Governo comemora reconhecimento
Paulo de Tarso Lyra .
O governo Dilma Rousseff acredita ter conseguido o que queria da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil no fim de semana: o reconhecimento do país, pela maior potência mundial, como um "poder global" e a manifestação pública de simpatia ao pleito brasileiro de ter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Na avaliação de diplomatas e assessores da presidente Dilma, a visita serviu para restabelecer o canal de comunicação entre os dois governos, que se afastaram nos dois últimos anos da gestão Lula.
Além das conquistas diplomáticas, as autoridades brasileiras comemoram o fato de os dois países terem assinado dez acordos de cooperação, entre os quais, o Teca (sigla em inglês de acordo de cooperação econômica e comercial) e o que prevê a liberalização do mercado de aviação civil entre as duas nações. "A visita cumpriu plenamente os objetivos que o Brasil tinha planejado", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, em conversa com assessores após o embarque de Obama para o Rio, na noite de sábado.
No comunicado conjunto dos dois presidentes, Obama disse ter "apreço" pelo pleito brasileiro de integrar o Conselho de Segurança da ONU de forma definitiva. "Foi um avanço, ainda mais sabendo das dificuldades para a concretização desse pleito", disse ontem um diplomata brasileiro, lembrando que um dos maiores aliados dos EUA - o México - também quer um assento no Conselho e nunca teve o apoio dos americanos.
Havia o receio por parte de autoridades brasileiras de que a abstenção do Brasil, na véspera da visita de Obama, durante a votação, na ONU, da resolução que criou zona de exclusão aérea na Líbia, "esfriasse" os ânimos americanos. Isso não ocorreu. Entre os diplomatas, inclusive, a avaliação é que a própria decisão de Obama de não cancelar a viagem ao Brasil em meio à crise no Oriente Médio é um sinal de prestígio. Na sexta-feira, cresceram os rumores de que a visita seria cancelada. E no sábado, logo após o encontro com Dilma e o início efetivo da ação militar em território líbio, correu boato de que Obama não iria ao Rio, como programado inicialmente.
Durante a reunião privada, no sábado, segundo apurou o Valor, em nenhum momento Obama cobrou do Brasil explicações pela decisão na ONU. Ele teria dito que foi contra a Guerra do Iraque e sabia, portanto, das consequências de uma decisão como a de atacar a Líbia.
O governo avalia que a visita do presidente americano foi além das expectativas. Além do "apreço" pelo interesse brasileiro na ONU, Obama declarou, em discurso feito no sábado para uma plateia de empresários, que "os EUA apoiam a ascensão do Brasil como um poder global". "Tem sido dito sempre que o Brasil é o país do futuro. Bem, o futuro chegou agora. E, apesar das incertezas dos últimos dois anos, o Brasil entrou no cenário mundial como um poder econômico e financeiro importante", disse Obama.
Segundo uma fonte palaciana, "os dois presidentes estão com uma química muito afinada, o que com certeza pode ajudar nas discussões daqui para frente". A franqueza de ambas as partes pontuou os encontros bilaterais. Um tema delicado para o Brasil - o déficit de US$ 8 bilhões no comércio com os EUA - foi mencionado pela presidente Dilma.
A presidente destacou que o Brasil tem um superávit comercial com a China - feito alcançado por poucas nações no mundo -, mas se sente incomodado com o desequilíbrio na relação comercial com os EUA. Dilma criticou o câmbio americano, que dificulta um maior fluxo de produtos brasileiros para o mercado americano.
Obama também manifestou suas queixas. Ao defender a retomada da Rodada Doha como o fórum que reúne "todos os atores desse impasse global", Obama lembrou que, "quando a rodada foi iniciada, tanto o Brasil quanto a China estavam em um patamar muito diferente do atual. Hoje, as duas nações são potências e, por isso, também devem aprender a ceder nas negociações multilaterais", defendeu o presidente americano.
Por fim, Obama elogiou as declarações de Dilma contra qualquer tipo de violação aos Direitos Humanos.
Fonte: VALOR ECONÔMICO / NOTIMP