Atrás de prestígio, Brasil poupa da faca missões de paz
Recursos do país para participação na força da ONU no Haiti não serão afetados pelos cortes em orçamento .
Centro Conjunto de Operações de Paz, que prepara os militares para ações no exterior, cresce 130% em 6 anos .
Luis Kawaguti .
O centro de treinamento das Forças Armadas que prepara militares brasileiros para participar de missões de paz no exterior aumentou seu efetivo militar em mais de 130% depois do terremoto que devastou o Haiti, em janeiro de 2010.
A expansão vem em paralelo às tentativas diplomáticas do governo de aumentar a influência brasileira no cenário internacional por meio das missões de paz.
Esse tipo de operação -especialmente no Haiti- projeta o Brasil de forma positiva no exterior, segundo o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri.
Por causa disso, segundo ele, as missões de paz não devem ser afetadas pelos cortes no orçamento do Ministério da Defesa -que podem chegar a R$ 4,38 bilhões, segundo o governo federal.
Um indício disso é que, no Haiti, o efetivo de militares foi praticamente duplicado no ano passado, atingindo a marca de 2.194 homens, depois do terremoto que deixou 250 mil mortos.
Mas, além da missão no Caribe, o Brasil participa hoje, com oficiais e observadores militares, de outras dez operações de paz.
O crescimento do centro de treinamento também atende à Estratégia Nacional de Defesa. Ela prevê investimentos em treinamento para missões de paz e eliminação de minas terrestres.
O centro foi criado em 2005, no Rio de Janeiro, com o nome de Centro de Instrução em Operações de Paz.
Era formado por 89 instrutores e monitores, ex-integrantes do terceiro contingente do Exército que esteve na missão no Haiti.
Seis anos depois, a equipe aumentou 130%, para 204 instrutores e monitores. Em dez meses, o centro ganhará também um novo edifício, com capacidade para oferecer aulas a 450 militares.
"Nós vamos mais que quadruplicar o espaço de instrução destinado aos alunos", disse o comandante da unidade, coronel Pedro Aurélio de Pessoa.
O centro também deixou de ser uma unidade só do Exército e, no ano passado, passou a ser dirigido também por membros da Marinha e da Aeronáutica, sendo rebatizado de Ccopab (Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil).
INTEGRAÇÃO
O objetivo é aumentar a integração e a velocidade de resposta em operações de larga escala. "Para obter resultados, é necessário que todos esses atores se conheçam antes de entrarem na área de missão", disse.
O quadro de disciplinas do centro também foi ampliado, para preparar militares para operações de paz multidimensionais (com participação de agências humanitárias e civis).
Foram criados programas de treinamento em logística de missões de paz, negociação, remoção de minas terrestres e técnicas de coordenação entre militares e civis.
"Estamos prontos para qualquer missão, de qualquer natureza, no mundo inteiro", disse Peri.
A decisão de participar de novas missões é, porém, do governo e do Congresso.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO / NOTIMP