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AF447: É hora de saber o que ocorreu



ENTREVISTA JEAN--PAUL TROADEC

Depois de dois anos de críticas severas, o Escritório Francês de Investigações e Análise da Aviação Civil (BEA), órgão que apura as causas do desastre do voo AF-447, que ocorreu em 31 de maio de 2009, vive um momento de expectativa. Até o fim desta semana, as caixas-pretas do Airbus A330-200 do voo Rio-Paris serão inspecionadas na sede do birô, em Le Bourget, arredores da capital francesa. Só então se saberá se os microchips que se localizam no interior da cápsula metálica resistiram aos dois anos de corrosão a 3,9 mil metros de profundidade no Oceano Atlântico.

Para o diretor do BEA, Jean-Paul Troadec, a hora é de esperança, mas também de cautela. A seguir, os principais pontos da entrevista na qual o executivo reclamou das críticas ao Escritório de Investigações e Análise da Aviação Civil. Segundo Troadec, especialistas estrangeiros, inclusive do Brasil, testemunharão a abertura das caixas-pretas na França. “O trabalho de decupagem obedece a uma série de procedimentos especiais, assegurados também pela Justiça”. Sobre a hipótese do que teria causado o acidente, ele afirma que “o BEA não trabalha com hipóteses, mas com fatos, com informações e com elementos”.

As duas caixas-pretas foram localizadas. O senhor está otimista em relação à descoberta das causas do acidente?

Sim. Pela análise visual que nossos experts puderam fazer, os dois gravadores estão em bom estado, ou seja, não foram destruídos ou gravemente atingidos durante a queda do avião. Mas é preciso ser prudente neste momento. Não sabemos se os dados das caixas-pretas foram preservados depois de dois anos imersos a 3,9 mil metros de profundidade. Ainda que não possamos extraí-los em um primeiro momento, teremos recursos para fazer novas tentativas. Mas, neste instante, ainda vivemos a total incerteza sobre as caixas- pretas.

É um momento de incerteza. Também por isso a expedição no mar continua, em busca de outros destroços, de outras peças do avião, certo?

Sim, nós já identificamos outras peças da aeronave que consideramos importantes e vamos tentar repescá-las nos próximos dias. É caso dos navegadores e dos calculadores (sistemas informáticos da aeronave), onde ficam armazenadas certas informações do voo. Vamos tentar localizar outros elementos no cockpit que podem nos ajudar a explicar o acidente. Se tivermos condições técnicas, vamos tentar repescar todo o cockpit do avião, inclusive.

Esta quinta fase estava prevista para durar dois ou até três meses. Qual é a perspectiva atual, agora que as duas caixas-pretas foram localizadas?

Nossa perspectiva é de que fiquemos até 8 ou 9 de junho na região do Atlântico em que estamos trabalhando. Depois disso, começaríamos a ter problemas logísticos, como combustível, suprimentos etc. Mas até lá poderemos executar todo o nosso trabalho .

As duas caixas-pretas foram localizadas. Isso significa que será possível explicar totalmente as causas do acidente do voo AF- 447?

Se as duas caixas-pretas puderem ser examinadas, nós obteremos dados essenciais, como a trajetória do avião, por exemplo. Nós saberemos também quais foram as decisões da tripulação, suas reações, e uma série de outros elementos dos quais não tínhamos conhecimento até aqui, quando não dispunhamos dessas informações. Elas são essenciais. Mas é claro que não são só elas que explicarão o acidente. Nós já havíamos apurado muitas informações que contribuirão também para entender o que aconteceu com o voo AF-447.

Uma questão delicada sobre a operação em curso no Atlântico é a busca dos corpos.

Eu não me pronuncio sobre esse assunto. Nós, do BEA, somos responsáveis pela apuração das causas técnicas do acidente Para isso, estabelecemos como prioridade a busca das caixas-pretas. A questão do içamento dos corpos eventualmente será feita por uma outra equipe técnica, que obedecerá as instruções dos oficiais de Justiça presentes a bordo do navio Ile de Sein. Logo, eu não sou a pessoa adequada para me pronunciar a respeito.

As vítimas de famílias de vítimas no Brasil, na Alemanha e alguns experts independentes na França são muito críticos em relação ao BEA e aos dois anos de buscas no mar. Como o senhor responde a essas indagações?

Desde que localizamos as caixas- pretas do voo AF-447, eu não paro de receber parabéns e de ouvir elogios à atuação do BEA. O desafio de encontrar os destroços da aeronave era imenso. O aparelho está localizado a 3,9 mil metros de profundidade e todos podem imaginar as dificuldades que isso impõe. Há dois anos realizamos buscas nessa região e contamos com a análise de especialistas que consideravam os movimentos das correntes marinhas, entre tantos outros elementos. Para que se tenha uma ideia, a superfície que vasculhamos representa um trilhão de vezes o tamanho de uma caixa-preta. Insistimos nas buscas e tivemos sucesso. Acho que isso é o mais importante. A meu ver, essas críticas ou são feitas com má fé ou com desconhecimento.

Os críticos também contestam a autonomia do BEA. O que o senhor diz a respeito?

O BEA é um escritório independente. Nunca recebemos nenhum tipo de orientação em relação a nossos trabalhos de perícia de quem quer que seja.

As caixas-pretas acabam de ser localizadas. Qual seria sua hipótese sobre o desastre?

O BEA não trabalha com hipóteses. Não tenho hipóteses e acho que, localizando as caixas-pretas, temos grandes chances de avançar na investigação sobre a tragédia.

Comparado ao Titanic

O acidente com o voo 447 da Air France, que deixou 228 mortos em 2009, é o tema de reportagem de capa da The New York Times Magazine desta semana. Na matéria, o diretor do Bureau Francês de Investigação e Análises (BEA), Jean-Paul Troadec, afirma ao repórter que “este acidente poderia se aplicar a todo avião”. “Caso haja um problema técnico no avião, temos que saber. Mas não é uma questão relativa só ao Airbus.”

O texto, intitulado O que aconteceu com o voo AF-447? recapitula lances do acidente e da sua investigação, traz perguntas ainda não respondidas e compara o desastre ao Titanic. A reportagem foi produzida pelo jornalista Wil S. Hyldon. Nela, o repórter chega a dizer que “o mistério do voo 447 exige respostas de verdade e não apenas para as famílias dos mortos”. Confira um trecho da reportagem:

“O desaparecimento do voo 447 foi uma história fácil de transformar em lenda. Nenhum outro jato de passageiros na história moderna havia desaparecido de forma tão completa – sem ao menos um aviso de Mayday, uma testemunha ou mesmo um traço no radar. O próprio avião, um Airbus A330, era considerado um dos mais seguros. Ele estava equipado com um sistema automático de voo que havia sido desenvolvido para reduzir o erro humano ao permitir que computadores controlassem diversos aspectos do voo.

E quando, no meio da noite, no meio do oceano, o voo 447 pareceu desaparecer no céu, foi tentador acreditar numa história muito bem amarrada sobre a arrogância de se construir um avião capaz de voar sozinho, Ícaro caindo do céu. Ou talvez o voo 447 fosse o Titanic, um navio que era impossível de afundar e que agora está no fundo do mar.

Cada avião, assim como cada carro, é constituído de milhares de partes feitas por dúzias de fabricantes, e muitas dessas partes aparecem em diversos aviões. Até sabermos quais das partes falharam no voo 447, se é que houve falha, é impossível saber quais outros aviões podem estar correndo risco.”

Fonte: / NOTIMP

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Saiba como será operação de resgate dos corpos das vítimas do voo 447

O mistério está chegando ao fim. No caminho entre o Brasil e a França, um avião desapareceu e, quase dois anos depois, a façanha de encontrá-lo no fundo do Oceano Atlântico foi realizada. Mas, para desvendar essa história, tão dolorosa para brasileiros e franceses, foi necessária a participação de americanos.

Para Mike Purcell, a sensação é de dever cumprido. Ele foi o chefe da missão que localizou o que restou do avião da Air France. Purcell recebeu o Fantástico na cidade de Cape Cod, nos Estados Unidos, onde são produzidos os submarinos-robôs que participaram das buscas.

Mike lembra que dois submarinos revezavam, em turnos de 12 horas cada, o trabalho de mapear a região com uma espécie de sonda. Ela emitia vibrações sonoras que poderiam indicar a presença de algum destroço. Um terceiro submarino-robô registrava as imagens. Ele é conhecido como Maryanne e encontrou o que todos esperavam.

Mas foi por pouco que uma tempestade não estragou a felicidade da equipe. Ondas violentas quase levaram o submarino, a única prova real de onde estavam os destroços.

Mike conta que um submarino-robô desses pode ficar 20 horas submerso e percorrer até 6 mil metros de profundidade. No mundo todo, existem apenas seis modelos cada um, avaliado em US$ 12 milhões.

Mas o que torna esse submarino tão especial? Mike conta que ele é programado como um computador. Sua rota é definida por técnicos antes de sua descida. Por isso, sabe muito bem o caminho a seguir.

A tarefa do grupo de Mike foi bem-sucedida, mas o trabalho das autoridades francesas continua. Durante a semana, eles encontraram a segunda caixa-preta do avião da Air France. Nela, estão os registros dos últimos 120 minutos de conversa dos pilotos dentro da cabine. A primeira, com informações técnicas do voo 447, foi encontrada na última semana.

Depois das caixas-pretas, vem o imenso trabalho de içar para a superfície os corpos das vítimas do acidente. E aí, tudo se complica bem mais. Nunca foi divulgado quantos ainda estão lá, mas se sabe que são, pelo menos, algumas dezenas. Esse é um trabalho muito delicado – e delicadeza é algo que um robô não tem.

A operação começa em alto-mar, sobre o ponto onde se encontram os destroços. O navio francês lança nas águas o robô Remora 6000 – um modelo com braços mecânicos e uma espécie de cesta presa a ele. O robô desce a quase 4 mil metros de profundidade, onde os corpos estão. A região é chamada Cordilheira Meso-Oceânica ou Meso-Atlântica. Se fosse possível ver o fundo, sem toda a água, o desenho seria como o de uma cadeia de montanhas irregulares, um ponto de acesso muito difícil.

No local, a temperatura da água é de, no máximo, dois graus. A concentração de oxigênio é muito baixa. Os microorganismos que fazem a decomposição não conseguem sobreviver em um ambiente assim. Por isso, mesmo quase dois anos depois, os corpos estão relativamente bem conservados. Por outro lado, a pressão é 400 vezes maior que a da superfície, o que complica manter os corpos intactos durante o retorno.

Começa então, o complicado processo de resgate. Com a ajuda dos braços mecânicos, o corpo é colocado na cesta. Em seguida, percorre os quatro quilômetros de volta à superfície, até o navio. Ao chegar, o corpo vai para uma câmera fria.

A decisão de retirar esses corpos é delicada também por um outro motivo. É o retorno da dor causada pela morte dessas pessoas e cada família sente isso de uma maneira diferente.

“Sinceramente, eu, como mãe, não gostaria que minha filha fosse encontrada. Eu gostaria que ela e o marido dela estivessem lá no lugar onde eles estão, felizes, abraçadinhos”, diz Márcia Pires Costa.

Nelson Marinho perdeu o filho Marcelo. Ele lidera a associação de vítimas do acidente. Para eles, retirar os corpos do fundo do mar é o desejo da maioria. “Nós estamos recebendo de maneira que conforta as famílias pelo fato de podermos finalizar a vida”.

Fonte: / NOTIMP

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Será o fim do mistério do voo da Air France?

A recuperação das caixas-pretas pode, enfim, esclarecer as causas do acidente

A um mês do aniversário de dois anos do acidente com o voo 447 da Air France, que matou 228 pessoas em junho de 2009, o resgate das duas caixas-pretas do Airbus A330 pode estar prestes a colocar um fim no mistério sobre as causas da targédia. Depois de tentativas fracassadas, robôs submarinos operados remotamente retiraram os aprelhos, que estavam a 3.800 metros de profundidade, do Oceâno Atlântico. O Flight Data Recorder (FDR), gravador de dados eletrônicos do voo, e o Cockpit Voice Recorder (CVR), que registrou os últimos 120 minutos de diálogo da tripulação (além de ruídos e alarmes sonoros), serão agora levados para análise em Paris.

Os técnicos, porém, demosntraram cautela quanto aos possíveis resultados. Ainda restam dúvidas sobre a resistência das cápsulas que protegem os gravadores. Além das caixas-pretas, dois corpos foram resgatados, reavivando a dor das famílias. Muitas delas preferem que os corpos não sejam removidos, já que podem existir dificuldades técnicas para identificar as vítimas. As três últimas expedições realizadas pelo governo francês identificaram até hoje 50 dos 228 passageiros.

Fonte: / NOTIMP

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Os corpos vêm à tona

Numa façanha sem paralelo, o governo francês resgata vítimas e as caixas-pretas do voo 447 a 3900 metros de profundidade

RICARDO WESTN

Por meio de uma operação logística espetacular, efetuada a 3900 metros de profundidade no Oceano Atlântico. um barco financiado pelo governo francês realizou na semana passada uma dupla proeza. Primeiro, no domingo e na terça-feira, trouxe à superfície as duas caixas-pretas do Airbus A330 da Air France que caiu em maio de 2009, matando as 228 pessoas a bordo. Depois, na quinta e na sexta-feira, a equipe do navio resgatou os corpos de duas das vítimas do desastre, que permaneciam no leito do oceano. O primeiro dos dois feitos tem importância crucial para a aviação. Caso o interior das caixas-pretas não tenha sido danificado e suas informações possam ser analisadas, será grande a chance de elucidar o mistério da queda do Airbus. Não se sabe o que derrubou um dos aviões mais modernos e automatizados existentes, feito para voar ainda que a tripulação cometa erros ou esteja sob tempestades violentas como a que enfrentou antes de cair.

A segunda façanha interessa principalmente aos parentes dos mortos no desastre. O resgate dos corpos reabre, para eles, uma questão sofrida que de outra forma estaria resolvida. Estivessem as famílias conformadas ou não, os corpos estavam para sempre no fundo do mar. Agora, inicia-se um período de angústia à espera de que sejam identificados e entregues para sepultamento. "Queremos que as causas do acidente sejam elucidadas. mas a notícia de que os corpos vão ser retirados é muito dolorosa para nós", diz Sylvie Lopes de Mello, 37 anos, de Niterói, que perdeu o irmão e a cunhada no acidente.

A recuperação dos corpos um a um não estava nos planos iniciais das equipes de busca. O órgão de segurança aérea da França, a BEA, chegou a informar aos familiares das vítimas que uma parte da fuselagem seria selada e somente os corpos dentro dela seriam resgatados. Na semana passada, porém, a Justiça francesa determinou o resgate de todos os corpos em condições de ser retirados do mar, sob a justificativa de que constituem evidências no processo movido pelo Ministério Público contra a Airbus e a Air France. Esse processo deverá também determinar o valor da indenização que será paga aos familiares das vítimas.

Nas primeiras semanas após o acidente com o A330, que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris e caiu a 1150 quilômetros do litoral de Pernambuco, equipes de resgate brasileiras e francesas recolheram na superfície do mar cinquenta corpos. Depois disso, seguiram-se dois anos de buscas no fundo do Atlântico, que consumiram 25 milhões de dólares e não encontraram um parafuso sequer. No mês passado, finalmente, ao mudar a área de busca, submarinos-robôs localizaram partes da fuselagem do avião e um número ainda não especificado de corpos. Para a coleta feita na semana passada, os submarinos foram ,substituídos por um modelo dotado de braços mecânicos para recolher materiais e alojá-los numa gaiola metálica destinada a içá-los à superfície. Após o resgate da semana passada, o governo francês determinou um reforço das equipes de busca para, num mutirão de quinze dias, retirar todos os corpos encontrados - e que estejam em condições de ser içados do oceano - e seus objetos pessoais.

A nova operação está prevista para começar dentro de duas semanas.

A retirada das vitimas envolve um fator dramático adicional além da própria natureza da operação. Mesmo após dois anos a 3900 metros de profundidade, os corpos se mantêm razoavelmente conservados. Explica o médico-legista Luís Carlos Galvão, da Associação Brasileira de Medicina Legal: ·A temperatura por volta de 2 graus dificulta a ação das bactérias saprófitas, presentes no intestino humano, que, quando a pessoa morre, atuam na decomposição do organismo". Já o sal marinho retarda a putrefação, e a pressão, equivalente a 400 atmosferas, comprime os gases presentes nos órgãos, como o oxigênio e o hidrogênio, e mantém a esrtutura corporal. Ocorre que, no resgate, à medida que o corpo vai se aproximando da " superfície, esses gases se expandem e provocam o rompimento de músculos, órgãos, cartilagens e pele ,fragmentando o cadáver. Os movimentos bruscos e a estrutura metálica dos braços mecânicos do submarino-robô também concorrem para dilacerar os corpos.

Os primeiros cadáveres recuperados serão levados no fim desta semana para a França, onde peritos do Instituto de Pesquisas Criminais da Gendarmaria Nacional vão investigá-los. Exames de DNA, da arcada dentária e dos ossos devem elucidar a identidade da vítima, o modo como ela morreu e podem até dar pistas de como foi o acidente. Só há hipóteses sobre as causas da queda do Airbus. A principal delas aponta para os pitots, tubos externos com a extremidade virada para a proa que medem-a velocidade do ar e, consequentemente, a do próprio avião. O mau funcionamento dos pitots pode desorientar os procedimentos de voo. A verdade só será conhecida com a análise das caixas-pretas. A Flight Data Recorder (FDR) registra 1 300 parâmetros do voo, como altitude, inclinação, velocidade, aceleração e potência das turbinas. A Cockpir Voice Recorder (CVR) grava as conversas e os ruídos na cabine de comando. Tanto os técnicos franceses quanto os familiares das vítimas do voo 447 torcem para que a verdade venha à tona.

Fonte: / NOTIMP

Foto: Pawel Kierzkowski







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