FX-2: EUA acreditam ter assumido dianteira na venda dos caças
Secretário do Tesouro norte-americano veio discutir o negócio com a presidente Dilma.
Clovis Rossi.
As duas delegações norte-americanas que estiveram nesta semana no Brasil voltaram a Washington com a mais absoluta confiança de que a Boeing e seu caça F-18 vencerão a licitação da Força aérea Brasileira para renovar a sua frota, em um negócio de não menos de US$ 6 bilhões (R$ 10 bilhões).
Uma sensação que contrasta com o relativo otimismo que o ministro francês da Defesa, Alain Juppé, manifestara no mês passado, depois de se encontrar com funcionários brasileiros, à margem das cerimônias de posse de Dilma Rousseff.
"Eu acho que podemos estar confiantes", disse Juppé.
É pouco, se se considerar que o antecessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a anunciar, antes dos relatórios técnicos da FAB, que o caça francês Rafale era o preferido. Concorre também o sueco Gripen NG, fabricado pela Saab.
O tema dos caças apareceu na conversa entre o secretário norte-americano do Tesouro, Timothy Geithner, e a presidente na segunda-feira. É inusual que um secretário de Tesouro discuta esse tema, afeito à área de Defesa.
Mas a versão ouvida pela Folha é a de que Geithner situou a conversa sobre o F-18 contra o Rafale no âmbito do aprofundamento da relação bilateral, a ser ainda mais reforçada no mês que vem com a visita do presidente Barack Obama.
O chefe do Tesouro entoou música aos ouvidos das autoridades brasileiras, ao dizer que o Brasil tem uma importância mundial e, portanto, é correto que queira defender suas fronteiras e seus recursos naturais (citou o pré-sal e a Amazônia).
Depois, ele estocou: não seria responsável comprar um aparelho (o Rafale) que não é o melhor, quando está à disposição o F-18, que os EUA, a maior potência do planeta, usam para a sua própria segurança.
Anteontem, José Fernandez, o secretário-assistente para Economia, Energia e Negócios do Departamento de Estado, tocou outra doce canção: a Boeing tem um programa de utilização de biocombustíveis na aviação civil e militar que, naturalmente, entraria no negócio.
O governo Lula sempre defendeu uma associação entre Brasil e os Estados Unidos para dar impulso aos biocombustíveis.
A agência Reuters chegou a anunciar que Dilma já se inclinara pelo F18, mas, até onde a Folha apurou, ela prefere fazer uma exaustiva análise de todo o dossiê FAB antes de bater o martelo.
Negociação: Jobim perdeu o controle sobre decisão
Além de adiar a compra dos caças, a presidente Dilma Rousseff decidiu colher mais dados sobre o caso. Enquanto Lula havia concentrado todo o processo nas mãos do ministro Nelson Jobim (Defesa), Dilma entregou documentos sobre o tema ao ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), seu amigo.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO / NOTIMP