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Exército egípcio anuncia na TV que não reprimirá megaprotesto de hoje






Jamil Chade.

A oposição e quadros do Exército selaram ontem uma aliança que consolidaria as bases de um Egito laico e democrático, já no "pós-Mubarak". Ao mesmo tempo, a cúpula das forças armadas fez um anúncio no qual reconhecia "aspirações legítimas" da população e prometia não abrir fogo contra manifestantes que preparam para hoje um ato com mais de um milhão de pessoas no Cairo.

Sob pressão, o presidente Hosni Mubarak tentou dar mais uma cartada para se manter no poder - amplamente rejeitada pelos opositores nas ruas. Mubarak pediu ao ex-chefe da inteligência e novo vice-presidente, Omar Suleiman, que dialogasse com a oposição em busca de uma reforma constitucional. Manifestantes, porém, exigem antes de qualquer diálogo a demissão incondicional do presidente,

Suleiman, em declarações à TV estatal, também anunciou que eleições em alguns distritos seriam refeitas, depois das acusações de fraude. Ele também prometeu que a Justiça aceitaria as queixas de partidos que contestam o resultado das eleições parlamentares de 2010.

"Vamos começar o diálogo com todos os partidos políticos e o Judiciário está disposto a olhar queixas de fraude", afirmou.

A oferta foi rejeitada pela oposição, que acusou Mubarak de estar tentando mais uma vez enganar a população. A greve e a manifestação de hoje estão mantidas.

Para ampliar a pressão sobre o ditador, uma marcha no centro do Cairo com um milhão de pessoas e uma greve geral ilimitada foram convocadas.

O anúncio do Exército reconhecendo a legitimidade dos protestos deu novo fôlego aos manifestantes. Décimo maior Exército do mundo, os militares egípcios praticamente definiram cada momento da história do país nos últimos 60 anos. Todos os quatro presidentes que o país teve vieram das forças armadas.

"Nunca achamos que o Exército atiraria contra nós", afirmou Mohamed Mohse, de 28 anos. Alguns distribuíram flores aos soldados, enquanto outros ofereciam alimentos aos militares, sentados tranquilamente sobre seus tanques - imagem radicalmente diferente da que se via há poucos dias. Os soldados também não disfarçavam o alívio, depois de um braço de ferro com civis desarmados que já deixou 150 mortos.

Parte do Exército fechou um acordo com a oposição. Negociadores que estavam no encontro secreto de ontem disseram ao Estado que os dois lados entraram em consenso sobre um poder "laico, com uma Constituição civil e democrática".

A Irmandade Muçulmana - principal partido de oposição, que prega o estabelecimento da lei islâmica - seria autorizada a participar das eleições de setembro.

O acordo foi fechado entre os partidos tradicionais do Egito, além do movimento de jovens 6 de Abril e outros grupos liderados pelo Nobel da Paz Mohamed ElBaradei. O ex-diplomata não esconde que pretende ser o líder desse governo de transição e garante ter o apoio de um milhão de egípcios, além de ser o homem preferido pelo Ocidente para ocupar a posição. ElBaradei adotaria um plano social-democrata para o Egito, com ênfase na redução da pobreza. Mas, sobretudo, ele buscaria conduzir uma transição pacífica e ordenada, como pedem americanos e europeus.

No acordo, ficou estabelecido que o papel do Exército seria o de garantir que o Estado seja de fato secular, sem que haja uma tentativa de grupos muçulmanos de criar um Estado islâmico ou de autoridades de se perpetuar no poder.

Ontem, a reunião não contou com os generais, ainda fiéis a Mubarak. Mas o médio oficialato deixou claro que já não estão do lado do presidente.

O acordo e a queda de Mubarak serão colocados à prova hoje nas ruas. "Chegou o Dia D, afirmou Yassin Tageldin, vice-presidente do partido Al Wafd. Ontem, prevalecia o otimismo entre os manifestantes. Na Praça Tahrir, epicentro dos protestos, jogadores de futebol, cineastas, advogados, estudantes e comerciantes não escondiam o sentimento de que Mubarak poderia estar diante de suas ultimas horas no poder.

Tolerância

"As forças armadas não recorreram e não recorrerão ao uso da força contra o povo egípcio (...) Suas forças armadas, estão cientes da legitimidade de suas demandas (...) A liberdade de expressão com o uso de meios pacíficos é garantida para todos."

Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO / NOTIMP


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