Jogos Mundiais Militares: Atletas olímpicos se militarizam para participar
No dia 9, Valeska dos Santos Menezes, vestiu pela primeira vez seu uniforme de sargento do Exército. De coturno e farda camuflada, assistiu a aulas sobre hierarquia militar e a importância das Forças Armadas para o Brasil. Mais um dia na rotina da Escola de Educação Física do Exército da Urca, no Rio, se não fosse ela a Valeskinha, medalhista de ouro da seleção brasileira de vôlei feminino nas Olimpíadas de Pequim, tricampeã do Grand Prix também pela seleção e ainda três vezes campeã brasileira pela Unilever. A atleta se reuniu às 12 jogadoras de vôlei feminino que se militarizaram desde o ano passado para participar dos 5º Jogos Mundiais Militares que serão realizados no Rio de 16 a 24 de julho.
Todas se tornaram sargentos do Exército para participar da competição. "Eu fiquei sabendo pelas outras meninas. Elas diziam que era uma experiência única, que estavam adorando os novos conhecimentos", conta empolgada a jogadora de 35 anos, que começou a jogar vôlei aos 13, influenciada pela mãe, a também atleta olímpica Aída dos Santos. Valeskinha se referia ao treinamento militar pelo qual todos os atletas engajados nas Forças Armadas passam, que inclui tiro, marcha, pernoite na mata, construção de abrigos improvisados e retirada de alimentos da selva. "Além disso, eu vou representar meu país. Isso é sempre um orgulho. Será a mesma emoção e responsabilidade que tive na Grécia ou em Pequim", afirma.
Apesar do engajamento de Valeskinha ter ocorrido na semana passada, outras 12 atletas do vôlei feminino já estão militarizadas desde o ano passado. Elas entraram no Exército em abril, depois do lançamento de um edital. Todas passaram por uma seleção: 42 atletas se inscreveram, conta o major Chiacchio, chefe da equipe da seleção militar brasileira de vôlei feminino. "Elas foram avaliadas pelo currículo, em que times jogaram, que títulos conquistaram, fizeram teste de saúde e depois foram entrevistadas", conta o major. "Depois passaram por um treinamento militar de dois meses."
As meninas não decepcionaram na primeira competição que participaram: "foram campeãs do mundial militar realizado na Carolina do Norte, nos Estados Unidos", conta o major. Depois foram dispensadas para voltar à Superliga em seus times.
Em abril, as 12 foram reconvocadas e agora treinam de 8h às 10h30, fazem instrução militar, ordem unida e marcha, almoçam, descansam e depois voltam a treinar das 16h30 às 19h30. Apesar da rotina pesada, a líbero da seleção, a sargento Veridiana Mostácio da Fonseca, a Verê, que já passou pelo Minas Tênis Clube e jogou a última temporada pelo São Caetano, também gostou muito da rotina militar. "Moro no quartel, aprendi a atirar, todo mundo aqui teve muita paciência para nos treinar", conta. "O mais engraçado é que tenho dois irmãos que foram dispensados do serviço militar e eu estou aqui. Sou o orgulho do papai", brinca a atleta de 28 anos, que começou a jogar vôlei aos 10 anos.
Além das meninas do vôlei, atletas como Fabíola Molina, da natação, o judoca Flávio Canto, bronze nas Olimpíadas de Atenas de 2004, o jogador de vôlei da seleção brasileira Anderson de Oliveira Rodrigues, o triplista Jardel Gregório e a campeã mundial de taekwondo e medalhista de bronze olímpico em Pequim 2008, Natália Falavigna, se militarizaram e treinam em vários quartéis do país para participar dos Jogos Militares.
Ao todo, as Forças Armadas trouxeram para seu quadro cerca de 300 atletas do esporte brasileiro. Essa foi a primeira vez que o Brasil convocou um número tão grande de desportistas para os jogos. "Diferentemente das competições anteriores, os atletas estarão mais expostos", diz o vice-almirante Bernardo Pierantoni Gambôa, presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil. "A visibilidade proporcionada pela cobertura da imprensa vai popularizar os jogos, e, sem dúvida, as expectativas serão maiores", completa.
Militares tentam obter patrocínio para mundial
Paola de Moura
A pouco menos de dois meses dos 5º Jogos Mundiais Militares de 2011, as Forças Armadas ainda tentam regulamentar uma legislação federal para conseguir recursos de empresas privadas como patrocinadoras do evento. O custo total dos Jogos da Paz, como foram batizados, é de R$ 1,46 bilhão. Só as três vilas, que vão abrigar os 6 mil atletas e 2 mil delegados de mais de 100 países, custarão R$ 500 milhões. Os jogos serão realizados de 16 a 24 de julho no Rio.
Segundo o general de brigada Jamil Megid Júnior, coordenador-geral do Comitê de Planejamento Operacional Rio 2011, o objetivo é adotar um modelo similar ao dos Jogos Olímpicos, com prestadores de serviço que são patrocinadores e ainda fornecem seus produtos, como banco oficial, operadora de telefonia, empresa de cronometragem, sistema de informática, alimentação e assim por diante. "Já conversamos com vária empresas. Teremos 20 patrocinadores-master e fornecedores de equipamentos", conta. Segundo o general, ainda faltam alguns detalhes na regulamentação para que os acordos sejam finalizados, como a forma como os recursos serão transferidos. Os jogos estão sendo bancados pela União, que será "reembolsada" com os valores obtidos com marketing.
O general Megid explica que já foram fechados contratos de transmissão com as rede Sport TV, Globo e Record. "Isso aumenta o interesse dos patrocinadores para exibir suas marcas", acredita.
Apesar da busca por patrocinadores-masters, os contratos não impedem que os atletas tenham seus próprios patrocinadores e exibam as marcas. "A única proibição é que estes patrocínios sejam de empresas de bebidas alcoólicas ou de tabaco", esclarece o general.
Preocupação com problemas na infraestrutura não há muita. As obras estão praticamente em dia. Dos 24 locais de provas, apenas três estão com o prazo apertado, mas ainda com o sinal amarelo e, um, o Centro Esportivo Miécimo da Silva, em Campo Grande, que seria sede do judô e de algumas partidas de futebol, apresenta sérios problemas. "O futebol pode ser todo transferido para outros estádios do Rio e estamos organizando uma solução para o judô". O estádio precisava de investimento de R$ 2 milhões da Prefeitura e de R$ 2 milhões do governo federal para ser reformado. Mas a verba federal não foi liberada.
A maioria das sedes desportivas já foi utilizada nos Jogos Panamericanos de 2007, como o Estádio João Havelange - onde acontecerão as cerimônias de abertura e de encerramento, além das disputas de atletismo e futebol -, o Parque Aquático Maria Lenk, onde ocorrerão as provas de natação, ou o estádio do Maracanãzinho.
As três vilas olímpicas estão orçadas em R$ 500 milhões. Identificada pelas cores das Forças Armadas, verde, azul e branca, terão 1.206 apartamentos de três quartos com área entre 105 e 110 metros quadrados. "Depois dos jogos serão distribuídos aos militares do Rio que hoje moram em áreas de risco ou em comunidades carentes", conta o general. Os prédios já estão praticamente prontos, com um pequeno atraso na Vila Branca, que deve ser concluída ainda este mês. O imóveis foram construídos pela construtoras Carioca Engenharia, Augusto Velloso e Lopez Marinho.
A maioria dos esportes disputados nos Jogos Militares são os mesmos dos Olímpicos. Ao todo serão 20 modalidades, entre elas basquete, boxe, vela, tiro, atletismo e hipismo. No entanto, há quatro modalidades exclusivas disputadas pelos militares: a orientação, o pentatlo aeronáutico, o naval e o militar.
O general explica que, no pentatlo militar, há orientação e paraquedismo; no aeronáutico, há um rali aéreo em que o atleta pilota um avião tucano, provas de basquete e natação com obstáculos; enquanto no naval há provas de natação de salvamento, natação utilitária, no qual carrega fuzis de madeira semelhantes aos reais, habilidade naval e "cross country" anfíbio. As provas de paraquedismo e aéreas serão realizadas na Academia Militar das Agulhas Negras em Resende e as de orientação no Campo de Instrução de Avelar, em Paty do Alferes.
Fonte: / NOTIMP