Defesa: Ministro incomodado
Escanteado das principais decisões que envolvem a Defesa, Jobim pensa em deixar o cargo.
Ele perdeu verba para investimentos, influência política no Planalto e vê escassear seu prestígio nos quartéis.
Fabio Schaffner e Klecio Santos.
Remanescente do governo Lula, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, teve os poderes esvaziados pela presidente Dilma Rousseff e já cogita deixar a Esplanada.
Dos R$ 50 bilhões que o Planalto pretende cortar no orçamento de 2011, quase 10% (R$ 4,1 bilhões) sairão da pasta do gaúcho. Sem consultar o ministro, Dilma também suspendeu a compra dos caças para a Aeronaútica e articula a criação de uma secretaria de aeroportos para tirar da Defesa a gestão da aviação civil. Nos bastidores do governo, são recorrentes os comentários de que há uma antipatia mútua entre Jobim e a presidente. O ministro só permaneceu no posto por um pedido pessoal de Lula a Dilma e pelo bom trânsito na caserna, mas sequer é reconhecido pelo PMDB como uma indicação do partido.
Jobim não fez objeções à contenção de gastos e também concorda com a criação de uma secretaria de aeroportos. A amigos, contudo, ele tem reclamado da forma como essas informações têm sido repassadas à imprensa por interlocutores de Dilma, transformando as iniciativas em derrotas pessoais do ministro. Já a suspensão da compra dos caças irritou o gaúcho, uma vez que não haveria previsão de desembolsos este ano.
Como a interlocução com o Planalto está cada vez mais problemática e sentindo se esvair o respaldo dos quartéis, Jobim começa a procurar novos rumos. O ministro almeja se tornar embaixador do Brasil na Europa, mas até mesmo essa pretensão enfrenta problemas, uma vez que, desde o segundo mandato de Lula, todos os postos são ocupados por diplomatas de carreira.
Audiência com Dilma só ocorreu em fevereiro
O primeiro sinal de que o convívio de Dilma e Jobim seria complicado ocorreu no final do ano passado. Tão logo foi convidado por Dilma a continuar à frente do ministério, Jobim quis ciceronear uma visita dos comandantes das Forças Armadas a Dilma, que comandava a transição na Granja do Torto. A presidente declinou da presença de Jobim e recebeu os militares separadamente. Foi uma forma encontrada pela petista para comunicar aos comandantes que eles deviam lealdade a ela, e não ao superior imediato.
Dos 37 ministros, Jobim foi o 25º a ser recebido por Dilma para uma audiência oficial registrada na agenda presidencial. Antes dele, até titulares considerados de segundo escalão foram atendidos. O gaúcho só se reuniu com Dilma em 11 de fevereiro, um dia após a imprensa publicar rumores de que ele estaria descontente com o tratamento dispensado pelo Planalto.
Jobim, que presidiu o Supremo Tribunal Federal, entrou para o governo em julho de 2007, convocado por Lula para debelar uma rebelião dos controladores de voo e solucionar o caos aéreo. Em seguida, trocou o comando da aeronáutica, da Infraero e da Anac. Aos poucos, conquistou o respeito dos militares e caiu nas graças de Lula.
No final do ano passado, Jobim conseguiu aprovar um orçamento de R$ 60,2 bilhões, valor recorde para o ministério e o quinto maior da Esplanada. Dos R$ 15,1 bilhões para investimentos, boa parte seria para o reaparelhamento das Forças Armadas. Os cortes determinados pelo Planalto suspendem os planos do ministro, e até mesmo a incorporação de recrutas deve ser reduzida.
– Jobim deu visibilidade ao ministério no governo Lula, mas, sem dinheiro, ele perde o discurso – comenta Nelson Düring, especialista em questões de Defesa.
Fonte: ZERO HORA / NOTIMP