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Rio: Exército condiciona a tarefa de vigiar aéreas públicas de favelas ocupadas









Janio de Freitas.

Está criada uma confusão de despropósitos, a propósito da presença do Exército no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, que põe em risco, para futuras ocupações, o modelo bem-sucedido da operação ali.

Assim como não participou da primeira e principal fase da ocupação da Vila e do Complexo por exigir, para fazê-lo, o comando de uma operação que desconhecia, o Exército voltou à exigência na segunda etapa. Para exercer a tarefa que admite, de vigilância apenas nas áreas públicas das duas favelas, o Exército condicionou-a a ter o comando geral por lá.

O planejamento da ocupação da Secretaria de Segurança do Estado do Rio e o desdobramento foi planejado em comum com outras secretarias e com a prefeitura carioca. As polícias, por sua vez, são as organizações habilitadas às atividades de busca dos autores e armas do crime.

Às Forças Armadas cabe dar-lhes o apoio, com os complementos de que as polícias não dispõem (como fizeram os fuzileiros navais) e à população o apoio implícito na "segurança interna" mencionada pela Constituição.

Nada mais simples, no planejamento e execução de tais operações, do que dividir as tarefas lógicas, com seus respectivos comandos. Nesse sentido, o papel de Nelson Jobim, como ministro da Defesa, era o de induzir a racionalidade e sua admissão, a quem faltasse uma ou faltassem ambas.

Em sua política permanente de compor-se com os comandos militares, o ministro deixou agora o prosseguimento da operação, no Complexo e na Vila, sem alternativa senão "o comando tático e operacional do Exército".

O precedente compromete as futuras ocupações de áreas mais problemáticas. O núcleo da Secretaria de Segurança, que lida o dia todo com o problema, fará os levantamentos, o planejamento e os preparativos da operação, mas não a conduzirá. Ou conduzirá, e o Exército fará apenas a encenação de comando para as tevês. Ou o pior ou o pior.

Batizar os soldados-vigilantes de Força de Paz, coisa de publicidade, não iguala as favelas do Rio ao Haiti. A desordem haitiana, proveniente do golpe com que os Estados Unidos derrubaram o presidente Aristide, não se assemelhou à gerada, aqui, a partir das favelas e cadeias.

Com a confusão entre experiência e habilitações, de uma parte, e formalidades e aparências, de outra, a pressão para novas ocupações perde terreno para a conveniência de aguardar os acontecimentos no Complexo e na Vila.

Jobim e os comandos do Exército iludem-se com a limitação dos soldados à vigilância, supondo deixar só às polícias os efeitos onerosos dos possíveis abusos. O "comando tático e operacional" não deixará de ser o responsável por todos os comandados e seus atos.

Mas é tão improvável que o Exército esteja disposto a aceitar essa realidade quanto é provável a ocorrência de atritos entre comandos formais e comandos reais. Em prejuízo, outra vez, do modelo de ação bem-sucedido e suas possíveis repetições.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP




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