Nas asas do caos
Marcelo Agner.
Parece que foi ontem, mas lá se vão quase quatro anos desde que a então ministra do Turismo, Marta Suplicy, soltou o folclórico (e infame) “relaxa e goza”. Em 2007, a crise aérea descortinou os problemas da aviação civil. A situação tornou-se caótica nos aeroportos. Questionada sobre as consequências do episódio, Marta sugeriu: “Relaxa e goza que você vai se esquecer dos transtornos”. Claro que ela se arrependeu da frase. A repercussão negativa do apagão aéreo, no entanto, foi insuficiente para que mudanças acontecessem no setor.
Como em toda a crise no Brasil, foram anunciadas medidas emergenciais. As autoridades acenaram com novos investimentos. Mas a sensação para quem viaja de avião é a de que nada sai do lugar.
Recentemente acompanhei o drama de passageiros que tentavam embarcar, pasmem, havia 12 horas, de Brasília para Florianópolis. O voo fora cancelado no dia anterior e a viagem remarcada para a manhã seguinte. Ninguém, por mais compreensivo que seja, consegue aceitar tranquilamente tamanho atraso. Depois de uma noite no hotel, eles voltaram ao Aeroporto JK. O drama, no entanto, não acabara. Houve mais demora e protestos até a reação extrema de uma passageira. Revoltada, ela quebrou o vidro do ônibus que a levava ao avião, já na pista.
O episódio é a constatação de que os passageiros não suportam mais o desrespeito. Nossos aeroportos estão ultrapassados. Não há espaço nos balcões, as filas são longas e as salas de espera lotadas. Falta conforto.
Mesmo diante desse quadro, as soluções são lentas, quase imperceptíveis. Provavelmente, crises semelhantes à de 2007 não se repetirão, pois como ocorreu no ano passado, o governo se mobiliza para evitar greves ou movimentos que repercutam negativamente. Mas, diariamente, o passageiro vive seu drama, longe dos olhos da imprensa.
Aproxima-se a Copa, em 2014. Há sinais de preocupação no próprio governo. Uma nova mobilização talvez mascare a situação, mas não resolverá o problema.
E o que dizer hoje ao brasileiro que comprou uma passagem aérea? Para ele, os juizados especiais nos aeroportos podem ajudar na luta pelos direitos. Mas o que ele quer mesmo é ser tratado como cidadão. E não consegue.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE / NOTIMP