Gol 1907: Piloto americano nega ter desligado transponder
Assim como Jan Paul Paladino no dia anterior, Joseph Lepore foi ouvido ontem por videoconferência .
No depoimento, ele disse, porém, que dias após o acidente, equipamento do Legacy apresentou defeitos .
SÃO PAULO – O piloto americano Joseph Lepore negou ontem que o equipamento anticolisão do jato Legacy estivesse desligado no momento do choque com o Boeing da Gol que fazia o voo 1907, em 2006. O acidente provocou a morte das 154 pessoas que estavam a bordo da aeronave maior. Lepore e Jan Paul Paladino, que também pilotava o jato, são acusados de terem levantado voo com o sistema anticolisão desligado e de não terem acionado o transponder, equipamento que informa a posição da aeronave para o controle de tráfego aéreo e outros aviões.
Durante interrogatório, feito por videoconferência, Lepore explicou que a expressão its off, utilizada em conversa gravada pela caixa-preta do Legacy logo após o acidente, indicava que o equipamento anticolisão não havia sinalizado nenhum tipo de choque, e não que ele estaria desligado.
O piloto ressaltou, entretanto, que, alguns dias após o acidente, foram constatados problemas com o equipamento. Ele também negou que o jato estivesse voando em uma aerovia de mão única e na contramão.
O depoimento de Lepore começou por volta das 12h20. Ele estava em Nova Iorque e foi ouvido pelo juiz federal Murilo Mendes, que estava no Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, em Brasília.
Anteontem, também por videoconferência, Jan Paul Paladino falou por cerca de sete horas. Ele afirmou que os equipamentos do Legacy não acusaram qualquer tipo de falha, em especial no transponder, aparelho que informa a posição da aeronave para o controle de trafego aéreo e outros aviões.
A acusação alega, baseada em relatório da Aeronáutica, que os pilotos desligaram o transponder momentos antes do acidente e só religaram após a colisão. Atualmente, Paladino trabalha na companhia American Airlines e Lepore continua na empresa de táxi aéreo ExcelAire, proprietária do Legacy.
A Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907 realizou manifestações em algumas cidades para marcar os depoimentos e pedir a condenação dos pilotos. No dia 20, parentes das vítimas protestaram em frente ao Hotel Marriot, no Rio, onde estava hospedado o presidente americano, Barack Obama.
O Boeing da Gol fazia a rota Manaus-Rio, com previsão de fazer uma escala em Brasília. Ao sobrevoar o Norte, no dia 29 de setembro de 2006, bateu no jato Legacy. Mesmo avariado, o Legacy, que transportava sete pessoas, conseguiu pousar em segurança. Já as pessoas a bordo do avião da Gol morreram.
Fonte: JORNAL DO COMMERCIO / NOTIMP
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Depoimento de piloto tem bate-boca sobre tradução
DE BRASÍLIA - O depoimento do piloto Joe Lepore, comandante do Legacy que se chocou com o Boeing da Gol em 2006, foi marcado ontem por bate-boca entre o juiz Murilo Mendes e o advogado do americano.
A defesa alegou tradução incorreta da fala de Lepore sobre o funcionamento do sistema anticolisão do jato, que poderia ter evitado o acidente.
No depoimento dado ontem, por videoconferência, Lepore foi indagado sobre o sentido da frase "o TCAS [sistema anticolisão] está desligado", dita por ele após a colisão.
Segundo Lepore, a frase queria dizer apenas que nada no painel indicava anormalidade, e não que o sistema estivesse desligado. O outro piloto, Jan Paladino, deu anteontem a mesma explicação. Relatório da Aeronáutica concluiu que o sistema foi manuseado de forma errada pelos pilotos.
Em certo momento, o tradutor traduziu frase do piloto como o TCAS "não funcionando como deveria". A defesa alegou que ele não dissera que o sistema não operava. Lepore afirmou que "não era o intento dizer isso" e que seguiu as ordens do controle brasileiro.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO / NOTIMP
Fotos: FAB