FAB despede-se do ex-ministro Octávio Júlio Moreira Lima
“Quando singrares a noite escura sob o manto das estrelas...lembra-te, cavaleiro do espaço, que tua missão é construção do futuro. Lembra-te de que és mensageiro de esperança e de amor”. As palavras e ideais românticos nunca abandonaram o Tenente Brigadeiro do Ar Octávio Júlio Moreira Lima, ex-ministro da Aeronáutica (1985-1990), que ficou conhecido também pela devoção de nada menos do que 65 anos de serviço à Força Aérea Brasileira.
“Venho de uma geração de românticos. Com a aviação de transporte, chegávamos para ajudar localidades que a maioria dos brasileiros nunca ouviram falar”, disse em entrevista há dois anos. Neste dia 23 de maio, o amanhecer se fez menos radiante e os ideais perdem parte das palavras com a morte do homem de 84 anos de idade, de fala serena, lembranças vívidas e sorriso simples. “Minha vida foi de entusiasmo e idealismo”, certificava ao relembrar “inúmeras” missões e mais de sete mil horas de voo. Octávio Moreira Lima era casado com Ana Guasque Moreira Lima com quem teve dois filhos.
O homem que chegou ao cargo máximo na instituição para a qual se doou desde 1943 foi influenciado por uma família de militares. O avô era marechal do Exército, o pai, general. Aos 11 anos foi para o Colégio Militar e, desde então, faria da farda a segunda pele. Como aviador, passou a integrar o Correio Aéreo Nacional conduzindo aeronaves como o C-54, o C-47 e o C-118.
Foi piloto também do VC-92 a serviço da Presidência da República. “Foi a aeronave que mais gostei de voar. Me apaixonei”. “A gente chegava em locais desassistidos e éramos cercados pela população inteira. Nunca vou esquecer isso. Sempre soubemos a importância do que fazíamos. Sem dúvida, minha grande realização foi ser piloto de transporte aéreo”.
Mesmo depois de promovido a brigadeiro, continuou voando em aeronaves como o histórico Búfalo, desativado recentemente. “Fazia pouso e decolagens curtas. Era um grande avião”. A paixão pela máquina tinha como pano de fundo a indumentária da missão que carregava, a força da veste, a certeza de que, ainda que no trabalho, estava em família. Mesmo depois de ser nomeado ministro, costumava repetir para seus auxiliares: “um homem sozinho não consegue fazer nada, somente o faz quando cercado de sua equipe motivada”.
A equipe motivada é uma instituição hoje com cerca de 70 mil pessoas, hoje consternada com o falecimento de um homem que deixa legado imensurável de dedicação, gestos e palavras. “(o aviador) Nos céus da tua Pátria reinas com serenidade. Do alto contemplas as riquezas do teu País: seus campos imensos, o verde das florestas, os rios calmos emoldurando as planícies. As serras e montanhas, aos teus olhos, são pequenas silhuetas, e o mar, qual imenso tapete, te serve de espelho. Não voa apenas. Pensa, sente, e te virá a consciência da grandeza da tua profissão: versátil, incomum, brava e bela”. A noite escura, que acompanha o aviador, ganha agora nova estrela. “Tens um pouco das aves em ti. Como pássaros, deves expressar a pureza, a confiança e a humildade”. Missão cumprida, comandante.