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AF447: Culpar pilotos do voo 447 é precipitado, dizem investigadores



O Escritório de Investigações e Análises da França (BEA, na sigla em francês) declarou à BBC Brasil estar "chocado" com o que chamou de "informações sensacionalistas e não confirmadas" publicadas pelo jornal "Le Figaro", dizendo que as análises das caixas-pretas do avião indicam que o acidente com o voo 447 da Air France teria sido causado por erros dos pilotos.

"Nós nem começamos a analisar os dados das caixas-pretas do avião. Essas informações (dados das caixas-pretas) serão cruzadas com a perícia das peças resgatadas do avião e outros elementos e esse processo todo vai durar meses", disse à BBC Brasil a porta-voz do BEA, Martine Del Bono.

"Temos, em uma das caixas-pretas, 1.300 parâmetros técnicos do voo para estudar, que serão cruzados com as duas horas de gravações das conversas dos pilotos e dos sons da cabine da outra caixa-preta, além da análise das peças que será realizada", diz a porta-voz.

Em artigo intitulado "A pista do erro da tripulação se confirma", publicado em seu site nesta terça-feira, o "Le Figaro" afirma deter informações sobre a análise das caixas-pretas "dadas a conta-gotas" por investigadores do BEA e por fontes do governo francês.

Segundo o jornal, primeiros elementos das caixas-pretas indicam "para os investigadores que teria havido um erro da tripulação da Air France", e "isentam a Airbus de responsabilidade na tragédia que matou 228 pessoas".

"É insensato dizer que em apenas 24 horas após ter recuperado os dados das caixas-pretas os investigadores já teriam as conclusões das causas do acidente. Isso é desonesto e é irresponsável em relação às famílias das vítimas", afirma Del Bono.

SUPOSTA PROVA

O "Le Figaro" afirma que uma prova de que as investigações apontariam para erros dos pilotos seria o fato de a Airbus, fabricante do avião, ter enviado uma nota às companhias aéreas nesta terça-feira, dizendo que "após as análises preliminares das caixas-pretas", em termos de segurança aérea, ela "não tem nenhuma recomendação imediata" a fazer a seus clientes.

"Utilizar a palavra análise das caixas-pretas não está correto. Esse documento não quer dizer nada. Os aviões da Airbus continuam voando 23 meses após o acidente e eles apenas quiseram dizer às companhias aéreas que não há nenhum elemento novo", diz o BEA.

A porta-voz explica que somente a análise de todos os dados coletados pelos investigadores permitirá descobrir a sequência de eventos do voo que acarretaram o acidente.

"Um acidente é causado por uma sucessão de eventos. Isso exige uma análise complexa e minuciosa. Só assim poderemos entender quais são as causas da catástrofe", diz ela.

Um relatório preliminar, com os primeiros elementos constatados pelos investigadores franceses deverá ser publicado em agosto, diz ela.

Mas o relatório final, sobre as causas do acidente que matou 228 pessoas, só será divulgado no primeiro trimestre de 2012.

Em um comunicado, o BEA informa ter "quase certeza" de que as causas do acidente poderão ser desvendadas e afirma ainda "que qualquer informação divulgada por outra fonte e não confirmada pelo BEA não tem nenhuma validade".

Os investigadores franceses conseguiram, neste último final de semana, recuperar os dados das duas caixas-pretas do avião.

Fonte: / NOTIMP

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Negada conclusão de falha humana

Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil, da França, desmente matéria do jornal Le Figaro que culpa pilotos

Nada permite concluir que o voo AF-447 da Air France caiu em razão de falha humana. O recado, curto e enfático, foi dado ontem, em Paris, pelo Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA), o birô que investiga as causas do acidente de 31 de maio de 2009. A afirmação visa desmentir as informações do jornal Le Figaro, que publicou ontem reportagem na qual indicava que a escuta das caixas-pretas, realizadas no fim de semana, inocentavam a Airbus e lançavam dúvidas sobre a conduta dos pilotos. Distribuído por agências de notícias, o texto teve grande repercussão na Europa e no Brasil, o que obrigou o BEA a se manifestar ainda na manhã de ontem, via comunicado.

À tarde, a porta-voz do escritório, Martine Del Bono, demonstrou irritação ao se referir às supostas revelações do jornal francês. “Estamos todos chocados no BEA. Não é algo sério”, disse. Segundo ela, o processo de extração dos dados das duas caixas-pretas do Airbus – a Flight Data Recorder (FDR) e a Cockpit Voice Recorder (CVR) – só chegou ao fim no domingo, depois de três dias de trabalho ininterrupto. “Temos milhares de dados para cruzar com outras informações que já apuramos. Isso não se faz em 24 horas. Talvez em um mês e meio eu consiga prever uma data para um relatório parcial. Mas estamos só no início”, garantiu. “Estamos chocados porque é o começo do trabalho e não validamos nada”.

De acordo com Martine Del Bono, o que está claro é que será possível descobrir as causas do acidente. A porta-voz confirmou que um engenheiro da Airbus acompanhou os trabalhos ao longo do fim de semana, com o grupo de experts convidados pelo BEA – que inclui o coronel brasileiro Luís Lupoli, pesquisador do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) da Aeronáutica.

A reportagem do Le Figaro atribui informações a “fontes governamentais”, que falam sob anonimato. Segundo elas, as caixas-pretas indicariam que não haveria responsabilidade da Airbus na queda, descartando falhas eletrônicas ou mecânicas no acidente. Até aqui, a hipótese mais aventada por experts independentes é de que os sensores de velocidade, os tubos de Pitot, tenham falhado em decorrência de congelamento, causando a pane dos instrumentos de navegação e induzindo os pilotos ao erro.

O Sindicato Nacional de Pilotos de Linha, o maior da França e o principal entre os funcionários da Air France, reagiu com indignação, afirmando que nenhum elemento até aqui leva a crer que houve erro dos comandantes.

Ao lado da Air France, a Airbus responde a processo na Justiça da França por homicídio involuntário – não intencional – em decorrência da queda do voo AF-447.

GRANDES INTERESSES: A queda do voo AF-447 move interesses gigantescos na Europa, além daquela que pode se tornar a maior indenização da história da aviação civil mundial. Na França, as relações de capital entre as empresas envolvidas são muito particulares. O Le Figaro, por exemplo, é propriedade da holding Socpresse, 100% detida pelo construtor aeronáutico Dassault. Do capital total da Dassault, 46,32% das ações pertencem ao grupo EADS, que detém 100% das ações da Airbus.

Fonte: / NOTIMP

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Guerra de versões no voo AF 447

MISTÉRIO DA CAIXA-PRETA

HUMBERTO TREZZI

Investigadores das causas da queda do voo AF 447 rebatem afirmações de jornal francês que aponta falha dos pilotos como causa do acidente ocorrido há quase dois anos na rota Rio-Paris

A França começou a semana ardendo em discussões – e não apenas a respeito do francês Dominique Strauss-Kahn, dirigente do FMI, preso por tentativa de abuso sexual. Uma segunda frente de debates foi aberta com a reportagem do diário parisiense Le Figaro. A publicação aponta como “falha dos pilotos” a hipótese mais provável para explicar a queda do voo 447 da Air France, que se espatifou sobre o Oceano Atlântico em 31 de maio de 2009, matando 228 pessoas. O Airbus A330 fazia a rota Rio-Paris.

O Le Figaro aponta como uma prova de que as investigações apontarão para erros dos pilotos o fato de a Airbus, fabricante do avião, ter enviado uma nota às companhias aéreas informando “não ter nenhuma recomendação imediata a fazer a seus clientes, após a abertura das caixas-pretas”. Legislação determina que, se as caixa-pretas (onde estão gravados o áudio da cabina e registrados os dados de voo) mostrarem defeitos no avião, os problemas devem ser imediatamente informados pela fabricante aos proprietários de outras aeronaves.

A afirmação do jornal despertou controvérsias. O Sindicato Nacional dos Pilotos de Linha francês disse não aceitar que “pilotos mortos nesta catástrofe sejam jogados à opinião pública antes de uma análise exaustiva de todas as causas do acidente” (confira mais reações nesta página).

Pilotos e jornais concorrentes lembraram que o Le Figaro pertence à holding Socpresse, 100% detida pela fabricante Aeronáutica Dassault e por seu dono, Serge Dassault. Do capital total da Dassault, 46,32% das ações pertencem ao grupo EADS, que detém a maior parte das ações da Airbus, conforme detalha a revista Defense News. Ou seja, o jornal tem ligação com a fabricante do avião.

E qual seria o interesse da Airbus em responsabilizar os pilotos? É que isso poderia, em parte, aliviar a pressão por indenizações, que devem chegar a um mínimo de R$ 220 mil (US$ 136 mil) por vítima. A Airbus já foi indiciada criminalmente pelas mortes causadas pelo acidente, mas poderia diminuir o total a ser indenizado, caso a culpa recaia sobre os pilotos.

Especialistas lembram que falhas num dos equipamentos do avião – sensores que indicam a velocidade – já foram comprovadas por mensagens enviadas antes da queda. Outra controvérsia é quanto ao prazo para divulgar os resultados da investigação. O Escritório de Investigações e de Análises da Aviação Civil da França (BEA, na sigla em francês) informa que um relatório preliminar sairá até setembro. Mas que o inquérito será concluído somente em janeiro de 2012.

Críticos dizem que é tempo excessivo. Em sua defesa, o BEA lembra que as caixas-pretas foram encontradas há poucos dias, quase dois anos após o acidente, quando o corriqueiro é que sejam localizadas assim que o desastre ocorre.

Fonte: / NOTIMP

Foto: Pawel Kierzkowski







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