Wikileaks: Jobim revelou temor sobre Venezuela, dizem EUA
Segundo embaixador, Brasil teria proposto ajuda contra Hugo Chávez.
Documentos também relatam encontros de Dilma com James Jones, assessor de Segurança da Casa Branca em 2009.
Flávia Marreiro.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, se mostrou "preocupado", em fevereiro deste ano, com a "cada vez mais complicada situação doméstica" de Hugo Chávez e manifestou temor sobre possível "impacto" interno caso o presidente venezuelano resolvesse reprimir manifestações contra o seu governo. O relato teria sido feito por Jobim ao embaixador dos EUA, Thomas Shannon. À época, Chávez enfrentava protestos pela falta de água e pela crise energética e manifestações contra a retirada da oposicionista RCTV da lista de canais por assinatura.
O documento faz parte de um pacote de telegramas confidenciais e secretos divulgados pelo site Wikileaks e publicados anteontem e ontem pelo jornal francês "Le Monde" e pelo venezuelano "El Nacional".
O conjunto de papéis joga luz sobre a visão dos EUA sobre a relação Brasília-Caracas e as diferentes perspectivas dos interlocutores brasileiros a respeito de Chávez. Também revela a insistência brasileira para derrubar o veto do governo George W. Bush à venda a Caracas de aviões Supertucanos da Embraer, com componentes de tecnologia americana.
Segundo telegrama de 2006, despachado pela Embaixada dos EUA em Caracas, o Brasil ofereceu um "trato": se Washington derrubasse o veto, o Brasil apoiaria a ONG oposicionista Súmate, que havia articulado, com apoio financeiro dos EUA, a coleta de assinaturas para o referendo revocatório contra Chávez em 2004. O telegrama ironiza a oferta: "A ação brasileira pela Súmate seria simbólica, mas os Tucanos seriam bem reais".
Naquele momento, a relação entre Brasil e Venezuela passava por turbulências por conta da atuação de Chávez na nacionalização das refinarias da Petrobras na Bolívia. Os EUA de Obama reconhecem, porém, dois anos depois, que o veto à venda complica a posição americana na disputa pelo fornecimento de caças ao Brasil.
DILMA E RADICAIS
Os documentos relatam ainda encontros da ex-ministra Dilma Rousseff com o então assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, James Jones, em 2009. Dilma havia criticado o acordo militar entre Washington e Bogotá, hoje suspenso. "Assuntos como esses abrem portas para radicais que querem criar problemas na região", teria dito ela, sem fazer referência a Chávez. Segundo o relato, ela disse ser "desconcertante" ter de responder a jornalistas o motivo pelo qual os EUA precisavam de bases na Colômbia.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP