de Investigação e Análise (BEA, pela sigla francesa), responsável pela análise da queda da aeronave, confirmou que os tubos de Pitot apresentaram problemas. Antes da queda do Airbus, outros incidentes com sensores de velocidade do mesmo modelo — da fabricante francesa Thales — também haviam ocorrido. Ainda assim, a modificação foi realizada somente após a morte das 228 pessoas a bordo da aeronave.
Recall
Segundo informações da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), três medidas foram tomadas pela Autoridade de Aviação Civil Europeia, a Easa, depois do acidente com o voo AF 447. Uma delas diz respeito à troca dos sensores de velocidade, determinada em 2009, ano da tragédia. “Foi um caso de excessiva complacência da Airbus. Os sensores deveriam ter sido imediatamente substituídos. Antes, aconteceram 35 casos de congelamento de tubos. Mas decidir pelo recall passa pelo campo político, já que o governo tem um volume significativo das ações da empresa”, destaca o diretor de Segurança de Voo do Sindicato dos Aeronautas, Carlos Camacho. Segundo ele, o boletim de manutenção determinou a substituição de apenas 50% dos tubos. O comandante diz ainda que a automatização das aeronaves diminui a autonomia dos pilotos e prejudica a segurança. “O automatismo está passando por cima dos pilotos. Ele é interessante, mas não como tem ocorrido, apenas para diminuir os custos das passagens. Ele priva de tomar decisões quem deveria fazer isso”, ressalta.
Responsável pelo controle de tráfego, o Comando da Aeronáutica ressalta que investe em constantes melhorias para ampliar a capacidade e a segurança do tráfego aéreo no Brasil com formação e qualificação de controladores de voo, instalação de equipamentos de segurança e renovação dos Centros Integrados de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta). Sobre o acidente da Air France, o órgão afirma que, como as investigações das causas ainda não acabaram, “não foram divulgadas recomendações de segurança para as autoridades de controle de tráfego aéreo brasileiras”.
Sem radar
A região em que o avião caiu, em 31 de maio de 2009, é uma zona de convergência intertropical, com um trecho sem monitoramento por meio de radares, como ocorre sobre outros oceanos, mas com possibilidade de contato via rádio. “Podemos classificá-la como uma rota que merece atenção por estar sujeita aos fenômenos climáticos. Mas ela é extremamente segura. Tanto que é uma das principais da América do Sul”, destacou o diretor de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Carlos Camacho. “O único problema ali é uma maior dificuldade de localização em casos de acidente.”
Fonte: / NOTIMP
---
Pai de vítima do 447 desenvolve sensor para trocar modelo falho
Pesquisadores da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia), órgão da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), planejam desenvolver, no prazo de dois a três anos, sensores de velocidade para aviões que não sofram interferência da temperatura. Um dos pesquisadores é pai de uma vítima do voo 447 da Air France.
A principal causa do acidente com o avião da Air France --que voava do Rio a Paris e caiu sobre o oceano Atlântico, matando 228 pessoas, em maio de 2009-- foi a falha dos sensores de velocidade, chamados tubos de pitot. A aeronave tinha três equipamentos desse tipo, mas nenhum funcionou.
"Hoje existem pitots de vários fabricantes, mas todos funcionam da mesma forma. A condição atmosférica que faz com que um não funcione também fará com que nenhum outro funcione", diz o professor do programa de engenharia mecânica da Coppe Átila Silva Freire, um dos responsáveis pelo projeto e pai da médica Bianca Cotta, que viajava com o marido no voo 447.
"Essa perda me dá mais energia para fazer esse projeto. Mais que um dever, é uma missão que eu tenho", afirma Cotta.
Os pitots são preparados para suportar altitude de até 40 mil pés e temperatura de até 40 graus negativos. Se forem obrigados a enfrentar altitude maior ou temperatura menor, podem falhar, como aconteceu no voo da Air France, sob temperatura de 52 graus negativos.
"Nosso projeto é desenvolver um sensor que use outra técnica e suporte qualquer temperatura", conta Freire.
"Esse protótipo vai ficar pronto em dois a três anos, a um custo de R$ 3 milhões", estima Renato Cotta, outro professor do programa de engenharia mecânica da Coppe envolvido no projeto.
Dados
Quase dois anos após a queda do avião que fazia o voo 447, o BEA (Birô de Investigações e Análise), órgão do governo francês encarregado das investigações sobre o acidente com o voo da Air France, divulgou na última sexta-feira (27) os primeiros dados registrados nas caixas-pretas.
O relatório aponta que o avião caiu por 3 minutos e 22 segundos antes de tocar a superfície do oceano a uma velocidade de cerca de 200 km/h.
Segundo o BEA, o relatório descreve "de maneira factual a sequência dos acontecimentos que levaram ao acidente". As primeiras análises definitivas serão apresentadas somente no fim de julho. "Só depois de um trabalho longo e minucioso de investigação é que as causas do acidente serão determinadas e as recomendações de segurança serão emitidas, o que é a principal missão do BEA", informou o órgão.
Fonte: / NOTIMP
---
Resgate das vítimas do voo 447 aumenta dor das famílias
Missa lembra dois anos do acidente; parentes se dividem sobre recuperação dos corpos
Gabriela Pacheco
do R7, no Rio
Para as famílias das vítimas do voo 447, da Air France, o segundo aniversário do acidente aéreo, que há dois anos deixou mortos os 228 ocupantes do A330, será ainda mais dolorido que a do primeiro ano. O resgate de mais 75 corpos, do fundo do mar, também revolverá lembranças e angústias, aumentando o drama dos parentes, que nesta quarta-feira (1º) lembram a tragédia em cerimônias no Rio de Janeiro e em Paris.
No Rio, as vítimas serão homenageadas com uma missa, às 8h, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, e um culto ecumênico às 9h, no Alto Leblon. Em Paris, a cerimônia vai ocorrer no Cemitério Père Lachaise, onde há um memorial.
Segundo o diretor-executivo da Associação de Familiares das vitimas do Voo 447, Maarten Van Sluys, nos dois anos que se passaram desde o acidente os familiares encontraram maneiras diferentes para enfrentar a dor. No entanto, o resgate de mais 75 corpos (o que aumenta para 127 as vítimas resgatadas desde o início das buscas), trouxeram um novo drama para algumas famílias, principalmente para aquelas com mais de um morto.
- Acredito que a cerimônia será mais dolorosa que a do primeiro ano, mais intensa. Ninguém mais esperava que as investigações avançassem depois de tanto tempo. Embora a maioria queira enterrar seus entes queridos, alguns temem que nem todos sejam encontrados, separando, por exemplo, casais.
Este é o caso de Sylvie Lopes Mello, que não quer separar o irmão Carlos Eduardo Lopes Mello e a cunhada Bianca Pires, que estavam viajando em lua-de-mel. Sylvie explica também que é contra a retirada dos corpos por não saber que condições eles estarão.
- A Air France disse que retirará apenas os corpos que estão de forma digna, mas o que isso significa ninguém sabe. Também não há diálogo da empresa com os familiares para saber o que pensamos, apenas um mando e desmando. Até hoje quem recebeu algum corpo, recebeu lacrado. Ninguém sabe o que está ali dentro. Se pudéssemos, gostaríamos de deixar o meu irmão e a cunhada juntos. Para minha mãe, eles foram apenas viajar.
Sylvie reconhece que chegar a um consenso entre as famílias seria difícil, mas seria bom ter todas as opiniões ouvidas. Ela lida com a tragédia colocando fotos de seu irmão por toda casa e diz esta sempre disposta a falar sobre ele, mas que às vezes, fica mais difícil lembrar de tudo.
Presidente quer museu para lembrar tragédia
Já para a fotógrafa Alexandra Salvador que perdeu o noivo Ronald Dreyer, o acidente é algo que tenta não lembrar todos os dias.
- Ainda é muito sofrimento. Não acompanho as notícias das investigações, apenas participo da associação para apoiá-la.
Alguns reagiram à tristeza tornando o assunto parte de suas vidas, como o presidente da associação, Nelson Faria Marinho. Desde que as investigações encontraram o Airbus no dia 5 de abril desse ano, ele e as famílias dos outros 58 brasileiros a bordo tiveram que lidar com a angústia da possibilidade de que nem todos os corpos serão localizados.
- Na próxima assembleia para os familiares, vou sugerir que com o dinheiro da indenização da Air France construir um pequeno museu para lembrar dos que perdemos. A intenção é confortar os parentes, pois nem todos vão ter um cemitério para visitar.
Queda do avião durou três minutos
Na última sexta-feira (27), após estudo da caixa-preta, o BEA (órgão francês responsável pelas investigações) anunciou que a queda do avião durou cerca de três minutos e meio.
Os técnicos também apuraram erros na medição da velocidade do avião, o que desligou o piloto automático quatro minutos antes de a aeronave cair no mar.
Durante a transcrição da caixa-preta, os peritos recuperaram a gravação das últimas palavras de um dos pilotos durante a perda de controle da aeronave: “não estou entendo mais nada".
Fonte: / NOTIMP
Foto: Pawel Kierzkowski