AF447: França não resgatará corpos em mau estado
Justiça justificou que medida visa a “preservar a dignidade” das vítimas .
A Justiça da França enviou carta aos parentes das 228 vítimas do voo AF-447, acidentado no Oceano Atlântico há dois anos, afirmando que decidiu não resgatar os corpos muito deteriorados após o desastre. A determinação desmente nota oficial da polícia militar francesa de que “todos os corpos que pudessem resgatar seriam recuperados do fundo do mar”.
A correspondência foi assinada pelos juízes de instrução Sylvie Zimmerman e Yann Daurelle, do Ministério Público de Paris. O texto alega que a decisão visa a “preservar a dignidade e o respeito das infelizes vítimas e dos que os choram”. A documento explica ainda que “os restos mortais que se localizam no fundo estão inevitavelmente em um estado degradado, em razão do choque particularmente violento, do tempo passado e do ambiente em torno”.
Há cinco dias, a Direção Geral de Gendarmerie Nationale, a polícia militar francesa, divulgou nota informando que uma dúzia de especialistas seriam enviados ao Atlântico para, durante cerca de 15 dias, efetuar o resgate de “todos os corpos e objetos pessoais que poderão ser recuperados.”
Desde a sexta-feira, dois corpos foram resgatados dentre os destroços do Airbus A-330 da Air France. Segundo os juízes, os cadáveres coletados têm estados de conservação diferentes. Amostras de DNA foram coletadas e estão a caminho de Caiena, capital da Guiana Francesa, antes de serem transferidas para Paris, junto das caixas-pretas do voo AF-447, encontradas nos dias 1º e 3 de maio. A partir de amanhã, exames laboratoriais serão realizados para descobrir se será possível identificar as vítimas.
Em Paris para participar de uma reunião ministerial do G-8, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encontrou-se ontem Michel Mercier, titular francês da pasta. Na conversa, debateram as investigações sobre o acidente do voo AF-447. Cardozo se disse satisfeito com o grau de transparência da apuração, conduzida pelo Escritório de Investigações e Análises para a Aviação Civil.
– A verdade se colocará. Não há por que termos suspeitas – afirmou ministro brasileiro.
Fonte: / NOTIMP
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Coleta de corpos seletiva
Governo francês recua e anuncia que vai levar em conta o estado de deterioração dos cadáveres para definir quais serão retirados do fundo do Oceano Atlântico. A nova decisão não agrada os familiares das vítimas
Débora Álvares
O resgate dos corpos das vítimas do avião da Air France acidentado em 31 de maio de 2009 ganhou mais um capítulo polêmico. Após idas e vindas de informações, as autoridades francesas decidiram não retirar do fundo do oceano todos os restos mortais localizados na última operação de busca, em abril deste ano. Em carta enviada às famílias dos mortos na tragédia, os juízes Sykvie Zimmerman e Yannn Daurelle, do Ministério Público de Paris, informaram que aqueles em estado de decomposição mais avançado não serão levados à superfície. “Para preservar a dignidade e o respeito das infelizes vítimas e dos que os choram, nós tomamos a decisão de não resgatar os restos alterados demais”, justifica o texto.
A determinação desmente a informação divulgada na semana passada pela Polícia Militar do país (Gendarmerie Nationale), que havia confirmado, em nota oficial, o resgate de todos os corpos encontrados. O documento reavalia ainda algumas declarações sobre o estado das vítimas. “Os restos mortais que se localizam no fundo (do oceano) estão inevitavelmente em um estado degradado em razão do choque particularmente violento, do tempo passado e do ambiente”, informa.
Na última semana, as equipes de resgate a bordo do navio francês Ile de Sein recuperaram dois corpos do fundo do mar — o primeiro estava preso a um assento da aeronave e o outro, solto. Amostras de DNA foram coletadas dos restos mortais e estão a caminho de Caiena, capital da Guiana Francesa, para serem enviadas a Paris, assim como as caixas-pretas encontradas. Os tecidos coletados e os equipamentos que gravaram dados do voo e as conversas entre os pilotos na cabine devem chegar a Paris amanhã “a fim de verificar se a identificação é ou não realizável”, segundo a carta dos juízes.
Falta convencer
Apesar das conhecidas dificuldades no resgate dos corpos, a justificativa usada pela Justiça francesa para limitar o içamento não convenceu os parentes das vítimas. Segundo o diretor executivo da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Maarten Van Sluys, os critérios utilizados pelas equipes de resgate para eleger aqueles que serão levado à superfície não ficaram claros. “Do ponto de vista de dignidade e de respeito às famílias, não parece ser procedente essa argumentação. Para alguém que não tem nada, receber algo que seja daquela pessoa é sempre melhor”, destacou.
Os restos mortais da irmã de Maarten, morta no acidente, foram recuperados na primeira fase de busca, quando as equipes conseguiram localizar 50 corpos boiando no oceano. “Que diferença faz se o corpo está inteiro? Recebi o da minha irmã e nem abrimos o caixão. O importante é poder fazer um enterro. Se fosse por essa ótica, nem os primeiros poderiam ter sido entregues às famílias”, argumentou.
O médico-legista Helsio Luiz Miziara discorda da decisão de retirar os corpos do fundo do oceano, mas destaca a possibilidade de identificá-los por meio de exame de DNA usando a estrutura óssea ou qualquer outro tecido humano, como o cabelo, que esteja preservado. “Os corpos devem estar decompostos. É falsa essa ideia de que a temperatura e a pressão os preservaram, mas o arcabouço deve estar mantido”, diz o especialista. Para o professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), é preciso que a França esclareça os critério que utilizará na escolha dos corpos a serem resgatados. “Mas acredito que, em qualquer dos casos, existe a possibilidade de identificar (a vítima) pelo que sobrou”, ressaltou. Novas tentativas de resgatar os corpos serão feitas a partir do próximo dia 20, quando a tripulação do navio Ile de Sein ganhará reforço.
Fonte: / NOTIMP
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Corpos não serão mais resgatados
Decisão de juízes da França revolta familiares das vítimas no Brasil. Associação procura ajuda do governo brasileiro
Os corpos das vítimas do voo 447 da Air France que estiverem muito degradados não serão resgatados. A decisão é de dois juízes de instrução franceses, segundo uma carta enviada às famílias das vítimas. "Para preservar a dignidade e o respeito das infelizes vítimas e daqueles que as choram, tomamos a decisão de não retirar os corpos muito alterados", indicam os juízes parisienses Sylvie Zimmermann e Yann Daurelle.
A decisão gerou polêmica. O presidente da Associação de Parentes de Vítimas do voo 447, Nelson Marinho, afirmou ontem que vai protestar contra a medida da Justiça. O avião da Air France caiu no Oceano Atlântico em 2009, com 228 pessoas a bordo.
Nelson afirmou que a filha dele, que mora em Paris, recebeu um e-mail com a informação. Segundo os magistrados franceses, o objetivo de não resgatar corpos muito danificados é "preservar a dignidade e o respeito" das vítimas. Até agora, dois corpos foram resgatados.
De acordo com Nelson, os primeiros corpos resgatados já não estavam em boas condições e foram resgatados da mesma forma. “Quando se acha um corpo é preciso entregá-lo à família. A lei de lá não é diferente da daqui”, disse. Ele afirmou já ter procurado o governo brasileiro para resolver o impasse. “Foi uma decisão precipitada. O Brasil tem que se fazer presente.”
Os juízes ressaltaram que "ao contrário de algumas declarações públicas, divulgadas por alguns meios, devem saber que os restos mortais das vítimas que estão no fundo estão inelutavelmente em um estado degradado após o choque particularmente violento, devido ao tempo transcorrido e ao entorno". Os magistrados insistem também no fato de que "a retirada para a superfície é necessariamente mais um fator para a degradação". "Em consequência disso, só resgataremos as vítimas que possam ser entregues de forma decente às famílias, com a condição de que possam ser identificadas", advertem.
Caixas-pretas O Escritório Francês de Investigação e Análises (BEA) divulgou que as caixas-pretas do voo 447 serão transportadas amanhã para a sede do órgão, em Le Bourget, nos arredores de Paris. Também amanhã, segundo o BEA, será realizada uma entrevista coletiva com novas informações a respeito das investigações do voo.
O BEA informou que participarão da entrevista o diretor do BEA, Jean-Paul Troadec, acompanhado por Alain Bouillard, que comanda a investigação de segurança, e por Christophe Menez, diretor do departamento de engenharia. Philippe Vinogradoff, representante francês das famílias das vítimas do voo AF 447, estará presente.
O BEA também havia antecipado que o navio da Marinha francesa La Capricieuse navega em direção ao porto de Cayenne levando as caixas-pretas do avião, encontradas na semana passada. Disse ainda que os equipamentos se encontram selados sob ordem judicial, e que devem ser levados à França por avião depois que chegarem à Guiana Francesa.
Fonte: / NOTIMP
Foto: Pawel Kierzkowski