Rio: Exército vai deixar favelas em setembro
Militares darão lugar a dez UPPs nas comunidades, um mês antes do acordado entre governo do Estado e Ministério da Defesa .
Vera Araújo .
RIO – O Exército deve deixar os complexos do Alemão e da Penha, no Rio, em setembro, um mês antes do prazo acordado entre governo do Estado e Ministério da Defesa, dando lugar a nada menos que dez Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Este será o maior conjunto de UPPs já instalado pela Secretaria de Segurança Pública do Rio, com o emprego de 2.200 policiais militares, o equivalente ao efetivo de quatro batalhões da PM.
A princípio, a ideia é criar um comando único das UPPs da região, que funcionaria no terreno da antiga fábrica da Coca-Cola, na Avenida Itaoca, em Ramos. De lá sairiam as ordens para os dez capitães da PM que comandariam as pacificadoras. Atualmente, o local é usado pela Força de Paz, sob as ordens do general-de-brigada Cesar Leme, que comanda também os 120 policiais dos dois batalhões de campanha da PM. Ao todo, há 19 favelas nos dois complexos.
Responsável pela Força de Paz do Alemão e da Penha desde dezembro do ano passado, a tropa do Exército se encontra visivelmente desgastada. No entanto, mesmo a contragosto, não está descartada a possibilidade de os militares fazerem uma nova ocupação até o fim do ano: a retomada das favelas da Rocinha e do Vidigal, em São Conrado, onde seriam necessários cerca de 1.200 homens. A região é prioridade para o governo do Estado por causa da proximidade de hotéis como o Sheraton e o Intercontinental, que devem receber muitos visitantes para a Copa de 2014 e as Olimpíadas, em 2016.
Segundo uma fonte militar, o acerto é possível graças ao grande prestígio que o governador Sérgio Cabral tem junto ao governo federal : “Se o governador for a Brasília e conversar com a presidente Dilma Rousseff, consegue levar o Exército para onde quiser. Não subestime a força de Cabral”, comentou Cesar Leme.
O governador, junto com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, já conseguiu dobrar o número de policiais militares que sairão do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefap), que pulou para sete mil homens este ano. Desde janeiro, já foram utilizados 585 PMs nos morros São João (200), no Engenho Novo, Coroa (203), no Catumbi, e Prazeres (182), no Rio Comprido. Ainda restam as UPPs do Morro de São Carlos (250) e as dos complexos do Alemão e da Penha (2.200). Juntas, elas totalizam 27 unidades pacificadoras, favorecendo cerca de 353 mil moradores, de acordo com o Censo de 2000 do IBGE, utilizando 3.035 homens. Sobram 3.965 para os próximos projetos, que, segundo fontes da Secretaria de Segurança, serão também em favelas da capital.
Além da Rocinha, a prioridade é fechar o cinturão de segurança da Tijuca. Neste caso, a ocupação do Morro da Mangueira é fundamental, por causa da proximidade do complexo esportivo do Maracanã. Na região, inclusive, os índices de criminalidade estão altos. De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), houve um aumento de mais de 50% nos roubos de veículos nos bairros de São Cristóvão, Caju e Maracanã, por exemplo, pulando de 12 para 28 registros, comparando-se os meses de dezembro de 2010 com janeiro deste ano.
Mas o governador, acostumado a anunciar os locais das UPPs antes da operação para a ocupação das favelas, prefere ainda guardar segredo sobre a escolhida: “Eu não decido isso. A política de pacificação tem o meu aval, o meu apoio e a minha decisão. Mas quais as comunidades, em que momento, de que forma, essa é uma decisão do comando da Segurança Pública, que eu avalizo”, disse Cabral, que continua: “Dizer que a Rocinha não está no mapa não é uma verdade. Ela está no mapa, e nós vamos pacificá-la. Mas quando, como e de que maneira é precipitação falar agora”.
Segundo o governador, é natural que haja uma expectativa em torno de qual será a próxima UPP.
Fonte: JORNAL DO COMMERCIO / NOTIMP