AF447: Mais pressão para resgate


Uma equipe de resgate conseguiu recuperar, ontem, o primeiro corpo dos destroços do voo 447 da Air France que caiu no Atlântico. Mas, o presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Nelson Faria Marinho, diz que a Air France "só começou a resgatar os corpos devido à pressão". Mas disse ser "um alívio" a operação para recolher os corpos encontrados no oceano Atlântico.
A polícia francesa informou que o corpo, içado à superfície após permanecer quase dois anos a uma profundidade de 3.900 metros, está em estado avançado de putrefação. Ele ainda estava preso ao assento pelo cinto de segurança.
"É preciso finalizar a vida, encerrar esse ciclo que, sem os corpos, fica aberto. Tem que haver um lugar, um túmulo, para que as famílias prestem homenagem à pessoa", disse. Segundo Marinho, só duas famílias, uma brasileira e outra alemã, manifestaram a ele o desejo de não receber os corpos de seus parentes mortos.
"No Brasil, encontrar o corpo resolve outro aspecto importante, relativo à lei. Sem corpo, existe muita burocracia para oficializar a morte presumida. Isso demora de seis meses a dois anos. Com o corpo, a família consegue receber um seguro de vida, por exemplo, e resolver outras pendências legais", afirma.
Segundo a polícia francesa, é possível que os exames não permitam a identificação dos corpos, devido à deterioração. Se essa impossibilidade for constatada em relação ao primeiro corpo, já recolhido, o resgate dos demais pode ser cancelado.
Marinho considera impossível que os exames não consigam identificar os corpos. "O exame de DNA permite identificar até corpos muito antigos. É impossível que não consiga saber a identidade de um corpo de dois anos. Essa hipótese é bobagem", afirmou.
RESGATE Os restos mortais resgatados ontem foram levados a bordo do navio francês Ile de Sein, e serão transportados para Paris na próxima semana. A polícia francesa informou que o corpo será encaminhado a um laboratório de análise a fim de determinar a possibilidade de uma identificação por meio do DNA.
"Estávamos tentando trazer (o corpo) desde quarta-feira. Demorou muito tempo", disse um porta-voz da polícia francesa. "É difícil por que os corpos estão bem preservados no fundo do mar por conta da pressão e da temperatura, mas trazê-los para cima para águas mais quentes provoca a decomposição", afirmou.
Segundo os policiais, existe a possibilidade de que não seja possível trazer à superfície todos os corpos. A polícia francesa está encarregada de resgatar os corpos em cumprimento à determinação do juiz responsável pelo processo sobre o acidente. Oito policiais franceses estão no Ile de Sein.
Na ocasião da tragédia, cerca de 50 corpos foram resgatados do oceano, sendo que 20 eram de brasileiros –12 homens e oito mulheres.
As causas do acidente com o Airbus A330 podem ser esclarecidas após a análise das duas caixas-pretas recuperadas domingo e segunda-feira.
O primeiro mergulho do robô em busca dos destroços do voo, localizados no começo de abril, foi realizado na manhã do dia 26 de abril e durou mais de 12 horas. De acordo com o órgão de investigação frances (BEA), 68 pessoas estão a bordo do navio, incluindo a tripulação. Entre eles estão nove operadores do robô submarino, técnicos da empresa americana Phoenix International, proprietária dos equipamentos, e membros do BEA. O coronel Luís Cláudio Lupoli, da Força Aérea Brasileira, também está a bordo do navio. Ele é o representante brasileiro na comissão de investigação do acidente.
Fonte: / NOTIMP
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Um corpo no abismo do mar
Franceses recuperam entre os destroços do voo 447 restos mortais de uma vítima
Cláudio Motta
O primeiro corpo de uma das 228 vítimas do voo 447 da Air France (Rio-Paris), que caiu há quase dois anos próximo à costa brasileira, foi resgatado ontem, de uma profundidade de 3.900 metros, por especialistas e pela polícia francesa. Na época do acidente, 51 corpos foram resgatados flutuando na superfície. Segundo a polícia francesa, o corpo ainda estava preso a um assento do avião, pelo cinto de segurança.
O comunicado da polícia lança dúvidas sobre quantos corpos poderão ser resgatados, devido às "condições particularmente complexas" da operação: "As tentativas de retirada dos corpos são efetuadas em condições particularmente complexas e até então inéditas. Há grandes incertezas quanto à capacidade técnica de recuperação dos corpos".
Para Nelson Faria Marinho, presidente da Associação de Familiares de Vítimas, no entanto, todos os esforços devem ser feitos para recuperar a totalidade dos corpos.
- O comunicado oficial foi de que retiraram um corpo, e que teria havido um problema na descompressão, uma vez que ele estava numa profundidade muito alta e retornou ao nível do mar. Mas os primeiros corpos também estavam mutilados. Ou seja, todos os corpos têm que ser resgatados, não importam as condições. Quero meu filho de volta - disse Nelson.
Os responsáveis pelo resgate afirmam que o corpo resgatado estava "degradado". A preservação foi possível pelo fato de os destroços estarem em águas profundas e frias, sob grande pressão e com menos organismos marinhos. Bactérias que decompõem tecidos se tornam inativas em águas muito profundas.
Objetos ajudariam na identificação
Para o perito criminal Mauro Ricart, a identificação das vítimas será feita por roupas, documentos ou, ainda, exame de DNA:
- O corpo pode estar conservado, mas não está íntegro. Intacto, só se estivesse numa câmara de gás criogênico. As partes macias e o rosto são mais afetados. As impressões digitais somem. A água, ainda mais a salgada, corrói. O reconhecimento pode ser feito pela roupa ou por relógio, anel, prótese, documentos no bolso da roupa. E é mais do que possível fazer exame de DNA.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que os corpos resgatados vão para a França, respeitando a legislação internacional. De acordo com ele, a responsabilidade das buscas é do país da aeronave que sofreu o acidente. Jobim disse ainda que um oficial da Marinha brasileira vai acompanhar o processo de investigação. E que o Brasil observará a análise das caixas-pretas. Esta é uma prerrogativa de países que tinham cidadãos no acidente, segundo Jobim.
A Força Aérea Brasileira (FAB) informou em nota que a queda do avião ocorreu em águas internacionais, estando as investigações a cargo do Bureau d"Enquêtes et d"Analyses pour la Sécurité de l"Aviation Civile (BEA). A FAB informou ainda que esse procedimento é previsto pelo parágrafo 5.3 do Anexo 13 da Convenção sobre Aviação Civil Internacional, da qual o Brasil é signatário.
Os corpos vão para a França e o processo será acompanhado por autoridades brasileiras. Em caso de necessidade, será feito o traslado de volta para o Brasil. A Associação de Vítimas, no entanto, critica essa operação.
- Os corpos deveriam ficar no Brasil. Essa viagem vai traumatizar ainda mais os corpos. Se meu filho for para a França, será sepultado lá mesmo. É meu desejo: minha família ficou dividida entre Brasil e França, a empresa é francesa e o monumento (às vítimas) foi feito lá - disse Nelson.
A Associação reclama, ainda, da demora da Justiça brasileira em emitir o atestado de morte presumida:
- A Air France, em quatro meses, recebeu sua indenização. As famílias até hoje estão brigando em tribunais para receber o pagamento. A maioria de nós sequer tem o documento de morte presumida. Dentro da associação, apenas um conseguiu. Sem a documentação, não se consegue nada: mexer na conta bancária, regularizar o INSS etc.
Uma comissão de mulheres formada dentro da associação quer levar as reclamações diretamente à presidente Dilma Rousseff.
COLABOROU Deborah Berlinck, de Paris
Fonte: / NOTIMP
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Brasil vai ajudar a França no resgate dos corpos, diz Jobim
Daniella Jinkings
O Brasil vai ajudar a França no resgate dos corpos encontrados entre os destroços do avião da Air France que caiu no Oceano Atlântico em 2009, afirmou o ministro da Defesa, Nelson Jobim. A França anunciou hoje o resgate do primeiro corpo. Os restos mortais de um dos passageiros foram levados a bordo do navio Ile de Sein hoje (5).
“O Brasil tem seu comissionado e vai trabalhar junto com os franceses no sentido de examinar a caixa preta e na recuperação de corpos, restos mortais para que possamos identificar se são ou não brasileiros. Porque ali você tinha mais ou menos dez nacionalidades envolvidas”, disse o ministro.
A polícia francesa informou que o corpo, juntamente com as caixas-pretas do avião, será encaminhado, na próxima semana, a um laboratório de análise para determinar a possibilidade de uma identificação por meio do DNA.
O resgate de corpos está sob a responsabilidade da Justiça francesa. O acidente matou 228 pessoas. Ele fazia a rota Rio-Paris. Apenas 50 corpos foram encontrados logo após o desastre, sendo 20 deles de brasileiros.
De acordo com Jobim, os corpos serão examinados na França e caso sejam identificados como brasileiros, serão trazidos ao Brasil. Ele também negou que haja problemas entre os países que apuram o acidente. “Não há nenhum conflito entre o Brasil e os outros países envolvidos na apuração dos elementos relativos a esse acidente”.
Fonte: / NOTIMP
Foto: Pawel Kierzkowski
